domingo, 2 de setembro de 2012

O VERDE AMARELO DE BRASÍLIA




Wilson Ibiapina

Nesta época do ano, quando florescem os ipês amarelos, o jornalista Pedro Rogério lembra-se do ex-presidente João Figueiredo.  Já perto de deixar o  governo,  Pedro Rogério perguntou-lhe do que sentiria falta ao voltar a residir no Rio. O repórter disse que ele respondeu com  uma sinceridade que leu nos seus olhos: ”sentirei falta do prazer de admirar os ipês amarelos em meu caminho diário da Granja do Torto para o Palácio do Planalto”.  O amarelo do ipê contrasta com o verde da grama e das outras árvores, deixando Brasília mais Brasil.


Mas nem tudo sempre foi  flores. No começo era o ermo, como registrou Vinícius de Moraes na Sinfonia que fez com Tom Jobim em homenagem à nova capital.

O cearense Ozanan Coelho, responsável pelos jardins de Brasília junto com  o conterrâneo Stênio Bastos, conta o sufoco que passou para encher de verde os extensos espaços criados no plano piloto de Lúcio Costa. O ex-diretor do Departamento de Parques e Jardins lembra que “aquelas árvores da W3 sul foram plantadas numa noite, quase cinco mil árvores numa noite, precisava preencher esses espaços vazios, que estavam sendo criados na construção da cidade e não havia... – preencher com verde obviamente – ... e não havia pesquisa em Brasília nem no país, não havia viveiros, nem produção de mudas adequadas, não havia nada disso. 

Essa experiência de viajar no meio de uma área verde, como esta de Brasília, com plantas do cerrado, é uma coisa muito singular e se demandou pesquisa, que só veio depois. Então tudo foi feito correndo, às pressas, e não se ficava pensando muito na qualidade desse trabalho, era fazer e pronto... Chegou-se ao grotesco de plantar tiririca, que é uma espécie invasora de erva-daninha, no eixo rodoviário sul. No eixo monumental, na esplanada dos ministérios, foi plantado alpiste para germinar em três ou quatro dias e ficar verde, para poder inaugurar a cidade.  Mas, dez anos depois, aconteceu o inesperado. Morreu  quase tudo. Ozanan diz que em 1972, 1973, mandou  cortar cinquenta mil árvores mortas. O agrônomo responsável pelo verde de Brasília escreveu: 

“Este foi um fato que teve até uma repercussão política muito negativa para Brasília, porque eu me lembro que os parlamentares que ainda apregoavam a volta da capital para o Rio, diziam: como vai se viver numa cidade, numa capital, onde nem as árvores "pegaram"? Foi uma pressão política e psicológica muito grande em cima da equipe, aqui do departamento de parques e jardins.  

Aí então nós partimos para a pesquisa, uma pesquisa muito séria, muito profunda, de como continuar este trabalho, mas de uma forma adequada, de uma forma que o que se plantasse fosse permanente, durável.


Nós marcamos uma área de cerca de 400 quilômetros de raio e começamos a acampar no cerrado, para marcar matrizes do cerrado, estudar como era a germinação, como era a condição de vida, porque não se sabia absolutamente nada. As árvores eram trazidas de fora, de Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Goiânia. Então vieram árvores de tudo quanto é lugar. Aí, nós começamos a produzir essas espécies nativas aqui da região. A partir de 1973, 1974, nós começamos a plantar, já, essas espécies nativas.


Então você vai encontrar em Brasília: ipê amarelo, roxo, branco, quaresmeira, copaíba, aroeira, essas espécies que só vão existir aqui e que podem ter vida plena, pois são árvores centenárias, de pouquíssimo trabalho de manutenção, adaptadas ao solo e ao clima aqui da região.”

E o festival de cores, proporcionado pelos Ipês, começa em junho, quando floresce o ipê roxo. Em agosto é a vez do ipê amarelo. Depois virão os de cor branca e rosa. Cores para encher os olhos e enfeitar a cidade.



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