quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

NOEL ROSA: OS CEM ANOS DO POETA IMORTAL

Wilson Ibiapina

Noel Rosa nasceu em 1910, em Vila Isabel, Rio de Janeiro. Completaria cem anos dia 11 de dezembro. Morreu tuberculoso aos 26 anos ouvindo De Babado, seu samba preferido que ele pediu ao irmão Hélio que mandasse tocar na festa que acontecia ao lado de sua casa. Na reportagem sobre o centenário de Noel, que escreveu no Jornal da ABI- Associação Brasileira de Imprensa, Arcírio Gouvêa Neto observa que toda a extensa obra de Noel foi produzida em apenas seis anos de vida artística.


Já muito doente, um dia foi encontrado pelo amigo Orestes Barbosa, bebendo num bar de Vila Isabel. O compositor e poeta se aproxima e reprova sua atitude: "Noel você não sabe que não pode beber e ainda cerveja gelada?" Noel tirou do bolso um recorte de jornal e pediu: “Leia, meu caro Orestes, descobriu-se na Alemanha que uma cerveja vale por uma refeição. Pois então, como já tomei duas cervejas, estou repetindo o prato”.


Na matéria especial que o Jornal da ABI publicou estão trechos de entrevistas que o poeta da Vila deu na década de 30. Noel, por ele mesmo.


Ele conta que aos 13 anos tocava bandolim na escola, onde era chamado de Queixinho. Usava a música para tentar superar o complexo de feiura: “Queria ser o centro das atenções. Era uma necessidade que eu tinha para compensar meu problema físico, necessidade que me acompanhou o resto da vida. No recreio, começava a tocar e logo a garotada se reunia em volta de mim. As meninas me olhavam com assombro e curiosidade. E eu adorava, embora soubesse que tudo ficaria apenas nos olhares.”


Que relação julga existir entre o amor e a música?


- É a mesma que existe entre a casca de banana e o escorregão. Brincadeira à parte, a música expressa o amor; se ele é profundo e sincero a música refletirá isso; se é falso e fugaz, também. Nestes versos defino minha visão do assunto: O primeiro: Faz de Conta que eu Morri diz: “Amar deve ser para nós um divertimento/ E não o eterno ciúme/Que nos traz sofrimento...”, o segundo, Silêncio de um Minuto, fala: “Luto preto é vaidade neste funeral de amor/ O meu luto é a saudade/ E saudade não tem cor...”


Você teve vários amores. Como seu coração conviveu com tanta turbulência?


Vou responder com outro samba. Chamado Coração: “A paixão faz mal ao crânio/ Mas não afeta o coração...” Na verdade, o samba é o melhor remédio para estas moléstias, não dói e nem tem contra-indicação. Administrando-o em dose homeopáticas, conseguia manter sob controle os efeitos desse mal. Em conjunto com outro bom remédio chamado boemia então não há vírus desse tipo que nos destrua".


Seus últimos dias foram de muito sofrimento, afinal a tuberculose já se tornara irreversível e mesmo assim você continua compondo músicas bem humoradas, falando com irreverência do seu dia a dia. Tem explicação?


Amigo, a vida não é para ser levada a sério. O mundo é para ser desfrutado, quem complicou e criou todas as convenções e formalidades foi o ser humano, na ambição insana de obter o vil metal. Por isso, eu preferi viver e cantar como a cigarra, mesmo vivendo pouco tempo, a ser uma formiga, refém da prisão de um buraco-formigueiro dentro da terra. Mas sofri muito sim, como digo em um dos meus sambas, Eu Sei Sofrer: “Quem é que já sofreu mais do que eu?/ Quem é que já me viu chorar?/ Sofrer foi prazer que Deus me deu/ Eu sei sofrer sem reclamar.”


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“quando eu morrer não quero choro nem vela


quero uma fita amarela


gravada com o nome dela.

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