segunda-feira, 24 de maio de 2021

ENTREVISTA DO SENADOR TASSO JEREISSATI AO JORNALISTA NEUMANNE PINTO


LUIZ CARLOS BARRETO - UM SOBRALENSE GENIAL


 
Luiz Carlos Barreto

Wilson Ibiapina

Quem aniversariou agora em maio foi o cearense de Sobral, Luiz Carlos Barreto, conhecido nacionalmente e até no exterior pelo seu trabalho em prol do cinema nacional. Barretão, como é  chamado pelos amigos, já produziu mais de 80 filmes. Ele diz que o melhor será o próximo.


Foi embora do Ceará para o Rio em 1947. Deixou Sobral para ir estudar em Fortaleza, onde virou líder estudantil e foi trabalhar como repórter do jornal do Partido Comunista. Ele diz que "quando a chapa  esquentou por lá, a família e os dirigentes do partido me mandaram para o Rio de Janeiro"


Como desde muito jovem  jogava futebol, e muito bem, foi fazer um teste no juvenil do Flamengo. Chegou a ser convocado para a seleção brasileira de futebol para disputar as olimpíadas de Londres. Faltou grana para que os 22 jogadores fossem enviados à Inglaterra. Um dia, ele e o Sansão, que depois virou juiz de futebol, foram à Niteroi para fazer um teste no Canto do Rio, que era o melhor time de lá. Conta que eles ganharam uma cadeira de horas. Depois da canseira de longa espera resolveram partir pra  desfeita. Urinaram nas taças do time, que estavam em exposição na sala. A "grande carreira no futebol" terminou, mas continua Flamengo: "Uma vez Flamengo, sempre Flamengo".


Depois  foi ser fotógrafo na revista O Cruzeiro, onde trabalhavam os melhores do país com salários milionários. De 1953 a 1954 foi correspondente da revista O Cruzeiro na Europa. Fez dupla com outro cearense, Indalécio Wanderley, com quem viajou o Brasil. Foi quando conheceu os presidentes desde o Getúlio a Castelo, passando por JK no exílio. Viveu de perto a história política e cultural do país. Um dia, foi pautado para cobrir o encontro do baixinho marechal Castelo Branco, com o gigante de dois metros general Charles De Gaulle. Foi tratado de forma rude pela segurança o que  o levou a desistir do jornalismo.  

Glauber Rocha

Antes disso foi fotografar na Bahia o set de filmagem do Barravento. Conheceu Glauber Rocha que em seguida foi ao Rio para Nelson Pereira montar o filme. Glauber foi jantar na casa de Barretão e levou Nelson que estava se preparando para filmar Vidas Secas. E lá se foi para o interior de Alagoas como integrante da equipe de Vidas Secas. A monotonia naquela pequena cidade alagoana, onde a equipe se hospedava, era quebrada por um circo. No intervalo das filmagens resolveram ir ao circo. Queriam conhecer de perto o galã cantor circense que almoçava com eles, todo dia, no hotel. Quando o cantor  foi anunciado, fez-se silêncio. O cara entra todo de branco, chapeu panamá quebrado na testa. Era o número principal do espetáculo, as mulheres suspirando alto. A orquestra ataca com a introdução em meio ao silencio que dava para se ouvir a batida dos corações femininos. E o cantor manda brasa no bolero que era sucesso nas vozes do já famoso trio Irakitan, que saiu do Rio Grande do Norte para brilhar em todo o país: "Hipócrita/ Eu sei que és hipócrita/ Pelversa tu zombaste de mim". Os artistas do cinema se retiraram de fininho, decepcionados com o cantor que tratou nossa língua com tanta  perversidade.


Luiz Carlos produziu mais de 80 filmes, alguns  viraram clássicos como O Assalto ao Trem Pagador, Vidas Secas, Terra em Transe, Dona Flor e seus dois Maridos, Memórias do Cárcere, Bye-Bye Brasil, O Quatrilho e O que é isso, companheiro?.


O maior sofrimento na vida da família de Luiz Carlos veio com o acidente do filho Fábio, que dirigiu o filme sobre Lula. Ficaram com ele em coma por quase dez anos, até ele morrer em 2019. Foi a maior prova por que todos passaram.


Agora, aos 93 anos de idade, Luiz Carlos vai ao clínico Dr. Roberto  Zani, mostra o resultado dos exames, e o médico diagnostica:


- Rapaz, você vai ver até os 110 anos.

- Só isso? É pouco doutor. Se eu estivesse com 40 ou 50 anos, tudo bem. Mas 110 para quem tem 93 anos...


Realmente é pouco para quem, como o Luíz Carlos, ainda faz projeto de futuro. Agora mesmo está criando uma produtora que vai se especializar em fazer filmes de desenho animado, com roteiros e cenários na paisagem da selva amazônica. Tudo com a ajuda da esposa Lucy, segundo ele, o verdadeiro Barretão. É  ela que impulsiona a máquina de fazer cinema inventada por ele  ainda menino,  quando viu o norteamericano Orson Wells filmando na praia de Iracema, em Fortaleza. Nunca mais tirou da cabeça que era aquilo que queria fazer.


Barretão e sua esposa Lucy



Homenagem 80 anos Wilson Ibiapina