João Soares Neto*
Na Exposição da Galeria BenficArte “Nosso Chico Anysio”, em abril passado, descobrimos vários talentos.
Exposição “Nosso Chico Anysio” |
Um deles, Jô (Joaquim) Fernandes, paranaense que deixou as araucárias, os pinheiros-do-paraná, símbolo das árvores daquele estado, para se embrenhar, desde 1974, no imaginário da caatinga local. E o fez com o destemor do publicitário, do vendedor de sonhos, do marchand que cria e comercializa adornos e do artista plástico que se propôs a entender as vidas e as artes/manhas do cangaço, como se fosse um oriundo culto.
Jô Fernandes preparou para a Galeria Benficarte esta bonita exposição. Ele busca, em acrílico sobre telas, como se fosse um antropólogo/pintor ou um sociólogo da arte do cangaço, mostrar esse lado pouco coligado e cultuado do Capitão Virgulino Ferreira, o Lampião. E o faz misturando consciente/inconsciente, e descobre que os adereços usados pelos cangaceiros constituem parte do conteúdo da arte armorial identificada, codificada e pontificada, desde 1970, pelo escritor paraibano/pernambucano Ariano Suassuna.
O drama, a carnificina, a pilhagem, a revolta, ou como que se queira chamar o tempo do bando de Virgulino Ferreira, de sua companheira Maria Gomes de Oliveira (Maria Bonita) e de seus asseclas, foram, paradoxalmente, os despertares de uma arte singela na criação, estilização e produção do múltiplo de saqueador/vingador/estilista/bordador/costureiro/dançador.
Desde os chapéus de couro adornados com espelhos, flores e desenhos octogonais em gibões, calças, camisas/blusas, perneiras, embornais, sacolas/bolsas, cantis, alpercatas e até nas bainhas de armas de fogo e brancas. Tudo é estilismo puro, mesmo que essa palavra quiçá tenha passado pela mente desses facínoras/criadores de arte.
É essa face lúdica e estética de Lampião, de Maria Bonita e dos demais cangaceiros que Jô Fernandes, um “nordestinado”, como ele auto se intitula, tenta expressar no projeto “O Cangaço e sua Influência na Estética”, que a Galeria BenficArte expõe a partir deste domingo, 03 de junho, aos olhos e ao pathos dos seus visitantes. Ela é uma visão social transformada em arte.
*João Soares Neto não é crítico de arte
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