segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

BANHO DE PERFUME





Francês não gosta de tomar banho, feito bode. Essa mania da maioria dos franceses a gente sente pelo cheiro de azedo que eles exalam na rua, no trabalho, nos bares e restaurantes, onde se divertem com pão, queijo e vinho. É comum encontra-los no metrô com uma baguete debaixo do sovaco.

Uma matéria feita pelo jornal Republicain Lorrain, afirma que apenas 26% dos franceses tomam banho todos os dias.

Um  casal de médicos, meus amigos, conta que “na época que lá viveram, morávam em um prédio de 4 andares, nas proximidades do hospital onde trabalhavam. “Todos os dias, antes de irmos para o hospital, tomávamos banho - o velho costume brasileiro. Podia estar nevando ou fazendo sol, não fazíamos diferente: banho antes de sair do apartamento; e nunca faltava água, E aqui entra o estranho: aos sábados só tínhamos oportunidade de tomar banho à tarde! Pela manhã, por ser o dia do banho dos franceses (assim sempre pensamos), só tínhamos água após o meio dia!"

No dia em que chegaram a Paris, os meus amigos foram para um hotel enquanto  procuravam apartamento. Olha só o depoimento deles: “ E neste hotel, uma pocilga, na verdade, duas coisas me chamaram a atenção: no quarto, junto com as camas etc., havia um bidé... portátil. De plástico e transportável para qualquer lugar do quarto. Porém, exigia que se apanhasse água na pia, também existente no quarto, e a colocasse no bidé. Assim, no caso de se querer usá-lo..., só na base do tcheco-tcheco!! O outro detalhe era o WC, só havia o coletivo para o andar, mas que ficava ao lado de uma escada em caracol, entre os andares. Claro que saímos no dia seguinte.”

Até hoje é muito comum encontrar prédios antigos com um único vaso sanitário que é compartilhado por mais de um apartamento. Normalmente, ele se encontra estrategicamente junto à escada entre dois pavimentos, servindo aos habitantes do andar de cima e aos de baixo. Mas vamos continuar lendo o depoimento do doutor: “Outro fato que chamou a atenção foi a nossa descoberta, no mesmo hotel, das "luvas para  banho!", convenientemente colocadas ao lado do bidé; ocasião em que ficamos sabendo da fórmula francesa para os banhos. Vestia-se uma da luvas, molhava-se a danada e passava-se nas partes  intimas mais sujas. .. pronto; o banho estava tomado! Os mais sofisticados e cuidadosos, soubemos, recorriam aos perfumes. Até porque o banho de luva era uma porcaria, não tirava o azedo dos corpos e das roupas; os grossos sobretudos, jamais eram lavados e fediam a mofo e outros miasmas pestilentos. Bastava pegar o metrô para comprovar o resultado.


Por volta de 1600 o banho era tomado numa única tina enorme, cheia de água quente. O chefe da família era o primeiro a entrar na água limpa. Depois, com a mesma água, vinham os outros homens da casa, por ordem de idade. Em seguida as mulheres, também por ordem de idade e por fim as crianças que pegavam uma água escura de tanta sujeira. Naquele tempo os casamentos ocorriam preferencialmente no mês de maio porque o cheiro das pessoas ainda estava suportável. As noivas usavam o buquê de flores junto ao corpo para disfarçar o odor que exalava de suas partes intimas. Dizem que foi essa a origem do buquê. 

Quando visitei em Granada, Espanha, o palácio real que os árabes construíram em Alhambra por volta de 1300, com técnicas e formas da arquitetura islâmica, eu vi vasos sanitários com água corrente. Pois em 1700 não existia privada nas residências da Europa. Nem o quarto do rei tinha banheiro. Não existia escova de dentes, desodorantes ou papel higiênico. Usavam penicos e os excrementos eram jogados pelas janelas. São Luís do Maranhão, cidade fundada pelos franceses, tem uma rua, chamada de beco da merda, onde a cidade, todas as manhãs despejava fezes e urinas. 

Dom João VI quando estava no Rio foi aconselhado pelos médicos a tomar um banho para curar umas bolhas que lhe cobriam a pele que há anos não via água. Construíram um banheiro especial que ele só foi usar meses depois quando não agüentava mais a coceira pelo corpo. 

Na França as pessoas eram abanadas, mesmo no inverno, para espantar o mau cheiro que exalavam. O perfume só entrou na vida deles muito depois, embora o uso no Oriente de essências aromáticas seja muito antigo, aparece até em relatos bíblicos. Os nossos ancestrais queimavam madeira e folhas de cedro e pinheiro e outras árvores com troncos odoríficos para sentir o aroma que vinha pela fumaça. “Per Fumum” é palavra latina que significa pela fumaça. Catarina de Médicis, quando partiu de Florença para casar com Henrique de Valois, futuro Rei da França, em 1522, levou com ela  dois perfumistas incumbidos de procurar durante a viagem uma vegetação similar a de Toscana. Encontraram, no sul da França, na região de Provence, a aldeia de Grasse, com suas colinas, rosas e jasmins. Foi assim que nasceu a cidade dos perfumes. Logo a reputação dos perfumes de Grasse conquistou Paris e, depois, toda a Europa. Em 1850 a cidade já contava com 50 perfumarias. A década de 20 foi uma das mais criativas na área da perfumaria. Viu surgir o Chanel número Cinco, o primeiro feito com materiais sintéticos. A partir dele, o perfume passou a ser associado ao jogo da sedução, que ganhou fora nos anos 50 quando a atriz Marilyn Monroe que para dormir usava apenas uma gotinha de Chanel nº 5.


MORRE O JUDEU QUE ENSINOU O POBRE COMPRAR A PRESTAÇÃO


"A riqueza do pobre é o nome. O credito é uma ciência humana, não exata. Não importa se o cliente é um faxineiro ou um pedreiro, se ele for bom pagador, a Casas Bahia dará credito para que ele resgate a cidadania e realize seus sonhos"

A frase é do judeu polones Samuel Klein, o fundador da rede de lojas de departamento Casas Bahia. O nome é uma homenagem aos nordestinos humildes que vivem em São Paulo, escapando da fome e da miséria. No Rio, qualquer nordestino é paraíba. Em São Paulo são os baianos. A capacidade de sobrevivência desse polonês é tema para livros e filmes. Samuel Klein deixou a Europa durante a Segunda Guerra Mundial depois de fugir dos nazistas.

Nascido em Lublin em 1923, ele foi o terceiro de nove irmãos. Chegou a ser preso aos 19 anos pelos nazistas e enviado com o pai para o campo de concentração em Maidanek, na Polônia, enquanto a mãe o cinco irmãos foram exterminados no campo de Treblinka.

Sobreviveu graças às habilidades de carpinteiro. Samuel conseguiu fugir durante uma transferência de presos em 1944. Depois, foi para Munique onde vendeu artigos para as tropas aliadas. Em 1951 mudou-se para Bolívia. Chegou ao Brasil em 1952 trazendo a mulher Ana e o filho Michael, então com dois anos e que tinha nascido na Alemanha.

Escolheu São Caetano do Sul para morar. Lá, começou a atuar como mascate revendendo roupas de cama, mesa e banho de porta em porta usando uma charrete. À época, segundo relato da família, já adotava a possibilidade de pagamentos parcelados, cuja contabilidade era executada pela mulher. Praticamente inventou o crediário.

Em 1957, Samuel instalou sua primeira Casa Bahia, famosa por vender a prestação. Com a ampliação para outras unidades, o nome da primeira loja ganhou o plural, Casas Bahia.

Em 2009, Samuel fechou um acordo de fusão com o Grupo Pão de Açucar, unindo as operações do Ponto Frio (Globex), das Casas Bahia e do Extra Eletro (Grupo Pão de Açúcar) em uma única e nova sociedade. A rede tem mais de 56 mil funcionários e 620 lojas e está presente em 17 estados e no DF A marca Casas Bahia foi avaliada em US$ 420 milhões e é considerada a 6ª marca de varejo mais valiosa da América Latina e a 2ª do Brasil, segundo ranking “Best Retail Brands”, divulgado pela consultoria Interbrand. Nada caiu do céu. Tudo foi fruto de seu trabalho.

No livro “Samuel Klein e Casas Bahia – Uma Trajetória de Sucesso”, lançado em novembro de 2003, Samuel Klein registrou suas memórias:

“Que país abençoado esse Brasil. O povo também é pacato e acolhedor. O Brasil é um país que dá oportunidades para quem quer trabalhar e crescer na vida. Cresci junto com o Brasil. Não fiquei parado vendo o país crescer.”

Naturalizado brasileiro, Samuel Klein havia completado 91 anos em 15 de novembro passado. Foi enterrado no Cemitério Israelita do Butantã, em São Paulo. Dizia ele:

“Meu lema é confiar. Confiar no freguês, nos fornecedores, nos funcionários, nos amigos e, principalmente, em mim" .

Na foto, Samuel e seu filho Michael Klein


O MENINO QUE VIROU GOVERNADOR



Quanto esse time foi jogar em Belo Horizonte pelo Country Club, nos anos 70, ninguém imaginava que entre eles estaria o futuro governador do Distrito Federal. Estão na foto (da esquerda para a direita):

José Natal – jornalista

Corban Costa – jornalista

Paulo Otto Von Sperling – empresário

Rodrigo Rollemberg - senador eleito governador

Paulinho – que o Corban não sabe o paradeiro

e Alexandre Von Sperling, também empresário

ANTES DOS NAZISTAS, CEARÁ TINHA CAMPO DE CONCENTRAÇÃO PARA POBRES DO SERTÃO



No começo do século XX, o Ceará criou campos de concentração para segurar os flagelados da seca para que não invadissem Fortaleza. O jornalista polaco Eduardo Mamcasz, que ouvia o pai dele falar de Auschwitz-Birkenau, uma rede de campos de concentração no sul da Polonia,  anexado pela Alemanha nazista, tomou um susto quando leu na Folha de São Paulo. Foi ele quem me chamou a atenção.  Será que os nazistas se inspiraram no Ceará?    

“Quando a lama virou pedra
E Mandacaru secou
Quando a Ribação de sede 
Bateu asa e voou...”

Foi aí, nos anos 30,  que os cearenses  abandonaram suas casas rumo a Fortaleza. Levas e mais levas de sertanejos  perambulando pelas estradas rumo à capital. Uns pegavam o trem, mas a maioria seguia a pé. Todos, com fome, com sede. Os mais fracos ficavam pelo caminho. 

A Folha de São Paulo dedicou  duas páginas para contar como foi que o Ceará criou campos de concentração no começo dos anos 30 para segurar os retirantes. Os cercados para confinar milhares de cearenses  e outros sertanejos de estados vizinhos, famintos, ficavam em seis municípios: Crato Quixeramobim, Senador Pompeu, Carius, Ipu e Fortaleza.  Os foragidos da seca eram colocados em currais cercados com  varas e arame farpado, próximos à estrada de ferro. Ali ficavam homens, mulheres, velhos e crianças, todos de cabeça raspada para evitar piolho. Alguns vestidos em sacos de farinha, com buracos para enfiar a cabeça e os braços.  A historiadora Kênia Sousa Rios conta no livro “Campos de Concentração no Ceará” que os cercados da capital viraram atração turística: “os visitantes doavam uma certa quantia em dinheiro aos enjaulados e dali saíam com a sensação de dever cumprido”.

Fomos pioneiros

O primeiro campo de concentração nazista -Dachau- foi criado em março de 1933 pelo governo de Hitler. Ficava numa fábrica abandonada próxima à parte nordeste da cidade de Dachau, a 15 quilômetros de Munique, no sul da Alemanha. Em 1932, um ano antes, em pleno governo de Getúlio Vargas, o Ceará  criava seus campos de concentração.

Naquela época, Fortaleza via inaugurar o hotel Excelsior, um prédio que até hoje é considerado o maior em alvenaria do Norte e Nordeste. A cidade vivia momentos de progresso. O risco de ter a cidade invadida por miseráveis famintos e doentes enchia a elite de  pavor. A historiadora Kênia Sousa, escreveu num artigo que “a situação trágica mereceu uma atenção especial da burguesia caridosa e civilizada” Lembrando da invasão ocorrida na seca de 1877, o governo redobrou esforços para que a invasão bárbara jamais se repetisse. 

Os alemães é que não sabem que essa história de campo de concentração é antiga no Ceará. O médico e escritor José Maria Leitão lembra que os primeiros campos de  concentração, no Alagadiço, em Fortaleza, Ceará, datam do fim do século XIX, coincidente com a famosa seca de 77 (1877), repetindo-se ao longo dos anos seguintes do mesmo século e entrando no XX.. Rodolfo Teófilo conta na “Seca de 1915” que o campo pioneiro do Alagadiço, serviria de  piloto para os campos de 1930: “Era  um quadrilátero de 500 metros onde estavam encurralados sete mil retirantes”. A comida lá era rezes magras que morriam de fome ou de peste.

Naquele inicio do século XX era praticamente proibido ser pobre no Ceará, principalmente em Fortaleza. O jornal católico O Nordeste anunciava o dia 17 de fevereiro de 1923 como o Dia das Extinção da Mendicância. A partir daquela data ser mendigo seria contra a lei. As ruas e praças da cidade não podiam ficar expostas a graves perigos de ordem moral. Os infratores seriam enviados ao Dispensário dos Pobres, sob a patrocínio da Liga das Senhoras Católicas Brasileiras.  Quem  lembra disso?

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

A INTERNET ESTÁ DEVORANDO A MÍDIA?




O anúncio de que a Folha de São Paulo  demitiu quinze jornalista trouxe à tona a discussão em torno do futuro de nossa imprensa. O jornalista Hildeberto Aleluia, que acaba de escrever o livro “O futuro da internet: o mundo da dúvida” acha que essa crise que chega a São Paulo não vai ficar por aí: “lá no sul o furacão já passou no grupo zero hora. no nordeste, em várias capitais não chega a ser um furacão, mas tornados são constantes na redações e outros setores da velha mídia.  Marcos Novaes lembra que O Globo está tentando vender o parque gráfico de Caxias. Pretende fazê-lo no máximo em dois anos. Lembra que há 20 anos participou de uma discussão sobre o meio eletrônico e a maioria jurava que ninguém deixaria de ler em papel. O representante da Abril foi objetivo: "a cada dia morre um indivíduo que lê no papel e nasce um que lê no meio eletrônico".

Este que nasceu naquela época hoje já tem 20 anos.  O escritor e pesquisador Marcio Salgado, ao comentar o livro do Aleluia ressalta que a Internet está promovendo a maior revolução a que o mundo já assistiu, com reflexos navida cotidiana e nas mais diversas áreas do conhecimento humano:

“O futuro da internet: o mundo da dúvida” (Topbooks, 2014), do jornalista Hildeberto Aleluia, apresenta argumentos e exemplos concretos que comprovam essa afirmação. Com o advento da internet, as mídias tradicionais passam por grandes mudanças a fim de sobreviver, e as consequências são observadas desde já, mas são imprevisíveis para as próximas décadas. Doravante, o rádio, a TV e o jornal impresso jamais serão os mesmos.

No Brasil, de acordo com Aleluia, a internet segue “absoluta na preferência dos leitores, e a cada dia vai solapando os alicerces da velha mídia com a diminuição das tiragens impressas e a queda da audiência no sistema televisivo”(p. 58). Essas mídias tentam se reinventar, em geral recorrendo à própria internet, com chamadas para os seus sites, blogs e páginas disponíveis em tempo real. A divulgação das notícias hoje é instantânea e os veículos, mesmo as revistas que contavam com espaço maior entre uma publicação e outra,  tiveram que se adaptar a essa realidade.

Contudo, em termos econômicos, todas essas mídias sobrevivem graças ao “modelo do negócio”, conforme adverte o autor. “Chega a ser um espanto. Um negócio que diminui a cada dia, apresentar um faturamento cada vez maior”(p. 113). Ele se refere à redução das tiragens, ao declínio no número de leitores de jornais e revistas impressos, e à queda de audiência das TVs e rádios. Esses meios ainda dominam o mercado publicitário, permanecem no topo do faturamento, pois contam om um sistema comercial bem estruturado.

Na verdade, há uma briga de titãs entre a internet e as mídias convencionais pela busca de audiência, a conquista de novos públicos e, sobretudo, pela redistribuição de anúncios comerciais e aquisição de clientes no mercado. Conforme Aleluia, a internet vai ganhando os primeiros rounds, tendo golpeado a mídia impressa e destruído a indústria do disco e do CD.

No campo teórico as previsões são incertas e bastante polêmicas. Alguns argumentam que as mídias tradicionais estão vivendo os seus estertores. Outros, como o americano Henry Jenkins, acreditam numa “cultura da convergência” e numa possível sobrevivência das velhas mídias. No livro “O futuro da internet”, Aleluia elenca as diversas opiniões dos autores que expressam essas dissenções, sendo que ele próprio cita exemplos que indicam o nítido declínio das mídias tradicionais. E observa que os jornais impressos são uma coisa do passado. Eles têm um futuro terrível, mas não as notícias. Estas estarão sempre em evidência nas mais variadas plataformas de comunicação.

Um exemplo desse conflito atual dos veículos de comunicação é a postura adotada pelos jornais impressos com relação ao seu público-leitor. Com a diminuição das tiragens, eles criaram os sites de notícias e passaram a vender assinaturas. Em seguida estabeleceram barreiras  para a leitura grátis, mas a iniciativa se revelou contraproducente. Aleluia observa que “os sites que começam a cobrar perdem imediatamente o interessado que se transfere para o grátis mais próximo”(p. 31).

Sobre a briga pela audiência entre a internet e as redes de televisão as coisas não são diferentes: “O You Tube está aí mesmo para tirar o sono da TV”(p. 55). Essa disputa tem ganhado contornos dramáticos, com as televisões apelando para todo tipo de expediente a fim de conseguir elevar os índices de audiência.

Citado por Aleluia, o jornalista espanhol Juan Luis Cebrián, diretor do “El País”, questiona o futuro que aguardam partidos políticos, sindicatos e os meios de comunicação no mundo contemporâneo, uma vez que a internet é um “fenômeno de desintermediação”. Ele argumento ainda que os jornais, tais como os conhecemos, acabaram, mas isso não significa que deixarão de existir. Os jornais impressos pertenceram à sociedade industrial, e não estamos mais nela.

Recebeu particular atenção do autor o tema da inclusão digital no Brasil. Embora estejamos crescendo no mercado mundial de inclusão digital, isso é motivo frequente de críticas. Baseado em pesquisas recentes, Aleluia observa que em comparação com outros países, até mesmo os latino-americanos, a nossa banda larga é muito cara e ruim. O governo federal criou o Plano Nacional da Banda Larga (PNBL), mas não conseguiu levá-lo adiante de forma a promover os resultados esperados. “O brasileiro paga hoje, em média, dez vezes mais caro que os habitantes de países desenvolvidos”(p. 104).

Outro aspectos muito discutido entre os usuários da rede de computadores se refere à invasão de privacidade. O autor observa que os provedores de serviços on-line constroem dossiês sobre os hábitos dos seus usuários e sabem tudo sobre eles.  Ou seja: tudo que fazemos on-line está armazenado em algum lugar e pode ser utilizado para o bem ou para o mal, em algum momento. Não é exagero. De fato, muitos internautas já tiveram problemas com a invasão das suas contas na internet.

Se costuma dizer que a internet é um território livre, mas, até pouco tempo, ela era terra de ninguém, pois não havia qualquer regulação do setor. Só recentemente foi aprovado no Congresso Nacional o Marco Civil para a internet, que regula essas questões do mundo virtual e atribui responsabilidades. Não se sabe ainda como funcionará na prática, porque no Brasil real o que não faltam são leis. Elas existem no papel, mas em geral não são aplicadas.

O JUMENTO NOSSO IRMÃO



O animal que transportou Maria com o menino Jesus e que no Nordeste ajudava o sertanejo nas suas tarefas diárias, está ameaçado de extinção. No Ceará, onde o Padre Antonio Vieira escreveu livros em defesa do animal, que ele considerava irmão, está sendo substituido por motos até para campear gado. O triste fim do jumento foi matéria no jornal O Globo, onde Cleide Carvalho escreveu: 

"A seca dos últimos dois anos agravou a situação de abandono dos jumentos no Nordeste. Companheiro do sertanejo no trabalho duro e ícone da resistência no semiárido, o jumento ficou, na expressão dos próprios nordestinos, “sem serventia”. De nada lhe adiantou o costume a longas jornadas, pouca água e comida escassa. Descartado no transporte de cargas, idosos e crianças, centenas deles estão sendo expulsas das fazendas, colocadas do lado de fora das cercas, ao deus-dará. Com fome e sem ter onde ficar, perambulam pelas estradas em busca de comida. Provocam acidentes graves. Morrem e causam mortes."

Nos anos 60, o presidente Juscelino Kubitschek chegou a ser comparado a um jumento por um camponês. No tempo em que o animal ainda estava com prestigio e era respeitado, JK foi ao Ceará, em 1960, visitar o Orós que acabara de arrombar. O açude que foi batizado com o nome dele, foi reconstruído em tempo recorde, por sua determinação. Foi inaugurado por ele a 11 de janeiro de 1961. Num almoço, impressionado com a determinação do presidente e sua força de trabalho, um caboclo pediu a palavra, queria saudar o presidente. Foi interrompido quando começou sua oração afirmando que estava ali o presidente JK, um verdadeiro jumento. "Esse presidente é um jumento." Gerou um mal estar que só foi sanado quando alguém da terra explicou que o matuto estava elogiando JK, estava querendo dizer que o presidente era um trabalhador incansável, um fiel amigo que nem um jumento. Ganhou foi um abraço de JK que se emocionou  com a comparação. 

A NUDEZ QUE SERIA CASTIGADA



O Ceará e o Piauí são considerados os estados mais católicos do país. No Ceará, até bem pouco tempo, a Igreja mandava e desmandava. Lembro que, quanto tinha uns 15 anos fui passar uns dias em Ibiapina, na Serra Grande. Meus primos para homenagear-me resolveram promover uma vesperal (uma festinha no final da tarde) num salão da prefeitura. Era a oportunidade que me ofereciam de rever amigos e parentes já que ia demorar pouco na cidade. Os músicos ainda estavam afinando os instrumentos quando chega um portador dizendo que o padre estava avisando que ia começar a “benção” e queria todos na igreja. Adeus homenagem.

Pois foi durante esse clima de religiosidade, quando até falar palavrão era pecado, que Luiz Severiano Ribeiro resolveu brindar os conterrâneos com a exibição de um filme de arte. Anunciou para o cine Diogo a apresentação do filme Êxtase, com a atriz austríaca Hedy Lammar. Foi aí que o mundo desabou. O jornal católico "O Nordeste" fez logo uma campanha contra a exibição do filme. Os padres, nas missas, numa verdadeira declaração de guerra, ameaçavam com o inferno quem tivesse a ousadia de ir ver aquela imoralidade. A propaganda contra só aumentava a curiosidade. Nos bares, na praia, nos cafés e mesmo nos papos na praça do Ferreira não se falava em outra coisa: a atriz aparece nua. O filme, de 1933, dava asas à imaginação coletiva. Quanto mais se falava no filme, mais pressão fazia a igreja. Só que ninguém sabia que se tratava de um filme inocente, uma obra de arte que contava a história de um homem, já sexualmente decadente, que se envolvia com uma jovem de raro encanto. Mas todos só pensavam num que diabo essa mulher nua ia fazer na tela. Coisa boa não era, senão a igreja não estaria tão preocupada. Os jovens já não se importavam em ir para o inferno como prometiam os padres. Uma multidão fechou a rua Barão do Rio Branco, onde ficava o cine Diogo. Claro, só os sortudos conseguiram entrar. O jornalista Blanchard Girão conta em seu livro “Sessão das Quatro”, que estavam todos alí, com os nervos à flor da pele, diante da possibilidade de descobrir o mistério condenado pela igreja e que tanto fantasiavam: “como será aquela deusa de Hollywood sem roupa, fazendo o que?”

O filme começa. A personagem Eva, em seu cavalo, vai rumo ao lago nadar, nua. Sai da água e anda pelo campo à procura do cavalo. Tudo mostrado de longe. As únicas tomadas em que aparecem os seios em close são rápidas. O desânimo toma conta da plateia, que fica impaciente. Alguém sugere quebrar tudo. Sentem-se ludibriados. Não sei se o Blanchard estava lá, mas ele conta que todos saíram frustrados. Pensando em filme de sacanagem, não perceberam, segundo ele, que acabaram de ver uma obra prima do cinema europeu que tinha como ponto alto a beleza das imagens. 

Veja uma cena da atriz Hedy Lammar na lagoa. E eles acharam pouco.


CADA ARTISTA TEM A FÃ QUE MERECE




Foi o grupo de rock britânico, The Beatles, formada em Liverpool que me chamou a atenção para o fanatismo mundial na área da música.. A Beatlemania ocupou os espaços e sua crescente popularidade se estendeu até as  revoluções sociais e culturais da decada de 60. Aqui no Brasil, ainda menino ouvia o povo cantar: “ Ela é fã da Emilinha. Não sai do Cesar de Alencar Grita o nome do Cauby e depois de desmaiar. Pega a revista do rádio. E começa a se abanar. É uma faixa...”

Os artistas ficavam famosos pela voz, nos anos dourados do rádio no Brasil. Sem televisão, eles  conquistavam os brasileiros pelas ondas sonoras do rádio. Hoje, tudo mudou. O elenco se diversificou. São atrizes, atores cantores, rádio, cinema e televisão. Tem  profissional  pra tudo quanto é gosto. Artistas caipiras, sertanejos, pops. sambistas,  seresteiros, homens do rádio, do cinema e da televisão. 

Mulheres tiram a  calcinha, o sutiã.  O cantor Wando fez coleção. Hoje, o artista pode ser visto, também no barzinho, no clube, na praça pública, em qualquer lugar. Eles  evoluíram, mas a fã é que ainda fica muito a desejar. Poucos dias atrás, aqui em Brasília, um cantor foi se apresentar no Clube do Choro. Durante o show, uma jovem, daquelas que fecham farmácia de plantão, sentada na primeira fila, lhe dedicou especial atenção. O artista, na primeira música, notou logo o interesse que  aquele monumento de mulher lhe dirigia. Ela não precisou subir ao palco, rasgar-lhe a roupa, para mostrar toda sua admiração. Depois do show, já no camarim, batem à porta, ele abre. Era ela, linda. Meio tímido, surpreso, e intimamente muito feliz, trocam beijinhos, convida e ela entra. Depois de uma água gelada e uma talagada de uísque, que ele tomou quase que escondido para equilibrar os nervos, puxa papo:  

- Foi um show lindo, principalmente pela sua presença. Enquanto cantava, você, ali, me olhando, fiquei  deveras CATIVADO por você.”

 E ela, já toda íntima, de olho grudado nele:

- “CAPIVARA?!!!... CAPIVARA É TU, SEU DOIDO!

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

REFORMA ORTOGRÁFICA



O omem disse que oje vai xover. É assim que passaremos a escrever se forem aprovadas as mudanças sugeridas para na nova reforma ortográfica da língua portuguesa. A proposta de mudança feita pelo professor Ernani Pimentel, dono de uma rede de cursos preparatórios, inclui também outras mudanças. Por exemplo, palavras grafadas com “Ç”, “SS” e XC passariam a ser escritas com um “S”. A simplificação do idioma inclui a extinção do H no inicio das palavras, bem como do CH, que seria substituído por X. 

Professores de português de todo o país já se manifestaram contra. Alguns acham uma besteira sem tamanho o argumento de Pimentel de que a simplificação facilitaria o aprendizado. A dificuldade de alfabetizar não diz respeito à grafia das palavras, mas sim ao método de ensino do professor. O assessor do Museu da Língua Portuguesa e professor da USP, Ataliba de Castilho, diz que “é preciso o professor ajudar o estudante a compreender as diferenças entre língua falada e escrita. Mudar as letras não muda esse processo.” 

O professor Ernani Pimentel faz parte do grupo de trabalho técnico do Senado criado no ano passado para revisar o acordo ortográfico de 2009. O senador goiano Cyro Miranda, presidente da Comissão de Educação e Cultura do Senado diz que as ideias do professor Pimentel não representam a opinião do grupo formado também pelo professor Pasquale Cipro Neto e os senadores Cristovam Buarque e Ana Amélia Lemos. 

Essas mudanças lembram-me a história do cara que pede a secretaria para redigir uma convocação de todos os empregados para uma reunião na sexta feira. A moça para de escrever e levanta sua dúvida : - chefe, sexta é com s ou com x? E o chefe: - transfere pra quinta.

O novo acordo ortográfico, assinado em 2008 só entrará em vigor em 2016. Até lá, vão tentar fazer mais mudanças na “última flor do Lácio, inculta e bela”, como diria Olavo Bilac.

B de PAIVA

O ministro aposentado STJ, Cláudio Santos, que fez teatro quando jovem estudante de direito, comentou a volta do B ao Ceará:

José Wilson
 
Conheci o B. em breve contato, na cidade do Recife, no ano de 1957, durante o I Festival Nacional de Estudantes de Teatro, organizado pelo Embaixador Paschoal. Reunimos um grupo, as pressas, eu, Eusélio de Oliveira, Hamilcar Arruda, Horário Dídimo e outros que não me recordo, fundamos informalmente o TUC, Teatro Universitário do Ceará, e graças ao Magnifício Reitor Antonio Martins Filho recebemos o necessário apoio financeiro para viajar à capital maurícia. 

O B. de Paiva dirigia um grupo amador do interior do então existente Estado do Rio (acho que o Teatro Rural de Campos), onde despontavam atores que depois se destacaram no teatro e TV brasileiros. Grandes nomes do teatro brasileiro se apresentaram lá oriundos do Escola de Arte Drmática de SP, do Teatro Duse do Rio, e de muitos outros de vários Estados, inclusive do RS (Abujamra) e lá eu assisti, entusiasmado também como estudante de direito, o julgamento de Otelo (representado pelo Paulo Autran, bem jovem) e de Hamlet (representado pelo Sérgio Cardoso).

Se não me engano o Paiva foi premiado, bem jovem, como Diretor. Um grande nome do teatro brasileiro. No Ceará, poderá ainda realizar muita coisa nas artes dramáticas.
Um abração para o B. como dizia o saudoso TT.

Cláudio Santos.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

B DE PAIVA DE VOLTA ÀS ORIGENS


B de Paiva

Wilson Ibiapina

Feito o salmão, que consegue nadar centenas ou milhares de quilômetros pelos oceanos antes de voltar ao rio onde nasceu, B de Paiva arruma as malas para voltar para Fortaleza. A despedida dele, em Brasília, está sendo organizada pelo cineasta Pedro Jorge. Será terça feira, dia 4 de novembro, no restaurante Madrid. Dia cinco estará voltando para o Ceará com a atriz Lourdinha, sua companheira inseparável dos últimos anos. Aos 82 anos, que completa dia 6 de novembro, deixa a marca de sua trajetória profissional no Rio, Brasília e Ceará, com repercussão nacional.

José Maria Bezerra de Paiva, o que tem de competência tem de humildade. Nasceu em 1932 em Fortaleza, fruto da união das famílias Oliveira Paiva e Bezerra de Menezes. O avô dele, João Francisco, mestre de ofício, pintor e escultor, foi o primeiro fotógrafo do Ceará. Morreu envenenado com com produtos  químicos  que usava nas revelações. Ele veio de Portugal e teve dois filhos. Um deles, Oliveira Paiva, só foi lembrado 80 anos depois de morto. A mãe dele era da família Bezerra de Menezes que está na história do Ceará.

O pai era jornalista e diretor da Fenix Caixeiral até o dia em que teve a brilhante ideia de fazer uma campanha pela  semana inglesa. Até então o trabalho era direto que nem cantiga de grilo. Parar aos sábados era uma audácia inadmissível. Foi demitido por ser tão criativo.

Desde menino Zé Maria era apaixonado por teatro e cinema. Seu vizinho, Tarcísio Tavares, também louco por cinema, quando ficava doente pagava o ingresso só para o Zé Maria lhe contar o filme, o que era feito teatralmente, com muita gesticulação e  ruídos onomatopaicos. Foi vendo filmes dirigidos por Cecil B de Mille que Tarcísio Tavares, o saudoso TT, teve a ideia de batizar o José Maria Bezerra de Paiva de apenas B de Paiva. Pegou. 

Ainda menino B de Paiva sofreu um acidente que deixou sequelas na perna direita, mas não lhe afastou  das atividades artísticas. Em 1950  estréiou como autor e ator no Teatro Experimental de Arte, fundado por ele e os amigos Hugo Bianchi, Marcos Miranda e Haroldo Serra. O problema da perna lhe perturbava e teve que pedir ajuda ao jornalista Jáder de Carvalho que fez campanha para que fosse ao Rio fazer um tratamento. Em 1954, aos 22 anos, foi apresentado ao embaixador Phascoal Carlos Magno. O protetor das artes e dos artistas arranjou pra ele dormir no camarim do Teatro do Estudante, na Une. Foi o primeiro contato dele com o teatro no Rio.

Trabalhou em mais de 500 produções para cinema, rádio, TV e, principalmente, teatro. Depois do golpe de 64 reabriu e dirigiu o teatro da Une que havia sido destruído num incêndio. No Rio de Janeiro coordenou instituições públicas culturais e criou cursos de teatro, como o primeiro curso superior de Artes Cênicas na UniRio. Também trabalhou na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde foi reitor. Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Ceará, foi o criador da primeira secretaria de cultura do estado. O governador Virgílio Távora o surpreendeu dando o cargo de secretário a Raimundo Girão. Em Brasília, onde chegou a ser coordenador da Funarte e um dos fundadores do Ministério da Cultura, foi professor da UnB e fundador da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, vinculada à Fundação Brasileira de Teatro, da qual também foi presidente em 1995. Em 1999, coordenou os assuntos culturais e artísticos da Pró-Reitoria de Extensão da UFC e a diretoria do Colégio de Direção do Instituto Dragão do Mar, além de estar ligado à Fundação Amigos do Theatro José de Alencar. Como dramaturgo, escreveu, entre outras, as seguintes peças: "Complexo", "Lágrimas de um Palhaço", "Rosa Morta", "Vigília da Noite Eterna". Em parceria com o pernambucano Hermilo Borba Filho, publicou o livro "Cartinhas de Teatro".

Toda a vida profissional dele está documentada em livros, cartazes, filmes, um acervo valioso que ele guarda na fazenda do conterrâneo Geová Sobreira, numa cidade satélite aqui do Distrito Federal. O sonho de B de Paiva é conseguir em Fortaleza um local, num museu ou biblioteca, para guardar toda a história de sua trajetória profissional, um exemplo de tenacidade e talento para as novas gerações. É um dos nossos maiores artistas que não pode ser esquecido 

UMA ELEIÇÃO DO BARULHO



Clidenor de Freitas Santos, presidente do IPASE no governo de João Goulart, candidatou-se a prefeito de Terezina, na eleição de 1954. Na campanha, distribuia arraia-papagaio, mas só com a linha. Quando a meninada perguntava pelo rabo ele dizia: 

- Peça ao Agenor. 

Era seu adversário que acabou ganhando.  Além dessas histórias que entraram no folclore político, as campanhas do passado eram marcadas por slogans e marchinhas que identificavam os candidatos e que até hoje soam na cabeça dos eleitores mais antigos: “O homem da vassoura vem aí...” ou “Bote fé no velhinho/ Ele sabe o que faz...”

Essa, agora,  realmente, foi uma eleição atípica, a começar  pelos nomes de alguns candidatos, dignos de entrar na história pela excentricidade, pela estravagancia.  São exemplos,  Botelho Pinto, candidato a deputado estadual pelo PSC do Rio; o petista baiano Cara de Hamburger e o cearense Zé Macedo Acorda Cedo, do PTN.  Os aventureiros apareceram em todos os estados. Agora, são famosos, artistas, atletas que chegam de paraquedas para disputar o voto. 

Em 1950, a imprensa de Fortaleza noticiava a chegada à capital cearense do diretor da divisão de administração do Sesi, no Rio. Dr. Antônio Horácio Pereira, candidato a deputado federal. Foi considerado pela imprensa como pioneiro. Foi o primeiro paraquedista a desembarcar por lá, com a mala cheia de dinheiro para trocar por votos. O jornalista Ciro Saraiva lembra que, em Quixeramobim, o aventureiro foi recebido pelos pais dele, Raimundo Cristino e dona Amanda, que ganhou logo uma nota de mil cruzeiros, daquelas que exibia a efígie de Pedro Álvares Cabral. Dona Amanda preparou-lhe um almoço de galinha guisada. A partir daí, em toda eleição, dona Amanda lamentava: -Antônio Horácio não apareceu mais. Só foi eleito uma vez. Outros Antônios continuam por aí, sem projeto, pedindo voto.

Na eleição de 2014 foi uma campanha sórdida, como a chamou Aécio Neves. O corpo a corpo que tomou conta das redes sociais entre candidatos e eleitores acabou  com muitas amizades e foi preciso a intervenção do TSE para acalmar os ânimos. O cientista político Marco Aurélio Nogueira disse, em entrevista à Época, que o baixo nível da campanha refletiu a desqualificação dos partidos.

Estiveram, também, na mira dos críticos as pesquisas dos Institutos de opinião que  caíram em descrédito. O jornalista Augusto Nunes colocou lá no blog dele, na Veja: “Proponho aos amigos da coluna que esqueçam as sopas de algarismos espertos servidas pelas fábricas de porcentagens. Como se viu no primeiro turno, todas se tornam intragáveis depois da abertura das urnas.” E fez cálculos para mostrar que os Institutos erraram.

A urna eletrônica afastou a possibilidade de fraudes, como as que ocorriam no tempo das cédulas individuais. No interior as mocinhas, à serviço dos coronéis, pediam ao matuto pra ver a chapa que ele ia colocar na urna. Inocentes. entregavam a cédula que era beijada, deixando marcas de batom que anulavam o voto. Diz a lenda que em muitas cidades o eleitor já recebia a chapa dentro de um envelope para ser colocado na urna. - Em quem eu vou votar, coronel? - Cala a boca, o voto é secreto.

A urna eletrônica fez desaparecer também a contagem manual dos votos e com ela as histórias de juizes corruptos: - “O juiz daqui é corrupto?, pergunta um candidato querendo mais votos para se eleger. - “É, mas  já foi comprado.” 

História de jacaré comer a urna que caiu no rio quando era transportada de barco no norte do país, nunca mais vai ser ouvida.  Num passado recente, a apuração só começava no dia seguinte à eleição. A polícia e fiscais dos partidos passavam a noite pastorando as urnas. O resultado, que levava semanas, hoje sai quase na mesma hora, no mesmo dia, tudo via satélite, computador. Infelizmente, só a segurança que a informática tem dado ao pleito, não é suficiente. O conselheiro digital dos congressistas americanos, Adam Sharp, constata que a tecnologia evoluiu, mas os políticos continuam os mesmos.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

LEMBRANDO AS ORIGENS



Na comemoração dos  nove anos do programa Senhor Brasil, na TV Cultura, de São Paulo, Rolando Boldrin fez todo mundo chorar, em minha casa. Ele reapresentou a entrevista com Chico Anísio, onde ele, já cansado, respirando com dificuldade, presta uma  homenagem a Belchior, que por sinal estava no auditório. Ele também se emocionou e chorou. Depois de algumas histórias e causos cearenses, Chico Anísio cantou, declamando, “Galos, Noites e Quintais:

Quando eu não tinha o olhar lacrimoso,
que hoje eu trago e tenho;
Quando adoçava meu pranto e meu sono,
no bagaço de cana do engenho;
Quando eu ganhava esse mundo de meu Deus,
fazendo eu mesmo o meu caminho,
por entre as fileiras do milho verde
que ondeia, com saudade do verde marinho:
Eu era alegre como um rio,
um bicho, um bando de pardais;
Como um galo, quando havia...
quando havia galos, noites e quintais.
Mas veio o tempo negro e, à força, fez comigo
o mal que a força sempre faz.
Não sou feliz, mas não sou mudo:
hoje eu canto muito mais.”
Veja como foi:

QUANDO SE TEM O MESMO NOME



Não é que acabo de localizar cinco pessoas no Face com o meu nome: Wilson Ibiapina, de Araçatuba; Wilson Ibiapina,do Instituto Federal do Piaui, residente em Terezina. Outros três moram em São Paulo. 

Não sei se meus parentes, pois nasci em Ibiapina, no Ceará. Fui batizado como José Wilson Ferreira Ibiapina e desde os anos 60, quando comecei a trabalhar como jornalista assino Wilson Ibiapina. Meu tio Raimundo, irmão de meu pai, ainda jovem, saiu do Ceará e foi morar em São Paulo.Tinha um filho Wilson. Será que algum desses é ele? O engraçado é que nem eu nem eles se interessaram, até hoje, em tentar descobrir se existe algum parentesco entre nós. 

E eu que achava meu sobrenome raro. Trata-se de uma palavra indígena, tupi, e significa terra cultivada. O meu Ibiapina vem da cidade do mesmo nome, na Serra da Ibiapaba, onde habitavam os índios Tabajara. Eles eram comandados por dois caciques famosos. Diabo Grande (Juruparaçu)  na área onde estão hoje os municípios de Ibiapina e Ubajara. Ele resistiu a colonização pretendida por Pedro Coelho, em 1603. A outra tribo Tabajara ficava em Viçosa do Ceará e era comandada por Mel Redondo (Irapuan). A lendária Iracema, criada por José de Alencar, era lá de Ibiapina, filha de Araquém, pajé da tribo, que era pai também de Caubi. O Cacique Irapuan era apaixonado por Iracema, que, por sua vez se encantou pelo guerreiro Branco, o português Soares Moreno. Iracema morreu de parto e Soares Moreno voltou para Portugal levando seu filho Moacir (filho do sofrimento). Dizem que é por isso que o cearense é nômade. O primeiro que nasceu foi embora. José de Alencar usou o livro Iracema para dar uma explicação poética para as origens do Ceará. Iracema, a virgem dos lábios de mel, virou símbolo do Ceará e o filho dela com o colonizador português representa o primeiro cearense, fruto da união das duas raças.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

O COMPOSITOR QUE GOSTAVA DE SAMBA E DE BRIGA






Geraldo Pereira morreu aos 37 anos depois de uma briga com o capoeirista Madame Satã. Levou um soco caiu. Meses depois.dessa briga em ele morreu num hospital do Rio.

Um dos maiores sambistas do Brasil, o mineiro de Juiz de Fora, Geraldo Theodoro Pereira, ficou conhecido no Rio como Geraldo Pereira. Seu primeiro grande sucesso foi o samba Falsa Baiana que fez para o carnaval de 1944 inspirado no compositor Roberto Martins. Ele mandou fazer uma fantasia de baiana e na hora H não teve coragem de vestí-la e sambar. Foi o primeiro sucesso de Geraldo  gravado por Ciro Monteiro. Aliás, foi Ciro Monteiro quem também gravou o samba Escurinho, em 1954, o  último sucesso do mineiro.  Foi no ano de 1954 que ele gravou seu último disco 78: Maior desacerto e Adeus:

"Adeus amor 
Eu vou partir 
É bem melhor eu ir 
Eu ir, e viver em paz 
Já é demais 
Chega de sofrer 
Juro que não vou me arrepender 
(breque-por isso que eu digo) 
Confesso que te amar 
Até morrer 
Foi sempre o meu pensar 
Mas é melhor 
Eu desaparecer 
P'ra meu coração desabafar”

Com esse samba ele parecia prever seu fim prematuro.  Ciro Monteiro contava que estava no velório quando apareceu uma criatura, toda tímida, penalizada. Pegou  no ombro de Ciro Monteiro e disse baixinho em seu ouvido. Seu Ciro, que coincidência... Ciro disse que não tinha coincidência nenhuma, na verdade o cara queria dizer, que tragédia, que tristeza, lamentável. Tudo, menos coincidência.

Geraldo Pereira era brigão, criador de caso. Os biógrafos dele contam que em 1954, quando participou de um show em comemoração ao quarto centenário da Cidade de São Paulo, foi protagonista de mais uma briga. Ao lado dos músicos Buci Moreira, Raul Marques, Arnô Carnegal, Barão, Geraldo Pereira liderou um quebra-quebra na boate Esplanada porque o empresário que os contratou não queria pagar o que era devido.  


Em 1971, em entrevista ao PASQUIM,  Madame Satã contou sua versão sobre a briga com Geraldo Pereira: "Eu entrei no Capela (Bar Capela) e estava sentado tomando um chope. Ele chegou com uma amante dele, pediu dois chopes e sentou ao meu lado. Aí tomou uns goles do chope dele e cismou que eu tinha que tomar o chope dele e ele tinha que tomar o meu. Ele pegou o meu copo e eu disse pra ele: olha, esse copo é meu. Aí ele achou que aquele copo era dele e não era o meu. Então eu peguei meu copo e levei para a minha mesa. Aí ele levantou e chamou pra briga. Disse uma porção de desaforos, uma porção de palavras obscenas, eu não sei nem dizer essas coisas. Aí eu perdi a paciência, dei um soco nele, ele caiu com a cabeça no meio-fio e morreu. Mas ele morreu por desleixo do médico, porque foi para a assistência vivo."

Outros sambas dele:


Acertei no milhar, Sem compromisso, Pisei num despacho e Bolinha de Papel, que foi regravado por João Gilberto.

domingo, 7 de setembro de 2014

PARECE QUE FOI ONTEM

Alice-Maria

Alice, parece que foi ontem. Você, Humberto Vieira, Sílvio Júlio e Amaury Monteiro comandando a reportagem, todos fazendo a primeira edição do Jornal Nacional.

Oito horas da noite, Cid Moreira e Hilton Gomes. Alfredo Marsillac na mesa de corte. Um trecho da música The Fuzz, de Frank Devol, invade os lares. Pela primeira vez, estava entrando no ar o Jornal Nacional. Primeiro de setembro de 1969, uma segunda-feira.

O Marsillac ainda deve ter guardado o script do primeiro JN, que o Armando deu-lhe de presente com o bilhete: “Marsillac... e o Boeing decolou”. O jornal entrando no ar, na cabeça do Armando Nogueira, é que nem um Boeing levantando voo.  Não pode ter erro.

Quando cheguei em 1970, o JN ainda uma criança e todos com a preocupação de mantê-lo com qualidade, num formato que aos poucos foi se definindo. O Telejornalismo brasileiro era outro depois daquele dia. E você foi peça preciosa nessa mudança.

Não esqueço de sua preocupação, orientando editores, repórteres, cinegrafistas. Em tudo tinha seu dedo. A equipe foi crescendo: Sebastião Néri, Castilho, Nilson Viana, Jéferson, Meg, Ronan, Luis Edgar de Andrade, Vera Ferreira, Lucia Abreu, Edinete Melo, os irmãos Aníbal e Edson Ribeiro e o baiano Jotair Assad inventando coisas. Falar em criação estavam lá o Waisberg e o Mauro Richter. Humberto Vieira, Eduardo Simbalista e Fábio Perez foram os primeiros editores chefes do JN. Nas moviolas os montadores de filmes Auderi Alencar e o João Mello.

Robertinho na arte, Azul na coordenação junto com o Guará e o Assis, que imitava o Cid. Márcia Clark, Márcia Mendes, Sandra Passarinho, Glória Maria, Lêda Nagle, Márcia Prado, Andre Luiz, e os cinegrafistas Chucho Narvaez, Evilásio Paraense Carneiro, Ricardo Strauss, Orlando Moreira e o baiano José Andrade, que depois saiu pelo Brasil formando novos cinegrafistas.


Os contínuos Morro Agudo e Bené, que o Ronan preferia chamar de "alternados", pois nunca estavam na redação quando precisavam deles. Marcos Novaes, o Sol. Pela bancada do JN passaram também Eron Domingues, Sérgio Chapelin, Celso Freitas, Berto Filho, Carlos Campbel, Marcos Hummel. Tereza Walcacer, Henrique Lago, Ricardo Pereira, Pedro Rogério, Antônio Severo, Woile Guimarães, Eurico Andrade, Wianey Pinheiro, Ronald de Carvalho, Toninho Drummond, Carlos Henrique de Almeida Santos, Carlos Henrique Schroder, esse mesmo que hoje é o diretor geral da Rede Globo, todos grandes jornalistas que foram aprender com você a fazer televisão.


Citei alguns nomes, mas na verdade, todos da Central Globo de Jornalismo aprenderam com você. Como a maioria, orgulho-me de ter participado de sua equipe durante 20 anos. 

Abraço forte do Wilson Ibiapina e da Edilma Neiva, seus alunos, admiradores e amigos.

Homenagem 80 anos Wilson Ibiapina