segunda-feira, 21 de novembro de 2022

UM PEDAÇO DO CEARÁ

 


Wilson Ibiapina

 

O professor maranhense Luís Carlos Gomes, que tinha entre seus alunos na Universidade de Brasília os físicos Rodger Rogério, Flávio Torres, Josué, Dedé Evangelista e sua mulher Mazé, gostava de dizer que o mundo estava sendo invadido por marcianos e cearenses. 

Brincadeira à parte, estamos mesmo espalhados em tudo quanto é país. Aqui no Brasil, por exemplo, quem acha que  São Paulo está abarrotado de cearenses não conhece o Acre. O deslocamento para o cantinho do Brasil, que faz divisa com o Amazonas, Rondônia, Bolívia e Peru, começou bem antes, no século dezoito. O historiador Arruda Furtado diz que foram três as causas determinantes das migrações encaminhadas para o Acre. A primeira, provocada pela seca. A segunda, a atração do eldorado amazônico e a terceira, o espírito aventureiro do cearense

Naquela ocasião, Fortaleza recebeu mais de 100 mil migrantes, chamados de retirantes, número que quadruplicou a população da cidade, na época de 25 mil pessoas. Muitos conseguiram viajar para o Amazonas O escritor Artur Reis registrou queEm março de 1879  já tinham entrado em Manaus mais de seis mil retirantes cearenses". José Carvalho de Souza, que nasceu na serra da Meruoca, que viveu mais de 130 anos, foi o cearense mais velho a habitar o Acre. O território boliviano virou brasileiro depois que foi invadido por seringueiros em busca de mais espaço para extrair látex. A mão de obra necessária para a expansão da fronteira e o consequente aumento das produções foi fornecida pelos cearenses que fugiam da seca e se alistavam como soldados da borracha. A primeira insurreição acreana foi em 1899. Liderados pelo cearense José de Carvalho, homens armados obrigaram o delegado boliviano Moisés Santivanez a deixar o Acre, sem precisarem dar um tiro.

Depois de duas outras   revoltas apareceu o gaúcho Plácido de Castro. Na época com apenas 27 anos de idade, liderou uma forte revolução, vencendo as tropas bolivianas, e proclamando, pela terceira e última vez, o território independente do Acre.

O território do Acre, que depois virou estado da federação, continua habitado por cearenses e seus descendentes. Desse novo pedaço do Brasil saíram pessoas importantes que se destacaram nacionalmente. Entre eles o jornalista Armando Nogueira, o poeta Thiago de Melo, o médico Adib Jatene, o coronel Jarbas Passarinho e o ambientalista Chico Mendes. Há pouco tempo o cineasta Pedro Jorge de Castro foi a Xapuri fazer uma palestra. Num restaurante, o garçom puxou conversa:

- O Sr é de onde mesmo?

- Sou do Ceará, respondeu o cineasta. 

E o garçom encerrou a conversa: 

- Ah, pensei que fosse de fora.

 

EM UMA ELEIÇÃO

 


Wilson Ibiapina

 

Estava conversando com o jornalista Carlos Henrique de Almeida Santos sobre a “guerra” que vivemos à véspera da última da eleição presidencial. Conversa vai, conversa vem, o jornalista baiano lembrou-se de uma história que Toninho Drummond contava. 

Ocorreu na eleição de 1960, em Minas Gerais, um colega dele, alucinado por política, mas que nunca se definia, pois queria estar de bem com quem estivesse no poder, seguia o lema daquele político: “melhor do que esse governo só o próximo”. 

O tal jornalista, com a camisa de campanha do candidato, visitava diariamente os comitês de propaganda de Magalhães Pinto e Tancredo Neves. No dia que saiu o resultado das urnas, ele foi o primeiro na fila de cumprimentos. Chegou perto de Magalhães Pinto e foi logo exclamando: 

- Que luta, que luta meu governador. Mas sabia que íamos conseguir. 

Ao abraçá-lo, o novo governador foi falando ao seu ouvido: 

- Quero você no Palácio da Liberdade na minha posse. Não me falte.

O malandro jornalista, se mostrando bastante emocionado: 

- Puxa, governador, peça outra coisa. Assistir sua posse será impossível. Não estarei aqui em BH.

- Pra onde você vai, logo no dia da posse?

- Governador, estarei seguindo para Aparecida do Norte. Vou pagar a promessa que fiz pra sua vitória.

Que luta, que luta!!!

 

Homenagem 80 anos Wilson Ibiapina