terça-feira, 20 de novembro de 2018

HOTEL NACIONAL


Wilson Ibiapina (*)

Primeiro de setembro de 2007, um sábado, fui acordado pelo telefone. Era o querido jornalista Rodolfo Espínola avisando que estava sendo despejado do Hotel Nacional. Ele e mais uns 300 hóspedes foram avisados do despejo por meio de um papel deixado embaixo da porta pela gerência do hotel. Surpreendidos com o aviso, todos tiveram que arrumar a malas e deixar o local. Um monte de hóspédes desceram e ficaram igual a mãe de São Pedro, perdidos.

Quando cheguei ao hotel, Rodolfo estava no meio da rua. Um outro cearense ilustre, o ex-governador Gonzaga Mota, na mesma situação, já havia deixado o local em busca de novo abrigo. Depois ficamos sabendo que o Nacional foi obrigado a retirar seus hóspedes por decisão da Justiça, que  dava reintegração de posse à empresa dona do terreno, o Banco Rural, aquele que foi tragado pelo mensalão.  

O grupo Canhedo, do empresário Wagner Canhedo  (que ganhou a Vasp a preço de banana e levou à falência) não pagava a taxa de administração do imóvel há mais de três anos. Divida de mais de 30 milhões de reais. No mesmo dia, à tarde, o Grupo Canhedo conseguiu  cassar a liminar de despejo e o hotel voltou a funcionar normalmente, mas a imprensa foi proibida de entrar no local. Apenas alguns hóspedes voltaram ao hotel.

Era o declínio daquele hotel de luxo intimamente ligado à história política do país.



Agora, o hotel está sendo vendido para pagar dividas.
Parece que foi ontem que o Nacional era o centro do poder social da capital. O jornalista José Luiz Silva lembra que a história de Brasília passava por ali. 

Enquanto esteve nas mãos de seu fundador, o empresário José Tjurs, dono da rede de hotéis Horsa, foi um sucesso. Desenhado pelo arquiteto Nauro Jorge Esteves, o hotel com dez andares e 347 apartamentos tem uma suite presidencial  com quatro quartos; quatro closets, mesa de reuniões, bar e sala de jantar. Inaugurado em 1961, hospedou a Rainha Elizabeth e o duque Phillip, o frances Charles de Gaulle, os americanos Jimmy Carter e Ronald Regan, e ,muitos outros políticos, diplomatas e celebridades como Roman Polanski, John Travolta e Roberto Carlos.

As suas galerias, na parte térrea eram ocupadas por lojas de artesanatos, roupas, livrarias, empresas de aviação, agências de viagens,  imobiliárias e lanchonetes que atraiam os brasilienses. O movimento em frente a entrada principal do hotel, com feérica içuminação, lembrava a rua Guilherme Rocha, em Fortaleza. Justamente o trecho da casa Parente, loja Vox, livraria do Edésio, onde a moçada  se postava,  jogando conversa fora, cubando o movimento.

Foi na calçada do  hotel, batendo papo, que conheci os jornalistas Roberto Macedo e Hélio Doyle no inicio dos anos 70. O movimento aumentava quando do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Artistas como Paulo José, Dina Sfat, Darlene Glória, Ítala Nadi, Leila Diniz e Arduíno Colasanti, galã do cinema novo, que foi casado com a atriz e escritora cearense Ana Miranda, se exibiam na piscina do hotel  observados por  jornalistas, hospedes e fãs.

A sauna era local procurado pelos brasilienses. Lembro que um dia juntamos um grupo de colegas da Rede Globo e fomos pegar uma sauna. Estava lotada e se não fosse o Arnaldo Artilheiro o programa não teria acontecido. Artilheiro confiado em seus dois metros de altura e no seu possante físico foi lá e aumentou a temperatura da sauna. Em poucos minutos não ficou ninguém. E ele, na porta, argumentando que ocorrera um problema. Quando todos foram embora, ele normalizou a temperatura e nós fomos nos divertir.

Nas décadas de 60 e 70, o hotel era o local de happy hour de políticos e jornalistas. Mesas de baralho, uisque, paqueras e conversas que varavam a noite, começavam no restaurante principal, com maitre e garçons vindos do Riode Janeiro e São Paulo e geralmente passavam pela boate Tendinha ou pelo restaurante Tabu. No Bar, os políticos , senadores, embaixadores, ministros, deputados se revezavam no telefone, caçados pelas telefonistas para atender os chamados dos amigos e contar os bastidores. A feijoada, aos sábados, reunia fina flor dos Ponte Preta.

Era no Nacional que a cidade promovia festas de debutantes e bailes de carnaval e de passagem de ano. Lembro que no baile em comemoração aos 15 anos de Brasília a Globo flagrou a presença da menina Brasília, a primeira a nascer na nova capital. Embora estivesse também completando 15 anos não lembraram de convidá-la. Ela viu tudo do jardim em frente ao salão de festa, no sereno, esquecida.
Hoje, o Nacional, com novo dono, pode até se reabilitar, mas jamais será o mesmo. A cidade ganhou outros  pontos que estão na moda. Os frequentadores da noite são outros. A cidade tem novos hoteis.
O Nacional com seus quartos, salões cercados de madeira, não perdeu seu glamour, continua pronto para receber seus hospedes, sob nova direção. Mas aí a história será outra.

Wilson Ibiapina (Ibiapina), jornalista e diretor do Sistema Verdes Mares, em Brasília

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