Wilson Ibiapina
Fiquei pasmo quando vi o comerciante agindo sem o menor interesse em faturar. A Edilma, minha mulher, foi quem perguntou ao dono do bar restaurante, um dos poucos que existiam na praia do Icaraí, em Caucaia, no inicio dos anos 80:
-O que temos hoje para o almoço?
Ela que não é cearense , não quis acreditar no que ouviu como resposta:
-Queira não. O cozinheiro faltou e quem está na cozinha é minha mulher. Ela
não sabe fazer nada.
Na mesma praia, em outro bar restaurante, presenciamos um turista paulista pedir 20 sanduíches pra viagem. O dono também desnorteou o freguês recém chegado de uma cidade que privilegia o lucro:
- Ôme, isso dá muito trabalho. Leve só salame. Compre o pão ali na padaria e faça sua merenda em casa.
O paulista foi embora sem entender nada.
O jornalista Macário Batista diz que ouviu do repórter Hermann Hesse história semelhante. Hesse e o cinegrafista Edilson Pires foram de Fortaleza a Jijoca, fazer uma reportagem. E é o próprio Macário quem conta:
“Chegaram com o dia amanhecendo. Pararam numa bodega e viram tapioca, cuscuz, caldo, pão dormido e uma garrafa de café. E havia uma cesta de ovos. Hermann Hesse perguntou a uma senhora, que tinha cara de dona, se ela podia fritar uns ovos pra ele e o cinegrafista. Olha a resposta da mulher:
- Faço nem pra mim!
Oscar Wilde dizia que “pouca sinceridade é uma coisa perigosa, muita sinceridade é absolutamente fatal”. Será sinceridade demais a desse povo? Juro que não sei se esse modo de agir é preguiça, malicia, ironia ou apenas a pura verdade dita com a simplicidade do povo do sertão. O fato é que no Ceará é assim.
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