João Soares Neto
Recebo um pacote em casa. Carlos Heitor Cony, no livro “Quase Memória”, trafega com embrulho protegido por barbante em quase todas as páginas e enredo. E sem abri-lo. Abri. Era gesto de delicadeza de Fernanda Coutinho e Vera Moraes, organizadoras da antologia “Clarices”. Elas oferecem homenagens claricianas, integrantes da legião de apaixonados pela Haia da Ucrânia, dita Clarice, no Brasil.
Fernanda escreve sobre “Clarice e a Infância Jamais Perdida”. Vera relê a musa em, “O Verde Úmido Subindo em Mim: A mulher e a Magia do Jardim em Clarice Lispector”. Juntas, produziram a “Entrevista com Nádia Battella Gotlib” e “Algumas Questões sobre Clarice Lispector dirigidas à Nadiá Setti”. Em parceria com Maria Elenice Costa Lima, Vera disserta “Inquietudes de Ser Mulher em Laços de Família”. Outros claricianos contribuem com mais 20 ensaios sobre a menina que passou a infância no Recife e vai para o Rio, aos 14. De lá, espraia-se como mulher pelo mundo real e, fulgurante, no da literatura.
Jornalista, Clarice tornou-se a grande, misteriosa e a amada, viva e post mortem, escritora. Casada, teve filhos com o diplomata carioca Maury, da família cearense Gurgel do Amaral. Antes de separar-se, moraram anos na Europa e Estados Unidos, tempo em que trocava cartas com escritores e amigos brasileiros. Morreu de câncer, aos 57. O crítico literário José Castello, certa vez, perguntou-lhe: Por que você escreve? Ela respondeu: por que você bebe água? Ele retrucou: para viver. Então, Clarice falou: escrevo para me manter viva.
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