quarta-feira, 21 de abril de 2021

NOS PRIMEIROS TEMPOS



Wilson Ibiapina

Quando cheguei a Brasília em 1970, a cidade estava com dez anos, com muita poeira e ritmo acelerado dos operários em construção. Muito do que aconteceu nos primeiros momentos da nova capital só fiquei sabendo agora, 61 anos depois da inauguração. As histórias curiosas foram resgatadas pela jornalista Rosalba da Matta Machado e estão no livro "Dutra, memórias de um garçom de Juscelino, mordomo em Brasilia". Tem apresentação do saudoso jornalista Carlos Chagas, orelha escrita pelo jornalista Silvestre Gorgulho, ex-secretário de Cultura do DF. É dele a revelação de que a estátua da Justiça, na praça dos Três Poderes, inicialmente, foi colocada dentro do prédio do Supremo Tribunal Federal Foi levada para a praça por determinação de Oscar Niemeyer, sob o argumento de que a justiça é para todos. A lei fundando Brasília foi assinada por JK em primeiro de outubro de 1957. A data da inauguração a 21 de abril de 1960 foi sugerida por Israel Pinheiro, o comandante da construção.


A jornalista Rosalba da Matta Machado conversou durante meses com José Dutra Ferreira, que veio de Araxá para trabalhar como o primeiro garçom do Catetinho para servir ao presidente Juscelino Kubitschek. Dutra trabalhou inicialmente no Palácio de Tábuas, inaugurado em outubro de 1956. Só em janeiro de 1957 é que foi rebatizado pelo violonista Dilermando Reis de Palácio do Catetinho. Hoje, aberto à visitação pública, o Catetinho hospedou gente importante dos meios político,intelectual e artístico. Estiveram lá Juca Chaves, Dilermando Reis, e também Tom Jobim e Vinicius, quando criaram a Sinfonia da Alvorada, que conta em musica e versos a saga da construção.

Os primeiros blocos residenciais surgiram nas super quadras 105, 106, 107 e 108 –Sul.

Israel Pinheiro disse um dia que a construção que deu mais trabalho foi a do Congresso Nacional.

Uma figura da maior importância na construção da cidade foi o engenheiro agrônomo Bernardo Sayão. A missão dele era construir as estradas para que todos chegassem à nova capital e também implantar uma estrutura agrícola na região. Foi ele que sugeriu a Israel Pinheiro trazer imigrantes japoneses para criar um cinturão verde em Brasilia. Israel entregou essa tarefa ao pai da escritora cearense Ana Miranda. O engenheiro Raul Miranda contou com a ajuda das famílias japonesas que plantaram frutas e verduras em numerosas chácaras ao redor do Plano Piloto. A capital cresceu rapidamente e os novos habitantes ocuparam as chácaras que abasteciam Brasilia, acabando com as nascentes de rios e riachos, transformando tudo em cidades.

Foi Bernardo que escolheu a área em que Israel Pinheiro construiu a casa em que foi morar durante a construção. Foi chamada de Granja Israel Pinheiro. O político mineiro não gostou da ideia. Saiu o nome mas ficaram as iniciais: I.P ou seja Ipê. É por isso que lá não se via um único pé da àrvore que hoje enfeita o Distrito Federal. A Granja Riacho Fundo também foi batizada por Sayão para abrigar o médico Ernesto Silva. Já a Granja do Torto teve como primeiro ocupante o engenheiro Iris Meinberger. Ficou lá até quando deixou a diretoria da Novacap. Bernardo Sayão escolheu a Granja Tamanduá, mas ele estava sempre viajando, cuidando das estradas, da agricultura. Foi num acampamento às margens da rodovia Belém-Brasilia, que ele estava construindo, que aconteceu a tragédia. Em janeiro de 1959 uma árvore caiu sobre a barraca dele. Sayão foi a primeira pessoa a ser enterrada no Campo da Esperança. Uma estrada teve que ser aberta às pressas durante a noite para que as pessoas tivessem acesso ao cemitério.

Em seu livro de 399 páginas, ilustradas combinado muitas fotografias e documentos, a jornalista Rosalba da Matta Machado conta por que JK chorou durante a missa de inauguração de Brasília.O garçom Dutra disse à Rosalba que estava trabalhando durante o jantar do dia da inauguração, quando ouviu o presidente justificar o choro: "as lágrimas foram uma consequência. Parece que somente naquele momento de reflexão tomei plena consciência que inaugurava Brasília para o Brasil e para o mundo. Nosso sonho estava realizado."

Homenagem 80 anos Wilson Ibiapina