segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

BANHO DE PERFUME





Francês não gosta de tomar banho, feito bode. Essa mania da maioria dos franceses a gente sente pelo cheiro de azedo que eles exalam na rua, no trabalho, nos bares e restaurantes, onde se divertem com pão, queijo e vinho. É comum encontra-los no metrô com uma baguete debaixo do sovaco.

Uma matéria feita pelo jornal Republicain Lorrain, afirma que apenas 26% dos franceses tomam banho todos os dias.

Um  casal de médicos, meus amigos, conta que “na época que lá viveram, morávam em um prédio de 4 andares, nas proximidades do hospital onde trabalhavam. “Todos os dias, antes de irmos para o hospital, tomávamos banho - o velho costume brasileiro. Podia estar nevando ou fazendo sol, não fazíamos diferente: banho antes de sair do apartamento; e nunca faltava água, E aqui entra o estranho: aos sábados só tínhamos oportunidade de tomar banho à tarde! Pela manhã, por ser o dia do banho dos franceses (assim sempre pensamos), só tínhamos água após o meio dia!"

No dia em que chegaram a Paris, os meus amigos foram para um hotel enquanto  procuravam apartamento. Olha só o depoimento deles: “ E neste hotel, uma pocilga, na verdade, duas coisas me chamaram a atenção: no quarto, junto com as camas etc., havia um bidé... portátil. De plástico e transportável para qualquer lugar do quarto. Porém, exigia que se apanhasse água na pia, também existente no quarto, e a colocasse no bidé. Assim, no caso de se querer usá-lo..., só na base do tcheco-tcheco!! O outro detalhe era o WC, só havia o coletivo para o andar, mas que ficava ao lado de uma escada em caracol, entre os andares. Claro que saímos no dia seguinte.”

Até hoje é muito comum encontrar prédios antigos com um único vaso sanitário que é compartilhado por mais de um apartamento. Normalmente, ele se encontra estrategicamente junto à escada entre dois pavimentos, servindo aos habitantes do andar de cima e aos de baixo. Mas vamos continuar lendo o depoimento do doutor: “Outro fato que chamou a atenção foi a nossa descoberta, no mesmo hotel, das "luvas para  banho!", convenientemente colocadas ao lado do bidé; ocasião em que ficamos sabendo da fórmula francesa para os banhos. Vestia-se uma da luvas, molhava-se a danada e passava-se nas partes  intimas mais sujas. .. pronto; o banho estava tomado! Os mais sofisticados e cuidadosos, soubemos, recorriam aos perfumes. Até porque o banho de luva era uma porcaria, não tirava o azedo dos corpos e das roupas; os grossos sobretudos, jamais eram lavados e fediam a mofo e outros miasmas pestilentos. Bastava pegar o metrô para comprovar o resultado.


Por volta de 1600 o banho era tomado numa única tina enorme, cheia de água quente. O chefe da família era o primeiro a entrar na água limpa. Depois, com a mesma água, vinham os outros homens da casa, por ordem de idade. Em seguida as mulheres, também por ordem de idade e por fim as crianças que pegavam uma água escura de tanta sujeira. Naquele tempo os casamentos ocorriam preferencialmente no mês de maio porque o cheiro das pessoas ainda estava suportável. As noivas usavam o buquê de flores junto ao corpo para disfarçar o odor que exalava de suas partes intimas. Dizem que foi essa a origem do buquê. 

Quando visitei em Granada, Espanha, o palácio real que os árabes construíram em Alhambra por volta de 1300, com técnicas e formas da arquitetura islâmica, eu vi vasos sanitários com água corrente. Pois em 1700 não existia privada nas residências da Europa. Nem o quarto do rei tinha banheiro. Não existia escova de dentes, desodorantes ou papel higiênico. Usavam penicos e os excrementos eram jogados pelas janelas. São Luís do Maranhão, cidade fundada pelos franceses, tem uma rua, chamada de beco da merda, onde a cidade, todas as manhãs despejava fezes e urinas. 

Dom João VI quando estava no Rio foi aconselhado pelos médicos a tomar um banho para curar umas bolhas que lhe cobriam a pele que há anos não via água. Construíram um banheiro especial que ele só foi usar meses depois quando não agüentava mais a coceira pelo corpo. 

Na França as pessoas eram abanadas, mesmo no inverno, para espantar o mau cheiro que exalavam. O perfume só entrou na vida deles muito depois, embora o uso no Oriente de essências aromáticas seja muito antigo, aparece até em relatos bíblicos. Os nossos ancestrais queimavam madeira e folhas de cedro e pinheiro e outras árvores com troncos odoríficos para sentir o aroma que vinha pela fumaça. “Per Fumum” é palavra latina que significa pela fumaça. Catarina de Médicis, quando partiu de Florença para casar com Henrique de Valois, futuro Rei da França, em 1522, levou com ela  dois perfumistas incumbidos de procurar durante a viagem uma vegetação similar a de Toscana. Encontraram, no sul da França, na região de Provence, a aldeia de Grasse, com suas colinas, rosas e jasmins. Foi assim que nasceu a cidade dos perfumes. Logo a reputação dos perfumes de Grasse conquistou Paris e, depois, toda a Europa. Em 1850 a cidade já contava com 50 perfumarias. A década de 20 foi uma das mais criativas na área da perfumaria. Viu surgir o Chanel número Cinco, o primeiro feito com materiais sintéticos. A partir dele, o perfume passou a ser associado ao jogo da sedução, que ganhou fora nos anos 50 quando a atriz Marilyn Monroe que para dormir usava apenas uma gotinha de Chanel nº 5.


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