segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Francis Vale disse...

Zé Wilson,

Você continua um descobridor de curiosidades inimagináveis. Eu jamais iria imaginar que o famoso Antonio's tinha seu nome ligado a chefe de cozinha do Ceará. No mínimo, julgaria ser uma homenagem a alguns "antonios" frequentadores, dentre eles o Tom Jobim. Aliás, conheço mais de um cearense que saiu daqui fugindo da seca pro Rio, começou lavando prato e acabou dono de restaurante. Tem o caso do "La Molle", que é ou era de cearense da Serra Grande. Tem o "Aspargos" e o "Alcaparras", também de figuras desse tipo. Sem falar no Faustino, que voltou e se deu bem. Voltando ao Antonio's. Ali se definiu muita coisa em relação aos rumos do Cinema Novo, cujos líderes eram frequentadores do restaurante, assim como o responsável principal pela grana que financiou muitos dos filmes da rapaziada: José Luis de Magalhães Lins.

sábado, 28 de agosto de 2010

UM BAR COM NOME DE CEARENSE

Wilson Ibiapina


Morando ou não no Rio, se você não frequentou, pelo menos já ouviu falar num dos bares mais famosos da cidade maravilhosa. O Antonio's surgiu em novembro de 1967 com o nome da música Strangers in the night. Imediatamente virou o ponto de encontro de artistas, cineastas, jornalistas, intelectuais e boêmios em geral que movimentavam a noite do Rio.


Walter Clarck, diretor geral da Globo foi um dos maiores incentivadores do bar – restaurante. Ele garantia algumas noites repletas de globais, o que alimentava a fama. O empresário Alex Gonçalves lembra que o sucesso foi tão rápido quanto a decisão de Otto Lara Resende de trocar o nome da casa instalada na loja C da avenida Bartolomeu Mitre, 297. O título da música que fazia sucesso na voz de Frank Sinatra não agradou. O banqueiro José Luiz Magalhães Lins, do Banco Nacional, rebatizou o restaurante de Antonio's em homenagem ao cearense Antônio Pereira, o cozinheiro preferido de Armando Nogueira, na época o todo poderoso diretor da Central Globo de Jornalismo. Os outros dois sócios do bar eram os espanhóis Manolo e Florentino. Os três viviam sob a proteção do guarda chuva do Nacional. O cearense pouco depois foi trabalhar em Nova Iorque, mas deixou seu nome batizando o recanto mais agradável da noite carioca.


Jornalista e escritor mineiro Otto Lara Resende aparecia lá quase todas as noites para a alegria geral. O pernambucano Nelson Rodrigues dizia que a grande obra de Otto Lara Resende era a conversa. “ Deviam pôr um taquígrafo atrás dele e vender suas anotações em uma loja de frases". Pois foi esse frequentador assíduo que, certa noite, encontrou os fregueses tristes, parecendo todos preocupados com os rumos do regime militar que comandava o país. Conta o jornalista Carlos Henrique Santos que depois de alguns uisques, Otto, que nasceu com vocação para a galhofa, elevou o tom de voz e fez um verdadeiro discurso desancando a ditadura, convocando à resistência a juventude pensante ali presente (que outros chamavam de esquerda festiva). E fechou o seu pronunciamento indignado quase aos gritos, desafiando os eventuais dedo-duros que se infiltravam no ambiente: “e para provar que não tenho medo desses gorilas vou dizer meu nome. Podem anotar: “eu me chamo José Aparecido de Oliveira...”


O chatíssimo Roniquito Chevallier, que perturbava a vida de todo mundo, era outro que estava lá todas as noites. Brigava e apanhava quando metia a mão no prato de comida das pessoas ou cantava as senhoras acompanhadas dos maridos. Roniquito era Ronald Wallace Carlyle de Chevalier, irmão da jornalista Scarlet Moon de Chevalier. Era amigo de juventude de Walter Clark, com quem trabalhou na TV Rio e na Globo. Muito culto, formado em economia e segundo Rui Castro, inventor da palavra aspone. Rui acredita que Roniquito talvez tenha sido o sujeito mais sem censura da história de Ipanema. “Dizia o que pensava para qualquer um, não importava o cargo, a idade, a cor, o sexo, ou o tamanho da pessoa”. Quando morreu de enfarte em 1983, Carlinhos Oliveira escreveu: "Ninguém podia ser patife perto dele. Ninguém ousava". E Paulo Francis escreveu na Folha de S. Paulo:"Roniquito fazia o que não temos coragem de fazer - virar a mesa contra os horrores brasileiros.


O bar tem toda a sua história contada num livro que o jornalista paulista Mário Almeida escreveu depois de longas pesquisas. O jornalista Aramis Millarch, em matéria publicada em 1992 num jornal do Paraná, diz que o biógrafo do Antonio's dedica parte do livro ao cronista capixaba Carlinhos de Oliveira que nos anos 60 emocionava milhares de leitores do Jornal do Brasil. Aramis lembra que José Carlos de Oliveira, como cronista do "caderno B" do JB, foi sem dúvida o mais folclorico e famoso de todos os fregueses do Antonio`s - de cuja varanda escrevia sua coluna e ali permanecia, às vezes, até 40 horas ininterruptas. Um dia o Antonio's foi invadido por ladrões que prenderam os fregueses no banheiro. Foi de lá que Carlinhos fez um apelo desesperado aos marginais: “Seu ladrão, leva os vales, leva os vales. Essa caixinha de charutos no caixa...”


O Antonio's foi a capela sagrada da boemia que agitava as noites do Rio nos anos 60 e 70. O cozinheiro cearense não deve ter ideia do que se passou além do seu local de trabalho


segunda-feira, 16 de agosto de 2010

CENSO 2010

COISAS DO OUTRO SÉCULO

Gamaliel Noronha


O radialista Gamaliel Noronha, na Fortaleza dos anos 60, animava um programa na rádio Dragão do Mar. A televisão não existia e o rádio predominava. Era o maior sucesso. Ele entrava no ar ao cair da tarde, naquela hora em que acaba o expediente e todos estão indo pra casa ou tomando uma no boteco.


O programa Alma Sertaneja tinha o maior auditório do Ceará e do Nordeste: uma poltrona em cada lar, como dizia o Ivan Lima. A música que Gamaliel mais gostava, Belém de Maria, ecoava nas residências, nos botecos, nos carros.


Um rapaz que trabalhava na Bananada do Pedão, uma lanchonete que fazia vitaminas e sucos de frutas no Abrigo Central, na praça do Ferreira, era louco pelo programa e pelo Gamaliel. Ligava o rádio no último volume, telefonava e o Gamaliel colocava no ar: - Maiel, fale neu, no Colais ( Colares, assessor do Pedão) e no Niuto ( Newton Pedrosa). Aí, passe, aqui no Abigo para tomar uma verdinha (vitamina de abacate).

Quem não tem saudade dum tempo desse?


Wilson Ibiapina

Histórias do Aleluia



O jornalista Hildeberto Aleluia nos mandou duas histórias emocionantes:

Al Capone e seu advogado Easy Eddie



HISTÓRIA NÚMERO 1 - EXEMPLO PATERNO

Muitos anos atrás, Al Capone possuía virtualmente Chicago. Capone não era famoso por nenhum ato heróico. Ele era notório por empastar a cidade com tudo relativo a contrabando, bebida, prostituição e assassinatos.


Capone tinha um advogado apelidado 'Easy Eddie'. Era o seu advogado por um excelente motivo: era muito bom! Na realidade, sua habilidade, manobrando no cipoal legal, manteve Al Capone fora da prisão por muito tempo.


Para mostrar seu apreço, Capone lhe pagava muito bem. Não só o dinheiro era grande, como Eddie também tinha vantagens especiais. Por exemplo, ele e a família moravam em uma mansão protegida, com todas as conveniências possíveis. A propriedade era tão grande que ocupava um quarteirão inteiro em Chicago. Eddie vivia a vida da alta roda de Chicago, mostrando pouca preocupação com as atrocidades que ocorriam à sua volta.


No entanto, Easy Eddie tinha um ponto fraco, um filho que amava afetuosamente. Eddie cuidava que seu jovem filho tivesse o melhor de tudo: roupas, carros e uma excelente educação. Nada era poupado. Preço não era objeção. E, apesar do seu envolvimento com o crime organizado, Eddie tentou lhe ensinar o que era certo e o que era errado. Eddie queria que seu filho se tornasse um homem melhor que ele. Mesmo assim, com toda a sua riqueza e influência, havia duas coisas que ele não podia dar ao filho: ele não podia transmitir-lhe um nome bom ou um bom exemplo.


Um dia, Eddie chegou a uma decisão difícil: corrigir as injustiças de que tinha participado. Ele decidiu que iria às autoridades e contaria a verdade sobre Al 'Scarface' Capone, limpando o seu nome manchado e oferecendo ao filho alguma semelhança de integridade. Para fazer isto, teria que testemunhar contra a quadrilha, e sabia que o preço seria muito alto. Ainda assim, ele testemunhou.


Em um ano, a vida de Easy Eddie terminou em um tiroteio em uma rua de Chicago. Mas aos olhos dele, ele tinha dado ao filho o maior presente que poderia oferecer, ao maior preço que poderia pagar. A polícia recolheu em seus bolsos um rosário, um crucifixo, uma medalha religiosa e um poema, recortado de uma revista.


O poema: 'O relógio de vida recebe corda apenas uma vez e nenhum homem tem o poder de decidir quando os ponteiros pararão, se mais cedo ou mais tarde. Agora é o único tempo que você possui. Viva, ame e trabalhe com vontade. Não ponha nenhuma esperança no tempo, pois o relógio pode parar a qualquer momento.'



HISTÓRIA NÚMERO DOIS


Comandante Butch O'Hare


A Segunda Guerra Mundial produziu muitos heróis. Um deles foi o Comandante Butch O'Hare. Ele era um piloto de caça, operando no porta-aviões Lexington, no Pacífico Sul.


Um dia o seu esquadrão foi enviado em uma missão. Quando já estavam voando, ele notou pelo medidor de combustível que alguém tinha esquecido de encher os tanques. Ele não teria combustível suficiente para completar a missão e retornar ao navio. O líder do vôo o instruiu a voltar ao porta-aviões. Relutantemente, ele saiu da formação e iniciou a volta à frota.


Quando estava voltando ao navio-mãe viu algo que fez seu sangue gelar: um esquadrão de aviões japoneses voava na direção da frota americana. Com os caças americanos afastados da frota, ela ficaria indefesa ao ataque. Ele não podia alcançar seu esquadrão nem avisar a frota da aproximação do perigo.


Havia apenas uma coisa a fazer. Ele teria que desviá-los da frota de alguma maneira. Afastando todos os pensamentos sobre a sua segurança pessoal, ele mergulhou sobre a formação de aviões japoneses.


Seus canhões de calibre 50, montados nas asas, disparavam enquanto ele atacava um surpreso avião inimigo e em seguida outro. Butch costurou dentro e fora da formação, agora rompida e incendiou tantos aviões quanto possível, até que sua munição finalmente acabou. Ainda assim, ele continuou a agressão.


Mergulhava na direção dos aviões, tentando destruir e danificar tantos aviões inimigos quanto possível, tornando-os impróprios para voar. Finalmente, o exasperado esquadrão japonês partiu em outra direção.


Profundamente aliviado, Butch O'Hare e o seu avião danificado se dirigiram para o porta-aviões. Logo à sua chegada ele informou seus superiores sobre o acontecido. O filme da máquina fotográfica montada no avião contou a história com detalhes. Mostrou a extensão da ousadia de Butch em atacar o esquadrão japonês para proteger a frota. Na realidade, ele tinha destruído cinco aeronaves inimigas.


Isto ocorreu no dia 20 de fevereiro de 1942, e por aquela ação Butch se tornou o primeiro Ás da Marinha na 2ª Guerra Mundial, e o primeiro Aviador Naval a receber a Medalha Congressional de Honra.


No ano seguinte Butch morreu em combate aéreo com 29 anos de idade. Sua cidade natal não permitiria que a memória deste herói da 2ª Guerra desaparecesse, e hoje, o Aeroporto O'Hare (o mais movimentado do mundo!!!), o principal de Chicago, tem esse nome em tributo à coragem deste grande homem.


Assim, se porventura você passar no O'Hare International, pense nele e vá ao Museu comemorativo sobre Butch, visitando sua estátua e a Medalha de Honra. Fica situado entre os Terminais 1 e 2.


O que têm estas duas histórias de comum entre elas???

Butch O'Hare era o filho de Easy Eddie.


quarta-feira, 11 de agosto de 2010

HOMENAGEM DO ARI - www.revisor10.com.br


Se o Ari Coelho fosse jogador de futebol, seria daqueles que jogam em todas as posições. É

Arquiteto, professor de desenho e artes plásticas, e

specialista em língua portuguesa, e

scritor, revisor de textos, enfim, um gênio.


Alguns dias atrás ele recebeu uma cópia do DVD que narra um pedacinho da vida do meu pai, o jornalista Wilson Ibiapina. Assim que terminou de assistir, correu pro computador e fez a seguinte homenagem:


Wilson Ibiapina, cidadão do mundo
Quando se quer fazer homenagem a alguém, melhor fazê-lo em vida. Coração generoso, mente inquieta, papo envolvente, falo aqui do jornalista José Wilson Ibiapina, memória viva do rádio cearense, e que mora bem pertinho da gente, no Lago Norte.

Conheci José Wilson Ibiapina roubando, como sempre, a cena em roda de amigos. Fluente, com seu humor refinado, de tiradas céleres, enche o recinto de alegria com sua inconteste habilidade de conversador.

A generosidade para com os amigos e a sua trajetória na imprensa fazem com que José Wilson colecione amizades, não só relacionadas a rádio, jornal e televisão, mas ao mundo cultural. Foi em sua casa que pude estar com Ednardo (de Pavão Mysteriozo e tantas outras obras-primas), Luís Melodia etc. Já foi dito que não se sabe como o Piabinha — apelido carinhoso que tinha na época do rádio — abriga num corpo tão pequeno um coração tão grande.

Consegui emprestado o DVD “Wilson Ibiapina, cidadão do mundo” (2009) com o João Carlos Fonseca. As primeiras imagens me levaram a dar pause e sair da sala. Queria me preparar para um momento prazeroso que se enunciava. Peguei a cerveja espanhola Estrela Galícia que comprara no Pão de Açúcar.


Não que eu quisesse ser coerente com a internacionalidade do cearense José Wilson — achei que era um momento especial. Só então dei play.


José Wilson veio emprestar sua competência a Brasília em 7 de setembro de 1970, em plena vigência dos “anos de chumbo”, onde foram fechadas emissoras de rádio, dentre elas a Dragão do Mar, de que fala o documentário em DVD.


José Wilson menciona as ruas desertas do feriado no Planalto Central. Tenho impressão de que Brasília o auscultava em silêncio, pressentindo que a partir daquela data a cidade não seria a mesma. Chegava à cidade um cara irrequieto, fluente, instigante, que durante a vida toda só saberia fazer jornalismo. Talvez seja essa a receita para bem fazer jornalismo.


O portfólio de Ibiapina — assim poderíamos chamar o documentário bem elaborado, sem pretensões de propaganda curricular, já que ele não precisa — traz detalhes da vida de um cidadão do mundo que emocionam.


O lenço que José Wilson ostenta no depoimento leve e solto parece querer dizer da sua própria emoção, ao relatar suas ricas experiências. Mas quem assiste também se emociona com os caminhos palmilhados por esse profissional de peso. Revela-se impossível abarcar tanta jornada em apenas 42 minutos de vídeo.


Registro dois casos engraçados relatados por amigos de José Wilson no vídeo. Num deles, nosso amigo jornalista pega o jeep de Gamaliel emprestado. Chega tarde da noite sem o jeep, que havia “ficado no prego”, sem gasolina. Tradução inevitável: quem empresta um carro deveria fazê-lo de forma completa, com tanque cheio. Tradução complementar: são patentes as dificuldades financeiras por que passou Ibiapina, um emérito lutador. Lutador que venceu exclusivamente pelo trabalho, haja vista as amizades granjeadas, as realizações como profissional e pai de família.


Outro caso divertido — este prima pela bizarria — foi Ibiapina e seus amigos descobrirem que o local onde se obtinha a cerveja mais gelada de Fortaleza era o IML, com suas geladeiras sombrias mas eficazes.


A menção, no bem cuidado vídeo, ao desastre com o avião da VASP que se espatifou na serra da Aratanha em 8 de junho de 1982 me despertou lembranças daquele dia em que também cheguei a Fortaleza a trabalho, sobrevoando de forma panorâmica o local do acidente. O áudio que Ibiapina conseguiu amplificar da estupefação do piloto sensibiliza qualquer um.


Ao final das falas de tantas pessoas sobre Ibiapina, traz-se a convicção de que estamos aqui no Lago Norte bem pertinho — e isso é um privilégio — de uma pessoa que é memória viva da história do rádio e da tevê.


Alguns ligam José Wilson a rabo de foguete, pelo seu dinamismo. Podemos dizer, de maneira carinhosa, que esse cidadão do mundo tem mesmo é “fogo no rabo”, pela sua impetuosidade e brilho de cometa. E de todas as montagens fotográficas que foram feitas de José Wilson com Barack Obama, com o papa, com Che Guevara, ao lado de Neil Armstrong, só não acredito em uma — não resta a menor dúvida, José Wilson pisou na Lua, sim!

QUANDO LUIZ GONZAGA VIROU O REI DO BAIÃO

Wilson Ibiapina


Todos nós temos estrela. Às vezes falta alguém para acendê-la para que ilumine nossa vida. Tem gente que vive e morre sem que sua estrela brilhe. Só talento não adianta.


Luiz Gonzaga, por exemplo, foi fruto da influência de três cearenses. O jornalista Colombro de Souza, não era desse tempo, mas acompanhou, como repórter no Rio, a trajetória inicial do artista pernambucano, que estava no lugar certo e na hora exata, como quer o destino.

Quando ele deu baixa no Exército, em 1939, no Rio de Janeiro, saiu tocando sanfona na zona do meretrício para sobreviver. O jornalista Colombo de Souza lembra que naquele tempo Gonzaga só tocava bolero e tango.


Um dia, ou melhor, certa noite, apareceram por lá uns cearenses universitários que começaram a fazer um verdadeiro interrogatório. Queriam saber onde ele nasceu e se não sabia uma música nordestina. "Eu sei umas coisas de quando tocava sanfona de oito baixos, mas não dá aqui.” E os cearenses: -Dá.


Em entrevista ao Pasquim, Gonzaga conta que ganhou uma boa gorjeta e uma ameaça: “ a gente volta pra semana e só vamos dar dinheiro a você se tocar umas coisas daquelas dos pés de serra lá do Araripe, da tua terra”


Luiz Gonzaga diz que foi pra casa e começou a relembrar as “coisinhas” que tocava quando era moleque, acompanhando o pai dele, Januário. "Quando os cearenses voltaram eu taquei um pé de serra neles. Ai eles disseram: “ei. Pêra aí. O seu caminho é aí. E você tocando música de gringo?"


Surgiu daí uma amizade. Um dia foi visitá-los na república de estudantes, que ficava na Lapa. Gonzagão contou nessa entrevista que lá encontrou um jovem moreno, só de calção, lavando as cuecas. Foi apresentado como o presidente da república e ele disse: - muito prazer, Armando Falcão.


Lauro Maia, Humberto Teixeira e Armando Falcão mudaram o destino daquele pernambucano que não aguentava mais ser gongado nos programas de auditório onde aparecia tocando tango e bolero.


O jornalista Colombo de Souza Filho conta que para motivar Gonzaga a vestir o gibão de couro e colocar na cabeça o chapéu de Lampião, chegaram até a mostrar o sanfoneiro Pedro Raimundo todo de bombacha, aquela calça larga que gaúcho usa, faca na cintura, lenço no pescoço e o sucesso no mundo: Adeus Mariquinha que já vou embora...” A indumentaria foi colocada com ele quase entrando no palco.


Luiz Gonzaga foi levado ao programa do Ary Barroso. “Você de novo por aqui? O que vai tocar?" E o Gonzagão: “um negocinho do norte. O Vira e Mexe” e o Ari: “então arrivira e mexe” Dali pra frente “choveu na minha roça e nunca mais faltou feijão”, desabafou o velho Lua, relembrando a mudança por que teve que passar.


Quando o Humberto Teixeira começou a fazer as letras das músicas de Gonzagão, ele começou a virar o Rei do baião. Não dá para imaginar o que teria acontecido com Luiz Gonzaga se esses cearenses não tivessem cruzado na vida dele.

Homenagem 80 anos Wilson Ibiapina