domingo, 2 de setembro de 2012

COPACABANA PÁLACE, DIA E NOITE



 AYRTON ROCHA

Paris, é o Copacabana Pálace nos anos sessenta. Claro, sem o glamour do Rio. Paris não tinha samba, não tinha Copacabana Pálace, não tinha nem os personagens do Copa. Paris, não tinha o humor, o fair play nem a malandragem carioca. Carnaval em Paris! É brincadeira!

Brigitte Bardot
Paris tinha Brigitte Bardot, essa escultura de mulher, que nem Auguste Rodin conseguiu esculpir. Só que ela não saía do Rio, e o Rio, tinha o Di Cavalcanti, “pintando o sete”, com suas mulatas.

Numa noite de Copacabana, Brigitti Bardot, disponta com todo seu deslumbre, numa festinha no apartamento de um amigo e dá de cara, com Tom Jobim, com seu whisky e no seu piano, sua música e seu charme. Depois do primeiro olhar, Brigitti não mais resistiu a Bossa Nova do Tom, sentou ao seu lado no banco do piano e convida o Tom para levá-la ao hotel. Tom pegou seu fusquinha e lá se foram os dois. Acabou a festa e a esperança da moçada assanhada. Ficou só o dono da festa, com seus pensamentos eróticos, imaginando a noite do Tom. De repente, tão cedo de repente, chega o Tom. “O que houve Tom? Pergunta o amigo decepcionado. "Ela me convidou para uma noite de amor, respondeu! E você Tom? Não transou? Tom, Com aquele sorriso maroto, reponde: "Olha, esse negócio de transar, dá muito trabalho. Tira roupa, veste roupa”! Em seguida, pegou um Whisky, deu uma boa risada, deixando o amigo enfurecido.

Brigitte vinha tanto ao Rio, que quando saia a notícia que Brigitte estava voltando, o carioca com sua irreverência, falava: "lá vem aquela chata novamente”! Já pensou? Que judiação. Que sacanagem carioca!

O negócio é que mulher bonita e mulata gostosa, o Rio De Janeiro estava exportando, à Libras!

Pérgola do Copa
O Copa tinha vários departamentos. Os da grana, os do sem grana, mas com charme, discretos, elegância, bom papo. Tinha os da noite no Golden Room, tinha os da sauna e os da Pergóla.

Os do elegante restaurante Bife de Ouro durante a semana, e os do anexo, onde os penetras, como Tarzan, o Rei da Selva, Johnny Wessmuller, desfilava sem sua Jane na piscina do Copa sem estrelas. Todo mundo era igual.

Os da Grana eram tantos, mas vou citar apenas um. Alberto Pitigliani, meio, digamos assim, chato. Dono da famosa fábrica do Gin Seagrams. Casado com a linda Terezinha Morango, amazonense, saborosa e rosada mais que a própria fruta, Miss Brasil 1957. Aliás, no Copa, ninguém aceitava chato. Os manjados chatos eram “barrados no baile”. Tinha o grande Bororó, o compositor maravilhoso “Da Cor do Pecado”, com sua elegância do passado, cabelos Brancos de terno Irlandês, de olhos Azuis, da cor céu de uma manhã sem nuvem. Ficava em pé, para jamais perder sua elangancia, falava pouco e nada bebia.

Tinha a bela figura do jornalista Fernando Lopes, o corujão das noites da TV Globo, que ainda não era rede, era só Rio, colunista também da Tribuna da Imprensa, onde contava tudo da noite carioca na Tribuna, na Globo e na manhã do Copa.  Noivo da “ainda virgem”, linda e assanhada cantora negra Eliana Pittman, o que já era raro nos anos sessenta, quando Leila Diniz, deu seu grito de “Independência ou Morte.” Fernando Lopes, jamais conseguiu chegar no ponto G da Pitmam, mesmo com nosos conselhos, e jóias no aniversário dela, se endividando até o outro aniversário, tendo uma vigilância rigorosa da Mãe chata Ofélia, mulher do musico americano que adotou Eliana, Booker Pittmam.

Nas noites da boate no Golden Room, tinha o melhor da musica. De Helena de Lima, até o cearense de linda voz, Carlos Augusto, como já disse tão bem, Wilson Ibiapina, a louca Paixão de Eva Gardner. Marlene Dietrich cantando “Luar do Sertão” em português perfeito, com sua voz e sua beleza, com aquele vestido tão justo, que na hora de entrar no palco, veio àquela vontade enorme do xixi. E como era tão difícil de tirar aquele justo Soirée, pediu um balde de gelo, e fez xixi em Pé, naquele “Bendito, valioso e cobiçado Balde”.

Durante toda semana, o almoço era no Bife de Ouro. Ibrahim Sued, Adirson de Barros, jornalista de inteligência rara, rápido e ferino no gatilho da palavra, ex- secretário de imprensa do tio Presidente da republica, Café Filho, Orlandino Rocha, “BETTY”, irmão, jornalista- poeta, cearense, mas, já cidadão carioca diplomado e de carteirinha, que enlouquecia as melhores e desejadas mulheres com suas reportagens imbatíveis na Revista O Cruzeiro. De repente, no Bife de Ouro, Ibrahim engasgou com arroz e em seguida disparou: “Caiu no Esgoto”. Adirson de Barros, mais rápido que o engasgo, disse: "Ibrahim, não é esgoto, é esôfago”! Orlandino Rocha, ligeiro, como uma pólvora rasteira, falou! “Não Adirson, no Ibrahim, é esgoto mesmo”. Risada generalizada.

Noutro almoço, entra no Bife de ouro, uma Jóia, com corpo e beleza de mulher perfeita, perfumada como uma manhã de Primavera. Ibrahim, fala risonho, discretamente, com aquele sorriso de Turco, com conhecimento de causa, que ganhou a mulher no ouro: “Essa mulher, tem furor interino”. Mais uma vez, o” professor” Adirson corrige: “Ibrahim, não é furor interino, é furor uterino”. Novamente o gozador Betty:” Adirson, o furor das mulheres do Ibrahim, é interino mesmo.” Risos a parte, mas Ibrahim era sim, inteligente, amigo leal, e solidário.

Nos sábados, o Copa era a concentração dos guerreiros. Depois do abastecimento etílico, a feijoada do Le bistrô, a famosa “feijoada com putas”, como dizia o Betty. Depois da guerra, era destilar, na sauna do Copa, onde o Leão Gondim, Todo Poderoso e boa praça, presidente da revista O Cruzeiro, fazia o repouso do guerreiro. E finalmente, chegamos a Jango. O presidente João Goulart, com apartamento no anexo do Copacabana. Figura Maravilhosa e simples. Chega, com Maria Tereza, sua linda mulher e seus dois filhos pequenos, senta a mesa ao lado, como um brasileiro comum, sereno, tranqüilo e tímido. Ao chegar a sua mesa, um filé, ele corta picadinho, põe na boca dos filhos, chupa os dedos, como todos nos mortais. E é aí, que eu sinto aquela saudade daquele Copacabana Pálace que não nos pertence mais.

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