domingo, 11 de setembro de 2022

AS BATALHAS DA INDEPENDÊNCIA



Wilson Ibiapina

Foram muitas as batalhas travadas no país para que o grito da independência dado por Dom Pedro I, às margens do Ipiranga, fosse ouvido no imenso Brasil. As pessoas, hoje, acham que bastou o grito para consolidar tudo. Muitos, até mesmo no Ceará, no Maranhão e no Piauí, acham que a independência caiu do céu, sem reação dos portugueses. 

Um dos confrontos mais sangrentos da guerra da Independencia foi o combate ocorrido no Piauí. Esse conflito ocorreu em 1823 quando Dom Joao XVI designou o major João José da Cunha Fidié para comandar as tropas portuguesas que iriam garantir parte do norte do país: maranhão, Piaui, Ceará continuasse fiel à Coroa portuguesa. Seria mais uma Guiana. A tropa portuguesa, organizada e com experiência em outras lutas, se posicionou armada de rifles, revolveres, espingardas, canhões e cavalos. Os brasileiros do Maranhão, Piaui e do Ceará armados de foice, facão, enxadas e pedaços de pau entraram na luta com instrumentos simples, não tinham armas de guerra e muito menos experiência. O combate às margens do rio Jenipapo, em Campo Maior, no Piauí, foi dos mais sangrentos. Segundo o escritor Leonardo Mota, foram os piauienses e os maranhenses que apelidaram os cearenses de cabeças-chatas. O Ceará enviara tropas a  fim  de ajudarem as do Piauí e Maranhão. Os soldados cearenses usavam bonés achatados, de onde a alcunha que não mais nos largou. Diz Leonardo Mota que qualquer gracejo de  que temos o crânio chato porque dormimos em redes, não passa de inócua tentativa de chateação.

Foi uma das mais marcantes batalhas travadas na guerra da independência brasileira, e que  consolidou o território nacional.

Os livros de história contam que em poucas horas de embate corpo a corpo, 200 brasileiros morreram, um número superior ao de todas as baixas ocorridas na Independência da Bahia (durante o movimento, que se estendeu por um ano e quatro meses em Salvador e arredores). Houve aproximadamente 150 mortes no lado brasileiro. Os brasileiros perderam a batalha do dia 13 de março de 1823, mas não perderam a guerra.

Os portugueses, em sua maioria mercenários bem treinados, conseguiram furar o cerco e fugiram para Caxias, no Maranhão. Não resistiram as táticas de guerrilha dos sertanejos. À noite quando a tropa portuguesa dormia exausta, após o combate do Jenipapo, cearenses, piauienses e maranhenses, maioria de camponeses, lavradores acostumados apenas a lidar com a terra, foram no peito e na raça até onde estavam os invasores. Num assalto de surpresa ao acampamento militar, eles se apoderaram dos armamentos e da munição, de dinheiro e bagagem do Major Fidié. Soltaram os cavalos e cercaram o caminho para Oeiras, forçando o comandante português a se retirar do Piauí. Foram cercados e expulsos do Brasil em Caxias, no Maranhão. Hoje, em Campo Maior, tem um museu contando toda a história, inclusive exibindo foices, machados e pedaços de paus usados pelos bravos nordestinos para expulsar os portugueses e garantir a extensão do território brasileiro. Foram muitas batalhas até se chegar ao final, para que todos soubessem do grito de D.Pedro.

Muitos historiadores garantem que a verdadeira independência do Brasil ocorreu no dia 2 de julho de 1823, na  Bahia . Foi quando a cidade de Salvador amanheceu quase deserta. O Exército português estava acabando de abandonar a Bahia definitivamente. Há quem diga que naquela manhã o Sol brilhava. Até hoje os baianos festejam.

BICENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA



Wilson Ibiapina

No Brasil sempre foi assim, prevalece a versão oficial, a história de quem conta e não de quem faz . Alguns livros já contestam a versão oficial de que foram os portugueses os primeiros a chegar. Já existem livros, como o que foi escrito pelo jornalista Rodolfo Espínola,  que narra a chegada do navegador espanhol Vicente Pinzón, no inicio do século XVI, no litoral cearense, três meses antes de Pedro Álvares Cabral. Os livros que as escolas indicam para seus alunos continuam dando  os créditos da descoberta para os portugueses desembarcando na Bahia. Não levantam uma só dúvida. 


Agora , nas comemorações dos 200 anos das independência, a principal responsável pelo acontecimento fica esquecida nas homenagens. Todo mundo sabe quem foi Maria Leopoldina da Áustria, a arquiduquesa da Áustria  a primeira esposa do Imperador D. Pedro I e Imperatriz Consorte do Brasil de 1822 até sua morte, também brevemente sendo Rainha Consorte de Portugal e Algarves entre março e maio de 1826. Teve sete filhos, um deles, dom Pedro II, herdeiro do trono brasileiro e imperador aos 14 anos de idade. Poucos lembram de seu papel de fundamental importância para a independência do Brasil.


Corria o ano de 1822 quando algumas províncias ameaçavam entrar em guerra contra o Principe-Regente. Dom Pedro foi a São Paulo para tentar garantir o apoio dos paulistas à sua causa. Dona Leopoldina assumiu a regência interina. Foi quando chegou carta de Portugal exigindo que Dom Pedro retornasse imediatamente para assumir o reino em  Portugal.

Como conta os livros de história, Dona Leopoldina convoca o Conselho de Estado. “Durante a reunião, entendem que esta atitude é uma manobra para que o Brasil perca seu status de Reino Unido e voltar à condição de colônia.”

Dona Leopoldina assina o decreto de independência do Brasil em 2 de setembro de 1822. Em seguida, manda uma carta a Dom Pedro contando os fatos e reafirmando que era o momento de  romper com Portugal. Mesmo com o coração, perdido de amor pela amante Domitila, dom Pedro aceita a ponderação da esposa e cinco dias depois de enviada  e proclama a independência que até hoje não se sabe se ocorreu o brado que a história conta.

Agora, pela primeira vez, o coração de Dom Pedro sai do sarcófago da igreja da Lapa, na cidade do Porto e é trazido para o Brasil para as comemorações dos 200 anos da independência. Nem uma só palavra sobre dona Leopoldina.

O jornal Correio Braziliense publica artigo do maestro Jorge Antunes, professor aposentado da UnB, reclamando que dona Leopoldina é apagada da história quando o teatro municipal do Rio monta a Ópera Domitila, a marquesa de Santos, de João Guilherme Ripper, enquanto sua ópera composta em homenagem a Dona Leopoldina continua na gaveta. Há quem diga que o coração dele pertencia mesmo à amante que viveu no Palácio de São Cristóvão como dama de honra de sua esposa. Humilhada e sem o reconhecimento público de seu feito heroico que nos libertou de Portugal.

A revista Veja publica a opinião do pesquisador Paulo Rezzutti, que acha um exagero trazer o coração para festejar os 200 anos da independência: “é um carnaval macabro, um evento efêmero que a nada serve. Trazer um órgão humano dentro de um vidro, expô-lo em Brasília e dizer que esse é o grande evento comemorativo do bicentenário é trágico.” Tenho a impressão que seria mais oportuno concentrar as homenagens à Imperatriz que morreu dia 11 de dezembro de 1826 com apenas 29 anos de idade.

Homenagem 80 anos Wilson Ibiapina