Wilson Ibiapina (*)
Primeiro de setembro de 2007, um sábado, fui acordado pelo
telefone. Era o querido jornalista Rodolfo Espínola avisando que estava sendo
despejado do Hotel Nacional. Ele e mais uns 300 hóspedes foram avisados do
despejo por meio de um papel deixado embaixo da porta pela gerência do hotel.
Surpreendidos com o aviso, todos tiveram que arrumar a malas e deixar o local. Um monte de hóspédes desceram e ficaram igual a mãe de São
Pedro, perdidos.
Quando cheguei ao hotel, Rodolfo estava no meio da rua. Um
outro cearense ilustre, o ex-governador Gonzaga Mota, na mesma situação, já
havia deixado o local em busca de novo abrigo. Depois ficamos sabendo que o
Nacional foi obrigado a retirar seus hóspedes por decisão da Justiça, que dava reintegração de posse à empresa dona do
terreno, o Banco Rural, aquele que foi tragado pelo mensalão.
O grupo Canhedo, do empresário Wagner
Canhedo (que ganhou a Vasp a preço de
banana e levou à falência) não pagava a taxa de administração do imóvel há mais
de três anos. Divida de mais de 30 milhões de reais. No mesmo dia, à tarde, o
Grupo Canhedo conseguiu cassar a liminar
de despejo e o hotel voltou a funcionar normalmente, mas a imprensa foi
proibida de entrar no local. Apenas alguns hóspedes voltaram ao hotel.
Era o declínio daquele hotel de luxo intimamente ligado à
história política do país.
Agora, o hotel está sendo vendido para pagar dividas.
Parece que foi ontem que o Nacional era o centro do poder
social da capital. O jornalista José Luiz Silva lembra que a história de
Brasília passava por ali.
Enquanto esteve nas mãos de seu fundador, o
empresário José Tjurs, dono da rede de hotéis Horsa, foi um sucesso. Desenhado
pelo arquiteto Nauro Jorge Esteves, o hotel com dez andares e 347 apartamentos
tem uma suite presidencial com quatro
quartos; quatro closets, mesa de reuniões, bar e sala de jantar. Inaugurado em
1961, hospedou a Rainha Elizabeth e o duque Phillip, o frances Charles de
Gaulle, os americanos Jimmy Carter e Ronald Regan, e ,muitos outros políticos,
diplomatas e celebridades como Roman Polanski, John Travolta e Roberto Carlos.
As suas galerias, na
parte térrea eram ocupadas por lojas de artesanatos, roupas, livrarias,
empresas de aviação, agências de viagens,
imobiliárias e lanchonetes que atraiam os brasilienses. O movimento em
frente a entrada principal do hotel, com feérica içuminação, lembrava a rua
Guilherme Rocha, em Fortaleza. Justamente o trecho da casa Parente, loja Vox,
livraria do Edésio, onde a moçada se
postava, jogando conversa fora, cubando
o movimento.
Foi na calçada
do hotel, batendo papo, que conheci os
jornalistas Roberto Macedo e Hélio Doyle no inicio dos anos 70. O movimento
aumentava quando do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Artistas como
Paulo José, Dina Sfat, Darlene Glória, Ítala Nadi, Leila Diniz e Arduíno
Colasanti, galã do cinema novo, que foi casado com a atriz e escritora cearense
Ana Miranda, se exibiam na piscina do hotel
observados por jornalistas,
hospedes e fãs.
A sauna era local procurado pelos brasilienses. Lembro que
um dia juntamos um grupo de colegas da Rede Globo e fomos pegar uma sauna.
Estava lotada e se não fosse o Arnaldo Artilheiro o programa não teria
acontecido. Artilheiro confiado em seus dois metros de altura e no seu possante
físico foi lá e aumentou a temperatura da sauna. Em poucos minutos não ficou
ninguém. E ele, na porta, argumentando que ocorrera um problema. Quando todos
foram embora, ele normalizou a temperatura e nós fomos nos divertir.
Nas décadas de 60 e 70, o hotel era o local de happy hour de
políticos e jornalistas. Mesas de baralho, uisque, paqueras e conversas que
varavam a noite, começavam no restaurante principal, com maitre e garçons
vindos do Riode Janeiro e São Paulo e geralmente passavam pela boate Tendinha
ou pelo restaurante Tabu. No Bar, os políticos , senadores, embaixadores,
ministros, deputados se revezavam no telefone, caçados pelas telefonistas para
atender os chamados dos amigos e contar os bastidores. A feijoada, aos sábados,
reunia fina flor dos Ponte Preta.
Era no Nacional que a cidade promovia festas de debutantes e
bailes de carnaval e de passagem de ano. Lembro que no baile em comemoração aos
15 anos de Brasília a Globo flagrou a presença da menina Brasília, a primeira a
nascer na nova capital. Embora estivesse também completando 15 anos não
lembraram de convidá-la. Ela viu tudo do jardim em frente ao salão de festa, no
sereno, esquecida.
Hoje, o Nacional, com novo dono, pode até se reabilitar, mas
jamais será o mesmo. A cidade ganhou outros
pontos que estão na moda. Os frequentadores da noite são outros. A
cidade tem novos hoteis.
O Nacional com seus quartos, salões cercados de madeira, não
perdeu seu glamour, continua pronto para receber seus hospedes, sob nova
direção. Mas aí a história será outra.
Wilson Ibiapina (Ibiapina), jornalista e diretor
do Sistema Verdes Mares, em Brasília
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