domingo, 14 de fevereiro de 2016

BRASILEIRO GOSTA DE UM BANHO


Wilson Ibiapina


Eu acho que o resultado dessa pesquisa não  podia ser diferente. Em dez países, o brasileiro é o grande campeão mundial do banho. Em média o brasileiro toma 20 banhos por semana, um recorde mundial. Em seguida, neste ranking estão os britânicos com 5,6 banhos por semana e os chineses com 4,9. 

Essa de tomar banho a toda hora, acho que aprendemos com os índios. Com os portugueses é que não foi. Dom João VI, que podia ter dado exemplo, só foi tomar seu primeiro banho no Brasil por recomendação médica. Estava com o corpo cheio de bolhas provocadas pelo calor e a pele sem banho. Quando foi mordido por um carrapato que infeccionou, não teve escapatória.. Mas foi preciso que fosse feita um casa de banho especial pra ele. Depois de pronta lá no Caju, no Rio,  levou meses para ser inaugurada. Asim mesmo, colocaram uma tina pendurada que era descida até a água, de onde ele só molhava os pés.

Essa coisa de tomar banho vem da antiguidade. Só que lá nos tempos idos, eles transformavam o banho  num programa, numa exibição pública. Gregos e romanos tinham o hábito de se reunir nos banhos públicos que se tornaram locais de decisões políticas e sociais. Em Roma, os banheiros eram tão luxuosos que haviam 25 qualidades de banhos com vapores, óleos, ervas e essências. Os banhos eram tão "exagerados" que o Vaticano considerava uma   estravagancia,  símbolos de luxuria, orgulho, preguiça, vaidade, gula cobiça e prazer. Diziam na idade média que a água amolecia a alma. Só se tomava banho uma vez ao ano e na mesma bacia. Toda a família num mesmo barril, primeiro os chefes da casa, depois mulheres e por último os mais novos. As  crianças, os últimos, só faltavam  desaparecer naquela água toldada, escura, suja. Hoje, na Europa, dizem que banho de mais pode tirar a proteção da pele, trazendo problemas de saúde.

Aqui no Brasil, as pessoas tomam banho várias vezes por dia, diferente do Rei Luiz XIV, na França, que só tomou banhos duas vezes na vida. Quando nasceu e quando casou.

A jornalista Lúcia Abreu, foi minha colega de Rede Globo, conta que estava morando em Portugal quando, um dia, recebeu a visita do proprietário da casa. Muito  constrangido, ele pediu que ela parasse de tomar banho. As contas d'água do condomínio de casas tinham aumentado muito, e "dedaram" dizendo que a culpa era da "brasileira", que tomava muitos banhos.   A  jornalista Ana Paula Neves,editora-chefe do Repórter Brasil DF, contou-me que era hóspede em um albergue em Portugal quando decidiu  tomar um banho. Estava  cheia  de espuma quando a água  desapareceu do chuveiro. Não sabia que só tinha cinco minutos pra o banho. E não adiantou insistir. Uma amiga foi lá fora comprar água mineral para que ela retirasse o sabão do corpo. A Patricia Maia, também jornalista, morava na Austrália quando passou por situação parecida. Lá ela também só tinha cinco minutos para o banho. Como não havia corte de água, a pessoa tinha que ficar atenta para não correr o constrangimento de ultrapassar o tempo estabelecido. Uma amiga da jornalista Vanessa Leda morava na Itália, quando chegou a ser repelida pelos moradores do edifício em que morava. Uma vizinha falou pra ele que todos, no prédio, achavam que ela devia ter  alguma doença de pele, pois só entrava no elevador com os cabelos molhados. Que pelo menos enxugasse os cabelos.   

A Flávia Neiva, minha filha,  estava fazendo intercambio em Battle Creek, em Michigan, quando um dia foi surpreendida por sua mãe americana. Pedia que tomasse apenas um banho por dia., pois a água estava custando muitos dólares. Na Europa, até hoje,a maioria das pessoas toma o famoso banho theco. Como a maior parte do ano é dominada pelo frio, elas lavam apenas os pés, axilas e partes erógenas. É por isso que os franceses e os espanhóis combatem os odores com perfume. Quem já passou pela Europa sentiu o cheiro deles. Aqui, país tropical, o povo se esbalda em banhos para tirar o suor, refrescar. A exceção fica nas regiões de serra, onde a temperatura não permite banhos de rio e nas residências mais humildes que continuam sem banheiros. Mesmo com a seca a maioria não economiza água.

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