Luiz Carlos Barreto |
Wilson Ibiapina
Quem aniversariou agora em maio foi o cearense de Sobral, Luiz Carlos Barreto, conhecido nacionalmente e até no exterior pelo seu trabalho em prol do cinema nacional. Barretão, como é chamado pelos amigos, já produziu mais de 80 filmes. Ele diz que o melhor será o próximo.
Foi embora do Ceará para o Rio em 1947. Deixou Sobral para ir estudar em Fortaleza, onde virou líder estudantil e foi trabalhar como repórter do jornal do Partido Comunista. Ele diz que "quando a chapa esquentou por lá, a família e os dirigentes do partido me mandaram para o Rio de Janeiro"
Depois foi ser fotógrafo na revista O Cruzeiro, onde trabalhavam os melhores do país com salários milionários. De 1953 a 1954 foi correspondente da revista O Cruzeiro na Europa. Fez dupla com outro cearense, Indalécio Wanderley, com quem viajou o Brasil. Foi quando conheceu os presidentes desde o Getúlio a Castelo, passando por JK no exílio. Viveu de perto a história política e cultural do país. Um dia, foi pautado para cobrir o encontro do baixinho marechal Castelo Branco, com o gigante de dois metros general Charles De Gaulle. Foi tratado de forma rude pela segurança o que o levou a desistir do jornalismo.
Glauber Rocha |
Antes disso foi fotografar na Bahia o set de filmagem do Barravento. Conheceu Glauber Rocha que em seguida foi ao Rio para Nelson Pereira montar o filme. Glauber foi jantar na casa de Barretão e levou Nelson que estava se preparando para filmar Vidas Secas. E lá se foi para o interior de Alagoas como integrante da equipe de Vidas Secas. A monotonia naquela pequena cidade alagoana, onde a equipe se hospedava, era quebrada por um circo. No intervalo das filmagens resolveram ir ao circo. Queriam conhecer de perto o galã cantor circense que almoçava com eles, todo dia, no hotel. Quando o cantor foi anunciado, fez-se silêncio. O cara entra todo de branco, chapeu panamá quebrado na testa. Era o número principal do espetáculo, as mulheres suspirando alto. A orquestra ataca com a introdução em meio ao silencio que dava para se ouvir a batida dos corações femininos. E o cantor manda brasa no bolero que era sucesso nas vozes do já famoso trio Irakitan, que saiu do Rio Grande do Norte para brilhar em todo o país: "Hipócrita/ Eu sei que és hipócrita/ Pelversa tu zombaste de mim". Os artistas do cinema se retiraram de fininho, decepcionados com o cantor que tratou nossa língua com tanta perversidade.
Luiz Carlos produziu mais de 80 filmes, alguns viraram clássicos como O Assalto ao Trem Pagador, Vidas Secas, Terra em Transe, Dona Flor e seus dois Maridos, Memórias do Cárcere, Bye-Bye Brasil, O Quatrilho e O que é isso, companheiro?.
O maior sofrimento na vida da família de Luiz Carlos veio com o acidente do filho Fábio, que dirigiu o filme sobre Lula. Ficaram com ele em coma por quase dez anos, até ele morrer em 2019. Foi a maior prova por que todos passaram.
Agora, aos 93 anos de idade, Luiz Carlos vai ao clínico Dr. Roberto Zani, mostra o resultado dos exames, e o médico diagnostica:
- Rapaz, você vai ver até os 110 anos.
- Só isso? É pouco doutor. Se eu estivesse com 40 ou 50 anos, tudo bem. Mas 110 para quem tem 93 anos...
Realmente é pouco para quem, como o Luíz Carlos, ainda faz projeto de futuro. Agora mesmo está criando uma produtora que vai se especializar em fazer filmes de desenho animado, com roteiros e cenários na paisagem da selva amazônica. Tudo com a ajuda da esposa Lucy, segundo ele, o verdadeiro Barretão. É ela que impulsiona a máquina de fazer cinema inventada por ele ainda menino, quando viu o norteamericano Orson Wells filmando na praia de Iracema, em Fortaleza. Nunca mais tirou da cabeça que era aquilo que queria fazer.
Barretão e sua esposa Lucy |
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