sexta-feira, 7 de novembro de 2014

A INTERNET ESTÁ DEVORANDO A MÍDIA?




O anúncio de que a Folha de São Paulo  demitiu quinze jornalista trouxe à tona a discussão em torno do futuro de nossa imprensa. O jornalista Hildeberto Aleluia, que acaba de escrever o livro “O futuro da internet: o mundo da dúvida” acha que essa crise que chega a São Paulo não vai ficar por aí: “lá no sul o furacão já passou no grupo zero hora. no nordeste, em várias capitais não chega a ser um furacão, mas tornados são constantes na redações e outros setores da velha mídia.  Marcos Novaes lembra que O Globo está tentando vender o parque gráfico de Caxias. Pretende fazê-lo no máximo em dois anos. Lembra que há 20 anos participou de uma discussão sobre o meio eletrônico e a maioria jurava que ninguém deixaria de ler em papel. O representante da Abril foi objetivo: "a cada dia morre um indivíduo que lê no papel e nasce um que lê no meio eletrônico".

Este que nasceu naquela época hoje já tem 20 anos.  O escritor e pesquisador Marcio Salgado, ao comentar o livro do Aleluia ressalta que a Internet está promovendo a maior revolução a que o mundo já assistiu, com reflexos navida cotidiana e nas mais diversas áreas do conhecimento humano:

“O futuro da internet: o mundo da dúvida” (Topbooks, 2014), do jornalista Hildeberto Aleluia, apresenta argumentos e exemplos concretos que comprovam essa afirmação. Com o advento da internet, as mídias tradicionais passam por grandes mudanças a fim de sobreviver, e as consequências são observadas desde já, mas são imprevisíveis para as próximas décadas. Doravante, o rádio, a TV e o jornal impresso jamais serão os mesmos.

No Brasil, de acordo com Aleluia, a internet segue “absoluta na preferência dos leitores, e a cada dia vai solapando os alicerces da velha mídia com a diminuição das tiragens impressas e a queda da audiência no sistema televisivo”(p. 58). Essas mídias tentam se reinventar, em geral recorrendo à própria internet, com chamadas para os seus sites, blogs e páginas disponíveis em tempo real. A divulgação das notícias hoje é instantânea e os veículos, mesmo as revistas que contavam com espaço maior entre uma publicação e outra,  tiveram que se adaptar a essa realidade.

Contudo, em termos econômicos, todas essas mídias sobrevivem graças ao “modelo do negócio”, conforme adverte o autor. “Chega a ser um espanto. Um negócio que diminui a cada dia, apresentar um faturamento cada vez maior”(p. 113). Ele se refere à redução das tiragens, ao declínio no número de leitores de jornais e revistas impressos, e à queda de audiência das TVs e rádios. Esses meios ainda dominam o mercado publicitário, permanecem no topo do faturamento, pois contam om um sistema comercial bem estruturado.

Na verdade, há uma briga de titãs entre a internet e as mídias convencionais pela busca de audiência, a conquista de novos públicos e, sobretudo, pela redistribuição de anúncios comerciais e aquisição de clientes no mercado. Conforme Aleluia, a internet vai ganhando os primeiros rounds, tendo golpeado a mídia impressa e destruído a indústria do disco e do CD.

No campo teórico as previsões são incertas e bastante polêmicas. Alguns argumentam que as mídias tradicionais estão vivendo os seus estertores. Outros, como o americano Henry Jenkins, acreditam numa “cultura da convergência” e numa possível sobrevivência das velhas mídias. No livro “O futuro da internet”, Aleluia elenca as diversas opiniões dos autores que expressam essas dissenções, sendo que ele próprio cita exemplos que indicam o nítido declínio das mídias tradicionais. E observa que os jornais impressos são uma coisa do passado. Eles têm um futuro terrível, mas não as notícias. Estas estarão sempre em evidência nas mais variadas plataformas de comunicação.

Um exemplo desse conflito atual dos veículos de comunicação é a postura adotada pelos jornais impressos com relação ao seu público-leitor. Com a diminuição das tiragens, eles criaram os sites de notícias e passaram a vender assinaturas. Em seguida estabeleceram barreiras  para a leitura grátis, mas a iniciativa se revelou contraproducente. Aleluia observa que “os sites que começam a cobrar perdem imediatamente o interessado que se transfere para o grátis mais próximo”(p. 31).

Sobre a briga pela audiência entre a internet e as redes de televisão as coisas não são diferentes: “O You Tube está aí mesmo para tirar o sono da TV”(p. 55). Essa disputa tem ganhado contornos dramáticos, com as televisões apelando para todo tipo de expediente a fim de conseguir elevar os índices de audiência.

Citado por Aleluia, o jornalista espanhol Juan Luis Cebrián, diretor do “El País”, questiona o futuro que aguardam partidos políticos, sindicatos e os meios de comunicação no mundo contemporâneo, uma vez que a internet é um “fenômeno de desintermediação”. Ele argumento ainda que os jornais, tais como os conhecemos, acabaram, mas isso não significa que deixarão de existir. Os jornais impressos pertenceram à sociedade industrial, e não estamos mais nela.

Recebeu particular atenção do autor o tema da inclusão digital no Brasil. Embora estejamos crescendo no mercado mundial de inclusão digital, isso é motivo frequente de críticas. Baseado em pesquisas recentes, Aleluia observa que em comparação com outros países, até mesmo os latino-americanos, a nossa banda larga é muito cara e ruim. O governo federal criou o Plano Nacional da Banda Larga (PNBL), mas não conseguiu levá-lo adiante de forma a promover os resultados esperados. “O brasileiro paga hoje, em média, dez vezes mais caro que os habitantes de países desenvolvidos”(p. 104).

Outro aspectos muito discutido entre os usuários da rede de computadores se refere à invasão de privacidade. O autor observa que os provedores de serviços on-line constroem dossiês sobre os hábitos dos seus usuários e sabem tudo sobre eles.  Ou seja: tudo que fazemos on-line está armazenado em algum lugar e pode ser utilizado para o bem ou para o mal, em algum momento. Não é exagero. De fato, muitos internautas já tiveram problemas com a invasão das suas contas na internet.

Se costuma dizer que a internet é um território livre, mas, até pouco tempo, ela era terra de ninguém, pois não havia qualquer regulação do setor. Só recentemente foi aprovado no Congresso Nacional o Marco Civil para a internet, que regula essas questões do mundo virtual e atribui responsabilidades. Não se sabe ainda como funcionará na prática, porque no Brasil real o que não faltam são leis. Elas existem no papel, mas em geral não são aplicadas.

O JUMENTO NOSSO IRMÃO



O animal que transportou Maria com o menino Jesus e que no Nordeste ajudava o sertanejo nas suas tarefas diárias, está ameaçado de extinção. No Ceará, onde o Padre Antonio Vieira escreveu livros em defesa do animal, que ele considerava irmão, está sendo substituido por motos até para campear gado. O triste fim do jumento foi matéria no jornal O Globo, onde Cleide Carvalho escreveu: 

"A seca dos últimos dois anos agravou a situação de abandono dos jumentos no Nordeste. Companheiro do sertanejo no trabalho duro e ícone da resistência no semiárido, o jumento ficou, na expressão dos próprios nordestinos, “sem serventia”. De nada lhe adiantou o costume a longas jornadas, pouca água e comida escassa. Descartado no transporte de cargas, idosos e crianças, centenas deles estão sendo expulsas das fazendas, colocadas do lado de fora das cercas, ao deus-dará. Com fome e sem ter onde ficar, perambulam pelas estradas em busca de comida. Provocam acidentes graves. Morrem e causam mortes."

Nos anos 60, o presidente Juscelino Kubitschek chegou a ser comparado a um jumento por um camponês. No tempo em que o animal ainda estava com prestigio e era respeitado, JK foi ao Ceará, em 1960, visitar o Orós que acabara de arrombar. O açude que foi batizado com o nome dele, foi reconstruído em tempo recorde, por sua determinação. Foi inaugurado por ele a 11 de janeiro de 1961. Num almoço, impressionado com a determinação do presidente e sua força de trabalho, um caboclo pediu a palavra, queria saudar o presidente. Foi interrompido quando começou sua oração afirmando que estava ali o presidente JK, um verdadeiro jumento. "Esse presidente é um jumento." Gerou um mal estar que só foi sanado quando alguém da terra explicou que o matuto estava elogiando JK, estava querendo dizer que o presidente era um trabalhador incansável, um fiel amigo que nem um jumento. Ganhou foi um abraço de JK que se emocionou  com a comparação. 

A NUDEZ QUE SERIA CASTIGADA



O Ceará e o Piauí são considerados os estados mais católicos do país. No Ceará, até bem pouco tempo, a Igreja mandava e desmandava. Lembro que, quanto tinha uns 15 anos fui passar uns dias em Ibiapina, na Serra Grande. Meus primos para homenagear-me resolveram promover uma vesperal (uma festinha no final da tarde) num salão da prefeitura. Era a oportunidade que me ofereciam de rever amigos e parentes já que ia demorar pouco na cidade. Os músicos ainda estavam afinando os instrumentos quando chega um portador dizendo que o padre estava avisando que ia começar a “benção” e queria todos na igreja. Adeus homenagem.

Pois foi durante esse clima de religiosidade, quando até falar palavrão era pecado, que Luiz Severiano Ribeiro resolveu brindar os conterrâneos com a exibição de um filme de arte. Anunciou para o cine Diogo a apresentação do filme Êxtase, com a atriz austríaca Hedy Lammar. Foi aí que o mundo desabou. O jornal católico "O Nordeste" fez logo uma campanha contra a exibição do filme. Os padres, nas missas, numa verdadeira declaração de guerra, ameaçavam com o inferno quem tivesse a ousadia de ir ver aquela imoralidade. A propaganda contra só aumentava a curiosidade. Nos bares, na praia, nos cafés e mesmo nos papos na praça do Ferreira não se falava em outra coisa: a atriz aparece nua. O filme, de 1933, dava asas à imaginação coletiva. Quanto mais se falava no filme, mais pressão fazia a igreja. Só que ninguém sabia que se tratava de um filme inocente, uma obra de arte que contava a história de um homem, já sexualmente decadente, que se envolvia com uma jovem de raro encanto. Mas todos só pensavam num que diabo essa mulher nua ia fazer na tela. Coisa boa não era, senão a igreja não estaria tão preocupada. Os jovens já não se importavam em ir para o inferno como prometiam os padres. Uma multidão fechou a rua Barão do Rio Branco, onde ficava o cine Diogo. Claro, só os sortudos conseguiram entrar. O jornalista Blanchard Girão conta em seu livro “Sessão das Quatro”, que estavam todos alí, com os nervos à flor da pele, diante da possibilidade de descobrir o mistério condenado pela igreja e que tanto fantasiavam: “como será aquela deusa de Hollywood sem roupa, fazendo o que?”

O filme começa. A personagem Eva, em seu cavalo, vai rumo ao lago nadar, nua. Sai da água e anda pelo campo à procura do cavalo. Tudo mostrado de longe. As únicas tomadas em que aparecem os seios em close são rápidas. O desânimo toma conta da plateia, que fica impaciente. Alguém sugere quebrar tudo. Sentem-se ludibriados. Não sei se o Blanchard estava lá, mas ele conta que todos saíram frustrados. Pensando em filme de sacanagem, não perceberam, segundo ele, que acabaram de ver uma obra prima do cinema europeu que tinha como ponto alto a beleza das imagens. 

Veja uma cena da atriz Hedy Lammar na lagoa. E eles acharam pouco.


CADA ARTISTA TEM A FÃ QUE MERECE




Foi o grupo de rock britânico, The Beatles, formada em Liverpool que me chamou a atenção para o fanatismo mundial na área da música.. A Beatlemania ocupou os espaços e sua crescente popularidade se estendeu até as  revoluções sociais e culturais da decada de 60. Aqui no Brasil, ainda menino ouvia o povo cantar: “ Ela é fã da Emilinha. Não sai do Cesar de Alencar Grita o nome do Cauby e depois de desmaiar. Pega a revista do rádio. E começa a se abanar. É uma faixa...”

Os artistas ficavam famosos pela voz, nos anos dourados do rádio no Brasil. Sem televisão, eles  conquistavam os brasileiros pelas ondas sonoras do rádio. Hoje, tudo mudou. O elenco se diversificou. São atrizes, atores cantores, rádio, cinema e televisão. Tem  profissional  pra tudo quanto é gosto. Artistas caipiras, sertanejos, pops. sambistas,  seresteiros, homens do rádio, do cinema e da televisão. 

Mulheres tiram a  calcinha, o sutiã.  O cantor Wando fez coleção. Hoje, o artista pode ser visto, também no barzinho, no clube, na praça pública, em qualquer lugar. Eles  evoluíram, mas a fã é que ainda fica muito a desejar. Poucos dias atrás, aqui em Brasília, um cantor foi se apresentar no Clube do Choro. Durante o show, uma jovem, daquelas que fecham farmácia de plantão, sentada na primeira fila, lhe dedicou especial atenção. O artista, na primeira música, notou logo o interesse que  aquele monumento de mulher lhe dirigia. Ela não precisou subir ao palco, rasgar-lhe a roupa, para mostrar toda sua admiração. Depois do show, já no camarim, batem à porta, ele abre. Era ela, linda. Meio tímido, surpreso, e intimamente muito feliz, trocam beijinhos, convida e ela entra. Depois de uma água gelada e uma talagada de uísque, que ele tomou quase que escondido para equilibrar os nervos, puxa papo:  

- Foi um show lindo, principalmente pela sua presença. Enquanto cantava, você, ali, me olhando, fiquei  deveras CATIVADO por você.”

 E ela, já toda íntima, de olho grudado nele:

- “CAPIVARA?!!!... CAPIVARA É TU, SEU DOIDO!

Homenagem 80 anos Wilson Ibiapina