quarta-feira, 29 de agosto de 2012

A ELEGÂNCIA DO CHAPÉU




Wilson Ibiapina

Pegue um retrato  do início do século passado e vai ver que as pessoas, homens e mulheres, estão todos de chapéu. Do rico ao pobre, do menino ao velho. Como todos ficavam elegantes. 


A moda desapareceu quando eu comecei a gostar de usar chapéu. Numa viagem que fiz ao exterior nos anos 90, com um grupo de jornalistas, todos  usávamos uma proteção na cabeça, bonés, gorros, por causa do frio. Mas,  dois desses companheiros – Pedro Rogério e Jorginho Costa Neves -  usavam chapéus côco  de feltro, forrados e com aquela faixa de couro perto da borda, chamada de carneiro, que serve de proteção contra suor da cabeça. Caros. Hoje então, por que raros, mais caros ainda. 

Pedro Rogério com seu tradicional chapéu
Depois da viagem Pedro Rogério  me deu de presente o chapéu que ganhara do pai, Vivaldi Moreira. Isso me motivou e comecei a comprar chapéus por onde passava. Depois ele pegou o dele de volta, mas minha coleção já estava formada. Coleciono também bonés, gorros, sombreiros mexicanos e akubras australianos, que é o chapéu de pelo de coelho. Tenho de palha, de pano e de fibra de coqueiro. 

Minha coleção de chapéus 
Não  lembro  de meu pai de chapéu,  mas meus avós, lá na Serra Grande, no Ceará, já usavam. Coronel Pedro Ferreira e major Moises Aarão Ibiapina (ambos da Guarda Nacional) cobriam a cabeça com chapéus de massa de abas curtas e longas.

O chapéu é usado desde os tempos primitivos para proteger a cabeça do Sol, do frio e da chuva. As intempéries climáticas continuam, mas o homem parou de usar chapéu. A vida moderna nas cidades deixa as pessoas menos expostas ao tempo. 

Paulo Brossard
Aqui em Brasília, os últimos políticos a guardar seus chapéus na Chapelaria do Congresso Nacional foram o gaúcho Paulo Brossard e o piauiense Flávio Marcílio. Pelas ruas da Capital, quando faz frio ou muito calor,  ainda encontro Pedro Rogério e Jorginho Costa Neves com os chapéus herdados dos país. Carlos Henrique de Almeida Santos imita o pai dele e os dois  podem ser vistos de chapéu ou boina. 

Até hoje há formatos de chapéus que marcam seus usuários. Não precisa descrever, basta dizer o nome que você lembra o estilo, tipo chapéu Santos  Dumont, Fernando Pessoa, Napoleão Bonaparte, Lampião, Indiana Jones ou Chapeuzinho Vermelho. 


É de tirar o chapéu pra essa moda que deixava as pessoas elegantes e protegidas. Hoje, apesar de fora de moda, continuo usando chapéu. Só tiro na igreja,  quando ouço o hino nacional ou quando estou diante de uma dama.





domingo, 19 de agosto de 2012

LÁ SOU AMIGO DO REI




Wilson Ibiapina

As fantásticas histórias de um repórter aventureiro, que enfrentou a ditadura militar, foi clandestino em Paris, amigo de celebridades, marido de miss, cineasta, músico e, principalmente, especialista em disco voador, estão agora reunidas num livro. Na capa a revelação de que, “depois de mais de 30 anos fora do Brasil , Carlos Marques volta como partiu: quase anônimo e sem um tostão”.

AS AVENTURAS DO REPÓRTER

Poucos cearenses conhecem Darcílio Lima, desenhista e pintor que nasceu no município cearense de Cascavel, em 1944, e que participou do festival surrealista, em Londres, junto com Salvador Dali. Só a vida desse artista que começou desenhando cenas regionais, principalmente praias do Ceará, que morou num cemitério em Paris e trabalhou com o pintor catalão Dali, já daria um livro robusto, repleto de aventuras. Darcílio é um dos muitos personagens do livro que o jornalista Carlos Marques está lançando sob o título “Lá Sou Amigo do Rei”. Figuram no livro da editora Geração nomes como do arquiteto e poeta Fausto Nilo, do violonista Manassés, do cantor e compositor Raimundo Fagner e de Humberto Barreto.

O pernambucano Carlos Marques, que viveu em Paris, nesse livro quase auto-biográfico, relata em detalhes seus trabalhos e experiências mais importantes quando teve oportunidade de conviver com personagens como o Papa João Paulo II, Arafat, Mandela, Jacques Cousteau, o presidente Mitterrand, entre outros. 

Filmando Jacques Cousteau

Com Arafat





Duas misses foram apaixonadas por ele. Uma matou-se, a outra casou-se com ele, com quem teve uma filha. Estão na sua vasta lista de seduzidos por seu carisma nomes como Paulo Freire, Glauber Rocha, Pelé e Jean Genet. 


Com Liana no dia do casamento

Imitando John Lennon e Yoko Ono, com Liana e Juliana



Com Paulo Freire em Paris


Andando pelo mundo esse jornalista presenciou grandes acontecimentos e viveu histórias que até o diabo duvida. Privou da intimidade de grandes personalidades, amou e foi amado por lindas mulheres de diferentes nacionalidades. Carlos Marques ajudou muita gente a se dar bem na vida. Nos anos 60 ele se meteu com a esquerda brasileira e acabou preso e torturado no Brasil e na Argentina. Naqueles tempos difíceis, compartilhou um esconderijo, no Rio de Janeiro, com uma menina magrinha e corajosa, que anos depois foi eleita presidente do Brasil

O jornalista e escritor Muniz Sodré, que nos anos 70 foi chefe de reportagem da revista Manchete, onde Carlos Marques trabalhava como repórter, lembra que “naquela época, ele já era o narrador de uma lenda pessoal, que o fazia trânsfuga político. Preso por ter trabalhado com Paulo Freire, foi torturado sem saber exatamente o porquê e terminou salvo por um bispo.” Muniz se impressiona com o dom artístico do jornalista pernambucano: “Extraordinário é que, em meio à multiplicidade de aventuras e desventuras, a música lhe tenha surgido como um bálsamo e pausa criativa. Sem conhecer uma nota sequer da pauta musical, sem jamais se apresentar como poeta, Marques compõe, com letra e melodia, canções muito ternas, gravadas por artistas diversos e tocadas em rádios francesas". 

Fausto Nilo, que conviveu com ele em Paris, adverte: “Tudo que Carlos    Marques contar acredite, pois não é nem a metade do que ele já fez por aí”.

Com o Papa João Paulo II

Ao lado do Rei Pelé


Com a Presidente Dilma




CARLOS MARQUES POR ELE MESMO

Ibiapina, você me pede um texto, digamos, autobiográfico, depois dos tantos anos que nos conhecemos e certamente você tem razão porque não deve conhecer JABOATÃO DOS GUARARAPES, uma terra que tem uma praia chamada PIEDADE - onde quase morri afogado-, uma ILHA DOS AMORES onde comi minhas primeiras piranhas e um bairro chamado PRAZERES onde aprendi a amar...foi lá que nasci num janeiro de 1944, término da segunda guerra mundial e começo dessa "terceira", dessa vez pessoal e onde sou o único cadastrado como sobrevivente....pernambucano. 

Quis o destino que meu pai fosse um padre jesuíta e minha mãe uma doce e bela católica que o conheceria num confessionário onde certamente revelaria um ingênuo pecado que o faria largar-a-batina e constituir uma família provocando, de cara, os nascimentos de treze irmãos: é claro, excomungado e condenado a uma pobreza sem fim, (você sabe que um padre caído nesse pecado, àquela ocasião, não tinha salvação!)...talvez por causa disso oito dos meus irmãos morreriam de fome....

Devo dizer que por conta dessa miséria, sem remorsos, foi aos nove anos de idade que abdiquei da família para me lançar nessa carreira de moleque de rua. insolente e desarvorado, vítima de abusos inúmeros de policiais, juízes, padres e todos os eternos "protetores" de menores abandonados e que dão "fiabilidade " aos moralistas de nossa sociedade sincera.

Nesse vai e vem de prisões, claustros de conventos, marquises acolhedoras, abrigos de pontes da Veneza brasileira, o então jovem adolescente teve a luz do caminho político que me custaria tão caro mais tarde: um providencial encontro com o lúcido professor Paulo Freire, à época, integrando a jovem equipe de Miguel Arraes, me conduziria a um engajamento rapidamente "enforcado" com a vinda do golpe militar de 1964.

Paulo Freire exilado na embaixada da Bolivia me restaria o caminho das prisões, primeiro, no quartel do Exército, na Tijuca, no Rio, e depois no famoso DOPS, também na cidade maravilhosa. Ali eu seria torturado à morte, segundo os jornais, mas felizmente não foi bem isso que aconteceu: clandestino, no começo, depois me arranjaram emprego no famoso DIÁRIO CARIOCA  (Josimar  Moreira, Milton Coelho da Graça, Eurico Andrade. Sebastião Nery, etc) e a carreira de jornalista estava à salvo. Devo relembrar que a tinha começado, menino de calças curtas, no DIÁRIO DE PERNAMBUCO pelas mãos  do não menos famoso Ascenço Ferreira,poeta maior da pernambucanidade. Depois fui para a ÚLTIMA HORA Nordeste, uma força que o Samuel Weiner daria a candidatura de Miguel Arraes...

O fim do DIÁRIO CARIOCA me levaria a revista MANCHETE, que literalmente "recolheu" os melhores repórteres do jornal defunto e eu era um deles...Na veia o sangue "guerrilheiro" vivia produzindo lágrimas até o dia, depois do AI 5, resolvi pegar um navio cargueiro chamado CORINA e ir tentar a vida na Europa: Paris mais precisamente.... É essa história que está contada no livro LA SOU AMIGO DO REI.
Comparação estabelecida pelo jornalista  Thiago Interaminense, que me acha sósia de
Roberto De Niro

DE CLIQUE EM CLIQUE




Mônica Rocha - jornalista 
Uma das coisas boas da internet é poder se comunicar com inúmeras pessoas. Expor nossos pensamentos, ideias, anseios. Todo tipo de texto... poesia, crítica literária, crônicas, enfim tudo que der na telha. 
Hoje somos todos “escritores”, “jornalistas”, “articulistas”. Não precisamos trabalhar para um jornal, revista. Publicarmos livros...  E a audiência é imensa. Ninguém precisa sair de casa, gastar dinheiro em uma livraria, ou mesmo comprar um jornal ou revista... Está lá, é instantâneo, gratuito e imediato. 
Escrevi, publiquei, e, quem quiser ou tiver interesse, basta acessar, clicar e ler. Além de, cá pra nós, ser um hábito muito saudável. Exercitar nossas caraminholas, colocar em ordem os pensamentos, burilar as palavras, relacionarmo-nos com nossa língua, identidade, “conversar” com os amigos e desconhecidos. Quanto mais se escreve, mais se escreve. E quiçá até usar este espaço para convocar o povo brasileiro, descansado em berço esplêndido, para irmos à rua, dar um basta nestes políticos indecentes. 
No Brasil, vamos pra rua só para festejar. Carnaval, parada gay... Brigar pelos nossos direitos, nem pensar. Ficamos um com outro, reclamando, discutindo, debatendo e nada. É na casa de amigos, nos bares, táxi, fila de banco e assim vamos exercendo nossa “capacidade política de cidadão”. Somos realmente um gigante adormecido. 
O país mudou, mas o básico, necessário a qualquer grande nação, não temos. Estamos em 2012 e nossas escolas, hospitais e segurança são do início do século. Como poderemos nos desenvolver, educarmos, evoluirmos como cidadãos se a maioria de nós sabe quando muito assinar o nome. Telas de plasma, geladeira dúplex, micro-ondas não engrandecem um povo. Não é herança... Chega de folclore e faz de conta.... temos de cair na real e exigirmos nossos direitos como cidadãos, pagadores de altos impostos. Chega de paternalismo, somos nós os responsáveis por este país. 
O Brasil não é dos políticos nem do presidente. É nosso. Somos, cada um de nós, com nossas atividades e postura, que fazemos dar certo. 

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

CRÔNICA - CONVERSA DE BOTEQUIM




Ayrton Rocha 

Todo bom Botequim que se preza, tem que ter como dono um bom português. E se tiver bigode, tipo aqueles bigodes vastos, melhor ainda. É mais original. É o autêntico Português dono de Botequim. E tem mais: tem que ser um pouco abusado. Não grosso. Só um pouco abusado. Não pode reclamar do cliente, da última conta que está pendurada. 

A pendura da conta faz parte da classe do bom Botequim. Como todo bom Botequim, tem que ter um Garçom chamado Manolo. E um outro, garçom cearense, quase sempre do Cariré, que a freguesada só chama de ''Ceará''. Eu não conheço um Boteco no Rio de Janeiro que não tenha estas duas espécies de Garçom. E não existe nada igual aos Botequins do Rio. 

O chopinho, tanto o dourado como o preto, tem que ser bem tirado. Tem que ter colarinho e ser estupidamente gelado. Esse é o Botequim do Rio. Tem que ter o balcão de aço, sobre uma pequena vitrine com os mais deliciosos tira-gostos, onde se bebe em pé, praticamente na calçada, mexendo com as mais gostosas mulheres que passam e que sabem que são gostosas e gostam de serem galanteadas. 

Tônia Carrero, na década de cinqüenta, quando explodia Ipanema com sua beleza, perdia o dia quando ninguém mexia com ela ao passar por um Botequim descendo a sua beleza a caminho do Mar. 

Para os mais gulosos, tem que ter aquele sanduíche de pão francês com pernil. Hum! A conversa rola solta. Da mulher bonita até o futebol. Política nem pensar. Só se for pra malhar. Trabalho, só amanhã. Vale até Rifa. Só não vale se estressar. 

Uma manhã de sábado, eu estava num Boteco em Copacabana, na Rua Miguel Lemos, quase esquina da Avenida Atlântica. Rifou-se tudo. Garrafa de whisky, tira-gosto, rodada de chope, rifou-se até uma melancia. Lá pelas tantas, os bebuns já não tinham mais nada para rifar. De repente, um bebum mais sóbrio teve uma idéia genial. Tão genial que só um bebum de carteirinha com doutorado em Botequim de Copacabana, no Rio de Janeiro, pode ter. Rifou uma nota de ''Cem Cruzeiros''. A moeda da época. Foram dez pontos de ''Dez Cruzeiros'' para cada bebum. E foi um sábado alegre para o ''Manolo'' e o ''Ceará''. Os bebuns engordaram a caixinha dos dois garçons nesta manhã de sábado. 

Mas o Botequim não só tem a turma do balcão. Tem a turma de boêmios românticos que se distribuem nas mesas no salão interno do Botequim. Lá o papo é mais sério. Lá dentro, além do bom papo, tem sempre um violão, um cantor romântico e nunca falta uma linda voz feminina cantando Bossa Nova. Lá dentro tem o poeta que chora seus lindos poemas de amor. O poeta que diz seus poemas pra mulher que ainda não chegou. 

O Boteco está cheio de mulheres, mas para ele nenhuma delas lhe interessa. A mulher que ele quer, ele aguarda sem nenhuma pressa. Ou então muito ansioso. 

É proibido rolar ciúme em Boteco. O mulherio circula entre a rapaziada com desenvoltura e charme. Ninguém é de ninguém. E se for à noite, aí o bicho pega, porque à noite todos os gatos são pardos. Toda Mulata é Coelhinha. 

O Boteco de respeito não tem hora pra fechar. Enquanto tiver bebum entornando, mulher bonita circulando e boêmios cantando, é proibido fechar Boteco. E tem mais, o tradicional Boteco tem que abrir cedo. Tem boêmio que começa o expediente muito cedo. O Botequim ''Bofetada'', adotado por Leila Diniz, lá em Ipanema, na Rua Farme de Amoedo, abria as seis e trinta para o café da manhã. 

Lúcio Rangel, jornalista e grande pesquisador da música popular brasileira, há esta hora, já estava à porta esperando para tomar a primeira daquele dia. Ou quem sabe, a última da noite que passou. O Cronista do primeiro time Carlinhos de Oliveira, escrevia diariamente suas Crônicas para o caderno B do Jornal do Brasil na mesa de um Botequim no Leblon. 

Num Boteco onde tem mulheres bonitas e belas Mulatas, nenhum bebum sai batido. E quem é bom de Botequim, quem sabe ser ''Cachorro Doido'', no dia seguinte não fala nada. Fica quieto de olho em nova presa. 

As noites do Botequim fazem parte do currículo do bom boêmio. E o meu currículo é rico de Botequins. O Botequim faz parte dos amantes das noites e das mulheres. Mulheres e noites de grandes Botequins que inspiraram Nelson Cavaquinho, Pixinguinha, Cartola, Mário Lago, Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Vadico, Braguinha e o Grande Noel Rosa no Maravilhoso samba ''Conversa de Botequim''. 

Poetas, Seresteiros, namorados, salvai os Botequins, refúgio sentimental dos grandes Boêmios e bebuns profissionais.


quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A PRIMEIRA PRAÇA DE FORTALEZA




Wilson Ibiapina

Quando era menino em Fortaleza, meus pais me levaram para conhecer a primeira praça da cidade. Estávamos nos anos 50 e já era chamada de Passeio Público. De um lado a Santa Casa, do outro a fortaleza de Nossa Senhora de Assunção. 
Santa Casa da misericórdia.
O Pálace, o maior e melhor hotel da cidade, ficava olhando para a praça e para o mar. Impressionava a quantidade pessoas que usavam o logradouro. Sem televisão, sem rádio, era o lugar preferido para conversar, paquerar, se exibir.

Foto rara da Praça
O jornalista Colombo de Souza Filho lembra que a praça, construída em 1864, já foi Campo da Pólvora, Largo do Hospital de Caridade, e Praça da Misericórdia. Em 1864 foi urbanizada e dividida em três níveis. O primeiro era frequentado pelos ricos. Outros dois planos pelas classes média e pobre.

Na parte de debaixo, quase na beira do mar, ficava a usina da Light. Entre a praça e a Usina havia o Derby Club e o campo de futebol, o primeiro de Fortaleza. Colombo lembra que Walter Hansen Barroso retornou da Alemanha, onde passou mais de seis anos, trazendo as primeiras seis bolas de couro e vários jogos de camisas. Até então, a moçada jogava com bola de borracha. Foi nesse campo que foram disputadas as primeiras partidas de futebol do estado. Os times eram formados por marinheiros dos navios ancorados no porto do mucuripe, por ingleses que trabalhavam na Light e na rede ferroviária e cearenses da classe rica.

O progresso destruiu tudo. A Usina, movida a lenha, soltava muita cinza, o que deu nome ao bairro que surgiu no local, habitado por prostitutas e com muitos cabarés. Atualmente parte daquela área é ocupada pelo hotel Marina Iracema Park.

Em abril de 1879 a praça foi denominada oficialmente de Praça dos Mártires, uma homenagem aos cearenses fuzilados ali por pertencerem ao movimento República do Equador. Entre os que morreram estão João Andrade Pessoa Anta, padre Mororó, Carapinima e o tenente-coronel Francisco Miguel Pereira Ibiapina, pai do padre Ibiapina.

Moradoras escolhiam suas melhores roupas para passear na Praça

As pessoas, com as melhores roupas de domingo, iam passear ali. Curiosamente, todos, homens e mulheres, usavam chapéus. As árvores centenárias, como o obaobá que o senador Pompeu plantou em 1906, dão sombra e embelezam a praça, cheia de bancos de ferro.


O bar e restaurante que ficava ao lado do coreto dava vida à cidade. Ainda é o Colombo de Souza Filho que recorda: “Além da cerveja bem gelada, o restaurante servia a melhor sopa de cabeça de peixe da cidade. Curava qualquer ressaca.” O dr. Bier (o médico Abner Brígido) gostava de levar ao Passeio Público os artistas que iam se apresentar em Fortaleza. Passaram pelo coreto Elizeth Cardoso, Xavier Cugat e Ninón Sevilla, a cubana que cantava e dançava exibindo belas pernas e que morou no México, onde consolidou sua erótica figura no cinema mexicano na década de 50.


Com surgimento de outras praças, o Passeio Público foi perdendo seu charme. Passou a ser frequentado por prostitutas e marginais. Nos anos 60 foi ensaiada uma recuperação. Foi tombada pelo IPHAN em 13 de janeiro de 1965. O barzinho que fica no canto da praça voltou a servir lanches, bebidas. O Passeio Público ganhou um fôlego, mas atravessou o século entregue de novo ao abandono. Em outubro de 2007 a praça foi restaurada.

Agora, o jornalista Ayrton Rocha, em pleno domingo, telefona de lá. Para minha surpresa estava bebendo cerveja e “ cubando” o movimento, numa demonstração de que o local está mais uma vez revitalizado. 

Rosana Lins
O restaurante está arrendado pelo casal Dário Nascimento, desenhista técnico e engenheiro de origem capixaba e de sua mulher, a bela e delicada Rosana Lins, publicitária, paulista. Ayrton diz que Rosana é tão apaixonada pela praça que hoje, é uma Guardian de todo o acervo e da manutenção da beleza do local. Ela transformou a praça, não só num belo ponto turístico, mas um lugar de lazer para a cidade.



É um restaurante orgânico de segunda a segunda. Um fato curioso : O almoço, tem a frequência das pessoas que trabalham no centro da cidade, com direito a uma sesta, aquele descanso após o almoço que Rosana chama de "Espaço para o Silencio" nas dezenas de bancos espalhados na praça. As 14 horas, os guardas municipais que policiam a praça, saem acordando todos, para voltarem ao trabalho.

Segundo o Ayrton, o funcionamento é de nove da manhã às cinco da tarde. Às sextas feiras, tem o Happy Hour até as dez da noite, com musica ao vivo. Durante a semana tem música ( Jazz) para ouvir e relaxar, bebendo uma cerveja gelada com petiscos e caldo de cabeça de peixe e assistindo o por do Sol. A vista para praia Formosa é linda. Sábados tem feijoada com música ao vivo. Mesas espalhas sob árvores centenárias e frondosas. Domingos, feijoada e bacalhau.

As famílias fazem pic nic, levando suas comidas e suas toalhas. Comemoram aniversários de criança na praça, usando as mesas do bar. A frequência maior é da população local e depois turistas.

Rosana conta que estão com o restaurante a 1 ano e 9 meses, conseguindo neste período, vencer todo o preconceito contra a praça. A praça é democrática. As prostitutas não podem mais fazer ponto lá, trabalhar na praça, mas podem almoçar, até porque, elas moram pelas redondezas. Como diria Castro Alves, “A praça é do povo como o céu é condor”.

A Praça hoje


Homenagem 80 anos Wilson Ibiapina