Arquiteto, professor de desenho e artes plásticas, e
specialista em língua portuguesa, e
scritor, revisor de textos, enfim, um gênio.
Alguns dias atrás ele recebeu uma cópia do DVD que narra um pedacinho da vida do meu pai, o jornalista Wilson Ibiapina. Assim que terminou de assistir, correu pro computador e fez a seguinte homenagem:
Consegui emprestado o DVD “Wilson Ibiapina, cidadão do mundo” (2009) com o João Carlos Fonseca. As primeiras imagens me levaram a dar pause e sair da sala. Queria me preparar para um momento prazeroso que se enunciava. Peguei a cerveja espanhola Estrela Galícia que comprara no Pão de Açúcar.
Não que eu quisesse ser coerente com a internacionalidade do cearense José Wilson — achei que era um momento especial. Só então dei play.
José Wilson veio emprestar sua competência a Brasília em 7 de setembro de 1970, em plena vigência dos “anos de chumbo”, onde foram fechadas emissoras de rádio, dentre elas a Dragão do Mar, de que fala o documentário em DVD.
José Wilson menciona as ruas desertas do feriado no Planalto Central. Tenho impressão de que Brasília o auscultava em silêncio, pressentindo que a partir daquela data a cidade não seria a mesma. Chegava à cidade um cara irrequieto, fluente, instigante, que durante a vida toda só saberia fazer jornalismo. Talvez seja essa a receita para bem fazer jornalismo.
O portfólio de Ibiapina — assim poderíamos chamar o documentário bem elaborado, sem pretensões de propaganda curricular, já que ele não precisa — traz detalhes da vida de um cidadão do mundo que emocionam.
O lenço que José Wilson ostenta no depoimento leve e solto parece querer dizer da sua própria emoção, ao relatar suas ricas experiências. Mas quem assiste também se emociona com os caminhos palmilhados por esse profissional de peso. Revela-se impossível abarcar tanta jornada em apenas 42 minutos de vídeo.
Registro dois casos engraçados relatados por amigos de José Wilson no vídeo. Num deles, nosso amigo jornalista pega o jeep de Gamaliel emprestado. Chega tarde da noite sem o jeep, que havia “ficado no prego”, sem gasolina. Tradução inevitável: quem empresta um carro deveria fazê-lo de forma completa, com tanque cheio. Tradução complementar: são patentes as dificuldades financeiras por que passou Ibiapina, um emérito lutador. Lutador que venceu exclusivamente pelo trabalho, haja vista as amizades granjeadas, as realizações como profissional e pai de família.
Outro caso divertido — este prima pela bizarria — foi Ibiapina e seus amigos descobrirem que o local onde se obtinha a cerveja mais gelada de Fortaleza era o IML, com suas geladeiras sombrias mas eficazes.
A menção, no bem cuidado vídeo, ao desastre com o avião da VASP que se espatifou na serra da Aratanha em 8 de junho de 1982 me despertou lembranças daquele dia em que também cheguei a Fortaleza a trabalho, sobrevoando de forma panorâmica o local do acidente. O áudio que Ibiapina conseguiu amplificar da estupefação do piloto sensibiliza qualquer um.
Ao final das falas de tantas pessoas sobre Ibiapina, traz-se a convicção de que estamos aqui no Lago Norte bem pertinho — e isso é um privilégio — de uma pessoa que é memória viva da história do rádio e da tevê.
Alguns ligam José Wilson a rabo de foguete, pelo seu dinamismo. Podemos dizer, de maneira carinhosa, que esse cidadão do mundo tem mesmo é “fogo no rabo”, pela sua impetuosidade e brilho de cometa. E de todas as montagens fotográficas que foram feitas de José Wilson com Barack Obama, com o papa, com Che Guevara, ao lado de Neil Armstrong, só não acredito em uma — não resta a menor dúvida, José Wilson pisou na Lua, sim!
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