



Ruy contou-me um dia que ficou encantado quando teve a noção
exata do tamanho do Brasil. Em Portugal, contava ele, pegava um avião para o
Porto e o voo durava uma dose de uísque. Na primeira viagem que fez da capital
gaúcha para Manaus, ficou surpreso. Pediu um uísque, deu uma volta pelo avião,
uma segunda dose, uma terceira, e nada de chegar. Teve que sentar, mandar
suspender a bebida e esperar o término do voo. Um país continental que ele
soube explorar.
Depois de anos morando em Porto Alegre, como jornalista,
voltou para Portugal por um período. Em 1975, Ruy Diniz Netto ingressou na
carreira diplomática e foi nomeado como adido cultural da Embaixada de Portugal
em Brasília. O trabalho que fez para entrosar os dois países suplantou o de
muitos embaixadores.
Alegre, culto, amigo, cordial, conseguiu fazer amizade com
jornalistas, políticos, empresários e intelectuais. Aproximou os brasileiros de
sua terra com promoções culturais que envolveram grandes nomes das artes, da
cultura e da música.
Apresentou-nos Mário Soares e José Saramago, muito antes dos dois
deflagrarem suas carreiras na política e na literatura.
Ruy Diniz estava sempre pronto para atender a qualquer convite. De blazer, lenço no
pescoço, circulava com elegância e desenvoltura pelos salões de Brasília,
fazendo amigos, “vendendo” a imagem de Portugal.
Um dia, quando aguardava no aeroporto de Brasília a missão
que vinha preparar a visita do então presidente português, Mário Soares, teve
seu carro roubado no estacionamento. Dias depois, recebeu um telefonema dizendo
que o carro dele estava no estacionamento da Polícia de Goiânia, mas tinha que
pagar uma taxa. Foi lá, pagou e resgatou a velha Mercedes.
Contou-me essa história quando, um dia, levava a Edilma e eu
de sua casa no Estoril para Lisboa, nesse mesmo automóvel. Disse que nunca
denunciou à Polícia nem contou para a imprensa para não criar problema para a
imagem do país que ele adotara como segunda pátria.
Queixou-se, também, de nunca ter sido lembrado pela
Embaixada do Brasil em Lisboa nas festas do Sete de Setembro e em outras datas
que eram lá comemoradas. Toninho Drummond, quando lhe contei, prometeu
conversar com o nosso representante diplomático em Lisboa para incluí-lo na
agenda de eventos. Não deu mais tempo.
Ruy ficou em Brasília até 1992, quando se aposentou e
retornou à sua pátria. Nunca esqueceu o Brasil e os amigos. Sua filha Suzana,
que nasceu no Brasil, disse-me que pouco antes de morrer conversou com ele.
Relembraram histórias envolvendo Ari Cunha, Abdias Silva, Rangel Cavalcanti,
Egidio Serpa, Toninho Drummond, Walter Galvani, Célia Ribeiro, Alberto André,
Maurício Rosenblatt e Erico Veríssimo – e muitos outros amigos de Brasília e de
Porto Alegre que”marcaram os dias mais felizes de sua vida.”