terça-feira, 18 de setembro de 2012

PAULO ROBERTO COELHO PINTO



O professor Paulo Roberto Pinto chega aos 80 anos com a mesma elegância de quando o conheci nos anos 60 em Fortaleza. A mulher dele, Albina Maria Kida Pinto preparou uma festa no Náutico para comemorar com os amigos.

Para quem não o conhece, apresento:

Paulo Roberto Coelho Pinto, Professor Catedrático do Curso de Economia da Universidade Federal do Ceará, Bacharel e Licenciado em Filosofia, Bacharel e Licenciado em Pedagogia, Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela UFC e Bacharel em Ciências Econômicas pela mesma Universidade. Com livro premiado pela Academia Brasileira de Letras em 1972, foi diretor do Instituto de Pesquisas Econômicas desde a sua criação até o encerramento de seus trabalhos. Nessa condição elaborou em Washington, junto à OEA (Organização dos Estados Americanos), o Projeto de Funcionamento do CETRED (Centro de Treinamento em Desenvolvimento Econômico), que funcionou inicialmente sob sua direção. Igualmente coordenou a elaboração em New York junto à Fundação Ford o Projeto de criação do CAEN (Centro de Aperfeiçoamento de Economistas do Nordeste) e depois transferido para a Faculdade de Ciências Econômicas. Superintendente da Superintendência do Desenvolvimento do Estado do Ceará (SUDEC), de 1971 a 1974. Secretário de Planejamento do Município de Fortaleza, de 1975 a 1979. Foi ainda Presidente do Conselho Estadual de Economia e Presidente do Conselho Regional de Economia da 8ª Região (CORECON). Paulo Roberto é ainda escritor e colaborador de vários jornais.

Para homenageá-lo, transcrevo parte de uma entrevista que ele deu à historiadora Luciara Silveira de Aragão e Frota, professora da UnB. Paulo Roberto falou sobre Fortaleza para a Cordis, Revista Eletrônica de História Social da Cidade. Luciara perguntou o que é para ele a Fortaleza Bela, Slogan da 1ª campanha de Luisiane Lins, reeleita ao cargo de prefeita. A entrevista é de 07.10.2008, mas como estamos às vésperas da eleição de um novo prefeito, vale a pena ler a opinião do querido octogenário mestre:

"Tenho uma visão realística de como seria Fortaleza, se tivesse sido governada por prefeitos que possuíssem uma proposição prospectiva de desenvolvimento urbano como ocorreu em Curitiba, sob a inspiração de Jaime Lerner. Minha concepção, pode parecer à primeira vista quixotesca e, de fato, ter-se-ia convertido numa realidade palpável e útil nos moldes pragmáticos de Sancho Pança. Vale salientar não ser da atual administração fortalezense a culpa de todas as mazelas e atormentantes da vida nesta cidade que bem poderia e deveria ser bela.

Face a tantos desmandos atuais e passados no manejo da vida pública local esse slogan Fortaleza Bela parece mais uma alto ironia que os dirigentes prefeiturais estão a fazer a si mesmos e a sua cândida incompetência no tocante à atual administração o pecado maior é o da incompetência.

Explicando melhor, essa incompetência decorre de que os quadros do Partido dos Trabalhadores são integrados, no geral, por pessoas que mesmo tendo freqüentado a Universidade não o fizeram com o intuito de aprender, de aperfeiçoar-se profissionalmente. O objetivo maior de todos eles era o de reunir- se extra classe para tramar greves, passeatas, pichações de monumentos públicos e outras formas de badernas. A prova é que a maioria deles foi jubilada, pois repetidamente reprovados em seus cursos por anos sucessivos. Não obstante, eram tão criativos que chegaram a usar uma terminologia própria bem característica como “reunir-se para tirar resoluções”.

Luciara perguntou: Na sua opinião, quais seriam as outras variantes que se prendem à administrações anteriores?

R. Quando exerci a Superintendência do Desenvolvimento do Ceará (SUDEC) e depois a Secretaria de Planejamento da Prefeitura de Fortaleza na década de 1970, tive a oportunidade de insistir junto às autoridades maiores para que se procurasse frear a inchação de Fortaleza. Elaborei inclusive um plano que estancaria em grande parte o fluxo desordenado de pessoas do interior para a Capital. Era um plano de concepção simples mas que dependia da ação governamental. Consistia em criar “pólos ancilares “ em cidades estratégicas do interior do estado de modo a conter a onda migratória do sertão para a capital. A idéia era criar, em cidades vocacionadas como pólos regionais, uma estrutura capaz de atrair indústrias, comércio e serviços de molde a gerar empregos em cada região, impedindo a migração de levas para Fortaleza.


P. E quais seriam esses pólos além de Crato e Sobral?

R. Camocim, Crateús, que assim como Sobral estão na Zona Norte do Ceará; Tauá e Itapipoca no meio norte; Icó, Quixadá, Iguatu e Baturité, no centro; Crato que você já nomeou, Juazeiro e Barbalha no sul; e na zona jaguaribana Aracati e o binômio Limoeiro Russas. Dessa concepção
de pólos somente floresceu o pólo Barbalha, Juazeiro e Crato, fundamentalmente pela ação indutora da Universidade Federal do Ceará por meio do projeto AZIMOV, concebido além de mim, como diretor do Instituto de Pesquisas Econômicas pelo magnífico reitor Martins Filho e por João José de Sá Parente. Conseguimos apoio da OEA (Organização dos Estados Americanos) e da Universidade da Califórnia (USA), sob o comando do Professor Morris Azimov, para desenvolver no Cariri cearense um esforço de progresso regional. O êxito obtido na região do Cariri foi à comprovação de que se tivesse sido implementada a estratégia de desconcentracão do desenvolvimento em Fortaleza, outra e bem melhor seria a situação da cidade, hoje padecente de verdadeira “ macrocefalia inchação demo-social não congênita mas endêmica”, no dizer inspirado do intelectual conterrâneo Caio Lóscio Botelho, de tantas contribuições científicas ao Ceará. São portanto, vários os fatores que contribuíram para a agudização caótica da má situação da vida urbana em Fortaleza. Destacamos como causadoras diretas dos problemas,a incúria de uns e a má fé de outros administradores, além da paixão desenfreada de lucro da maioria dos empresários, os quais somente pensaram na obtenção desse lucro imediato sem vislumbre de projeções futuras.

P. Poderia enumerar exemplos concretos das suas afirmações?

R. Uma prova clara do que ora colocamos está na construção do Porto do Pecém, a 40 quilômetros do Porto do Mucuripe. Trata-se de uma duplicação desnecessária e um disperdício de recursos públicos que poderiam ter uma melhor e mais adequada destinação. Neste caso, teria sido mais racional projetar um porto adicional em Camocim, o qual serviria não apenas à Zona Norte mas como escoamento do vizinho Estado do Piauí. É que o Porto de Parnaíba apesar da grande soma de recursos nele investido não se viabilizou em face de sua localização em um Delta, com a descarga do rio aterrando a saída da barra. Bem que o governo do Piauí em conjugação com o do Ceará poderiam ter projetado a reativação do Porto de Camocim, com a simples dragagem da foz do rio Coreaú e a recuperação dos ancoradouros de um porto natural que já foi à porta de saída marítima do Estado."

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