Cel. Rui Pinheiro Silva
Fomos contemporâneos na Escola de Estado-Maior, ele duas
turmas na minha frente. Na manhã de 18 de julho de 1972, a Direção de Ensino
programara uma Conferência em homenagem ao Presidente Castello Branco, morto há
cinco anos e ex-Comandante daquela Casa.
O auditório repleto acomodava todos os Instrutores e alunos, alguns generais e os docentes civis, dentre os quais
Mário Henrique Simonsen. Silêncio... Expectativa sobre o Conferencista. A
presença de renomados generais dificultava o palpite. Abrem-se as cortinas e,
para surpresa geral, junto ao púlpito está um aluno do 3º ano, jovem Major de
Artilharia, paraquedista Kurt Pessek. Foi uma conferência inesquecível e ao
terminar, aplaudido de pé, em que pese a discrição militar que é normal nesses
atos.
No decorrer daquele ano, vez ou outra, cumprimentávamo-nos ao cruzar os
corredores, ele sempre simpático, não demonstrando a vasta cultura de que era
possuidor. Dificilmente era visto usando a boina vermelha e os “red boots”, característicos
dos audazes paraquedistas, porém orgulhava-se em sê-lo. Terminou o curso com
brilhantismo e seguiu destino. Alguns anos depois, já tenente-coronel, é
Assistente-Secretário do General Hugo Abreu, Chefe da Casa Militar do
Presidente Geisel. Qual general não gostaria de tê-lo como Assistente? Dentre
suas tarefas coordena os jornalistas políticos que trabalham no Planalto, onde
faz muitos amigos.
Porém, em 1978, problemas sérios ocorrem entre o Governo e a
Cúpula Militar e, dessa forma, o Kurt é transferido para o Estado-Maior da 10ª Região Militar, onde me encontrava. Exerce
sua função com proficiência e estreita relações com a área cultural e
jornalística.
Discreto, certa vez, o novo governador, Virgílio Távora, durante
uma palestra no Quartel, surpreso, diz do seu contentamento em vê-lo no Ceará e
põe-se à sua disposição. Um ano depois, KP já está transferido para a 18ª CSM -
Ilhéus-BA e, logo mais para o RS. Consegue retificação para o Rio, e daí, para
Brasília, onde pede reserva. Vai ser Diretor-Presidente do jornal Última Hora,
onde se houve muito bem. Até o fim da
vida, dedicou-se à cultura, sempre com artigos primorosos e por último publica
um dicionário com 800 mil palavras interligadas pela Editora Thesaurus. Inesperadamente, Deus o convocou para o seu
séquito de Heróis.
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