AYRTON
ROCHA
Paris, é
o Copacabana Pálace nos anos sessenta. Claro,
sem o glamour do Rio. Paris não
tinha samba, não tinha Copacabana Pálace, não tinha nem os personagens do Copa.
Paris, não tinha o humor, o fair play nem a malandragem carioca. Carnaval
em Paris! É brincadeira!
Brigitte Bardot |
Paris
tinha Brigitte Bardot, essa escultura de mulher, que nem Auguste Rodin
conseguiu esculpir. Só que ela não saía do Rio, e o Rio, tinha o Di Cavalcanti,
“pintando o sete”, com suas mulatas.
Numa
noite de Copacabana, Brigitti Bardot, disponta com todo seu deslumbre, numa
festinha no apartamento de um amigo e dá de cara, com Tom Jobim, com seu whisky
e no seu piano, sua música e seu charme. Depois do primeiro olhar, Brigitti não
mais resistiu a Bossa Nova do Tom, sentou ao seu lado no banco do piano e convida
o Tom para levá-la ao hotel. Tom pegou seu fusquinha e lá se foram os dois.
Acabou a festa e a esperança da moçada assanhada. Ficou só o dono da festa, com
seus pensamentos eróticos, imaginando a noite do Tom. De repente, tão cedo de
repente, chega o Tom. “O que houve Tom? Pergunta o amigo decepcionado. "Ela me
convidou para uma noite de amor, respondeu! E você Tom? Não transou? Tom, Com
aquele sorriso maroto, reponde: "Olha, esse negócio de transar, dá muito
trabalho. Tira roupa, veste roupa”! Em seguida, pegou um Whisky, deu uma boa
risada, deixando o amigo enfurecido.
Brigitte
vinha tanto ao Rio, que quando saia a notícia que Brigitte estava voltando, o
carioca com sua irreverência, falava: "lá vem aquela chata novamente”! Já
pensou? Que judiação. Que sacanagem carioca!
O
negócio é que mulher bonita e mulata gostosa, o Rio De Janeiro estava
exportando, à Libras!
Pérgola do Copa |
O Copa
tinha vários departamentos. Os da grana, os do sem grana, mas com charme,
discretos, elegância, bom papo. Tinha os da noite no Golden Room, tinha os da
sauna e os da Pergóla.
Os do
elegante restaurante Bife de Ouro durante a semana, e os do anexo, onde os
penetras, como Tarzan, o Rei da Selva, Johnny Wessmuller, desfilava sem sua
Jane na piscina do Copa sem estrelas. Todo
mundo era igual.
Os da
Grana eram tantos, mas vou citar apenas um. Alberto Pitigliani, meio, digamos
assim, chato. Dono da famosa fábrica do Gin Seagrams. Casado com a linda
Terezinha Morango, amazonense, saborosa e rosada mais que a própria fruta, Miss
Brasil 1957. Aliás, no Copa, ninguém aceitava chato. Os manjados chatos eram “barrados
no baile”. Tinha o grande Bororó, o compositor maravilhoso “Da Cor do Pecado”,
com sua elegância do passado, cabelos Brancos de terno Irlandês, de olhos
Azuis, da cor céu de uma manhã sem nuvem. Ficava em pé, para jamais perder sua
elangancia, falava pouco e nada bebia.
Tinha a
bela figura do jornalista Fernando Lopes, o corujão das noites da TV Globo, que
ainda não era rede, era só Rio, colunista também da Tribuna da Imprensa, onde
contava tudo da noite carioca na Tribuna, na Globo e na manhã do Copa. Noivo da “ainda virgem”, linda e assanhada cantora
negra Eliana Pittman, o que já era raro nos anos sessenta, quando Leila Diniz,
deu seu grito de “Independência ou Morte.” Fernando Lopes, jamais conseguiu
chegar no ponto G da Pitmam, mesmo com nosos conselhos, e jóias no aniversário
dela, se endividando até o outro aniversário, tendo uma vigilância rigorosa da
Mãe chata Ofélia, mulher do musico americano que adotou Eliana, Booker Pittmam.
Nas
noites da boate no Golden Room, tinha o melhor da musica. De Helena de Lima, até
o cearense de linda voz, Carlos Augusto, como já disse tão bem, Wilson
Ibiapina, a louca Paixão de Eva Gardner. Marlene Dietrich cantando “Luar do
Sertão” em português perfeito, com sua voz e sua beleza, com aquele vestido tão
justo, que na hora de entrar no palco, veio àquela vontade enorme do xixi. E
como era tão difícil de tirar aquele justo Soirée, pediu um balde de gelo, e
fez xixi em Pé, naquele “Bendito, valioso e cobiçado Balde”.
Durante
toda semana, o almoço era no Bife de Ouro. Ibrahim Sued, Adirson de Barros,
jornalista de inteligência rara, rápido e ferino no gatilho da palavra, ex-
secretário de imprensa do tio Presidente da republica, Café Filho, Orlandino
Rocha, “BETTY”, irmão, jornalista- poeta, cearense, mas, já cidadão carioca
diplomado e de carteirinha, que enlouquecia as melhores e desejadas mulheres
com suas reportagens imbatíveis na Revista O Cruzeiro. De repente, no Bife de
Ouro, Ibrahim engasgou com arroz e em seguida disparou: “Caiu no Esgoto”. Adirson
de Barros, mais rápido que o engasgo, disse: "Ibrahim, não é esgoto, é esôfago”! Orlandino
Rocha, ligeiro, como uma pólvora rasteira, falou! “Não Adirson, no Ibrahim, é
esgoto mesmo”. Risada generalizada.
Noutro almoço, entra no Bife de ouro, uma
Jóia, com corpo e beleza de mulher perfeita, perfumada como uma manhã de
Primavera. Ibrahim,
fala risonho, discretamente, com aquele sorriso de Turco, com conhecimento de
causa, que ganhou a mulher no ouro: “Essa mulher, tem furor interino”. Mais uma
vez, o” professor” Adirson corrige: “Ibrahim, não é furor interino, é furor
uterino”. Novamente o gozador Betty:” Adirson, o furor das mulheres do Ibrahim,
é interino mesmo.” Risos a parte, mas Ibrahim era sim, inteligente, amigo leal,
e solidário.
Nos
sábados, o Copa era a concentração dos guerreiros. Depois do abastecimento
etílico, a feijoada do Le bistrô, a famosa “feijoada com putas”, como dizia o
Betty. Depois da guerra, era destilar, na sauna do Copa, onde o Leão Gondim,
Todo Poderoso e boa praça, presidente da revista O Cruzeiro, fazia o repouso do
guerreiro. E
finalmente, chegamos a Jango. O presidente João Goulart, com apartamento no
anexo do Copacabana. Figura
Maravilhosa e simples. Chega, com Maria Tereza, sua linda mulher e seus dois
filhos pequenos, senta a mesa ao lado, como um brasileiro comum, sereno,
tranqüilo e tímido. Ao chegar a sua mesa, um filé, ele corta picadinho, põe na
boca dos filhos, chupa os dedos, como todos nos mortais. E é aí, que eu sinto
aquela saudade daquele Copacabana Pálace que não nos pertence mais.
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