sexta-feira, 1 de outubro de 2021

MAIS LAZER, MENOS TRABALHO



Wilson Ibiapina

O poeta pernambucano, Ascenso Ferreira tinha uma filosofia que ele traduziu em versos: "Hora de comer — comerHora de dormir — dormirHora de vadiar — vadiar! Hora de trabalhar? — Pernas pro ar que ninguém é de ferro!

Sempre achei um exagero das pessoas que se envolvem de corpo e alma no trabalho. Como todo menino pobre, desde cedo fui trabalhar. Aos 12 anos ajudava meu pai a vender remédios numa pequena farmácia  que ele tinha na rua Meton de Alencar, bem ao lado do Mercado São Sebastião, em Fortaleza. Fazia parte da maioria silenciosa que não trabalha para viver, vive para trabalhar.

O juiz de direito, dr. Porto,pai do professor Tamborini, que morava na Agapito dos Santos, toda tarde, ia a pé de casa até a igreja de Nossa Senhora das Dores, em Otávio Bonfim. Um dia, passando em frente a minha casa, parou para conversar justamente sobre trabalho. Ele aposentado e eu ainda garoto, me dizia: "faça como eu, trabalhe oito horas, se divirta hora e durma oito horas."

Hoje, dei de cara com um velho livro na minha estante: Elogio ao Ócio, do filosofo inglês Bertrand Russel. O que você acha de trabalhar apenas quatro horas por dia e não oito ou dez, como querem os americanos?  Pois é exatamente o que propõe Russel,  que era matemático, também, em artigo que publicou em jornais das Europa e dos Estados Unidos. Ele juntou quinze artigos sobre o tema e publicou sob o título "O Elogio do Ócio".

A orelha da nova edição do livro é do italiano Domenico De Masi, autor do livro O Ócio Criativo. Lembra que os maiores ociosos que se tem notícia são os proprietários de terras na Europa, a maioria ostentando títulos de nobreza, alugando suas terras e colocando a massa ignara para morrer trabalhando por eles. Existem pessoas abastadas que estão convencidos que os pobres não saberiam o que fazer com tanto lazer. Podiam até morrer de tédio. Russel defende que os momentos de ócio, de despreocupação e diversão são importantes na educação dos jovens. Para que o ócio seja acessível a toda população é necessário que o trabalho passe por uma reestruturação baseada nas possibilidades abertas pelo moderno método de produção. Hoje, o homem já é substituído pelas máquinas em várias áreas de trabalho. Em 1935 ele já escrevia que "num mundo em que ninguém tenha de trabalhar mais de quatro horas diárias, todos podem saciar a curiosidade que carregam dentro de si." Acima de tudo, afirmava o filósofo, haverá felicidade e alegria de viver, em vez de nervos em frangalhos, fadiga e má digestão".

Infelizmente, essa ideia de que pobre deve ter direito ao lazer sempre chocou os ricos. O italiano Domenico De Mais, em seu livro O Ócio Criativo, diz que o homem chegou a um ponto de inversão de rota. "Pela primeira vez, após a civilização grega, o trabalho já não representa mais a categoria geral que explica o papel  dos indivíduos e da coletividade. Pela primeira vez, são o tempo livre e a capacidade de valoriza-lo que determinam o nosso destino não só cultural como também econômico".

Há muitos anos que os baianos pensam assim.

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