domingo, 16 de dezembro de 2012

25 DE DEZEMBRO




Wilson Ibiapina

Contam que foi São Francisco de Assis o autor do primeiro presépio. Construiu para lembrar aos fiéis o ambiente em que nasceu Jesus. A Internet conta que São Francisco exibiu o presépio à meia noite, hora simbólica do nascimento do menino-Deus. Em seguida rezou uma missa. Como os galos cantam nas primeiras horas da madrugada, o povo chamou a celebração de missa do galo.

Foi em Ibiapina, na Serra da Ibiapaba, no Ceará, que conheci o Natal. A comemoração pra mim naqueles longínquos anos 50 se resumia à missa da meia noite. O frio da madrugada que fazia na serra levava todo mundo pra casa tão logo acabava a missa. Também não tinha o que se fazer na rua àquela hora. A lapinha era exibida cedo, antes da missa, na casa paroquial.

Meus pais nunca fizeram ceia natalina ou compraram presentes. Hoje, compreendo a falta de dinheiro daquele tempo. Tinhamos que nos contentar com os presentes que meninos vizinhos mostravam com orgulho na manhã seguinte. Como sabiam que nós lá em casa não ganhavamos nada, corriam para exibir os seus. E disputavam nossa opinião sobre o mais bonito, o melhor. Os brinquedos apresentados pareciam um sonho que só virava realidade na casa deles. Não conseguia entender esse Papai Noel tão bonzinho, tão mão aberta pra eles e tão pão duro pra nós.

Em 1955, ainda menino pobre, mas já morando em Fortaleza, curtia os brinquedos nas vitrines das lojas. O Natal chegava também através das emissoras de rádio. Lindas canções até hoje cantadas. Foi no rádio que ouvi o baiano Assis Valente cantando: "Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel..." Essa música me despertou para a grande diferença de classes. Milhares de garotos, como eu fui, continuam sem presentes, sem árvore, sem ceia.

Com o surgimento da televisão no Ceará, o Natal passou a ser coisa de se ver, também. Eram as festas das cidades, as comemorações dos outros e as propagandas chamando ao consumo. Foi quando a data passou a significar pra mim um apelo comercial, um "vamos às compras". Em Brasília, depois que casei, a Edilma começou a armar árvore de Natal no mês de novembro, marcando o início das comemorações. Minha neta Luiza transforma tudo numa grande expectativa para a noite de Natal. O 25 de dezembro em nossa casa passou a ter árvore, oração, troca de presentes, ceia. Participo, confraternizo mas, no fundo, a comemoração não tem nenhum sabor especial pra mim.

Deixei de acreditar em Papai Noel ainda pequeno, o que tirou qualquer emoção do Natal. Mas gostaria que não fosse apenas uma festa compartilhada pelos mais abastados, pela burguesia católica que nem lembra o verdadeiro sentido da comemoração criada por São Francisco. Mesmo assim, feliz Natal pra você.

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