Seu nome era Abner Brígido Costa, mas por esse nome ninguém o identificava, pois era conhecido como Dr. Bié. Grande cirurgião da Assistência Municipal, hoje IJF, tornou-se famoso por suas cirurgias rápidas e bem sucedidas e até comentava-se que havia recebido o famoso prêmio Bisturi de Ouro por sua excepcional performance.
A ambulância, a única da cidade, era incansável, e quando passava conduzindo o Dr. Bié e bimbalhando blém, blém, blém, todos os carros e bondes paravam e já sabíamos que aquele socorro seria bem sucedido. Dr. Bié tinha uma personalidade multifacetada: médico, boêmio, carnavalesco, dirigente esportivo, professor da Faculdade de Medicina da UFC e amigo dos amigos.
Fundou o famoso bloco "Mimosa Orquestra", que desfilava no carnaval pela Rua Senador Pompeu, com excelente banda de metais, sob os aplausos do povão e o incentivo das ricas famílias ali residentes. Era o endiabrado abre-alas do bloco, fantasiado e extravasando enorme alegria. Dr. Bié possuía uma perna mais curta que a outra, proveniente de uma doença na sua meninice, mas que não lhe trouxera qualquer complexo, muito pelo contrário.
"Certa vez, uma mãe desesperada levou seu jovem filho à presença dele. O garoto de nove anos, febril, chorava de dores numa perna e esta parecia estar encolhendo, já tendo sido marcada a amputação. Mais que depressa, Dr. Bié suspende a cirurgia e inicia um tratamento que sabia obteria bom resultado. E, depois de dois meses sob sua dedicada proteção, o paciente se recuperou. Foi aquele menino, meu colega do Exército, hoje coronel reformado, que me deu esse testemunho e me apresentou àquele cidadão quando servíamos em Brasília.
Desde então, Dr. Bié, de quem sempre ouvira falar, ganhou um novo amigo. Naquela época, ele foi morar em Curitiba e eu vim para Fortaleza. Alguns anos depois, encontrei-o nesta cidade. Estava triste, pois perdera a esposa que muito amava. Dali em diante, nunca mais foi o mesmo. Encontrava-o quase diariamente com amigos no Center Um, mas sua alegria contagiante ia se desvanecendo. Faleceu em 2003 e seus restos mortais foram guardados no Cemitério São João Batista.
Rui Pinheiro Silva
coronel reformado do Exército
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