domingo, 29 de julho de 2012

O CÂNCER DO JAGUAR



Trecho de artigo do Jaguar publicado no jornal O Dia, do Rio, anunciando que está com câncer:
JAGUAR: PISCINA DE CERVEJA


Rio -  Uma piscina olímpica, no mínimo, foi o que bebi nos últimos 62 anos (completei 80 há 7 meses e bebo desde os 18). Para ficar só nas cervejas, sem falar nos vinhos e nos destilados: cachaça, underberg, bagaceira, grapa, tequila, steinhager, pisco, conhaque, rum, aquavit, gim, sakê, até absinto. E mil coquetéis, do Hi-Fi ao dry-martini. 

Durante esse tempo todo, consumi no mínimo uns 5 litros por dia da loura gelada, façam as contas. Quem persevera sempre alcança: fui fazer um checape de rotina e deu cirrose em estágio pra lá de avançado e vários cânceres ( tem plural?), no que os antigos boêmios chamavam carinhosamente de figueiredo.

Em linguagem técnica, eu estava com CHC (Carcinoma Hépato Celular). O médico do Chico Caruso aconselhou procurar o maior oncologista (especializado em câncer), com consultório em São Paulo. Ele foi sucinto. “Precisa operar     imediatamente”. Levei um susto. Cheguei aos 80 sem um furo no meu corpo, exceto os que já nasci com eles. “E se não quiser operar, doutor ?” “Você vai ter entre 2 a 20 dias de vida, na melhor das hipóteses”. Achei um exagero: “Mas não sinto nada, nenhuma dor”. “ Você é um caso raro. Qualquer     um no seu estado teria náuseas, dor e febre”. “Depois da operação posso voltar a beber?”

Como o corvo de Edgar Allan Poe, respondeu: “Nunca mais”. “Então deixa pra lá, o que tinha que fazer fiz e o que não fiz não farei mais”. O resto da vida vendo tevê, lendo jornal ou jogando biriba no Posto 6 com outros velhinhos. 

Mas não houve jeito de escapar. Célia me internou no Hospital Sírio-Libanês, o mesmo onde estiveram Lula e a Presidenta. Antes almoçamos no Gero com dry-martinis, vinho e underberg. Pelo menos minha presumida última refeição foi bem melhor que a de Cristo. Quando chegamos,     havia uma multidão de fotógrafos e cinegrafistas. “Como descobriram? Só os médicos, Célia e eu sabíamos”. Ledo Ivo engano (licença, Sérgio Porto). Estavam na porta do hospital para cobrir a saída de Pedro, filho do cantor sertanejo Leonardo. No meu tempo era cantor caipira, com chapéu de palha e  botina. Agora é chapéu texano, muita joia e botas de     grife.

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