João Soares Neto
O Brasil passou quase incólume pela crise mundial de 2008/9. Acreditava-se, diziam muitos, que a crise européia - que se arrasta há anos - não nos atingiria: temos “fundamentos”. Conversa fiada. Recebemos um soco na economia brasileira que imagina como solução vender carros encalhados, desde 2011, em um país de rodovias ruins porque densamente utilizadas por caminhões pesados. Temos, ainda, neste século 21, escassas ferrovias regionais e nenhuma nacional para cargas. As cidades já não comportam mais os veículos que têm. Isto sem atentar para as endiabradas motocicletas que infernizam o trânsito e provocam elevadas despesas nos lotados hospitais públicos.
O Brasil acreditava mesmo que a emergente classe média ia bem. De repente, uma profusão de milhões de cartões de crédito foram entregues a pessoas que não aprenderam ainda a cuidar de suas economias. No Brasil, as empresas de cartões de crédito estão nas ruas, aceitam todo tipo de cliente e cobram, por cada mês de atraso, os mesmos juros anuais definidos pelo Banco Central. Em 2011, os juros médios do dinheiro de plástico foram de 323,41% ao ano.
Resultado, milhões de pessoas penduradas com dívidas. Isso provoca, além da depressão pessoal, desajustes familiares e restrições em seus empregos. Não rendem no trabalho, atormentadas que estão com o que devem. Os desempregados, em boa parte, não conseguem ocupação por novas qualificações solicitadas e suas inclusões nas listas de devedores dos serviços de proteção ao crédito - Spc e do Serasa – empresas privadas que bisbilhotam e fornecem “fichas sujas” para os que se afoitaram além de suas possibilidades. É vero.
A farra consumista brasileira vai ter que encontrar, do outro lado da ponte da vida, com a realidade cruel que atinge a maioria. As publicidades enganosas precisam dos olhares do Conar, entidade não governamental que, por definição, deveria cuidar da autorregulação da propaganda e da liberdade de expressão. Não se pode gastar esperando bonança futura. É básico que todos devam ter um orçamento. Se você gastar mais do que ganha, algo acontecerá. Não há como fugir das contas que o acossam através de protestos de títulos, questões judiciais para devolução de veículos e propriedades e as intermináveis discussões sobre os abusivos juros dos já referidos cartões de crédito.
Parcimônia é palavra pouco conhecida do brasileiro. Qualquer comemoração familiar, do batizado ao casamento, é, quase sempre, prova de insanidade pelo deslumbramento desnecessário. Ninguém deve acreditar que pode melhorar de vida mudando hábitos de consumo que devem ser coerentes com os contracheques que recebe. Não pegue corda de pessoas amigas e vendedores que o incitam a comprar o que não precisa e, mais que isso, sem a certeza de poder pagar. Deus não dá um jeito em tudo. Temos que fazer a nossa parte. A euforia sempre é passageira. A depressão demora. O equilíbrio pessoal poderá se transformar na parcimônia/comedimento que todos deveriam ter. O uso da razão determinará seus limites.
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