domingo, 29 de abril de 2012

UM CEARENSE NA GUERRA




Wilson Ibiapina

Esse tal de comunismo já deu muito trabalho aos americanos. Quando Fidel assumiu o comando em Cuba, em 1959, você não imagina o tamanho do temor de que o comunismo tomasse conta da América Latina.


J. F. KENNEDY
O presidente Kennedy criou a Aliança para o Progresso para tentar frear o avanço das esquerdas na região. Nos anos 60, os americanos viam o Nordeste brasileiro como região perigosa. Achavam que a miséria e a atuação de cearenses como dom Helder Câmara, dom Fragoso e Miguel Arraes, assim como a do pernambucano Chico Julião  fertilizavam as ideias marxistas. Durante dez anos os americanos despejaram no Nordeste  dólares, leite em pó e muitos jovens.


Em 1968, Fortaleza ficou cheia desses rapazes e moças americanos que fugiam do serviço militar como o diabo da cruz. No mesmo instante em que eles desembarcavam por aqui com medo de ir pro Vietnam, um cearense chegava a Saigon, hoje Ho Chi Min, como correspondente de guerra.

Luís Edgar de Andrade
Luís Edgar de Andrade  é o único jornalista cearense que  cobriu a guerra do sudeste asiático. Levou na bagagem a experiência adquirida em redações de jornais do Ceará e do Rio, nada que se comparasse ao que viveu durante o ano de 1968 na mais sangrenta guerra de guerrilha que se tem notícia.

José Hamilton Ribeiro perdeu a parte inferior da
perna esquerda ao cobrir a guerra do Vietnã.
Ele lembra que foram quase 2 mil repórteres que passaram por lá. Quarenta e oito morreram e 18 foram dados como desaparecidos. 

Viu o companheiro brasileiro, José Hamilton Ribeiro, hoje repórter do Globo Rural, perder a perna. Estava apenas há 14 dias no Vietnam quando pisou numa mina.

Luís Edgar esperou mais de 30 anos para colocar suas lembranças de guerra num livro. E elas vieram em forma de romance, que acabo de reler.

Os correspondentes de guerra no Vietnam eram obrigados a usar o mesmo uniforme dos soldados americanos. A diferença era que no lugar da arma usavam papel, caneta, máquina fotográfica. Edgar conta que o medo de ser apanhado por um vietcong fez alguns, como o filho do ator Errol Flynn, bordarem na farda a expressão bao chi. E obrigou o resto dos correspondentes a pronunciar bao chi (imprensa), que na verdade queria dizer “não atirem”. O grito, em meio a batalhas significava, também e, principalmente, “imprensa, não me mate.” "Bao Chi! Bao Chi!" é o título do romance de Luís Edgar de Andrade, cearense de Fortaleza, formado em direito e filosofia e com pós-graduação em jornalismo na França.


Norma Couri escreveu no Jornal do Brasil: “Não se trata de uma reportagem nem de um livro de memória. É uma ficção que mistura o rigor da história de um jornalista tarimbado à glamourização e ao sexo ocasional que envolvem situações de muito perigo. Também trata de personagens reais, como o colega José Hamilton Ribeiro, além de Peter Arnet, que a guerra do Golfo consagraria, Oriana Falacci e outros menos conhecidos.”

São 284 páginas e o protagonista da história é o jornalista Miguel Arruda, que perde o emprego e larga a namorada no Rio e parte para o Vietnam. Numa mesa de bar, ao longo do romance, Luís Edgar, como o personagem Miguel descreve sua adaptação à cultura e costumes do povo vietnamita, revelando bastidores do conflito e o segredo de uma cobertura.

Norma Couri diz que Bao chi, Bao chi traz suspense quase como num romance policial, mas relata situações verdadeiras vividas pelo correspondente. O livro mostra o ambiente de tensão, loucura, solidão e medo vivido pelos correspondentes.

Carlos Heitor Cony diz que o romance de Luís Edgar "só é comparável aos melhores textos de Hemningway, tanto na economia vocabular como na eficiência dos diálogos”.

Como você deve lembrar, os americanos perderam a guerra.

RECREIO


 
"A prova de que a natureza é sábia é que ela nem sabia que iríamos usar óculos e notem como colocou nossas orelhas."

  Jô Soares

ENCONTRO DA VELHA GUARDA



O fotógrafo Hermínio Oliveira veio lá de Portugal para registrar esse encontro: Carlos Henrique, Wilson Ibiapina e Orlando Brito.

Carlos Henrique, Wilson Ibiapina e Orlando Brito

Amigos em Brasília desde o tempo da máquina de escrever, do filme, do Tarantela, carnaval na W-3, do Nini e seu cavalo branco, padre Roque, festa dos Estados no pé da Torre de TV, do rum com coca-cola, das festas no Solar dos Estados, tempo que só tinha candango. Os brasilienses eram apenas um brilho no olhar dos casais.

sábado, 21 de abril de 2012

BRASILIA 52 ANOS - CAPITAL SEM ESPERANÇA




Wilson ibiapina

Brasília chega aos 52 anos. Quem está aqui há mais tempo, nota logo que nem parece mais aquela cidade, inocente, dos anos 60. Em artigo na revista Veja, para mostrar a pureza que já caracterizou a Capital da República, o jornalista Roberto  Pompeu de Toledo lembra uma história ocorrida quando a cidade, ainda em construção, abrigava sua população no Núcleo Bandeirante, na época Cidade Livre. Parecia o far west dos filmes americanos. Atraia, como até hoje atraí, gente de tudo quanto é canto. 

Uma condessa polonesa, de nome Tarnowska, uma jovem e bela mulher, era a dona do cinema. Um dia, contava ela, ao exibir “ E DEUS CRIOU A MULHER”, as senhoras e senhoritas eram convidadas a deixar a sala no momento em que Brigitte Bardot começava se despir. Terminada a cena de nudez, paravam a projeção, chamavam as mulheres de volta e reiniciavam a exibição do filme. Era o pudor que dominava Brasília. 

Assim como se vê nos filmes sobre a conquista do oeste americano, as pessoas que continuam chegando ao planalto central  nem sempre estão imbuídas dos melhores propósitos. Teimam em se dar bem por cima de pau e pedra. Chegam como comerciantes, empresários, lobistas e políticos dispostos a qualquer negócio. Essa gente espalha o temor de que, a partir de Brasília, transformem o país numa Cleptocracia,  um termo de origem grega, que significa, literalmente, “Estado governado por ladrões”. Segundo o saudoso professor da UnB, Lauro Campos, que foi senador por Brasília, “todos os Estados tendem a se tornar cleptocratas se não ocorrer um combate real pelos cidadãos, em sociedade. A fase “cleptocrática” do Estado ocorre quando a maior parte de sistema público governamental é capturada por pessoas que praticam corrupção política.

O medo é real, procede.  Aos 52 anos, a cidade está se descaracterizando com muita rapidez. Uma das ameaças vem da especulação imobiliária que invade as áreas verdes. O Correio Braziliense, maior jornal da cidade, denuncia que “dois terços da vegetação do DF já se transformaram em área urbana. 

Esquecem que Brasília foi planejada para ser a Capital, foi tombada assim, desse tamanho. Teimam em aumentar, modificar. O projeto  de expansão devia ficar fora dos limites do Plano Piloto. O Distrito Federal era para ser apenas a  área administrativa do país. Taí  o próprio GDF convocando mais empresas para se instalarem por aqui: “Traga sua empresa para cá e faça grandes negócios”, diz o anuncio de página dupla nas revistas de circulação nacional . 

As satélites que  no começo não passavam de umas seis  cidades dormitórios, já são  mais de 30, algumas com vida própria, elas não crescem, incham.



O maior jornal da cidade denuncia: dos 581 mil hectares de cerrado que existiam antes da construção em 1954, sobram pouco mais de 189 mil. E só 10 por cento estão sob  proteção. 

As ocupações irregulares, crescimento desordenado e expansão agrícola estão entre os vilões que afetam o clima, o abastecimento dágua e a qualidade de vida.

Que futuro aguarda Brasília, quando não se vê um gesto, uma mobilização para dar um freio na devastação? Cresce, também, o temor de que a cidade fique sem o título de Patrimonio da Humanidade.










quarta-feira, 18 de abril de 2012

AS TORRES DE BRASÍLIA


Wilson Ibiapina
    
Brasília vai ganhar um novo monumento no próximo dia 21 de abril. Projetado por Oscar Niemeyer, a nova Torre de Televisão está em fase de acabamento para ser entregue à população no dia do aniversário da cidade.

Com 150 metros de altura, ela foi erguida na estrada que liga o balão do Colorado ao Paranoá, entre a Academia Nacional de Polícia e o Departamento Cartográfico do Exército.

A Torre tem duas pétalas que abrigarão um café e um salão de exposições. Há também um mirante de onde se pode ver a cidade de Brasília e o Parque Nacional. Acima desse mirante será instalada a antena que distribuirá o sinal digital das emissoras de televisão com canal aberto no Distrito Federal.


A visita que fizemos à torre, acompanhando os diretores da Globo Brasília, foi documentada pelo repórter fotográfico Hermínio Oliveira. Estavam lá, também, diretores do consórcio-construtor e da Terracap. Explicaram que são 24 mil  metros quadrados de estacionamentos e outros 24 mil metros onde estão a torre, os 9 boxes que vão receber os transmissores das Tvs, área para geradores de energia, além de lojas para venda de artesanato, cafés, livraria e outros produtos ligados ao turismo.


O diretor da Terracap, Renato Castelo, disse que o local, que fica a 200 metros acima do Lago Paranoá, será transformado num ponto turístico que deverá se tornar o mais movimentado da cidade, com praça de lazer, espaço para exibição de grupos folclóricos, teatro e shows musicais.


Como surgiu

Toninho Drummond

O diretor regional da Globo em Brasília, Toninho Drummond, cansado de esperar que o Governo do Distrito Federal decidisse fazer uma nova torre para as TVs digitais, já que a atual, que abriga inclusive as antenas de rádios, está completamente lotada, mandou projetar uma antena.


Silvestre Gorgulho e Oscar Niemeyer
Num encontro com o então secretário de Cultura, Silvestre Gorgulho, disse que a Globo não tinha mais tempo e que ia partir para erguer a sua própria torre. Gorgulho pediu um tempo e foi agir. De acordo com o governador, Silvestre foi ao Rio e conversou com o arquiteto Oscar Niemeyer que preparou o projeto. Na verdade, o arquiteto que projetou palácios, igrejas e edifícios de Brasília, sonhava em fazer também uma torre , já que a primeira, que fica no centro da cidade, foi projetada pelo urbanista Lúcio Costa, o mesmo que fez o Plano Piloto.

O pai da torre
Silvestre Gorgulho, mesmo depois que deixou a secretaria de Cultura, continua acompanhando a implantação da Torre e de todo o equipamento que vai transformar aquela área. Ele foi batizado pelo Toninho Drummond de o pai da torre, por conta do  esforço que empreende até hoje para vê-la funcionando.



Falta  agora apenas o acordo que será firmado entre as televisões e o Governo do DF acertando os termos da ocupação. Logo em seguida as emissoras vão trabalhar na instalação de seus transmissores e compra da antena que será única.


A Torre, que era para ter sido inaugurada quando Brasília completou 50 anos, custou R$ 73 milhões de Reais.

Torre analógica

Fonte luminosa
A Torre de ferro, no eixo Monumental, vai passar por uma reforma para continuar como atração turística. Além da feira de artesanato, que agora está instalada em 500 barracas que funcionam nos fins de semanas e feriados, tem ao lado a praça com a fonte luminosa e, em frente, a escultura “Era Espacial”, de Alexandre Wakenwith.

A Torre de Lúcio Costa foi erguida em 1967 com 224 metros de altura. Numa plataforma que fica a 25 metros do chão está o Museu das Gemas, com mais de 3 mil pedras brutas e lapidadas, entre diamantes, esmeraldas, rubis e outras pedras semipreciosas. Conta ainda com um centro de informações e uma feira permanente de jóias e bijuterias.

Tem espaço também para um restaurante, que deverá voltar a funcionar depois da reforma. O mirante dela, que fica a 75 mil metros de altura, pode receber até 150 visitantes. Agora, a cidade terá duas torres, ambas oferecendo diversão, cultura e arte, além de uma visão privilegiada da cidade.

Vista do mirante da Torre analógica

terça-feira, 17 de abril de 2012

CRAQUES FABULOSOS E SUAS FRASES AVASSALADORAS




Meu amigo Halmalo Silva, narrador esportivo que já atuou em emissoras de rádio e tv do Rio e do Ceará, seleciona e manda algumas frases atribuídas ao jogador Jardel, cearense que atuou pelo Grêmio de Porto Alegre, no Vasco e em clubes de Portugal: 

"Que interessante, aqui no Japão só tem carro importado." (Jardel, ex-atacante do Grêmio)

Eu, o Paulo Nunes e o Dinho vamos fazer uma dupla sertaneja."

"Quando o jogo está a mil, minha naftalina sobe.

E também frases de outros jogadores de futebol: 

Sabará, ponta direita do Vasco nos idos de 1950. Ele disse, explicando uma jogada: "Eu fiz que fui mas não fui... e acabei fondo"

"Chegarei de surpresa dia 15, às duas da tarde, vôo 619 da VARIG." (Mengálvio, ex-meia do Santos, em telegrama à família quando em excursão à Europa)

"Tanto na minha vida futebolística quanto com a minha vida ser  humana." (Nunes, ex-atacante do Flamengo, em uma entrevista antes do jogo de despedida do Zico)

"As pessoas querem que o Brasil vença e ganhe." (Dunga, em entrevista ao programa Terceiro Tempo)

"O novo apelido do Aloísio é CB, Sangue Bom." (Souza, meio-campo do São Paulo, em uma entrevista

"A partir de agora o meu coração só tem uma cor: Vermelho e Preto." (Jogador Fabão, assim que chegou no Flamengo)

"Tenho o maior orgulho de jogar na terra onde Cristo nasceu." (Claudiomiro, ex-meia do Inter de Porto Alegre, ao chegar em Belém do Pará para disputar uma partida contra o Paysandu, pelo Brasileirão de 72)

"Nem que eu tivesse dois pulmões eu alcançava essa bola." (Bradock, amigo de Romário, reclamando de um passe longo)

"No México que é bom. Lá a gente recebe semanalmente de 15 em 15  dias." (Ferreira, ex-ponta esquerda do Santos)
 
 O meu clube estava a beira do precipício, mas tomou a decisão correta, deu um passo a frente.' (João Pinto, jogador do Benfica de Portugal)

"Na Bahia é todo mundo muito simpático. É um povo muito hospitalar." (Zanata, baiano, ex-lateral do Fluminense, ao comentar sobre a hospitalidade do povo baiano)


E essas do velho dirigente do Corinthians:

"Jogador tem que ser completo como o pato, que é um bicho aquático e  gramático." (Vicente Matheus, eterno presidente do Corinthians)

"O difícil, como vocês sabem, não é fácil." (Vicente Matheus)

"Haja o que hajar, o Corinthians vai ser campeão." (Vicente Matheus)

"O Sócrates é invendável, inegociável e imprestável." (Vicente Matheus, ao  recusar a oferta dos franceses)

RECREIO



O Telefone toca à noite:

Marido: 
- Se for para mim, diga que eu não estou em casa.


Mulher atende e diz:
 - Ele está em casa.

Marido:
 - Mas... caramba!




Mulher: 
- ...era para mim.....

CASA ARRUMADA



Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

Casa arrumada  é assim:
Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa entrada de luz.
Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um cenário de novela.
Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os
móveis, afofando as almofadas...
Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo:
Aqui tem vida...
Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras
e os enfeites brincam de trocar de lugar.
Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha.
Sofá sem mancha?
Tapete sem fio puxado?
Mesa sem marca de copo?
Tá na cara que é casa sem festa.
E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.
Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.
Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante,
passaporte e vela de aniversário, tudo junto...
Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda.
A que está sempre pronta pros amigos, filhos...
Netos, pros vizinhos...
E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca
ou namora a qualquer hora do dia.
Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente.
Arrume a sua casa todos os dias...
Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela...
E reconhecer nela o seu lugar.



segunda-feira, 16 de abril de 2012

ESTAMOS VIRANDO UMA CLEPTOCRACIA?


Cleptocracia, é um termo de origem grega, que significa, literalmente, “Estado governado por ladrões”[1]. A cleptocracia ocorre quando uma nação deixa de ser governada por um Estado de Direito imparcial e passa a ser governada pelo poder discricionário de pessoas que tomaramo poder político nos diversos níveis e que conseguem transfomar esse poder político em valor econômico, por diversos modos[1].



Heródoto, em suas obras identificava como Plutocracia, ou seja, um "Estado - Utópico", politicamente falando, segundo o professor e pesquisador Lauro Campos da Universidade de Brasília em seu trabalho História do Pensamento Econômico. O Estado passa a funcionar como uma máquina de extração de renda ilegal da sociedade, isto é, população como um todo, em contraposição à máquina de extração de renda legal, o sistema de cobrança de impostos, taxas e tributos dos Estados que vivem em um regime não-cleptocrático[2].


Todos os Estados tendem a se tornar cleptocratas se não ocorrer um combate real pelos cidadãos, em sociedade. Em economia, a capacidade de os cidadãos combaterem a instauração do Estado cleptocrático é fortemente correlacionada ao capital social da sociedade[3]. A fase “cleptocrática” do Estado ocorre quando a maior parte de sistema público governamental é capturada por pessoas que praticam corrupção política.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

FORTALEZA DE TODOS OS TEMPOS





Wilson Ibiapina

Fortaleza faz aniversário dia 13 de abril. A cidade caminha para os trezentos anos, mas nem parece  velha. Está cada dia se renovando, remoçando. Tem passado por tantas mudanças que nem sei mais andar por ela.

Desde que fui embora, no final dos anos 60, surgiram novos bairros, ruas, avenidas. Derrubaram muitos prédios antigos, levantaram uma parede de edifícios ao longo da orla, o que impede que a brisa do mar contemple os bairros e subúrbios mais afastados.

A cidade esquentou também por causa do asfalto. Substituíram o paralelepípedo, que ajudava a escoar a água da chuva, pela língua negra do asfalto que impermeabiliza as ruas e concentra o calor. A Fortaleza do meu tempo veio embora comigo. Só existe na minha memória, na minha saudade.

Vista aérea de Fortaleza em 1937
A cidade, hoje, tem muita gente de fora. Lembro do tempo  que o Augusto Pontes, de brincadeira, pedia: "vamos fingir que não nos conhecemos para o  turista achar que a cidade é grande". Foi-se o tempo em que todo mundo se conhecia.  Não tem mais nem sombra da cidade que desenvolveu-se às margens do riacho Pajeú , que só é visto hoje, fininho, no beco dos Pocinhos e no quintal do Palácio do Bispo, onde é a prefeitura.

Moro em Brasília, a 2.285 quilômetros de Fortaleza, uma distância que aumenta com a saudade.  É a cidade mais populosa do Ceará, a quinta do Brasil e a 91ª mais populosa do mundo. A violência, agravada pela falta de educação do povo, não afastou os turistas. É um dos destinos  mais procurados no Brasil.

Grande, vistosa, nem imita aquela Fortaleza acanhada, de cadeira na calçada. Está se preparando para ser uma das 12 sedes da Copa do Mundo de 2014. Tem uma preocupação: quem vai  eleger em outubro  para comandar seu destino? Tem muita gente com projeto pessoal querendo ser prefeito. O lema de Fortaleza está no seu brasão:  Só depois de velho fui saber que aquela palavra em latim "Fortitudine",  quer dizer "Força, Valor, Coragem."



Litoral leste da cidade, onde seria construída a Avenida Beira Mar (foto dos anos 30 com vista a partir do Mucuripe)

Foto do litoral leste da cidade, onde futuramente seria construída a Avenida Beira-Mar

Praça do Ferreira em 1920, onde podemos ver, ao fundo, o prédio do Cine Majestic 



Vista aérea de Fortaleza em 1956



Praça José de Alencar quando era o principal terminal de ônibus da cidade

Praia dos Diários na segunda metade dos anos 60


segunda-feira, 2 de abril de 2012

VEREADOR NO PRIMEIRO MUNDO





O Brasil se prepara para escolher prefeitos e vereadores em outubro próximo. Como os edis dos municípios brasileiros pensam mais no salário que vão receber do que trabalhar em benefício da população que o elegeu, pedi ao jornalista Frota Neto, que mora na Suíça, para contar-nos como é lá. Veja o depoimento dele:

"Em nenhum dos municípios de toda a Suíça vereador recebe salário. E nem aposentadoria. Isso desde a menor cidadezinha (do tamanho de Ibiapina ou de Ipueiras) até maior delas, que é Zurique.

Aliás foi em Zurique que tive a informação que os vereadores só recebem um jetom por  cada sessão que comparece. Calma, não é sem limite a coisa não.

Em Zurique há, em média, um total de quarenta (40) sessões por ano. É isto mesmo: quarenta sessões por ano. E o jetom por cada sessão é de mais ou menos 200 franco suíços (que no cambio atual dá mais ou menos 220 dólares). Portanto cada um deles teria, no máximo, 8.800 dólares por ano.

Esse é o jetom de Zurique. Em municípios mais pobres certamente o jetom é bem menor (o jetom varia de município para município).

Frota Neto.

Homenagem 80 anos Wilson Ibiapina