Um minuto de risada no lugar de um minuto de silêncio para homenagear Chico Anysio, o artista maior que o Ceará deu ao Brasil.
Humorista, foi também compositor, cantor, escritor, artista plástico, comentarista esportivo, dublador. Atuou como ator em vários filmes e novelas.
Chegou ao Rio aos 7 anos de idade. Sonhava ser advogado e jogador de futebol. Começou a trabalhar muito cedo. Aos 17 anos fez teste para locutor da rádio Guanabara e ficou em segundo lugar. Perdeu para Sílvio Santos. Foi na Guanabara, nos anos 50, que começaram a surgir os tipos que depois ele levou para a televisão.
O diretor Carlos Manga, para quem Chico Anysio já havia escrito 18 chanchadas da Atlântida, aproveitou o surgimento do video tape e propôs ao humorista gravar um programa com seus personagens. Surgia aí o "Chico Anysio show", a base dos outros programas que o comediante estrelaria na TV durante os anos seguintes.
Walter Clark conta no livro Campeão de Audiência que Chico Anysio foi o pioneiro da edição em vídeo tape. Não existia ilha de edição. Eles cortavam a fita do tape com gilete. Como não tinha como ver a imagem, se orientavam pelo áudio, depois colavam a fita com durex.
Ao longo de seus 65 anos de carreira, Chico Anysio criou mais de 200 personagens e foi um dos maiores humoristas do Brasil. Se destacou no rádio, na TV, no cinema e no teatro.
No cinema começou no tempo das chanchadas da Atlântida, passou pela pornochanchada (O doce esporte do sexo) e participou de longas como a Hora e a vez de Augusto Matraga e Tieta, de Cacá Diegues, entre outros.
Compôs belas músicas como a Praça Onze gravada por Dalva de Oliveira; Rio Novo, Filha de Chico Brito, que foi gravado até por Elis Regina. Mas bonito mesmo é Rio Antigo. Veja a letra:
Quero um bate-papo na esquina
Eu quero o Rio antigo
Com crianças na calçada
Brincando sem perigo
Sem metrô e se frescão
O ontem no amanhã
Eu que pego o bonde 12 de Ipanema
Pra ver o Oscarito e o Grande Otelo no cinema
Domingo no Rian
Me deixa eu querer mais, mais paz
Quero um pregão de garrafeiro
Zizinho no gramado
Eu quero um samba sincopado
Baioba, bagageiro
E o desafinado que o Jobim sacou
Quero o programa de calouros
Com Ary Barroso
O Lamartine me ensinando
Um lá, lá, lá, lá, lá, gostoso
Quero o Café Nice
De onde o samba vem
Quero a Cinelândia estreando "E o Vento Levou"
Um velho samba do Ataulfo
Que ninguém jamais agravou
PRK 30 que valia 100
Como nos velhos tempos
Quero o carnaval com serpentinas
Eu quero a Copa Roca de Brasil e Argentina
Os Anjos do Inferno, 4 Ases e Um Coringa
Eu quero, eu quero porque é bom
É que pego no meu rádio uma novela
Depois eu vou à Lapa, faço um lanche no Capela
Mais tarde eu e ela, nos lados do Hotel Leblon
Quero um som de fossa da Dolores
Uma valsa do Orestes, zum-zum-zum dos Cafajestes
Um bife lá no Lamas
Cidade sem Aterro, como Deus criou
Quero o chá dançante lá no clube
Com Waldir Calmon
Trio de Ouro com a Dalva
Estrela Dalva do Brasil
Quero o Sérgio Porto
E o seu bom humor
Eu quero ver o show do Walter Pinto
Com mulheres mil
O Rio aceso em lampiões
E violões que quem não viu
Não pode entender
O que é paz e amor
Chico também foi artista plástico. Apaixonado pela pintura, retratou paisagens ao redor do mundo a partir de fotografias que tirava dos países que visitava. Realizou exposições de seus quadros em diversas galerias do Brasil e chegou a afirmar que gostaria de ter dedicado mais tempo à atividade.
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Como escritor deixa 21 livros, tendo publicado vários best-sellers na década de 70, como "O Batizado da vaca", "O telefone amarelo" e "O enterro do anão". Sua última publicação foi “O canalha”, lançada em 2000. Em entrevista à revista Época ele diz que é a história do cara que participou de todos os governos, desde Eurico Gaspar Dutra até o primeiro mandato de Fernando Henrique. Foi ele o responsável por todas as canalhices que ocorreram de lá para cá, como dar um revólver de presente a Getúlio Vargas.”
Outra de suas obras de destaque na literatura é o bem humorado manual “Como segurar seu casamento”, também de 2000. Na época, advertiu os leitores: “Não dou conselhos, transmito os erros que cometi e foram cometidos em cinco casamentos. Conviver é a arte de conceder. Essa troca de concessões gera a convivência harmônica”.
Veja essa tirada: “Quem é casado há quarenta anos com dona Maria não entende de casamento, entende de dona Maria. De casamento entendo eu, que tive seis.
Livros de Chico Anysio |
Estive com ele três vezes. A primeira nos anos 60, quando ele foi ao Palácio da Luz, em Fortaleza, fazer uma visita ao governador Plácido Castelo. A segunda foi quando cheguei ao Rio, em 1969, desempregado, ele me deu 200 cruzeiros. Peguei a grana e fui ao Cabral 1.500, na esquina da Bolivar com a Atlântica. Paguei a despesa da mesa onde bebiam diretores da Confederação Nacional da Indústria. Dias depois, o primo dele, Danilo Marques encontra-se com ele e pergunta por mim. – Tá fazendo relações públicas em Copacabana.
Nos anos 80 Chico foi fazer um show em Belém. Passou mal e foi internado. Eu estava também lá, cobrindo as eleições para Rede Globo. A pedido do Rômulo Maiorana fui ao hospital e disse que o dono da Tv Liberal estava colocando um avião à disposição dele para levá-lo ao Rio. Ele preferiu continuar em Belém. Dizia que só teve um arrependimento na vida: ”Me arrependo enormemente de ter fumado durante 40 anos .
Chico Anysio foi, sem dúvida, o cearense mais genial. Colocou Maranguape no mapa do Brasil.
O corpo de Chico Anysio foi cremado domingo, 25 de março, no Crematório do Cemitério do Caju, Rio de Janeiro. Conforme o pedido feito em testamento, suas cinzas serão divididas em duas porções, sendo que uma ficará em uma floresta localizada atrás do Projac, no Rio de Janeiro, e a outra será enviada para Maranguape, sua cidade natal no Ceará.
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