João Soares Neto
No Brasil todos acreditam na sorte. Vai dar certo. Deus ajuda. Por essa razão traquinam, apostam ou jogam em tudo. Jogam no “bicho”, diversas loterias, cavalos, galos e futebol. Em praças públicas, bancos, botecos e bancas. Em 1946, na redemocratização, o presidente Eurico Gaspar Dutra baixou decreto fechando os cassinos e proibiu os jogos de azar. Na verdade, atendia, a pedido de sua mulher, Carmela, a D. Santinha. Ela pedira ao marido: 1. acabar com os cassinos e jogos; 2. fechar o Partido Comunista Brasileiro e; 3) construir capela, nos jardins do Palácio da Guanabara, então residência oficial. Dutra, honesto, marido ardoroso e católico, atendeu aos pedidos.
Hoje, 2012, o Partido Comunista Brasileiro é aliado do governo, sua dissidência criou o Partido Comunista do Brasil (PC do B), também aliado, e a capela está intacta no Rio. Neste país laico, segundo a Constituição de 1988, mantiveram-se os feriados religiosos. De fora, apenas, os cassinos e os jogos de azar. Na realidade, só os cassinos, pois a Caixa patrocina jogos diários/semanais nas análises combinatórias possíveis.
Dizia Câmara Cascudo, no Dicionário do Folclore, jogo “é um vício irresistível. Contra ele a repressão policial apenas multiplica a clandestinidade”. O sociólogo Gilberto Freyre comentava que era “uma das poucas atividades sem discriminação de classes”.
Agora, por que não se aproveita a atual CPI mista e se dá, além da pauta, uma geral nos jogos da Caixa, nas concessões públicas das loterias e se deslinda o “invisível” jogo do bicho?
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