domingo, 19 de agosto de 2012

LÁ SOU AMIGO DO REI




Wilson Ibiapina

As fantásticas histórias de um repórter aventureiro, que enfrentou a ditadura militar, foi clandestino em Paris, amigo de celebridades, marido de miss, cineasta, músico e, principalmente, especialista em disco voador, estão agora reunidas num livro. Na capa a revelação de que, “depois de mais de 30 anos fora do Brasil , Carlos Marques volta como partiu: quase anônimo e sem um tostão”.

AS AVENTURAS DO REPÓRTER

Poucos cearenses conhecem Darcílio Lima, desenhista e pintor que nasceu no município cearense de Cascavel, em 1944, e que participou do festival surrealista, em Londres, junto com Salvador Dali. Só a vida desse artista que começou desenhando cenas regionais, principalmente praias do Ceará, que morou num cemitério em Paris e trabalhou com o pintor catalão Dali, já daria um livro robusto, repleto de aventuras. Darcílio é um dos muitos personagens do livro que o jornalista Carlos Marques está lançando sob o título “Lá Sou Amigo do Rei”. Figuram no livro da editora Geração nomes como do arquiteto e poeta Fausto Nilo, do violonista Manassés, do cantor e compositor Raimundo Fagner e de Humberto Barreto.

O pernambucano Carlos Marques, que viveu em Paris, nesse livro quase auto-biográfico, relata em detalhes seus trabalhos e experiências mais importantes quando teve oportunidade de conviver com personagens como o Papa João Paulo II, Arafat, Mandela, Jacques Cousteau, o presidente Mitterrand, entre outros. 

Filmando Jacques Cousteau

Com Arafat





Duas misses foram apaixonadas por ele. Uma matou-se, a outra casou-se com ele, com quem teve uma filha. Estão na sua vasta lista de seduzidos por seu carisma nomes como Paulo Freire, Glauber Rocha, Pelé e Jean Genet. 


Com Liana no dia do casamento

Imitando John Lennon e Yoko Ono, com Liana e Juliana



Com Paulo Freire em Paris


Andando pelo mundo esse jornalista presenciou grandes acontecimentos e viveu histórias que até o diabo duvida. Privou da intimidade de grandes personalidades, amou e foi amado por lindas mulheres de diferentes nacionalidades. Carlos Marques ajudou muita gente a se dar bem na vida. Nos anos 60 ele se meteu com a esquerda brasileira e acabou preso e torturado no Brasil e na Argentina. Naqueles tempos difíceis, compartilhou um esconderijo, no Rio de Janeiro, com uma menina magrinha e corajosa, que anos depois foi eleita presidente do Brasil

O jornalista e escritor Muniz Sodré, que nos anos 70 foi chefe de reportagem da revista Manchete, onde Carlos Marques trabalhava como repórter, lembra que “naquela época, ele já era o narrador de uma lenda pessoal, que o fazia trânsfuga político. Preso por ter trabalhado com Paulo Freire, foi torturado sem saber exatamente o porquê e terminou salvo por um bispo.” Muniz se impressiona com o dom artístico do jornalista pernambucano: “Extraordinário é que, em meio à multiplicidade de aventuras e desventuras, a música lhe tenha surgido como um bálsamo e pausa criativa. Sem conhecer uma nota sequer da pauta musical, sem jamais se apresentar como poeta, Marques compõe, com letra e melodia, canções muito ternas, gravadas por artistas diversos e tocadas em rádios francesas". 

Fausto Nilo, que conviveu com ele em Paris, adverte: “Tudo que Carlos    Marques contar acredite, pois não é nem a metade do que ele já fez por aí”.

Com o Papa João Paulo II

Ao lado do Rei Pelé


Com a Presidente Dilma




CARLOS MARQUES POR ELE MESMO

Ibiapina, você me pede um texto, digamos, autobiográfico, depois dos tantos anos que nos conhecemos e certamente você tem razão porque não deve conhecer JABOATÃO DOS GUARARAPES, uma terra que tem uma praia chamada PIEDADE - onde quase morri afogado-, uma ILHA DOS AMORES onde comi minhas primeiras piranhas e um bairro chamado PRAZERES onde aprendi a amar...foi lá que nasci num janeiro de 1944, término da segunda guerra mundial e começo dessa "terceira", dessa vez pessoal e onde sou o único cadastrado como sobrevivente....pernambucano. 

Quis o destino que meu pai fosse um padre jesuíta e minha mãe uma doce e bela católica que o conheceria num confessionário onde certamente revelaria um ingênuo pecado que o faria largar-a-batina e constituir uma família provocando, de cara, os nascimentos de treze irmãos: é claro, excomungado e condenado a uma pobreza sem fim, (você sabe que um padre caído nesse pecado, àquela ocasião, não tinha salvação!)...talvez por causa disso oito dos meus irmãos morreriam de fome....

Devo dizer que por conta dessa miséria, sem remorsos, foi aos nove anos de idade que abdiquei da família para me lançar nessa carreira de moleque de rua. insolente e desarvorado, vítima de abusos inúmeros de policiais, juízes, padres e todos os eternos "protetores" de menores abandonados e que dão "fiabilidade " aos moralistas de nossa sociedade sincera.

Nesse vai e vem de prisões, claustros de conventos, marquises acolhedoras, abrigos de pontes da Veneza brasileira, o então jovem adolescente teve a luz do caminho político que me custaria tão caro mais tarde: um providencial encontro com o lúcido professor Paulo Freire, à época, integrando a jovem equipe de Miguel Arraes, me conduziria a um engajamento rapidamente "enforcado" com a vinda do golpe militar de 1964.

Paulo Freire exilado na embaixada da Bolivia me restaria o caminho das prisões, primeiro, no quartel do Exército, na Tijuca, no Rio, e depois no famoso DOPS, também na cidade maravilhosa. Ali eu seria torturado à morte, segundo os jornais, mas felizmente não foi bem isso que aconteceu: clandestino, no começo, depois me arranjaram emprego no famoso DIÁRIO CARIOCA  (Josimar  Moreira, Milton Coelho da Graça, Eurico Andrade. Sebastião Nery, etc) e a carreira de jornalista estava à salvo. Devo relembrar que a tinha começado, menino de calças curtas, no DIÁRIO DE PERNAMBUCO pelas mãos  do não menos famoso Ascenço Ferreira,poeta maior da pernambucanidade. Depois fui para a ÚLTIMA HORA Nordeste, uma força que o Samuel Weiner daria a candidatura de Miguel Arraes...

O fim do DIÁRIO CARIOCA me levaria a revista MANCHETE, que literalmente "recolheu" os melhores repórteres do jornal defunto e eu era um deles...Na veia o sangue "guerrilheiro" vivia produzindo lágrimas até o dia, depois do AI 5, resolvi pegar um navio cargueiro chamado CORINA e ir tentar a vida na Europa: Paris mais precisamente.... É essa história que está contada no livro LA SOU AMIGO DO REI.

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