Com a queda
de Dilma, quem sai de cena também é o restaurante Piantella. Não é que ela e o
PT tenham marcado época frequentando o lugar mais nobre da noite
brasiliense.
O
restaurante ficou famoso com o nome Tarantela e sob o comando do mineiro Marco
Aurélio. Jornalistas que faziam a cobertura política começaram a atrair para o
lugar os parlamentares que faziam política, que geravam notícias. Os outros acharam que bastava
frequentar o local para aparecer na mídia. Durante décadas foi o reduto dos
políticos de Brasília. Jornalistas e empresários de todo o país almoçavam e
jantavam no Piantela. Os políticos do PMDB elegeram o Piantella como seu restaurante preferido. A casa na 202 Sul conservava a mesa onde Ulysses
Guimarães costumava se sentar. Ele era um apreciador do picadinho em dias
úteis. Às vezes, preferia o ossobuco. Mas, aos sábados, o cassoulet era de lei
.A cozinha era comandada pelo cearense Gerardo Palito. Foi ele quem deu
personalidade ao restaurante. Vinha gente de longe provar o picadinho à
brasileira ou a truta com amendoa. O almoço entrava pelo jantar. Depois da
sobremesa de sorvete, vinha a aguardente francesa de pera. O dr. Ulisses
adorava. A turma dele passou a ser chamada de turma do poire.
Sexta feira era um dia mormo, poucos
clientes. Para ajudar Marco Aurélio,
Carlos Henrique de Almeida
Santos resolveu propor : almoço a vinte dólares por cabeça. A bebida por
fora. Marco Aurélio topou. Sexta feira ficou infernal. Todo mundo queria
participar. O almoço ficou tão famoso que começou a aparecer pessoas nunca
vistas nem imagináveis O importante era o contato com autoridades, jornalistas,
pessoas do governo. Queriam pagar tudo pelo simples prazer de estar perto de
políticos e autoridades do governo. Quando começou a virar um encontro de
lobistas resolvemos acabar. Alguns , como Pedro Rogério, Bira Formiga, Roberto
Macedo, Reginaldo Castro, Milton Gontijo, Alex Gonçalves, Paulo Lustosa, Paulo
Perez, Alcides Barroso, Luis Carlos
Carvalho,Sebastião Neri, Afranio Rodrigues e muitos outros ainda
tentaram segurar a bandeira das sextas animadas, Não deu. Marco Aurélio não estava mais no Piantella, Palito não comandava mais a cozinha. O
restaurante foi remodelado, ficou um horror. A comida não era mais a
mesma. Os clientes sumiram. Até o
pianista pernambucano,
Mariozinho, que alegrava as noites, não estava mais lá. Os namoros entre políticos e
secretárias, mulheres da sociedade e empresários viraram histórias do passado. Muitos dos velhos
clientes morreram, como Nilson Curado,José Guilherme e Cláudio Julio que achava
que ia morrer e carregava a lousa que
queria no túmulo. Carlos
Henrique ainda lembra: "Sob a branca louça/ Cláudio Julio repousa/ Aliás,
nesta vida/ Nunca fez outra cousa". Os antigos clientes estão velhos ou já
morreram. Os jovens estão em busca de novos recantos agradáveis dentro da
noite.
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Foi lá, por
exemplo, que o PMDB autêntico discutiu suas estratégias contra a ditadura. Em
mesa cativa, Ulysses Guimarães articulou com outros personagens, incluindo o
grande Tancredo Neves, o movimento que levou o país à transição democrática.
Fernando Henrique Cardoso, José Serra e outros tucanos também foram assíduos
frequentadores, e suas mesas assistiram também as conversas que resultaram em
sua saída em bloco do PMDB para criar o PSDB. Delfim Neto tinha mesa cativa. Às
sextas, Carlos Henrique organizava mesa que juntava Mauro Santayana, Sebastião
Nery, Pedro Rogério, Jorge Oliveira e outros nomes da reportagem política.
O anúncio
foi feito por Kakay, seu atual proprietário. Em mensagem aos amigos e
frequentadores do histórico restaurante, informou: "O Piantella era um
patrimônio imaterial da cidade. Tem horas, porém, que a realidade tem que ser
enfrentada. Me despeço do Piantella como quem se despede de um amigo".
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