sábado, 6 de agosto de 2016

QUE ALÍVIO





Seu Nestor bem que não queria aquela mulher na fazenda. Sabia que um dia ia ter problema. A moça chegou com o marido que ia ser vaqueiro em uma de suas três fazendas alí, perto de Araxá.

Solteirão inveterado, tinha uma namorada em cada lugar. Procurava se aproximar de jovens solteiras, belas e sem compromisso. Mas ali estava Matilde, exuberante, nova, mas casada com um caboclo forte e destemido.

Matilde tinha pernas grossas, seios firmes. Uma mulher calipigia, que andava distribuindo simpatia de leste a oeste, como diria o escritor Durval Aires. Rosto bonito, pele morena, uma deusa perdida naquele interiorzão de meu Deus. Sentia seu cheiro de longe, mistura de alfazema, jasmim, cheiro de mulher no cio. Nunca soube direito o que ela exalava, sabia apenas que o deixava pensando besteira.

Seu Nestor passou a visitar a fazenda onde estava Matilde com mais frequência. Ficava mais de uma semana, o que há muito tempo não fazia nas outras duas que recebiam visitas rápidas. Só o tempo de pagar o pessoal e deixar algumas orientações. 

No começo, o velho fazendeiro, mostrava-se discreto. Só se aproximava da moça quando não tinha ninguém por perto. Mas agora, agia como se estivesse invisível. Cochichava a todo instante, jogava o braço em seu ombro, um chamego que chamava a atenção de todos. Um dia, numa dessas visitas, foi abordado pelo vaqueiro, marido de Matilde. 

– Seu Nestor, preciso falar a sós com o senhor. E é urgente.


Pronto, ia acontecer o que ele imaginara quando ela chegou. O marido descobriu e lá vem confusão. Seu Nestor colocou o revólver na cintura e chamou o vaqueiro pra conversar. O destemido vaqueiro, não usou arrodeio nem mediu as palavras, foi logo dizendo: 

- Seu Nestor, tô com a impressão que a Matilde tá nos traindo.

Homenagem 80 anos Wilson Ibiapina