Wilson Ibiapina
A disputa pelo
governo do Ceará está acirrada. Os políticos em campanha só faltam se
atracarem nas discussões pelo voto. Os conchavos parecem um saco de gatos. Mas
já foi bem pior.
|
Antônio Pinto Nogueira Accioly |
Nada se compara com o que ocorreu em 1912,
quando o tenente coronel Franco Rabelo, com o apoio do presidente do país,
marechal Hermes da Fonseca, entrou na corrida pelo governo do estado. Do
outro lado estava Antônio Pinto Nogueira Accioly, tentando se reeleger. Accioly
era rejeitado pela população, o que não o impedia de lutar para permanecer
roubando, perseguindo adversários, empregando familiares e amigos. O clima
estava mais para urubu que para colibri, como dizia Estanislaw Ponte Preta. As
mulheres de Fortaleza, que pertenciam a Liga Feminista, resolveram fazer
uma passeata com seus filhos para pedir o fim dos desmandos promovidos
pelo presidente da província, que era como se chamava o governador. Depois de
muitos obstáculos, as senhoras conseguiram a autorização e a passeata em
homenagem a Franco Rabelo, candidato a presidencia do Ceará no próximo
quatriênio foi marcada para a tarde do dia 14 de janeiro, um domingo. O
Sr. Manoel Franco , conduzindo a Bandeira Nacional, abriu o protesto que seguiu
da praça dos Mártires pela rua Barão do Rio Branco. A adolescente Odete de Paula
Pessoa segurava um estandarte com os dizeres ”Liga Feminista pro Ceará
Livre. Umas duas mil senhoras e senhoritas, todas vestidas de branco. Muitas
crianças estavam no desfile que era aclamado por onde passava. Ao término, já
na praça do Ferreira, os discursos de encerramento acirraram os ânimos. De
repente começa um tiroteio. A cavalaria entra em ação pisoteando crianças,
mulheres. Muita gente baleada. Essa reação para dissolver o protesto que estava
terminando pacificamente, selou a sorte de Nogueira Accioly. Fortaleza virou
praça de guerra. O povo revoltado, durante três dias fez barreiras, destruiu
a praça José de Alencar, saqueou o comércio.
O escritor Hermenegildo Firmeza conta na revista do
Instituto do Ceará que um jovem cronista que usava o pseudônio João dos
Gatos, escreveu num jornal da cidade que “um pequeno garoto, de calças
curtas, onze anos, um nada, em luta como um homem, surgiu de uma esquina.
Sobraçava um rifle, os olhos atentos, atravessou a largura da rua, de gatinhas,
como um guerreiro ensinado e perito na audácia. Um velho cético e boêmio travou
o seguinte dialogo com o menino:
- Onde vais?
- Para as trincheiras da rua Formosa.
- Que diabo vais fazer, lá não tem formigas para guerreares?...
- Mas tem couro de cão para espichar...
- E a mamadeira?
O pequeno cearense levantou o rifle e gritou:
- Levo aqui; o leite é para o Accioly.”
Franco Rabelo foi eleito mas durou pouco no poder.
As crises políticas terminaram colocando no Palácio da Luz o interventor
Fernando Setembrino Carvalho, o mesmo general que comandou o
massacre aos beatos de Antônio Conselheiro em Canudos, na Bahia.
Hoje, a ambição pelo poder continua seduzindo os
políticos que estão de olho na eleição de outubro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário