quinta-feira, 1 de setembro de 2016

ADEUS PIANTELLA


Com a queda de Dilma, quem sai de cena também é o restaurante Piantella. Não é que ela e o PT tenham marcado época frequentando o lugar mais nobre da noite brasiliense. 

O restaurante ficou famoso com o nome Tarantela e sob o comando do mineiro Marco Aurélio. Jornalistas que faziam a cobertura política começaram a atrair para o lugar os parlamentares que faziam política, que geravam notícias.  Os outros acharam que bastava frequentar o local para aparecer na mídia. Durante décadas foi o reduto dos políticos de Brasília. Jornalistas e empresários de todo o país almoçavam e jantavam no Piantela. Os políticos do PMDB  elegeram o Piantella como seu restaurante preferido.  A casa na 202 Sul  conservava a mesa onde Ulysses Guimarães costumava se sentar. Ele era um apreciador do picadinho em dias úteis. Às vezes, preferia o ossobuco. Mas, aos sábados, o cassoulet era de lei .A cozinha era comandada pelo cearense Gerardo Palito. Foi ele quem deu personalidade ao restaurante. Vinha gente de longe provar o picadinho à brasileira ou a truta com amendoa. O almoço entrava pelo jantar. Depois da sobremesa de sorvete, vinha a aguardente francesa de pera. O dr. Ulisses adorava. A turma dele passou a ser chamada de turma  do poire.

Sexta feira era um dia mormo, poucos clientes. Para ajudar Marco Aurélio,  Carlos Henrique de Almeida  Santos resolveu propor : almoço a vinte dólares por cabeça. A bebida por fora. Marco Aurélio topou. Sexta feira ficou infernal. Todo mundo queria participar. O almoço ficou tão famoso que começou a aparecer pessoas nunca vistas nem imagináveis O importante era o contato com autoridades, jornalistas, pessoas do governo. Queriam pagar tudo pelo simples prazer de estar perto de políticos e autoridades do governo. Quando começou a virar um encontro de lobistas resolvemos acabar. Alguns , como Pedro Rogério, Bira Formiga, Roberto Macedo, Reginaldo Castro, Milton Gontijo, Alex Gonçalves, Paulo Lustosa, Paulo Perez, Alcides Barroso, Luis Carlos  Carvalho,Sebastião Neri, Afranio Rodrigues e muitos outros ainda tentaram segurar a bandeira das sextas animadas, Não deu.   Marco Aurélio não estava  mais no Piantella,  Palito não comandava mais a cozinha. O restaurante foi remodelado, ficou um horror. A comida não era mais a mesma. Os clientes sumiram. Até o  pianista pernambucano,  Mariozinho, que alegrava as noites,  não estava mais lá. Os namoros entre políticos e secretárias, mulheres da sociedade e empresários viraram  histórias do passado. Muitos dos velhos clientes morreram, como Nilson Curado,José Guilherme e Cláudio Julio que achava que ia morrer e carregava a lousa que  queria no túmulo.  Carlos Henrique ainda lembra: "Sob a branca louça/ Cláudio Julio repousa/ Aliás, nesta vida/ Nunca fez outra cousa". Os antigos clientes estão velhos ou já morreram. Os jovens estão em busca de novos recantos agradáveis dentro da noite.

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Foi lá, por exemplo, que o PMDB autêntico discutiu suas estratégias contra a ditadura. Em mesa cativa, Ulysses Guimarães articulou com outros personagens, incluindo o grande Tancredo Neves, o movimento que levou o país à transição democrática. Fernando Henrique Cardoso, José Serra e outros tucanos também foram assíduos frequentadores, e suas mesas assistiram também as conversas que resultaram em sua saída em bloco do PMDB para criar o PSDB. Delfim Neto tinha mesa cativa. Às sextas, Carlos Henrique organizava mesa que juntava Mauro Santayana, Sebastião Nery, Pedro Rogério, Jorge Oliveira e outros nomes da reportagem política.

O anúncio foi feito por Kakay, seu atual proprietário. Em mensagem aos amigos e frequentadores do histórico restaurante, informou: "O Piantella era um patrimônio imaterial da cidade. Tem horas, porém, que a realidade tem que ser enfrentada. Me despeço do Piantella como quem se despede de um amigo".




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