terça-feira, 5 de agosto de 2014

7 DE SETEMBRO - O MELHOR COLÉGIO E AS MELHORES LEMBRANÇAS


Dr. Maria

"Sete de Setembro, não tinha melhor!...Depois da falência dos Correios, os velhos amigos se falam pela Internet. Um dia recebo uma pergunta do Zezito, grande médico cearense radicado em Brasília. Ele queria saber o nome do policial cearense, alto largo e brabo, parecido com o Gregório do Getúlio, que morreu depois de dar uns tapas num baixim qualquer.  Não sabia. Mas lembrei do Narcélio Limaverde,  sabe de tudo. E não falhou: “Caro Wilson, Apolinário era o nome da fera. Ele fiscalizava tudo até a geral do Majestic. Qualquer alvoroço ele subia na geral e mandava descer uma fila inteira. Na geral os espectadores eram obrigados a deixar os tamancos ao lado da bilheteria. Isso porque eles faziam muito barulho quando o filme continuava a começar, gritando "! Tá na hora" e batendo com os pés no chão. Abrs do Narcelio.”

Zemaria responde: “Só você para dar um soco tão certeiro no meu solitário neurônio da recordação e ACORDÁ-LO. O APOLINÁRIO era o cabra; um negão imenso, da polícia especial, a do boné vermelho, que vi muitas vezes pelo centro da cidade, metendo medo em todo mundo". 

Eu morava, então, na esquina da rua da Assunção com a Pedro Primeiro e estudava no Colégio 7 de setembro, do Dr. Edílson Brasil Soares. Aliás, você deve estar estranhando a localização do 7 de Setembro, nas proximidades da praça do Ferreira, mas ele ficava na Floriano Peixoto, quase na esquina com a Pedro Pereira, logo depois do Lourenço Filho, antes de ser levado para a avenida do Imperador (e eu fui atrás). Minha turma, no primário, contava com a presença do Marcos Musí, que também seria médico, um dos a me roubar o primeiro lugar mensal. Se bem que havia um outro bom aluno, o José Maria Vidal, que não sei o que fez ou deixou de fazer e já me contaram que teria tido um treco e endoidado!

Aliás, eu penso que geralmente eu ficava em segundo lugar, ou até terceiro, depois do Musí e do Vidal. Mesmo assim não deixava de ser premiado com um livro - forma que o Dr. Edílson usava para estimular seus alunos. (Atenção: a velhice é uma merda e leve em consideração que meus miolos podem estar confundindo alunos do 7 de setembro com os do Lourenço Filho (do Dr. Filgueiras Lima), onde estive durante um ano, na época do Ginasial e de passagem para o São José, chamado de PP (pagou/passou), do Lourival do Amaral Banhos, indivíduo bonachão e que passava os dias a coçar os ovos (literalmente; devia estar com uma carga de chatos).

Por outro, ainda sobre o Dr. Edílson, hoje ele seria execrado pelos pedagogos de plantão, posto que o aluno que ficava no ultimo lugar, no mês, recebia o apelido de "grilo", era chamado à frente da turma toda e ganhava uma imensa vaia, sob as ordens do diretor. Se o Ednílson e o Ednílton (acho que eram os nomes dos filhos do Dr. Edílson) estiverem vivos e desmentirem, terão esquecido o tempo em que havia bedel e o do 7 de setembro chamava-se Jésu (talvez, corretamente, fosse Jesus, embora conhecido como Jésu). Por último, o melhor do 7 de setembro era a absoluta ausência de aulas de religião, uma chatura existente nos demais colégios."

PARIS É UMA FESTA


Eduardo Mamcasz

Ceará em Paris. Tem que ler até o final prá entender. Dimanche, começo pelo Chez Albert, na Boulevard Charrone, perto do Père Lachaise. Brunch por 23 euros todas que puder comer – baguetes, geléias de amoras, tortas e direitas. 

Depois, primeira caminhada, frio e nublado, até La Nation. Paradas nas lojinhas e cafés de esquina, até chegar à Bastilha. Boa andada mas em Paris, tudo é nada. Daí, num barzinho de esquina, de olho no piroquete (obelisco, que em grego quer dizer oh – ó, be – de que, lisco-tamanho) da Bastille. Deux alongés, si vous plait. Alongé é café cortado. 

Daí... escuta esta, amigo Wilson Ibiapina. Me aparece uma senhora, na mesinha ao lado, aqui em Paris é tudo assim, um raladinho no outro, bom para se conhecer. Não deu dois minutos, Silvana, o nome dela, cigarro acesso, use o nosso cendrier, ó, merci, de nada, epa, vocês são de onde – Brésil, isto eu sei, com esta fala, mas dondi? Brasiliá. Fale que nem gente, cabra. Ela, é de Fortaleza, Ceará, há 25 anos em Paris, casou com um cozinheiro francês, da Câmara dos deputês, culpa de minha mãe, casou com um professor francês, há 42 anos, hoje está com aquela doença do alemão, tenho um filho, lindo, 19 anos, olha aqui a foto dele, o peste fala francês, inglês e alemão muito bem mas o porra da peste se recusa a falar brasileiro, foi duas vezes ao Ceará, detestou o Brasil, só tem esperto, mãe sofre, vocês tem filho, não, pena, é tão bom sofrer, e ela bebendo uma taça de vinho e eu, por causa da chuva e da prosa, uma taça de vinho rouge, e lá pelas tantas conto que meu primeiro casamento foi com uma cearence de Itapipoca, a próxima taça eu pago, o cabra sabe onde tem mulher boa, então pago a tua cerveja, mina, ah, fala outra vez, que saudade, tu não é polaco porra nenhuma, do sul, vixe, tu é do nordeste. E madame só olhando... Até que chegou a hora que Madame se vira prá mim: Florzinha, não tá na hora de mijar não, e eu, qué isso, aguento mais um tanto, conversa boa, vinho melhor ainda. O olhar resposta foi tão duro que no repente senti uma pressão na bexiga, mina, Silvana, tenho umas amigas no Ceará, quem, a Antonieta Negrona, não é Negrão, polaquinho, conheço a família, a Cecília Cordeiro, o Ibiapina, conheço a família, e eu, pô, na Ceará só tem família, e ela, demais, não vá mijar agora não, conversa tão boa, Madame espera. Espera aí. Estou onde mesmo? Em Paris, meu. Mas dondi? Praça Bastilha, onde o povo trouxe o rei Luís e a rainha Antonieta, não foi tua amiga do Ceará não, e ó, cortou a cabeça. Qual delas? Ih, você é demais, mademoiselle piriquita (a garçonete), outra tasse de vin rouge aqui pro meu amigo polaco branco. E Madame? Vou falar. Só agora tô chegando aqui em casa, três portões para abrir com códigos diferentes, a concierge teve que me ajudar nos quatro, porque tem a porta do apê e.... quédi Madame? Manhã eu procuro. Hoje, sem condição. E pour quoi, meu? É que nem o velho Hemingway dizia, no meio dos porres: porra, Paris é uma festa. Festa vai ser quando Madame me encontrar amanhã. Ih, Silvana, que lugar é este? Não é o apê onde estou. Cadê minha baguete. E ela: comi. Ih ... fudeu.

BRASÍLIA PARA PRINCIPIANTES






Quem chega a Brasília pela primeira vez, fica impressionado com o silêncio que reina nas largas vias da cidade.  Nada além do barulho dos carros. Se ouvir uma buzina deve ter sido acionada por um morador ou visitante novato que não viu a placa que tem logo na entrada: SEJA BEM-VINDO. EM BRASÍLIA EVITAMOS BUZINAR.  O motorista impaciente, intolerante, apressado substitui a buzina por um sinal de luz.


Mas o que é mesmo impactante para quem chega pela primeira vez, é a sinalização da cidade, Aí sim, vai precisar de paciência para aprender as siglas que identificam e denominam os lugares.


Não adianta reclamar, pois  trata-se de um padrão que vem desde o projeto do urbanista Lúcio Costa, o famoso Plano Piloto, que ganhou o concurso na hora de se construir a cidade. Ainda na planta ficou estabelecido que os endereços de Brasília seriam identificados por um padrão  alfanumérico.

Para compreender e poder locomover-se é necessário saber o que é SQS (Super Quadra Sul). Nunca um brasiliense vai pedir ao taxista que o leve à Super  Quadra Norte. Vai ver logo que não é daqui. Nós abreviamos, recorremos logo à sigla: SQN. Eu, por exemplo, moro na SHIN QI-6, Ao motorista peço apenas que me leve à QI 6 do Lago Norte.

Outras siglas mais complicadas:

SCTM: Setor Cultural Norte: SBS: Setor Bancário Sul; SCLRS: Setor Comercial Local Residencial Sul SPP: Setor Palácio Presidencial, é lá que estão o Alvorada e o Jaburu, residências oficiais do presidente e do vice.

O CADF será o novo endereço da administração do Distrito Federal. O Centro Administrativo do Distrito Federal está sendo construído em Taguatinga e vai abrigar as secretarias e o governador que deixará o Palácio Buriti, no Eixo Monumental, para recepções e cerimonias.

O Eixo Monumental é o bojo do avião que caracteriza o formato do Plano Piloto. Numa ponta, na parte W (West) ficam os prédios do GDF, Governo do Distrito Federal, memorial JK, museu do Indio. Na outra ponta L (Leste) ficam a esplanada dos Ministérios, praça dos 3 Poderes, Teatro Nacional Museus, Biblioteca Nacional e a Catedral. Nas Asas Norte e Sul do avião ficam os setores residenciais. E bem no centro, nu cruzamento dos eixos, está a rodoviária.

As siglas – SHLSW (Setor Hospitalar Local Sudoeste) HRAN (Hospital  Regional da Asa Norte), SMU (Setor Militar Urbanos precisam ser decoradas senão você não chega a lugar nenhum. 

Diante de  tantas  siglas,  um dia o físico Rodger Rogério perguntou ao jornalista  Francisco Augusto Pontes, recém chegado do Ceará para ensinar na UNB e trabalhar na Rede Globo: 

 - E aí Augusto, já  aprendeu  a  andar em  Brasilia?

- Não. Ainda estou nas primeiras letras. 

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

HISTÓRIAS DE UM REPÓRTER



Edmar Morel foi um dos melhores repórteres da imprensa brasileira. Nelson Werneck Sodré dizia que suas reportagens reuniam coragem, audácia, faro para o acontecimento insólito, capaz de atrair a atenção das pessoas. Morel, afirmava Werneck, “sabia extrair do noticiário do dia aquilo que deveria ser objeto de reportagem.” Saiu de Fortaleza no dia 10 de março de 1932. Viajou no porão do navio Campos Salles.

Aos 20 anos conseguiu seu primeiro emprego no Jornal do Brasil. Barbosa Lima Sobrinho, um dos chefes da redação, escreveu que conheceu Morel “vestido ainda com as roupas do Ceará, mal chegado ao Rio, tocado por aquela fatalidade que nos leva a tomar um barco da Ita e a dizer adeus Belém do Pará, na canção de Caymmi. Tanto faz Belém do Pará como Fortaleza. É sempre um cordão umbilical que se corta e uma saudade que nasce, para nunca mais morrer”.

Na redação do JB começou a conhecer os grandes nomes da imprensa carioca, naqueles anos 30:

o crítico literário Mucio Leão, o cartunista Raul Pederneiras. E é próprio Edmar Morel quem conta: “Numa noite entrou na redação um senhor de porte prussiano, alto, e que olhava seus semelhantes de cima para baixo.

- Quem ?
- É o dr. Gustavo Barroso. Vou te apresentar.
- Não, pelo amor de Deus...

Aquilo só podia ser uma visão ver o dr. Gustavo Barroso em carne e osso? Esfreguei os olhos. Pensava que tudo era um pesadelo. Na minha mocidade havia lido um dos seus livros, Terra do sol, e o povo dizia que ele era o maior escritor da língua portuguesa. Antes de tudo, era cearense.

Explico por que não quis ser apresentado ao gênio. Seu pai, Filinto Barroso, homem erudito e conhecido como Filinto Garapa, entregou-me uma carta recomendando-me ao filho, juntamente com dois queijos e duas latas de doce de caju. Tive fome, comí as gulodices e, assim, não foi possível entregar a missiva”.

Essa história está no livro “Histórias de um repórter”, vividas em 60 anos de imprensa, onde mostra como jornalista é explorado, “ganhando o redator o salário de um cabo de polícia ou de um chofer de caminhão de lixo”. Deixou 15 livros num total de 23 edições. Segundo ele, “todos os direitos autorais não dão para comprar um fusca zero”.

CARLOS AUGUSTO, AVA GARDNER E FERNANDO CÉSAR




Veja só o Email que o jornalista Aluísio de Carvalho mandou depois que leu o caso do cantor cearense com a atriz Ava Gardner que conto aqui no blog:

Ibiapina, prezado amigo,

O ‘’locutor que vos fala’’ é Aluísio Raimundo de Carvalho, seu ex-colega de profissão. Para refrescar a memória: como seu vizinho e amigo, fui proprietário daquela casa histórica construída pelo Marcos Paulo Rabelo e vendida por mim ao Ronaldo Junqueira. Mais de 30 anos, meu amigo, e parece que foi ontem! Tenho saudades dos vizinhos, como você e Edilma,  e da casa. Mas isso é passado. O que me traz à sua presença, apossando-me de seu endereço eletrônico de uma das mensagens do Jezer, com quem troco e-mails com muita frequência, é o relato que você fez sobre o ‘’affair’’ Carlos Augusto e Ava Gardner. O assunto foi repassado pelo Jezer, e me interessou, pelas razões que te conto agora:

Conheci o Carlos Augusto quando ambos trabalhávamos na velha Rádio Mayrink Veiga, no Rio. Ele, aos 21 anos, já era um cantor bastante conhecido do público e nos meios artísticos. Duas gravações o projetaram: ‘’Vitrine’’ e ‘’Negue’’. 

E o seu amigo aqui era um modesto e desconhecido locutor da madrugada. Comecei com 17 anos mal completados, e trabalhei de meia noite às três da manhã, durante quase três anos. Só  consegui sair daquele horário graças à ajuda de uma grande figura humana chamada Sebastião Leporace (pai da Gracinha Leporace), que me antecedia na programação e por algumas vezes teve a minha companhia na leitura do jornal falado da meia noite. Isso quando faltava o outro parceiro, o Newton Prado. Eu era um reserva. Ele gostava do meu trabalho e um dia resolveu peitar o Jair de Taumaturgo, que acabou cedendo aos argumentos de que eu era um garoto e aquele horário acabaria por destruir minha saúde. Quem veio para o meu lugar: o Célio Moreira, irmão do Cid. Anos depois, o Célio morou comigo, por um bom tempo, aqui em Brasília. Eu conhecia o Carlos Augusto de cumprimentos de corredor, nada mais que isso. Eu, tímido e novato naquele meio, mantinha-me distante daquela turma já famosa.

Eu já tinha conhecimento do caso Ava Gardner, mas não tinha com ele, Carlos Augusto,  aproximação pessoal que permitisse matar minha curiosidade. E a versão que circulou à época é de que ele recebeu o clássico bilhetinho para ir à suite dela, quando terminasse o show. Foi, e quando viu aquele monumento, deitada e prontinha para o amor, nuinha em pelo, correu assustado. Não conhecia a versão que você conta no texto para a publicação da Casa do Ceará, que só agora li, graças ao Jezer, que deve ter mandado para outros amigos.

CARLOS AUGUSTO EM BRASILIA

Mas aí é que entra a novidade, meu amigo. E,  pelo jeito, você a desconhece. Passado aquele momento glorioso de muito sucesso logo no começo de sua carreira, o Carlos Augusto mergulhou no mundo da droga. E não firmou o pé na vida de cantor. Já recuperado das drogas, mas decadente, alguns anos depois, ele veio parar em Brasília, tentando retomar a carreira artística numa cidade onde não havia concorrência e onde havia uma meia dúzia de inferninhos, principalmente no Núcleo Bandeirante. E adivinhe quem o abrigou: o nosso querido amigo Fernando César Mesquita, que talvez nem tenha tomado conhecimento do passado de seu hóspede no apartamento da 205. 

A pedido meu, ele deixou que fosse morar com ele o Fausto de Carvalho, locutor dos meus tempos da Mayrink Veiga. Ante o segundo pedido, o Fernando, que sempre foi generoso nesse tipo de situação, considerou que era apenas mais um. Não sei, ou não me lembro, se o convívio foi tranquilo. Mas ocorreu um fato que não dá para esquecer. O Fernando recebeu de presente uma caixa do conhaque Remy Martin. Quando foi pegar a primeira garrafa, algum tempo depois, já não existia nenhuma. Só os frascos vazios. Mas o Fausto e o Carlos Augusto já estavam longe. O temperamento forte do Fernando foi vencido pela impotência. Não tinha o que fazer. Não me lembro se foi o próprio Fernando que me contou, ou se foi o Mário Honório, um amigo comum. O fato é que eu me senti culpado, pelo menos quanto ao sacana do Fausto, que também já morreu, e por quem intercedi mais diretamente. O Carlos Augusto já veio como sublegenda da concessão ao Fausto de Carvalho (não era meu parente). E acho que foi nessa ocasião, partindo daqui, de carro (não sei com quem), que o Carlos Augusto morreu. Você, que tem mais contato com o Fernando, um Amigo muitíssimo querido (há tempos não o vejo), pode confirmar essa estória, que enriquece um pouco o conhecimento que você tem da vida do saudoso Carlos Augusto. Gostaria de te mandar aqueles dois sucessos que ele fez no começo da carreira, mas acho que você já os tem.


Grande abraço, meu amigo

Homenagem 80 anos Wilson Ibiapina