Wilson Ibiapina
Dia desses fui almoçar no
restaurante Ki-Filé e me lembrei de um de seus fundadores que faleceu em maio
de 2018, o cearense Raimundo Nonato Cavalcante. Ele foi um dos cozinheiros
pioneiros de Brasília.
O pioneiro Raimundo Nonato Cavalcante |
Antes de ter seu próprio
negócio, Raimundo chegou a trabalhar como servente de pedreiro e em um
restaurante de comida italiana com o irmão, Anastácio Cavalcante Vasconcelos, que
depois foi apelidado de Somoza, alusão ao ditador da Nicaragua.
Os dois irmãos trabalharam
na cozinha do restaurante Romanina, que
ficava na 303 Sul e pertencia a dona Nanci, tia da jornalista Célia De Nadai,
que me disse lembrar, como se fosse hoje, da torta de frango que ele fazia. O
"Chicken pie" era o prato
preferido do dr. Ulisses Guimarães, um dos ilustres frequentadores da casa.
Quando inauguraram o
restaurante deles, na Asa Norte, frequentado por estudantes da UnB, professores, jornalistas,
servidores púbicos, políticos e boemios, ficaram famosos pelos pratos que o
Raimundo preparava. Chamaram muito a
atenção dos clientes os temperos e os pratos regionais como a feijoada carioca,
o carneiro cearense, a rabada e dobradinha paulista. O carro chefe
continua sendo o saboroso filé-mignon que vem à cavalo e deu nome à
casa: Ki-Filé. Hoje, o restaurante é comandado pelo Roberto, filho de Anastácio
que trabalha com primos e colaboradores.
Raimundo pouco antes de
morrer, contou-me a viagem sentimental que fizera à Serra da Ibiapaba, no Ceará. Percorreu o
mesmo trajeto que fez em 1958 com os pais e os irmãos. Fugindo da seca braba
que açoitou o Ceará naquele ano, foram parar num sitio, em Ibiapina. O
proprietário recebeu os Cavalcante com
todas as honras, como se fossem velhos amigos. Não faltou água limpa, comida e
rede cheirosa e limpa para acariciar o corpo nas noites frias da Serra Grande. Raimundo
ainda teve tempo de agradecer a hospitalidade
tão generosa que salvou sua família da fome e da sede. O escritor tcheco
Franz Kafka dizia que a solidariedade é o sentimento que melhor expressa o
respeito pela dignidade humana.
Muita gente não acredita
mais na solidariedade desinteressada, como antigamente. As pessoas querem
sempre algo em troca do menor favor. Mas esses egoístas ainda não dominam o
mundo. Ainda existem gestos humanitários que separam o ser humano dos
irracionais.
Um outro exemplo de
solidariedade, também, vem do Ceará. Alunos da Escola de Ensino Profissionalizante
Balbina Viana Arrais, de Brejo Santo, são protagonistas de um ato que emocionou
a cidade. Ao descobrirem que o professor de artes, Bruno Rafael, de 28 anos,
estava passando necessidade financeira, resolveram ajudar. O professor que é
pernambucano, estava há dois meses sem receber e já se preparava pra ir embora
para o Crato. Seus alunos rifaram uma
caixa de chocolate e conseguiram
R$ 400,00. O dinheiro foi entregue na sala de aula, o professor chorou
de emoção diante do gesto bonito. Feia mesmo é a falta de vergonha dos administradores que humilham o
professor que trabalha sem receber. A solidariedade dos jovens adolescentes não
deixa de ser um vexame para quem não cumpre
suas obrigações.
Aqui o vídeo que o professor postou nas redes sociais:
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