sábado, 21 de junho de 2014

INFLUÊNCIA DOS AMERICANOS NA SOCIEDADE FORTALEZENSE




A passagem das tropas americanas por Fortaleza durante a segunda guerra mundial serviu, pelo menos, para mudar o comportamento de rapazes e moças da cidade. Os marinheiros e soldados, em trânsito para a Europa, onde iam enfrentar o inimigo, caiam na gandaia em Fortaleza, parecendo até que estavam se despedindo da vida. Um dos lugares que frequentavam era o bar e sorveteria O Jangadeiro, que ficava na praça do Ferreira. O dono, o sobralense, José Frota Passos, adorava atender os americanos que pagavam a conta sem reclamar, como faziam os jovens da sociedade fortalezense que também andavam por lá, bebendo cerveja e conhaque, pois tinham vergonha de pedir uma cachaça, “bebida de pobre”. 

A polícia também ajudava a  estigmatizar nossa caninha, proibindo a sua venda depois das seis da tarde, até mesmo durante o carnaval. Os americanos pediam uísque. Como não tinha exigiam algo forte para substituir o drinque escocês. E os garçons, sem dó e sem pena, empurravam cachaça. Como realmente era muito forte, os americanos misturavam com coca-cola. O drinque  ganhou o nome de samba. O escritor Alberto Galeno dizia que “como no Ceará as elites costumavam copiar tudo que fazem os estrangeiros, imitar os americanos bebendo “samba” foi imediato. Já não precisavam beber a caninha  escondidos nos reservados dos bares.” O uisque nacional ganhou status.
 
Mas não parou aí a influência dos americanos. Para se divertir eles precisavam da companhia das mulheres. No anos 40, uma moça de família não saia de casa desacompanhada dos pais ou irmãos. Sozinha com o namorado, nem pensar. Nove horas da noite era o limite estabelecido para que voltassem pra casa. Foi aí que os americanos operaram uma verdadeira revolução, quebrando esse tabu. 

As moças passaram a desrespeitar as ordens dos pais. Eram vistas de braços dados com os namorados, a qualquer hora, nas praças, nos bares e clubes, como o Estoril, na praia de Iracema. Essas jovens, que promoveram uma mudança nos costumes, passaram a ser chamadas de “coca-colas” pelos enciumados rapazes da terra que nunca tinham conseguido sair a sós com elas. 

As mães morriam de vergonha das filhas que logo se viram satirizadas no carnaval. Homens vestidos de mulheres no bloco das coca-colas, uma gozação que atravessou o tempo lembrando  que foram essas audaciosas senhoritas que ajudaram a cidade a sair de seu mais arraigado provincianismo.

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