terça-feira, 24 de maio de 2011

O SANTO PADRE DO SERTÃO NORDESTINO




wilson ibiapina

No momento em que a Bahia e o Brasil festejam a beatificação de irmã Dulce, “a freira dos pobres”, lembramos de outros brasileiros que estão na fila à espera da santificação.

Por coincidência alguns desses religiosos são cearenses que já estão com seus nomes em estudo na Santa Sé, como padre Cícero, padre Ibiapina e a freira madre Maria José, filha do historiador Capistrano de Abreu. O processo de canonização de padre Ibiapina, por exemplo, encontra-se na Congregação das Causas dos Santos, no Vaticano.


Cearense de Sobral, padre José Antônio Maria Ibiapina criou fama no Nordeste graças a obra social que desenvolveu na região. O trabalho de padre Ibiapina é contado por Celso Mariz em livro que revela a capacidade de realização desse brasileiro que foi juiz de direito e deputado federal antes de se entregar à igreja.

Ele conseguiu levantar nos sertões do Nordeste, entre mandacurus e chique chiques, uma organização cristã de assistência social ao sertanejo, de educação doméstica e industrial da mulher do interior, de amparo a órfãos e a doentes, de combate às secas e ao cangaceirismo. Padre Ibiapina inaugurou, em 2 de fevereiro de 1865, a Casa de Caridade da vila de Missão Velha. A ideia de base das Casas de Caridade fundadas pelo religioso por todo o Nordeste era o acolhimento das pequenas órfãs. As Mães-Sinhás ensinavam as orfãzinhas a cozinhar, a fiar, a tecer e tingir o algodão, a tratar de doentes, a plantar sementes em tempo certo, a fazer chapéu de palha. Ensinavam também a ler, a escrever, a rezar.

A inauguração da Casa de Caridade de Missão Velha contou com participação do cratense Cícero Romão Batista, à época um jovem de cerca de vinte anos de idade, que segundo os mais diversos estudiosos foi fortemente influenciado pela pregação do Padre Ibiapina e pelo seu exemplo de serviço ao povo pobre e humilde do Cariri. O pernambucano Gilberto Freyre escreveu que “de tudo cuidou o bravo missionário, em quem as virtudes de cearense se aguçaram em virtudes de santo, sem que nessa difícil sublimação se perdesse a capacidade prática de organizar, de administrar, de desenvolver”.

Homem culto, não teve uma vida facíl. Era filho de D. Teresa Maria de Jesus e do tenente-coronel Francisco Miguel Pereira, que participou da Confederação do Equador em 1824 ao lado de José Martiniano de Alencar, pai do escritor José de Alencar. Ao final da Confederação, José Martiniano de Alencar foi inocentado, mas o tenente-coronel Francisco Miguel Pereira não teve a mesma sorte. Foi fuzilado junto com padre Mororó, Pessoa Anta, Carapinima e outros líderes no Campo da Pólvora em Fortaleza, local que passou a chamar-se, em homenagem aos participantes da confederação, Praça dos Mártires e, atualmente, Passeio Público.

Órfão de pai e mãe, passou a trabalhar para sustentar os irmãos menores e manter financeiramente a família. Também resolveu acrescentar o sobrenome Ibiapina. Com a família novamente estabilizada, retornou em 1828 ao Seminário de Olinda para continuar os estudos. Após seis meses de internato, desistiu da carreira religiosa e ingressou no Curso de Direito de Olinda e bacharelou-se em leis quatro anos depois.

Em 1833, tornou-se professor substituto de Direito Natural na Faculdade de Olinda, foi eleito Deputado Geral e nomeado Juiz de Direito da Comarca de Campo Maior, hoje Quixeramobim, a terra de Antônio Conselheiro, que liderou o arraial de Canudos. Depois de alguns anos como juiz, período em que militou no Partido Liberal, resolveu deixar a magistratura e voltar para o Recife em 1837, onde passou a exercer a advocacia em Pernambuco e na Paraíba.

Solteiro e aparentemente decepcionado com os tribunais e a política, abandonou tudo para seguir a vida religiosa e novamente voltou ao Seminário, ordenando-se padre em 1853. Na sua missão evangelizadora, além das casas de caridade, ergueu inúmeras igrejas, capelas, cemitérios, cacimbas dágua e açudes. Ensinou técnicas agrícolas aos sertanejos.

Ele deixou marcas não apenas na organização posterior da igreja no Nordeste, mas também na vida das pequenas comunidades da região. Padre Ibiapina já é oficialmente reconhecido como Servo de Deus, após o documento "Nihil Obstat" da Santa Sé, emitido a 18 de fevereiro de 1992. Por ocasião da visita "ad limina", os 22 bispos do Regional Nordeste 2 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que abrange os Estados de Alagoas, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, solicitaram celeridade no processo de canonização do Apóstolo do Nordeste.




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