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Chico Anysio e Millôr Fernandes |
Certa noite, no Rio de Janeiro, eu conversava com o Aderbal Freire Filho no apartamento em que ele morava em Ipanema. Papo furado, aquele que vara a madrugada. De repente, um vizinho vai até a janela que ficava bem perto do apartamento onde estávamos. Nos olha e fecha a janela na base da porrada. O Aderbal perguntou: “Viu quem era?” Antes que eu respondesse, ele continuou: “Era o Millôr. Pronto, vai fazer charges e frases com os dois babacas que lhe acordaram de madrugada”. Foi só uma preocupação nossa. Ele sabia quem era o vizinho conversador e escapamos de sua fina ironia. Apenas dois chatos na madrugada, deve ter pensado. Chato, que ele definiu um dia como “o indivíduo que tem mais interesse em nós do que nós temos nele”.

Era pra ser Milton Viola Fernandes. Por um problema de caligrafia no Cartório Carioca foi registrado como Millôr, história que só soube adolescente. Desde pequeno disse a que veio. Aos dez anos de idade vendeu o primeiro desenho para a publicação O Jornal do Rio de Janeiro. Recebeu dez mil réis por ele. Em 1938 começou a trabalhar como repaginador, factótum e contínuo no semanário O Cruzeiro. No mesmo ano ganhou um concurso de contos na revista A Cigarra (sob o pseudônimo de "Notlim"). Assumiu a direção da publicação algum tempo depois, onde também publicou a seção "Poste Escrito", depois assinada por "Vão Gogo".



Teatro não editado em livro: Diálogo da mais perfeita compreensão conjugal – 1955, Pif, tac, zig, pong – 1962, A viúva imortal – 1967, A eterna luta entre o homem e a mulher – 1982, Kaos – 1995 (leitura pública em 2001 – nunca encenada).
Espetáculos musicais: Pif-Paf – Edição extra! – 1952 (com músicas de Ary Bizarro), Esse mundo é meu – 1965 (em parceria com Sérgio Ricardo), Liberdade, liberdade – 1965 (em parceria com Flávio Rangel), Memórias de um sargento de milícias - 1966 (com músicas de Marco Antonio e Nelson Lins e Barros), Momento 68 – 1968, Mulher, esse super-homem – 1969, Bons tempos, hein?! – 1979, Vidigal: Memórias de um tenente de milícias – 1982 (com músculos de Carlos Lyraseso), De repente – 1984, O MP4 e o Dr. Çobral vão em busca do mal – 1984, China! Outros 5000, Uma Pope Ópera (com músculos de Toquinho e Paulo César Pinto).
Algumas frases que Millôr Fernandes emplacou ao longo de sua vida:
Anatomia é uma coisa que os homens também têm, mas que, nas mulheres, fica muito melhor.
Como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos bem.
De todas as taras sexuais, não existe nenhuma mais estranha do que a abstinência.
Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim
Inúmeros artistas contemporâneos não são artistas e, olhando bem, nem são contemporâneos.
Jamais diga uma mentira que não possa provar.
Machão não come mel - come abelha.
Acreditar que não acreditamos em nada é crer na crença do descrer.
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