terça-feira, 4 de dezembro de 2012

CEARÁ MOLEQUE

Humoristas cearenses 


Wilson Ibiapina

O cearense adora criticar, zombar, fazer piada, vaiar ou rir de qualquer coisa que saia da normalidade ou que lhe pareça exótico, diferente. Ao lado de um falso moralismo piegas, herdado da igreja católica, existe o Ceará moleque. Debocha de tudo, com malícia desde o Ceará colônia.

O sociólogo Francisco Secundo da Silva Neto escreveu um verdadeiro tratado sobre esse comportamento dos cearenses. O professor da Unifor diz que o cearense, diante da falta de chuva, debaixo de sol inclemente,“ é obrigado a desenvolver estrategias de sobrevivência associadas a igual número de produções subjetivas. Há os que respondem com a melancolia, outros com o empreendedorismo e há, é claro, os que desenvolvem a veia da zombaria.”

Ele afirma que a aplicação do predicado ‘moleque’ na identificação do Ceará ou do cearense implica a compreensão de um comportamento irreverente como sendo atributo quase natural daqueles que nascem neste estado do nordeste brasileiro.

Hoje em dia, a expressão ‘Ceará moleque’ virou marca cultural do cearense, o que passa a ser um forte atrativo para o turismo local. E essa molecagem pode ser vista nos inúmeros shows de humor que divertem tanto cearenses como visitantes. Mas no passado chegou a incomodar. Adolfo Caminha, no romance A Normalista, que escreveu em 1893, procurou retratar o cotidiano de uma Fortaleza provinciana, habitada por uma gentinha canalha. A literatura cearense está repleta de crônicas e histórias dessa nossa irreverência. O cearense já vaiou o Sol, que apareceu tímido entre nuvens depois de uns dias de chuva. Estraçalharam com chutes uma pobre galinha que saltou de uma das janelas do antigo Excelsior Hotel em plena Guilherme Rocha. O radialista João Ramos ganhou uma vaia monumental por que se atreveu a ir ao estádio Presidente Vargas vestido numa camisa vermelha. Na época o colunista social Eutímio Moreira chegou a fazer uma campanha a favor do uso da camisa vermelha. 

Uma diversão da rapaziada que fazia hora na praça do Ferreira era ver a saia das meninas levantar com o vento que sopra naquele cruzamento das ruas Major Facundo com Guilherme Rocha. Ganhou até o apelido de Esquina do Pecado. Acho que até hoje tem gente ligada no espetáculo que é acompanhado com vaias, assobios e gritos. 

O compositor baiano Gordurinha fez até música enaltecendo o ventinho bom lá da praça do Ferreira. O jornalista Ayrton Rocha, vasculhando seu arquivo arrancou de lá uma nota publicada pelo jornal O Povo, há 50 anos, época em que a mulher ainda não usava calça comprida. Só lendo para acreditar no apelo à polícia para que coloque um freio na rapaziada que se diverte com o vento que levanta saias.


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