Wilson Ibiapina
Nesta época do ano, quando florescem os ipês amarelos, o jornalista Pedro Rogério lembra-se do ex-presidente João Figueiredo. Já perto de deixar o governo, Pedro Rogério perguntou-lhe do que sentiria falta ao voltar a residir no Rio. O repórter disse que ele respondeu com uma sinceridade que leu nos seus olhos: ”sentirei falta do prazer de admirar os ipês amarelos em meu caminho diário da Granja do Torto para o Palácio do Planalto”. O amarelo do ipê contrasta com o verde da grama e das outras árvores, deixando Brasília mais Brasil.
Mas nem tudo sempre foi flores. No começo era o ermo, como registrou Vinícius de Moraes na Sinfonia que fez com Tom Jobim em homenagem à nova capital.

Essa experiência de viajar no meio de uma área verde, como esta de Brasília, com plantas do cerrado, é uma coisa muito singular e se demandou pesquisa, que só veio depois. Então tudo foi feito correndo, às pressas, e não se ficava pensando muito na qualidade desse trabalho, era fazer e pronto... Chegou-se ao grotesco de plantar tiririca, que é uma espécie invasora de erva-daninha, no eixo rodoviário sul. No eixo monumental, na esplanada dos ministérios, foi plantado alpiste para germinar em três ou quatro dias e ficar verde, para poder inaugurar a cidade. Mas, dez anos depois, aconteceu o inesperado. Morreu quase tudo. Ozanan diz que em 1972, 1973, mandou cortar cinquenta mil árvores mortas. O agrônomo responsável pelo verde de Brasília escreveu:
“Este foi um fato que teve até uma repercussão política muito negativa para Brasília, porque eu me lembro que os parlamentares que ainda apregoavam a volta da capital para o Rio, diziam: como vai se viver numa cidade, numa capital, onde nem as árvores "pegaram"? Foi uma pressão política e psicológica muito grande em cima da equipe, aqui do departamento de parques e jardins.
Aí então nós partimos para a pesquisa, uma pesquisa muito séria, muito profunda, de como continuar este trabalho, mas de uma forma adequada, de uma forma que o que se plantasse fosse permanente, durável.
Nós marcamos uma área de cerca de 400 quilômetros de raio e começamos a acampar no cerrado, para marcar matrizes do cerrado, estudar como era a germinação, como era a condição de vida, porque não se sabia absolutamente nada. As árvores eram trazidas de fora, de Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Goiânia. Então vieram árvores de tudo quanto é lugar. Aí, nós começamos a produzir essas espécies nativas aqui da região. A partir de 1973, 1974, nós começamos a plantar, já, essas espécies nativas.
Então você vai encontrar em Brasília: ipê amarelo, roxo, branco, quaresmeira, copaíba, aroeira, essas espécies que só vão existir aqui e que podem ter vida plena, pois são árvores centenárias, de pouquíssimo trabalho de manutenção, adaptadas ao solo e ao clima aqui da região.”
E o festival de cores, proporcionado pelos Ipês, começa em junho, quando floresce o ipê roxo. Em agosto é a vez do ipê amarelo. Depois virão os de cor branca e rosa. Cores para encher os olhos e enfeitar a cidade.
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