quinta-feira, 30 de outubro de 2014

REFORMA ORTOGRÁFICA



O omem disse que oje vai xover. É assim que passaremos a escrever se forem aprovadas as mudanças sugeridas para na nova reforma ortográfica da língua portuguesa. A proposta de mudança feita pelo professor Ernani Pimentel, dono de uma rede de cursos preparatórios, inclui também outras mudanças. Por exemplo, palavras grafadas com “Ç”, “SS” e XC passariam a ser escritas com um “S”. A simplificação do idioma inclui a extinção do H no inicio das palavras, bem como do CH, que seria substituído por X. 

Professores de português de todo o país já se manifestaram contra. Alguns acham uma besteira sem tamanho o argumento de Pimentel de que a simplificação facilitaria o aprendizado. A dificuldade de alfabetizar não diz respeito à grafia das palavras, mas sim ao método de ensino do professor. O assessor do Museu da Língua Portuguesa e professor da USP, Ataliba de Castilho, diz que “é preciso o professor ajudar o estudante a compreender as diferenças entre língua falada e escrita. Mudar as letras não muda esse processo.” 

O professor Ernani Pimentel faz parte do grupo de trabalho técnico do Senado criado no ano passado para revisar o acordo ortográfico de 2009. O senador goiano Cyro Miranda, presidente da Comissão de Educação e Cultura do Senado diz que as ideias do professor Pimentel não representam a opinião do grupo formado também pelo professor Pasquale Cipro Neto e os senadores Cristovam Buarque e Ana Amélia Lemos. 

Essas mudanças lembram-me a história do cara que pede a secretaria para redigir uma convocação de todos os empregados para uma reunião na sexta feira. A moça para de escrever e levanta sua dúvida : - chefe, sexta é com s ou com x? E o chefe: - transfere pra quinta.

O novo acordo ortográfico, assinado em 2008 só entrará em vigor em 2016. Até lá, vão tentar fazer mais mudanças na “última flor do Lácio, inculta e bela”, como diria Olavo Bilac.

B de PAIVA

O ministro aposentado STJ, Cláudio Santos, que fez teatro quando jovem estudante de direito, comentou a volta do B ao Ceará:

José Wilson
 
Conheci o B. em breve contato, na cidade do Recife, no ano de 1957, durante o I Festival Nacional de Estudantes de Teatro, organizado pelo Embaixador Paschoal. Reunimos um grupo, as pressas, eu, Eusélio de Oliveira, Hamilcar Arruda, Horário Dídimo e outros que não me recordo, fundamos informalmente o TUC, Teatro Universitário do Ceará, e graças ao Magnifício Reitor Antonio Martins Filho recebemos o necessário apoio financeiro para viajar à capital maurícia. 

O B. de Paiva dirigia um grupo amador do interior do então existente Estado do Rio (acho que o Teatro Rural de Campos), onde despontavam atores que depois se destacaram no teatro e TV brasileiros. Grandes nomes do teatro brasileiro se apresentaram lá oriundos do Escola de Arte Drmática de SP, do Teatro Duse do Rio, e de muitos outros de vários Estados, inclusive do RS (Abujamra) e lá eu assisti, entusiasmado também como estudante de direito, o julgamento de Otelo (representado pelo Paulo Autran, bem jovem) e de Hamlet (representado pelo Sérgio Cardoso).

Se não me engano o Paiva foi premiado, bem jovem, como Diretor. Um grande nome do teatro brasileiro. No Ceará, poderá ainda realizar muita coisa nas artes dramáticas.
Um abração para o B. como dizia o saudoso TT.

Cláudio Santos.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

B DE PAIVA DE VOLTA ÀS ORIGENS


B de Paiva

Wilson Ibiapina

Feito o salmão, que consegue nadar centenas ou milhares de quilômetros pelos oceanos antes de voltar ao rio onde nasceu, B de Paiva arruma as malas para voltar para Fortaleza. A despedida dele, em Brasília, está sendo organizada pelo cineasta Pedro Jorge. Será terça feira, dia 4 de novembro, no restaurante Madrid. Dia cinco estará voltando para o Ceará com a atriz Lourdinha, sua companheira inseparável dos últimos anos. Aos 82 anos, que completa dia 6 de novembro, deixa a marca de sua trajetória profissional no Rio, Brasília e Ceará, com repercussão nacional.

José Maria Bezerra de Paiva, o que tem de competência tem de humildade. Nasceu em 1932 em Fortaleza, fruto da união das famílias Oliveira Paiva e Bezerra de Menezes. O avô dele, João Francisco, mestre de ofício, pintor e escultor, foi o primeiro fotógrafo do Ceará. Morreu envenenado com com produtos  químicos  que usava nas revelações. Ele veio de Portugal e teve dois filhos. Um deles, Oliveira Paiva, só foi lembrado 80 anos depois de morto. A mãe dele era da família Bezerra de Menezes que está na história do Ceará.

O pai era jornalista e diretor da Fenix Caixeiral até o dia em que teve a brilhante ideia de fazer uma campanha pela  semana inglesa. Até então o trabalho era direto que nem cantiga de grilo. Parar aos sábados era uma audácia inadmissível. Foi demitido por ser tão criativo.

Desde menino Zé Maria era apaixonado por teatro e cinema. Seu vizinho, Tarcísio Tavares, também louco por cinema, quando ficava doente pagava o ingresso só para o Zé Maria lhe contar o filme, o que era feito teatralmente, com muita gesticulação e  ruídos onomatopaicos. Foi vendo filmes dirigidos por Cecil B de Mille que Tarcísio Tavares, o saudoso TT, teve a ideia de batizar o José Maria Bezerra de Paiva de apenas B de Paiva. Pegou. 

Ainda menino B de Paiva sofreu um acidente que deixou sequelas na perna direita, mas não lhe afastou  das atividades artísticas. Em 1950  estréiou como autor e ator no Teatro Experimental de Arte, fundado por ele e os amigos Hugo Bianchi, Marcos Miranda e Haroldo Serra. O problema da perna lhe perturbava e teve que pedir ajuda ao jornalista Jáder de Carvalho que fez campanha para que fosse ao Rio fazer um tratamento. Em 1954, aos 22 anos, foi apresentado ao embaixador Phascoal Carlos Magno. O protetor das artes e dos artistas arranjou pra ele dormir no camarim do Teatro do Estudante, na Une. Foi o primeiro contato dele com o teatro no Rio.

Trabalhou em mais de 500 produções para cinema, rádio, TV e, principalmente, teatro. Depois do golpe de 64 reabriu e dirigiu o teatro da Une que havia sido destruído num incêndio. No Rio de Janeiro coordenou instituições públicas culturais e criou cursos de teatro, como o primeiro curso superior de Artes Cênicas na UniRio. Também trabalhou na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde foi reitor. Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Ceará, foi o criador da primeira secretaria de cultura do estado. O governador Virgílio Távora o surpreendeu dando o cargo de secretário a Raimundo Girão. Em Brasília, onde chegou a ser coordenador da Funarte e um dos fundadores do Ministério da Cultura, foi professor da UnB e fundador da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, vinculada à Fundação Brasileira de Teatro, da qual também foi presidente em 1995. Em 1999, coordenou os assuntos culturais e artísticos da Pró-Reitoria de Extensão da UFC e a diretoria do Colégio de Direção do Instituto Dragão do Mar, além de estar ligado à Fundação Amigos do Theatro José de Alencar. Como dramaturgo, escreveu, entre outras, as seguintes peças: "Complexo", "Lágrimas de um Palhaço", "Rosa Morta", "Vigília da Noite Eterna". Em parceria com o pernambucano Hermilo Borba Filho, publicou o livro "Cartinhas de Teatro".

Toda a vida profissional dele está documentada em livros, cartazes, filmes, um acervo valioso que ele guarda na fazenda do conterrâneo Geová Sobreira, numa cidade satélite aqui do Distrito Federal. O sonho de B de Paiva é conseguir em Fortaleza um local, num museu ou biblioteca, para guardar toda a história de sua trajetória profissional, um exemplo de tenacidade e talento para as novas gerações. É um dos nossos maiores artistas que não pode ser esquecido 

UMA ELEIÇÃO DO BARULHO



Clidenor de Freitas Santos, presidente do IPASE no governo de João Goulart, candidatou-se a prefeito de Terezina, na eleição de 1954. Na campanha, distribuia arraia-papagaio, mas só com a linha. Quando a meninada perguntava pelo rabo ele dizia: 

- Peça ao Agenor. 

Era seu adversário que acabou ganhando.  Além dessas histórias que entraram no folclore político, as campanhas do passado eram marcadas por slogans e marchinhas que identificavam os candidatos e que até hoje soam na cabeça dos eleitores mais antigos: “O homem da vassoura vem aí...” ou “Bote fé no velhinho/ Ele sabe o que faz...”

Essa, agora,  realmente, foi uma eleição atípica, a começar  pelos nomes de alguns candidatos, dignos de entrar na história pela excentricidade, pela estravagancia.  São exemplos,  Botelho Pinto, candidato a deputado estadual pelo PSC do Rio; o petista baiano Cara de Hamburger e o cearense Zé Macedo Acorda Cedo, do PTN.  Os aventureiros apareceram em todos os estados. Agora, são famosos, artistas, atletas que chegam de paraquedas para disputar o voto. 

Em 1950, a imprensa de Fortaleza noticiava a chegada à capital cearense do diretor da divisão de administração do Sesi, no Rio. Dr. Antônio Horácio Pereira, candidato a deputado federal. Foi considerado pela imprensa como pioneiro. Foi o primeiro paraquedista a desembarcar por lá, com a mala cheia de dinheiro para trocar por votos. O jornalista Ciro Saraiva lembra que, em Quixeramobim, o aventureiro foi recebido pelos pais dele, Raimundo Cristino e dona Amanda, que ganhou logo uma nota de mil cruzeiros, daquelas que exibia a efígie de Pedro Álvares Cabral. Dona Amanda preparou-lhe um almoço de galinha guisada. A partir daí, em toda eleição, dona Amanda lamentava: -Antônio Horácio não apareceu mais. Só foi eleito uma vez. Outros Antônios continuam por aí, sem projeto, pedindo voto.

Na eleição de 2014 foi uma campanha sórdida, como a chamou Aécio Neves. O corpo a corpo que tomou conta das redes sociais entre candidatos e eleitores acabou  com muitas amizades e foi preciso a intervenção do TSE para acalmar os ânimos. O cientista político Marco Aurélio Nogueira disse, em entrevista à Época, que o baixo nível da campanha refletiu a desqualificação dos partidos.

Estiveram, também, na mira dos críticos as pesquisas dos Institutos de opinião que  caíram em descrédito. O jornalista Augusto Nunes colocou lá no blog dele, na Veja: “Proponho aos amigos da coluna que esqueçam as sopas de algarismos espertos servidas pelas fábricas de porcentagens. Como se viu no primeiro turno, todas se tornam intragáveis depois da abertura das urnas.” E fez cálculos para mostrar que os Institutos erraram.

A urna eletrônica afastou a possibilidade de fraudes, como as que ocorriam no tempo das cédulas individuais. No interior as mocinhas, à serviço dos coronéis, pediam ao matuto pra ver a chapa que ele ia colocar na urna. Inocentes. entregavam a cédula que era beijada, deixando marcas de batom que anulavam o voto. Diz a lenda que em muitas cidades o eleitor já recebia a chapa dentro de um envelope para ser colocado na urna. - Em quem eu vou votar, coronel? - Cala a boca, o voto é secreto.

A urna eletrônica fez desaparecer também a contagem manual dos votos e com ela as histórias de juizes corruptos: - “O juiz daqui é corrupto?, pergunta um candidato querendo mais votos para se eleger. - “É, mas  já foi comprado.” 

História de jacaré comer a urna que caiu no rio quando era transportada de barco no norte do país, nunca mais vai ser ouvida.  Num passado recente, a apuração só começava no dia seguinte à eleição. A polícia e fiscais dos partidos passavam a noite pastorando as urnas. O resultado, que levava semanas, hoje sai quase na mesma hora, no mesmo dia, tudo via satélite, computador. Infelizmente, só a segurança que a informática tem dado ao pleito, não é suficiente. O conselheiro digital dos congressistas americanos, Adam Sharp, constata que a tecnologia evoluiu, mas os políticos continuam os mesmos.

Homenagem 80 anos Wilson Ibiapina