domingo, 19 de dezembro de 2010

O MAESTO QUE REGEU A CULTURA CEARENSE




Wilson Ibiapina

O maestro Orlando Leite chega aos 85 anos de idade considerado um dos maiores animadores culturais do Ceará, responsável por criar condições para o desenvolvimento do ensino musical no estado, despertando a vocação e o talento musical de muitos cearenses. Ele atuou, também, ao lado de B de Paiva, Haroldo Serra. Aderbal Freire Filho, Augusto Pontes, Cláudio Pereira, Eusélio Oliveira, Roberto Pontes, Pedro Lira, Barros Pinho, Otacílio Colares e Heloisa Juaçaba, entre ourtos, incentivando as artes cênicas e plásticas e promovendo a poesia, o ballet e o cinema.

A trilha sonora do curta-metragem Gênese, que o jornalista Antônio Frota Neto filmou em 1969, com direção, também, de Roberto Benevides, é de Orlando Leite. O maior sucesso teatral dos anos 60 em Fortaleza foi a opereta de Paurílio Barroso “A Valsa Proibida”. Foi encenada no José de Alencar pela Comédia Cearense e tinha como protagonistas Orlando Leite e Ayla Maria.

Este filho de Russas se preparou para executar seu trabalho. No Rio, estudou no Conservatório Nacional de Canto Orfeônico, onde foi aluno de Heitor Villa Lobos. Retornou ao Ceará com o diploma debaixo do braço e foi ensinar o que aprendeu. Era professor do Conservatório Alberto Nepomuceno quando foi acionado pelo fundador e primeiro Reitor da Universidade Federal do Ceará, em 1959.para estruturar um Departamento de Música. Martins Filho apostou todas fichas no talento de Orlando Leite e o jovem professor colocou todo saber e a força de sua juventude na execução da nova tarefa.

O encontro de Corais dirigido por ele e coordenado pelo professor Antônio Gondim, na rádio Assunção, em novembro de 1965, projetava para a cidade o trabalho que vinha sendo feito no campus universitário.

A pianista Mércia Pinto lembra que “o madrigal da UFC sob a regência dele, ganhou prêmios internacionais, como no Festival de Coros das Americas em Santiago do Chile. Orlando Leite foi sempre uma figura aberta, incentivando professores e alunos a construírem o curso”.
Depois de várias décadas seu trabalho ainda gera frutos, como é o caso do projeto de Canto Coral da UFC, implantado por ele nos anos 60 e que foi o ponta pé inicial para a elaboração dos Projetos Pedagógicos dos cursos de Educação Musical que começaram a ser implantados em 2005.

Fortaleza deve lembrar das entrevistas na TV Ceará, jornais e rádios, anunciando cursos, festivais, programas musicais, peças de teatro, lançamentos de livros e dando palpite em tudo quanto era evento cultural.

Orlando foi também professor de Música na Escola Industrial. Ocupou inúmeros cargos públicos,sempre com o objetivo de desenvolver a cultura musical no Ceará.

Nos anos 70 eu já estava morando em Brasília quando um dia encontro o maestro. A convite da Universidade de Brasilia ele estava também morando aqui com toda a família, chefiava o Departamento de Música da UNB, onde trabalhou por muitos anos até se aposentar. É viúvo de D. Francina Leite que o acompanhou a vida inteira. Tem seis filhos e muitos netos e bisnetos que não se cansam de ouví-lo tocar piano, cantar e contar suas histórias. Tem cada uma.


CINEMA EM QUIXADÁ

A Câmara Municipal de Quixadá, no Ceará, entregou a medalha Rachel de Queiroz à atriz Aurora Duarte. A atriz pernambucana, hoje radicada em São Paulo , voltou a filmar em Quixadá cinquenta anos depois de "A morte comanda o cangaço", filme do qual foi também produtora.

O cineasta cearense Francis Valle, que acompanha as filmagenas em Quixadá, disse que o nome do filme é "O gato preto", de Clébio Viriato Ribeiro, um quixadaense que sequer era nascido quando Aurora era a mocinha do filme dirigido por Carlos Coimbra em 1960. Agora Auroa faz o papel de uma matriarca cigana e contracena com o cearense Rodger Rogério. que nas horas vagas é mestre em física, cantor e compositor

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Feitiço da Vila - Música de Noel Rosa - Interpretação de Orlando Silva

Noel Rosa - Com que Roupa ?

NOEL ROSA: OS CEM ANOS DO POETA IMORTAL

Wilson Ibiapina

Noel Rosa nasceu em 1910, em Vila Isabel, Rio de Janeiro. Completaria cem anos dia 11 de dezembro. Morreu tuberculoso aos 26 anos ouvindo De Babado, seu samba preferido que ele pediu ao irmão Hélio que mandasse tocar na festa que acontecia ao lado de sua casa. Na reportagem sobre o centenário de Noel, que escreveu no Jornal da ABI- Associação Brasileira de Imprensa, Arcírio Gouvêa Neto observa que toda a extensa obra de Noel foi produzida em apenas seis anos de vida artística.


Já muito doente, um dia foi encontrado pelo amigo Orestes Barbosa, bebendo num bar de Vila Isabel. O compositor e poeta se aproxima e reprova sua atitude: "Noel você não sabe que não pode beber e ainda cerveja gelada?" Noel tirou do bolso um recorte de jornal e pediu: “Leia, meu caro Orestes, descobriu-se na Alemanha que uma cerveja vale por uma refeição. Pois então, como já tomei duas cervejas, estou repetindo o prato”.


Na matéria especial que o Jornal da ABI publicou estão trechos de entrevistas que o poeta da Vila deu na década de 30. Noel, por ele mesmo.


Ele conta que aos 13 anos tocava bandolim na escola, onde era chamado de Queixinho. Usava a música para tentar superar o complexo de feiura: “Queria ser o centro das atenções. Era uma necessidade que eu tinha para compensar meu problema físico, necessidade que me acompanhou o resto da vida. No recreio, começava a tocar e logo a garotada se reunia em volta de mim. As meninas me olhavam com assombro e curiosidade. E eu adorava, embora soubesse que tudo ficaria apenas nos olhares.”


Que relação julga existir entre o amor e a música?


- É a mesma que existe entre a casca de banana e o escorregão. Brincadeira à parte, a música expressa o amor; se ele é profundo e sincero a música refletirá isso; se é falso e fugaz, também. Nestes versos defino minha visão do assunto: O primeiro: Faz de Conta que eu Morri diz: “Amar deve ser para nós um divertimento/ E não o eterno ciúme/Que nos traz sofrimento...”, o segundo, Silêncio de um Minuto, fala: “Luto preto é vaidade neste funeral de amor/ O meu luto é a saudade/ E saudade não tem cor...”


Você teve vários amores. Como seu coração conviveu com tanta turbulência?


Vou responder com outro samba. Chamado Coração: “A paixão faz mal ao crânio/ Mas não afeta o coração...” Na verdade, o samba é o melhor remédio para estas moléstias, não dói e nem tem contra-indicação. Administrando-o em dose homeopáticas, conseguia manter sob controle os efeitos desse mal. Em conjunto com outro bom remédio chamado boemia então não há vírus desse tipo que nos destrua".


Seus últimos dias foram de muito sofrimento, afinal a tuberculose já se tornara irreversível e mesmo assim você continua compondo músicas bem humoradas, falando com irreverência do seu dia a dia. Tem explicação?


Amigo, a vida não é para ser levada a sério. O mundo é para ser desfrutado, quem complicou e criou todas as convenções e formalidades foi o ser humano, na ambição insana de obter o vil metal. Por isso, eu preferi viver e cantar como a cigarra, mesmo vivendo pouco tempo, a ser uma formiga, refém da prisão de um buraco-formigueiro dentro da terra. Mas sofri muito sim, como digo em um dos meus sambas, Eu Sei Sofrer: “Quem é que já sofreu mais do que eu?/ Quem é que já me viu chorar?/ Sofrer foi prazer que Deus me deu/ Eu sei sofrer sem reclamar.”


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“quando eu morrer não quero choro nem vela


quero uma fita amarela


gravada com o nome dela.

domingo, 5 de dezembro de 2010

QUANDO A MULHER ABRE O JOGO CONTRA O MARIDO



Wilson Ibiapina

Nos primeiros anos de Brasília as pessoas não tinham muito o que fazer depois do trabalho. A cidade, sem diversão, levava os amigos a formarem grupos nos fins de semana para conversar, dançar, beber ou jogar baralho.

O carteado reunia funcionários públicos, jornalistas, profissionais liberais e políticos.
Cada fim de semana o jogo era na casa de um deles. O jornalista mineiro Moacir Valadares era um viciado em baralho para desgosto de dona Júlia, mulher dele. Ela detestava os amigos que “levavam o marido para o caminho da perdição, do jogo, do vício”.

Um dia, quando dona Júlia viajou para visitar uns parentes, Moacir tratou de reunir a turma para um biriba-amigo em seu próprio apartamento. Entre seus convidados estavam colegas jornalistas e até o vice presidente da República, dr. Pedro Aleixo.

O jogo corria alegre quando, de repente, a porta da rua é aberta. Dona Júlia adentra à sala, que estava coberta de fumaça de cigarro. Voltara antes da data marcada, pegando o maridão com as cartas nas mãos. Mais surpreso ficou Valadares que, imediatamente, tratou de apresentar os amigos, antes que a mulher fizesse um escândalo. Este é o fulano, aquele o cicrano, e dona Júlia ficando vermelha. Lançando mão de seu último argumento, Moacir Valadares apresenta o que ele imagina o álibi perfeito: - "E aqui, minha querida, o dr. Pedro Aleixo, o vice-presidente da República”. - “Vice-presidente coisa nenhuma. Esse aí não passa de um salafrário igualzinho aos outros...."

Essa história brasiliense faz lembrar uma outra passada no Ceará, onde uma senhora pregou uma peça no marido e em seus convidados de jogo. Uma história inacreditável tirada das memórias de Pedro Nava, mineiro de Juiz de Fora que teve pai, avó paterna e avô materno nascidos no Ceará. Era sobrinho do escritor cearense Antônio Sales. Pedro Nava foi batizado na capela da Santa Casa de Misericórdia. O caso é contado no livro “Em busca do tempo vivido”, que Edmilson Caminha escreveu para comemorar o centenário do nascimento de Pedro Nava.

A mulher, pivô desse episódio, quando soube que o marido ia fazer um joguinho em casa, teve uma reação maluca, indignada, cheia de maldade, quase cruel. Na verdade, tratava-se de uma verdadeira cascavel que destilava veneno pelos poros. Sua raiva do mundo parece que começava pelos pais que a batizaram com o nome de Irifila. O nome do marido não ficava
atrás: Iclirérico Narbal Pamplona. Devia ser outro motivo de sua ira do mundo.

Edmilson Caminha diz que o próprio Pedro Nava descreveu a tia assim: “Era baixota, atarracada, horrenda, permanentemente irritada – de alma amarga e boca desagradável. Diante dos magros, seu assunto era magreza. Dos gordos, as banhas”. Ele conta que dona Irifila era inimiga de tudo que favorece a fantasia e torna a vida suportável. Era contra os namoros, contra o riso, contras as festas, contra o jogo. Não gostava de receber e, quando era obrigada a isso, fazia com grosseria.

O escritor Edmilson Caminha diz que essa senhora era o verdadeiro “desmentido em carne e osso da tão decantada cordialidade cearense”.

Pois o coitado do Iclirérico, o marido, um dia teve a coragem de levar uns amigos para uma partida de baralho em sua casa que deveria terminar com um jantar. A vingança da jararaca foi maligna. Veja só como tudo acabou segundo as palavras do Edmilson Caminha: “Finda a ceia, àquela noite com a presença do Visconde de Ouro Preto, dona Irifila apressou-se em servir a sobremesa: vinhos, licores, doces e chocolates, tudo do mais fino bom gosto. E no meio da maior bandeja, a mais alta compoteira com o doce do dia – aparecendo todo escuro e lustroso, através das facetas do cristal grosso, de um pardo saboroso como o da banana mole, da pasta de caju, do colchão de passas com ameixas pretas, do cascão de goiaba com rapadura. O marido, mal se contendo de desejo, destampou a compoteira, ante o olhar guloso do visconde: estava cheia , até à borda, de fezes."

LEMBRANÇAS DE AYRTON ROCHA



Ayrton Rocha é jornalista, publicitário, cantor e compositor. Morou no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasilia. Hoje, de volta ao Ceará, continua compondo, fazendo crônicas e poemas.

Incansável, acaba de lançar mais um CD repleto de lembranças. O disco tem ilustração do artista plástico Ayrton Filho e fotos tiradas pela neta Mariana, também jornalista.

Estão no CD canções dele, de Tom Jobim, Tito Madi, e parcerias com Joao Donato e Paulo Soledade. Amigos de uma época em que o Rio não tinha medo do que vinha dos morros.
"Não é que eu tenha medo de morrer. É que eu não quero estar lá na hora que isso acontecer."

Woody Allen

FOLCLORE


O jornalista Newton Pedrosa escreveu:

Meu capataz Bastião é de uma ingenuidade a toda prova. Não sabe ler, não sabe o dia nem o ano em que nasceu, não tem noção dos meses, do ano, não sabe o que é o Natal nem Ano Novo. Também já disse que não tem inveja de quem sabe ler nem de quem é rico.

Dias atrás, assistia à televisão quando apareceu Barak Obama. Intrigado com essa presença permanente no vídeo, perguntou: "Doutô, quem é esse cara que só vive na televisão, qual é o emprego dele?". "É o presidente dos Estados Unidos, o homem mais poderoso da terra!". E Bastião insistiu: "É, mais aposto que ele num é mais poderoso que o Lula...". Respondi: "É não!".

A VIDA RESUMIDA EM 4 GARRAFAS

domingo, 21 de novembro de 2010

Ouça aí um dos primeiros anúncios do Lifebuoy no rádio, no século passado:

ELE ESTÁ DE VOLTA







Wilson Ibiapina

Compramos aqui em Brasília caixas de sabão em pó OMO. Para nossa surpresa estavam lá, pregados nas caixas, sabonetes Lifebuoy. Os mais velhos lembram dele. É dos mais antigos no mundo e está sendo relançado no Brasil pela Unilever.

Antes da globalização, o Lifebuoy já era vendido em tudo quanto é país. O sabonete surgiu em 1894 na Inglaterra, mas só chegou ao Brasil nos anos 30. A propaganda do sabonete garantia que ele acabava com o mau Cheiro do Corpo. Foi daí que nasceu o termo cecê, nos anos 50. – o seu CC está vencido, use Lifebuoy. A propaganda explorava o poder anti-séptico e bactericida do produto. Hoje, continua garantindo que ele é total antibacteriano e promove cem por cento melhor proteção.

Falar em sabonete que desapareceu, lembro agora de dois. Um é o Viol , fabricado pela Kanitz Ltda, uma perfumaria que ficava na rua Washington Luiz, 117, no Rio de Janeiro. Tinha um perfume inconfundível. Tomava-se banho pela manhã e passava o resto do dia com o seu cheiro agradável. Engraçado é que só conseguia encontrá-lo no mercado de Fortaleza. Nunca nem no Rio.

Até hoje guardo uma caixinha amarela com um sabonete Viol que dona Antonita, mãe da Regina Benevides me deu de presente. Fabricado em 1994. De tão velho já está perdendo o cheiro. O outro sabonete que lembrei era fabricado no Ceará. Acho que o primeiro e único sabonete cearense. A fábrica ficava no bairro de Otávio Bonfim, em Fortaleza. Era o Sigel, produzido pela Siqueira Gurgel, que parece não existir mais. Essa fábrica que produzia o óleo de cozinha Pajeu, o mais consumido, tinha também o sabão Pavão. “Uma mão lava a outra com perfeição. As duas lavam roupas com sabão Pavão”.




domingo, 14 de novembro de 2010

DENÚNCIA É ESSENCIAL EM CASOS DE AGRESSÃO A CRIANÇAS E IDOSOS.


Uma reportagem mostra claramente que, ao ver uma coisa errada acontecendo, ninguém deve ficar calado. Atitudes como a da pedagoga Ana Paula de Souza é que levam a justiça a punir quem maltrata crianças e idosos.


ONTEM É HISTORIA. O AMANHÃ É MISTÉRIO. O HOJE É UMA DÁDIVA. POR ISSO O NOME É PRESENTE

RODOLFO ESPÍNOLA


Egidio Serpa

Perdeu o jornalismo cearense um dos seus melhores profissionais – Rodolfo Espínola Neto, que é visto na foto (da esquerda para a direita Rangel Cavalcante, Egidio Serpa, Wilson Ibiapina e Rodolfo).

Repórter por vocação, herdou do pai, o inesquecível Hildebrando Espínola, o talento que o tornou correspondente – por 32 anos – de O Estado de S. Paulo, no Ceará.

Mais recentemente, antes mesmo de tornar-se sexagenário, seu espírito irrequieto levou-o aos bancos universitários que o graduaram historiador. De canudo na mão, foi atrás da história. Mergulhou na pesquisa e viajou pela Península Ibérica, onde se internou à procura de alfarrábios para provar – e provou – que foi o espanhol Pinzón e não o português Cabral o descobridor do Brasil. Publicou dois livros e deixou três concluídos, prontos para publicação.

Ao morrer em Fortaleza, aos 62 anos, vítima de um acidente automobilístico na Avenida Santos Dumont, Rodolfo juntou todas as suas forças para esperar – ainda dentro do carro acidentado, de onde só foi retirado por uma equipe do Samu – a chegada de sua mulher, Nilda, e de dois de seus três filhos João Paulo e Carol, com os quais trocou as últimas.

Ele teve a alegria de ver, há menos de 60 dias, em Recife, o rosto de sua neta Mila, presente da filha mais velha, Melina. Rodolfo, homem de fé, só semeou a amizade. Que Deus lhe dê a vida eterna. Ele merece.

CEARENSE: A CARA DO BRASIL





Wilson Ibiapina


A coisa mais facíl é você identificar um estrangeiro, já que a maioria possuiu um biotipo imediatamente reconhecido. Hoje, em qualquer país, o passaporte brasileiro tem um grande valor no mundo do crime. É que nós não temos uma cara, um tipo físico definido. Tem brasileiro com cara de japonês, árabe, índio, europeu, alto, baixo, preto, louro, de tudo quando é jeito. Qualquer um pode se passar por brasileiro.

A nossa miscigenação entre portugueses, índios e africanos tem pouco mais de 500 anos. Essa mistura chegou a preocupar os europeus, influenciados na época pelas teorias raciais. Achavam que a miscigenação era uma ameaça de degeneração de todas as raças. Nos séculos passados chegaram os ingleses, alemães, italianos e japoneses.

E nós fomos surgindo dessa mistura de raças, aumentando as interpretações dos estudiosos sobre o que é o brasileiro. Estamos todos nesse caldeirão cultural efervescente. É a carga genética de nossos antepassados europeus que se relacionaram com indias e negras, procurando o nosso biotipo. Deve sair dessa mistura um sujeito criativo, indiscreto, malandro, cordial, extrovertido, corruptível, com todos os defeitos e qualidades que já temos, mas com traços comuns que vão nos identificar em meio a multidão.

O pernambucano Gilberto Freyre, que tentou responder a pergunta sobre o que é o brasileiro no seu livro Casa-Grande & Senzala, afirmou em 1980 numa conferência no Teatro José de Alencar, em Fortaleza, que a raça brasileira, sendo feita de imigrantes, não tem um biotipo próprio e que quando viesse a tê-lo, deveria ser parecido com o do cearense.

Essa revelação, fabulosa para mim, foi feita pelo bibliófilo José Augusto Bezerra no discurso que fez quando recebia a Sereia de Ouro, comenda outorgada pelo Sistema Verdes Mares, na noite de 24 de setembro passado.

José Augusto Bezerra disse que ouviu Gilberto Freyre assegurar que foi o cearense quem dera a grande contribuição étnica por estado à nação, ao emigrar para todos os recantos do País e miscigenar-se em todas as camadas sociais. Bezerra ressalta que, nas palavras de Gilberto Freyre, “ o cearense é o modelo para que o tempo pinte, numa tela, um biotipo para o Brasil.”

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A CULTURA DE BRASÍLIA ESTÁ DE LUTO



O B de Paiva chegou para trabalhar e resolveu abrir o Diário Oficial do DF. Estava lá a demissão dele. Tomou o maior susto. Ninguém avisou nada. Também, colocaram como Secretário de Cultura, no lugar do Silvestre Gorgulho, o Carlos Alberto de Oliveira, um policial que só conhece a arte de prender bandidos.

É assim que a cultura anda sendo tratada pelo governador tampão do Distrito Federal, Rogério Rosso, um oportunista de plantão que não conhece os valores da cidade.

O Pedro Jorge lembra que o nosso B de Paiva fez parte do grupo que trabalhou na visão de um Ministério da Cultura independente do MEC. Foi Reitor da Universidade do Rio de Janeiro e nesta ocasião defendeu a tese de que todas as atitudes de urbanidade passam pela CULTURA, além de se expressar sobre o teatro e as artes dramáticas como vetor indispensável à formação do cidadão.

O Currículo de B é extenso. Por isso é considerado uma das maiores referências do teatro e da administração cultural no País. Já trabalhou em mais de 500 produções para cinema, rádio, TV e, principalmente, teatro. Atuou ao lado de grandes ícones, como Dulcina de Moraes. Participou de novelas históricas, como Irmãos Coragem, em que fez o papel do prefeito Jorginho. Foi ator de três filmes longa-metragem que o Pedro Jorge dirigiu: TIGIPIÓ, O CALOR DA PELE e o episódio O SINAL DA CRUZ, nos intervalos das filmagens dava verdadeiras aulas de história, cultura e dramaturgia.

B. de Paiva entrou para o mundo cultural em 1947, no Ceará. Trabalhou na Comédia Cearense e, ao lado de Marcus Miranda e Haroldo Serra, fundou o Teatro Experimental de Arte. Depois disso não parou mais.

“Doutor Honoris Causa” pela Universidade Federal do Ceará, B. foi já coordenador da Funarte e um dos fundadores do Ministério da Cultura. Em Brasília fundou a Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, vinculada à Fundação Brasileira de Teatro, da qual também foi presidente em 1995. Em 1999, coordenou os assuntos culturais e artísticos da Pró-Reitoria de Extensão da UFC e a diretoria do Colégio de Direção do Instituto Dragão do Mar, além de estar ligado à Fundação Amigos do Theatro José de Alencar.

É uma figura respeitável no meio das artes e merece um tratamento mais respeitoso.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

DEU NO MACÁRIO: PIABA NA REALEZA

Macário Batista

WIlson Ibiapina, de pé, na realeza européia. Na conversa a interlocutora é ninguem menos que a Princesa Dona Maria Tereza de Orleans e Bragança, neta da Princesa Izabel. A foto é minha e era mais de meia noite, um frio danado, em frente à Fundação Mário Soares. (Veja que a Princesa está sentadinha na mureta fronteiriça ao prédio dando atenção ao nosso Piaba que lhe conta histórias da avó dela no Ceará).

http://macariobatista.blogspot.com



RÁDIO IRACEMA - A VOZ DO MAR


Wilson Ibiapina

A Rádio Iracema de Fortaleza, criação dos irmãos Flávio e Ze Parente, funcionava neste prédio diferente, que ficava na praça José de Alencar. As antenas da ZYR-7 ficavam no Pirambu, na beira da praia. A Rádio era captada em alto mar e ajudava a orientar a navegação. Ou a matar a saudade dos brasileirios que retornavam ao país. Ainda em alto mar, era a primeira voz que ouviam da pátria. Foi assim com o poeta Vinicius de Moares que não resistiu e escreveu essa cônica "Do amor à pátria"

"São doces os caminhos que levam de volta à pátria. Não à pátria amada de verdes mares bravios, a mirar em berço esplêndido o esplendor do Cruzeiro do Sul; mas a uma outra mais íntima, pacífica e habitual - uma cuja terra se comeu em criança, uma onde se foi menino ansioso por crescer, uma onde se cresceu em sofrimentos e esperanças plantando canções, amores e filhos ao saber das estações.

Sim, são doces as rotas que reconduzem o homem à sua pátria, e tão mais doces quanto mais ele teve, viu e conheceu outras pátrias de outros homens. Assim eu, ausente pela segunda vez de uma ausência de muitos anos quando, dentro da noite a bordo, os dedos a revirar o dial do ondas-curtas, aguardava o primeiro balbucio de minha pátria como um pai à espera da primeira palavra do seu filho. O coração batia-me como batera um dia, à poesia sonhada, ou como um outra vez, diante de uns olhos de mulher.

- O Sr. Tem certeza de que isso é mesmo um ondas-curtas?

O camareiro norueguês, grande e tranqüilo, limitou-se a sorrir misteriosamente. Depois, humano, inclinou-se sobre o aparelho, o ouvido atento, e pôs-se a tentar por sua vez. As ondas sonoras iam e vinham verrumando a minha angústia.

Onde estava ela, a minha pátria que não vinha falar comigo ali dentro do mar escuro?

E de repente foi uma voz que mal se distinguia, balbuciando bolhas de éter, mas pensei no meio delas distinguir um nome: o nome de Iracema. Não tinha certeza, mas pareceu-me ouvir o nome de Iracema entre os estertores espásmicos do aparelho receptor.

Deus do céu! Seria mesmo o nome de Iracema?

Era sim, porque logo depois chegou a afirmar-se, mas quase imperceptível, como se pronunciado por um gnomo montado em minha orelha. Era o nome de Iracema, da Rádio Iracema, de Fortaleza, a emissora dos lábios de mel, que sai mar afora, enfrentando os espaços oceânicos varridos de vento para trazer a um homem saudoso o primeiro gosto de sua pátria.

Adorável prefixo noturno, nunca te esquecerei! Foste mais uma vez essa coisa primeira tão única como o primeiro amigo, a primeira namorada, o primeiro poema. E a ti eu direi: é possível que o Padre Vieira esteja certo ao dizer que a ausência é, depois da morte, a maior causa da morte de amor. Mas não do amor à terra onde se cresceu e se plantou raízes, à terra a cuja imagem e semelhança se foi feito e onde um dia, num pequeno lote, se espera poder nunca mais esperar.

Agosto de 1953. Vinicius de Moraes, Para uma menina com uma flor.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

"O Brasil é feito por nós. Está na hora de desatar esses nós".

Barão de Itararé

REFLEXÕES SOBRE O JORNALISMO

Marcelo Canellas

Estudantes secundaristas vivem querendo me arrancar uma fórmula de farmácia sobre o jornalismo. É que tenho 44 anos e estou, supostamente, na idade de dar conselhos. Qualquer besteira que eu diga tem a atenuante da experiência. Mesmo assim fico constrangido em dizer a um adolescente o que ele tem de fazer para ser jornalista. Eu não tenho a mínima ideia se o que serviu para mim servirá para ele. Eu sou muito indeciso, e precisei fazer um ano de agronomia para ter certeza de que queria mesmo ser jornalista. Não vou aconselhar um garoto a fazer o que fiz; a faculdade de agronomia é importante demais para ser pista de testes de vocações sob suspeita.

Simplifiquemos: quanto você lê? Se você lê muito, pode ser jornalista. Jornalistas que não leem ou leem pouco costumam ser profissionais medíocres, porque a língua é a grande ferramenta de nossa profissão. Para viver da escrita é preciso dominá-la. Mas nem todo mundo que gosta de ler precisa ser jornalista. Então pergunto: você tem uma vontade irresistível de elucidar um acontecimento obscuro, de revelar um fato curioso, de entender o que se passa a sua volta transformar isso tudo em relato inteligível? Então pode ser que você seja um bom jornalista um dia. Embora isso também não baste.

Você é inquieto, curioso, crítico? Você tem apreço pelas minúcias, pelos detalhes que passam despercebidos? Você desconfia das aparências? Se a resposta for sim, você está quase habilitado a se tornar um repórter. Digo quase porque há outra exigência decisiva: a independência intelectual. Jornalista é um sujeito de pensamento livre. Essa nossa profissão não é para vacas de presépio. As redações saudáveis são aquelas em que as divergências de seus profissionais são discutidas abertamente até que a força jornalística de um fato ou de uma cobertura se imponha por si própria. O jornalismo é insubmisso, não aceita encilhamento ideológico. Reportagem com interesse político ou econômico por detrás costuma ser desmascarada pelo próprio leitor, ouvinte ou telespectador, que reconhece o embuste quando há proselitismo demais e reportagem de menos.

Por fim, a pergunta fundamental: você quer mudar o mundo mas tem humildade para saber que não pode fazê-lo sozinho? Você acredita que o ser humano nasceu para ser livre? Então, boa faculdade de jornalismo. Nos veremos por aí um dia nas pautas da vida.

JORNALISTAS

Sob Controle

Em agosto de 1961, o jornalista Newton Pedrosa trabalhava na Gazeta de Notícias, de Fortaleza, e foi pautado por Tarcísio Holanda para entrevistar o deputado cearense Adahil Barreto, líder do Jânio Quadros na Câmara Federal.

Durante a entrevista perguntou como ia o presidente Jânio Quadros, e o líder respondeu:

- O presidente está muito bem, tem completo controle das Forças Armadas e reina a calma em todo o país.

No dia seguinte, Jânio renunciou.

JORNALISTAS: Ossos do ofício


O jornalista Odalves Lima, primo do Fernando César Mesquita, era do tempo do jornalismo boêmio. Tomava todas, mas a bebida nunca lhe prejudicou no trabalho. Chegou a passar meses brigando com ele mesmo, quando nos anos 50 escrevia os editorais dos jornais O Povo e Estado, de Fortaleza. Pela manhã, ele atacava o governo, no matutino Estado, que fazia oposição. À tarde, defendia o governo nas páginas do vespertino O Povo, que pertencia ao então governador Paulo Sarasate.

Conta a lenda que, numa semana santa, o chefe de redação pediu que Odalves escrevesse um editorial sobre Jesus Cristo. Ele, ainda de porre, colocando o papel na máquina: "Contra ou a favor?"

terça-feira, 5 de outubro de 2010

A FEIRA DE FORTALEZA

Wilson Ibiapina

Quem não gosta de uma feira livre? Quando menino o que mais curtia, nas férias em Ubajara, interior do Ceará, era acordar ao som dos carros de boi. Eles saiam dos sítios rumo à cidade,na manhã dos domingos, carregados de rapadura, farinha, frutas, chapeus de palha e peças de artesanto. Cantando ou gemendo,como todo bom carro de boi, acordava todo mundo bem cedo. Andar entre as bancas e barracas olhando os produtos à venda, era uma diversão que passava de pai para filho. A origem da feira no Brasil confunde-se com a própria história do país. Chegou com os primeiros portugueses.

A mais antiga feira de que se tem notícia em Portugal, segundo o Google, começou em 1229, e acontecia três vezes ao ano na freguesia de Castelo Mendo, no município de Almeida. Mas este tipo de evento comercial só ganhou força a partir de 1776, com incentivos do governo do Marquês de Pombal, que mais tarde traria o costume para o Brasil.

Hoje, em Lisboa, você tem, entre outras,a feira da Ladra, que me foi apresentada pelo fotógrafo Orlando Brito. As feiras de Cascais e de Carcavelos. Iguais as de Ubajara, e a qualquer feira livre do país, fazem a alegria de qualquer consumidor mais exigente.

Os comerciantes se instalam em barracas, colocam seus produtos em estrados ou pequenos boxes e metem a boca no trombone, anunciando mercadoria e preço. Em plena era da informática, com a economia globalizada, as feiras que representaram papel importante no renascimento do comércio resistem ao tempo.

Em Fortaleza, a feira livre tradicional é que começa a ceder espaço a um novo topo de mercado livre. É uma feira ao contrário. No lugar de você sair andando atrás dos produtos, os feirantes é que acorrem até você. Esse novo tipo de comércio está se desenvolvendo na orla marítima da capital cearense e funciona nas barracas instaladas ao longo das praias.

Você senta debaixo de uma barraca, pede um drinque ou uma água de coco. O cardápio de comidas é extenso. Enquanto você vai saboreando, os vendedores começam a aparecer. Quase aos berros, vão oferecendo, todo tipo de comida (ostra, camarão, rapadura, queijo assado, tapioca, castanha de caju, sardinha, numa concorrência com a barraca estabelecida). Anotei alguns produtos que foram oferecidos em minha mesa: "rede para fazer menino... dormir", canga, camisa de time de futebol, picolés, óculos, salada de frutas, roupas, chapéus,bonés, brinquedos, artesanato, bijuterias, bronzeador, massagens, passeio de barco, saida de praia, tatuagem, sandalias, tenis, pipas, bóias, bilhete de loteria, capa para celular, CDs piratas, DVDs idem, caixinha mágica, cigarros, almofadas para relax, bolsas, panôs, protetor solar e uma infinidade de outros produtos, sem contar com aqueles que os chineses estão vendendo em tudo quanto é canto.

Os turistas estrangeiros são os que mais se encantam com as mercadorias oferecidas ao som da viola de repentistas que cantam versos de improviso enaltecendo os visitantes. Até mulheres desfilam diante dos olhares atentos dos turistas. Por qualquer quantia elas se transformam em agradáveis companhias e até mesmo amantes. É o turismo sexual fazendo parte da feira diferente. Aliás, quando essa prática se estabelece traz consequencias nefastas. Estigmatizadas como paraísos sexuais, essas áreas reduzem a demanda de visitantes que sabem que junto com essa modalidade de turismo vem o uso de drogas,e a violência.

Os camelôs que há anos transformam as ruas de Fortaleza num verdadeiro mercado persa, descobriram essa nova forma de comércio na areia da praia. Como até hoje as autoridades não conseguiram organizar a atividade desses mascates, nas ruas da cidade, parece que eles vão inundar as barracas de praia por muito tempo. O comércio informal, diferente, é interessante, mas tira o sossego de qualquer cristão que só quer bater um papo, tomando um drinque na beira do mar.


segunda-feira, 20 de setembro de 2010

PROJETOS MIRABOLANTES


As maluquices que inundam o Brasil desde o Império



Wilson Ibiapina

José de Salles era oficial de justiça em Fortaleza. Com quase dois metros de altura, só andava de terno escuro e com um chapéu de madeira na cabeça. Na terra de baixinhos, Zé de Sales era notado por onde passava com seu andar meio capenga. Ele ficou famoso também por tocar bandolim no programa A Hora da Saudade, que José Limaverde apresentava nas noites das segundas na Ceará Rádio Clube. Ele ensaiava numa oficina de consertar violões e outros instrumentos de corda, que ficava na avenida Padre Ibiapina, bem em frente ao Sesi. A audiência do programa do pai do Narcélio e do Paulo ajudou a popularizar a figura do Zé de Sales, que logo logo disputou uma cadeira na Câmara Municipal de Fortaleza. Um dos projetos do Zé de Sales prometia encanar o vento da serra de Guaramiranga para Fortaleza, como forma de amenizar o calor. Quilômetros e quilômetros de canos descendo a serra rumo ao litoral. Ainda bem que ele não foi eleito.


Essa coisa de canalização atormenta os legisladores e administradores públicos desde o começo do Brasil. Em 1670, o governo português decidiu canalizar a água do rio carioca, descendo o morro do Corcovado até o centro do Rio de Janeiro. No audacioso projeto foi usado canos de madeira. Em pouco tempo apodreceu tudo.


Um outro governante carioca apresentou um projeto parecido com o do candidato a vereador de Fortaleza. Igualmente ambicioso, mandava derrubar o Pão de Açúcar, com o objetivo único de melhorar a ventilação da cidade. O projeto que acabava com o morro, que é um dos símbolos da cidade maravilhosa, foi aprovado pelo Visconde de Ouro Preto, presidente do Conselho de Ministros. Uma firma inglesa chegou a ser contratada para fazer a demolição, que só não ocorreu por causa da proclamação da República. O projeto foi esquecido.


No Ceará, um espirituoso deputado pediu ao governador do Estado que lhe doasse uns canos furados que ele vira no pátio da Secretaria de Agricultura. O governador imediatamente atendeu. Meses depois o secretário de Agricultura comunica que o projeto de irrigação que seria inaugurado no interior teve que ser cancelado. Os canos que seriam usados no projeto simplesmente desapareceram. O governador manda chamar o deputado, achando que tinha sido enganado por ele: - você disse que os canos estavam furados. -Sim, governador, o sr. Já viu cano sem ser furado?


O Rio de Janeiro, em várias ocasiões, esteve sob o comando de desastrados administradores. O historiador Milton Teixeira chegou a reunir 35 fatos que mostram quão loucos foram alguns desses administradores do Rio. O jornalista Mário de Moraes, que ficou famoso escrevendo reportagens nas páginas da revista O Cruzeiro, conta que o historiador Milton Teixeira gastou dias fazendo pesquisas no Museu Histórico do Exército e no Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural. Ele queria reunir dados que comprovem a veracidade de suas histórias.


O jornalista Mário de Moraes conta duas outras histórias saborosas ,levantadas pelo historiador Milton Teixeira. Após a independência, o Brasil precisou formar seu próprio Exército. Como tinham que correr contra o tempo, o jeito foi contratar mercenários alemães. O major Von Ewald, em 1825, era o comandante da tropa. Na época, a mais famosa e rica prostituta do Rio era Gertrudes. Mulata bonita, morava em uma mansão em Botafogo. Bastou uma noite de amor para que o major Von Ewald se apaixonasse. Para azar do alemão, Gertrudes não queria nada com ele. No desespero provocado pela rejeição, o major comandante mandou sua tropa desfilar em frente a residência de sua amada, em Botafogo. Como não surtiu efeito, ele engendrou plano mais diabólico para tocar os sentimentos mais profundos de Gestrudes. Não se sabe como ele conseguiu as ligas íntimas de Gertrudes, que mandou prender à Bandeira do Brasil e desfilou com ela em frente a Dom Pedro I. O apaixonado major teve que fugir do país para escapar da corte marcial .


Em reportagem escrita no jornal Terceiro Tempo, Mário de Moraes conta que o Brasil entrou no século XVIII dominado pela violência que se alastrava pelas ruas do Rio. O governador do Rio, Luiz Monteiro, desencadeou uma campanha contra ladrões, criminosos e corruptos que infestavam a cidade. As cadeias ficaram abarrotadas. Foi preciso alugar casas, que foram improvisadas como presídios. O governador não contente, pegou a caneta e escreveu o seguinte bilhete ao rei de Portugal: “Senhor, nesta terra todos roubam, menos eu”. O Rei, acreditando que seu governador ficara louco, mandou prendê-lo, também.


Esses legisladores e governantes pirados continuam existindo no país. A exemplo do que ocorreu em Nebraska, Estados Unidos, onde o governador mandou construir uma pista de pouso para extraterrestres, aqui no Brasil o dinheiro público também foi usado na construção de pista de pouso para disco voador. Perto de Barra do Garças, está o primeiro discoporto do Brasil. A jornalista Carla Fagundes me mostra o recorte de jornal que prova que o prefeito de Bocaiúva do Sul, que fica perto de Curitiba, também teve essa brilhante idéia. Élcio Berti anunciou a criação de um aeroporto para discos voadores, batizado de Ovniporto. Ele disse que “é uma coisa do futuro”


A lista de projetos inusitados não pára de crescer em pleno século XXI. Tramitam no Congresso projeto de lei que proibe a palmada em criança. Outro que proibe o beijo em público de pessoas do mesmo sexo.


E não adianta transparência nas contas públicas governamentais. Os desmandos acontecem desde que o Brasil foi descoberto. Sempre soubemos dos exageros, por exemplo , da família imperial, que gastava uma fábula em dinheiro para manter palácios e residências nos quatro cantos do Rio. E, como hoje, aumentava os impostos, deixando indignados os brasileiros que moravam longe da corte, que já não se conformavam com as notícias de favoritísmo e corrupção.


Para ajudar nos gastos da familia real, Dom João vendia até títulos de nobreza. O historiador Pedro Calmon escreveu que para ser Conde em Portugal eram precisos 500 anos. No Brasil, bastava 500 contos. Dom João VI, segundo o historiador Patrick Wilcken conta no livro “Império à deriva”, criou 28 títulos de marqueses, 8 de condes, 16 viscondes, 21 barões e mais de mil cavaleiros.


A comunidade tem o direito de saber onde o dinheiro dos impostos é empregado e pode até questionar qual a melhor maneira de sua utilização. Só não vamos nos livrar é desses malucos criativos. Eles vão continuar angariando a simpatia dos eleitores e estarão sempre preparando projetos que consideram geniais, sempre “com a melhor das intenções”.


RECEITA CHINESA

MEDICINA ORIENTAL

Um ocidental em visita à China ficou surpreso de ver a quantidade de velhos saudáveis e, curioso sobre os aspectos da milenar medicina chinesa, indagou de um experiente médico qual o segredo para se viver mais e melhor.

Ouviu do mesmo a sábia resposta:

"É muito simples, basta seguir 3 regras:

1-Comer a metade.
2-Andar o dobro.
3-E rir o triplo."

CHICO DIAS E ANTÔNIO ARRAIS


O amigo e jornalista Chico Dias recorda o dia em que recebeu para um almoço a mulher do nosso saudoso Antônio Arrais e o filho mais velho do casal. Era em plena invasão de Israel ao Líbano, com bombas chovendo sobre Beirute.

A TV estava ligada no noticiário. Lá pelas tantas, diante das notícias da destruição de Beirute, o garoto entrou em pânico: "Mãe e o papai? Precisamos ir lá para salvar ele". Foi um custo convencê-lo que o Beirute da notícia não o Beirute do Arrais.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O ADEUS À ANTÔNIO ARRAIS

A imprensa em Brasília ficou mais pobre sem o jornalista cearense Antônio Arrais, um dos editores da Agência Brasil. Ele morreu aos 64 anos, vitimado por um infarto fulminante.


Arrais nasceu no Ceará e se mudou com a família para Pernambuco. Em Recife estudou e se formou jornalista em 1976. Trabalhou em vários jornais de Pernambuco, como Jornal do Comércio, Diário de Pernambuco e nas sucursais do Jornal do Brasil e do jornal O Globo.


Em 78 foi transferido para a sucursal de Brasília e depois trabalhou também na Agência Estado. Ingressou na Radiobrás em 1987 e esteve cedido por 12 anos ao Tribunal Superior Eleitoral, ao Senado Federal e à Procuradoria Geral da República, onde atuou como Coordenador de Comunicação Social. Em 2003 retornou à EBC para trabalhar na Agência Brasil, colaborou com a Comunicação Social no último ano, retornando à Agência Brasil em agosto passado com a função de editor.


Como repórter correu o Brasil e o exterior fazendo coberturas, acompanhando presidentes. No velório, Roberto Stefanelli lembrou a viagem que fizeram a Mato Grosso, acompanhando o presidente Figueiredo. Beto pela Folha e Arrais pelo Globo. Depois de um dia corrido de cobertura chegam exaustos ao hotel, pedem a conta e a nota fiscal, exigida pela tesouraria do jornal na hora de prestar contas dos gastos da viagem. Em nome de quem? Tira em nome de O Globo, diz Arrais. Já estavam voando de volta a Brasília quando Arrais resolve conferir as notas fiscais. Tudo OK, perfeito, só um porém. A nota mais alta, fornecida pelo hotel, estava em nome de Hugo Lobo, no lugar de O Globo. Fazer o que com aquele funcionário do hotel que não compreendeu suas palavras?


Rejane Limaverde, que morou no apartamento dele quando chegou do Ceará, lembra que ele era cheio de mania. Por exemplo: mesmo atacado pela gota não abria mão de um pedaço de carne no almoço. No restaurante Beirute tem um prato batizado de Filé do Arrais. Outra mania: detestava quando alguém pegava no copo em que estava bebendo. Mandava trocar na hora. Um dia, tirou as lentes de contato e colocou num copo com água. Segundo ele, para não ressecar. Era época de baixa umidade do ar, como agora. E cochilou o suficiente para o Emerson de Souza esconder o copo com as lentes e colocar outro no lugar. Ao despertar, flagrou o Emerson simulando que estava bebendo a água. Arrais, já irritado, gritou desesperado “cuidado com as lentes no copo” . Quando descobriu a brincadeira do colega ficou mais zangado.


Apesar de ser metódico e mau humorado era muito querido pelos amigos que se divertiam com o seu jeito de ser. Apaixonado por livros e CDs, era fã da voz de Gal Costa. Dizia que se ela gravasse um “reclame” da Coca-cola, ele comprava. Sua última promessa foi paga na manhã do dia em que morreu. Levou para o colega Mamcasz a garrafa de cachaça velha que havia prometido. Mamcasz ainda brincou: - Está fechada, com selo e tudo? A provocação tinha sentido. Arrais nunca aceitou garrafa de cerveja trazida à mesa aberta pelo garçom sem ser na frente dele .


Na noite daquela mesma terça dia 14, em casa, ao lado da mulher Thelma, foi traído pelo coração, que resolveu parar bem na hora do jantar. Deixou além da viúva, quatro filhos.: Marcelo, Rodrigo, Leonardo e Daniela. O corpo cremado, vira cinza. Suas histórias, como na literatura de cordel vão passar de boca-em- boca. Vão se espalhar mantendo viva a sua memória. Um jornalista “tolerância zero” que gostava de música, da família, de comer carne, dos amigos, de livros, da vida.

Homenagem 80 anos Wilson Ibiapina