Nelson Faheina
Vou recordar uma época em que "éramos felizes e não sabíamos", pegando carona no samba de Ataulfo Alves, "Meus Tempos de Criança". Estudante do Ginásio Diocesano Pe. Anchieta, em Limoeiro do Norte, 13 ou 14 anos de idade, nos reuníamos à noite na praça, ao lado da Igreja Matriz, para tentar um namoro com as alunas da Escola Normal, ouvir músicas de Nerlson Gonçalves, Ângela Maria, Dalva de Oliveira, Cauby Peixoto e outras celebridades que saiam na amplificadora "A Voz da Cidade" e ao mesmo tempo, tomar algumas doses de Martini, Rum Montilla ou cachaça "Chora na Rampa". Isso prá criar coragem e abordar as meninas.
Nessa época, o dinheiro era difícil. Estudante não recebia nada dos pais. Para alegria nossa, Miguel Alves Maia, pai do jornalista Chico Alves, lançou em todos os bares, mercearias e botecos de Limoeiro do Norte, a cachaça "Pau de Urubu". Foi um verdadeiro sucesso, principalmente, porque ele ofereceu alguns litros de graça, como promoção. E depois estabeleceu um preço espetacular para conquistar a freguesia. Se uma garrafa de "Chora na Rampa" custava 1 cruzeiro, o lotro de "Pau de Urubu" era vendido por dez centavos. Nós, dezenas de estudantes, passamos a beber o novo produto, "a coqueluche do momento" todas as noites.
Com o passar do tempo, observamos que no dia seguinte amanhecíamos com a boca cheia de pintas brancas, como se fosse afta. E as reclamações foram muitas por parte de pessoas adultas que aderiram ao novo produto.
Meu pai, Nelson Forte, que sempre gostou de tomar umas e outras, principalmente uma boa cachaça, certa vez, chegando num forró na zona rural, acompanhado de Miguel Alves Maia, o produtor da "Pau de Urubu", pediu num boteco duas doses de cachaça. O vendedor de imediato afirmou: "Tenho aqui o melhor produto do momento. Cachaça "Pau de Urubu". Miguel Alves olhou para o homem e disse: "Bote qualquer cachaça, menos essa". Aí, papai disse: "A Pau de Urubu nem o dono aguenta".
Também pudera. Limoeiro do Norte nunca teve canavial para extrair aguardente. Descobriu-se que de uma garrafa de "Chora na Rampa", Miguel Alves Maia desdobrava 8 litros. Era mais água do que cachaça que acabou com muitos "papudinhos". A última vítima foi Pedro Caju, figura adorada na cidade que vivia de biscates. Morreu, foi para o Céu, onde foi recebido por São Pedro. Conta a lenda que o porteiro do céu perguntou: "Vem de onde? Venho de Limoeiro, afirmou Pedro Caju. Morreu de que? Morri bêbado, respondeu Caju. São Pedro consultou a Internet e disse: " Você Caju, morreu afogado, de tanto beber cachaça misturada com água".
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