segunda-feira, 20 de setembro de 2010

PROJETOS MIRABOLANTES


As maluquices que inundam o Brasil desde o Império



Wilson Ibiapina

José de Salles era oficial de justiça em Fortaleza. Com quase dois metros de altura, só andava de terno escuro e com um chapéu de madeira na cabeça. Na terra de baixinhos, Zé de Sales era notado por onde passava com seu andar meio capenga. Ele ficou famoso também por tocar bandolim no programa A Hora da Saudade, que José Limaverde apresentava nas noites das segundas na Ceará Rádio Clube. Ele ensaiava numa oficina de consertar violões e outros instrumentos de corda, que ficava na avenida Padre Ibiapina, bem em frente ao Sesi. A audiência do programa do pai do Narcélio e do Paulo ajudou a popularizar a figura do Zé de Sales, que logo logo disputou uma cadeira na Câmara Municipal de Fortaleza. Um dos projetos do Zé de Sales prometia encanar o vento da serra de Guaramiranga para Fortaleza, como forma de amenizar o calor. Quilômetros e quilômetros de canos descendo a serra rumo ao litoral. Ainda bem que ele não foi eleito.


Essa coisa de canalização atormenta os legisladores e administradores públicos desde o começo do Brasil. Em 1670, o governo português decidiu canalizar a água do rio carioca, descendo o morro do Corcovado até o centro do Rio de Janeiro. No audacioso projeto foi usado canos de madeira. Em pouco tempo apodreceu tudo.


Um outro governante carioca apresentou um projeto parecido com o do candidato a vereador de Fortaleza. Igualmente ambicioso, mandava derrubar o Pão de Açúcar, com o objetivo único de melhorar a ventilação da cidade. O projeto que acabava com o morro, que é um dos símbolos da cidade maravilhosa, foi aprovado pelo Visconde de Ouro Preto, presidente do Conselho de Ministros. Uma firma inglesa chegou a ser contratada para fazer a demolição, que só não ocorreu por causa da proclamação da República. O projeto foi esquecido.


No Ceará, um espirituoso deputado pediu ao governador do Estado que lhe doasse uns canos furados que ele vira no pátio da Secretaria de Agricultura. O governador imediatamente atendeu. Meses depois o secretário de Agricultura comunica que o projeto de irrigação que seria inaugurado no interior teve que ser cancelado. Os canos que seriam usados no projeto simplesmente desapareceram. O governador manda chamar o deputado, achando que tinha sido enganado por ele: - você disse que os canos estavam furados. -Sim, governador, o sr. Já viu cano sem ser furado?


O Rio de Janeiro, em várias ocasiões, esteve sob o comando de desastrados administradores. O historiador Milton Teixeira chegou a reunir 35 fatos que mostram quão loucos foram alguns desses administradores do Rio. O jornalista Mário de Moraes, que ficou famoso escrevendo reportagens nas páginas da revista O Cruzeiro, conta que o historiador Milton Teixeira gastou dias fazendo pesquisas no Museu Histórico do Exército e no Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural. Ele queria reunir dados que comprovem a veracidade de suas histórias.


O jornalista Mário de Moraes conta duas outras histórias saborosas ,levantadas pelo historiador Milton Teixeira. Após a independência, o Brasil precisou formar seu próprio Exército. Como tinham que correr contra o tempo, o jeito foi contratar mercenários alemães. O major Von Ewald, em 1825, era o comandante da tropa. Na época, a mais famosa e rica prostituta do Rio era Gertrudes. Mulata bonita, morava em uma mansão em Botafogo. Bastou uma noite de amor para que o major Von Ewald se apaixonasse. Para azar do alemão, Gertrudes não queria nada com ele. No desespero provocado pela rejeição, o major comandante mandou sua tropa desfilar em frente a residência de sua amada, em Botafogo. Como não surtiu efeito, ele engendrou plano mais diabólico para tocar os sentimentos mais profundos de Gestrudes. Não se sabe como ele conseguiu as ligas íntimas de Gertrudes, que mandou prender à Bandeira do Brasil e desfilou com ela em frente a Dom Pedro I. O apaixonado major teve que fugir do país para escapar da corte marcial .


Em reportagem escrita no jornal Terceiro Tempo, Mário de Moraes conta que o Brasil entrou no século XVIII dominado pela violência que se alastrava pelas ruas do Rio. O governador do Rio, Luiz Monteiro, desencadeou uma campanha contra ladrões, criminosos e corruptos que infestavam a cidade. As cadeias ficaram abarrotadas. Foi preciso alugar casas, que foram improvisadas como presídios. O governador não contente, pegou a caneta e escreveu o seguinte bilhete ao rei de Portugal: “Senhor, nesta terra todos roubam, menos eu”. O Rei, acreditando que seu governador ficara louco, mandou prendê-lo, também.


Esses legisladores e governantes pirados continuam existindo no país. A exemplo do que ocorreu em Nebraska, Estados Unidos, onde o governador mandou construir uma pista de pouso para extraterrestres, aqui no Brasil o dinheiro público também foi usado na construção de pista de pouso para disco voador. Perto de Barra do Garças, está o primeiro discoporto do Brasil. A jornalista Carla Fagundes me mostra o recorte de jornal que prova que o prefeito de Bocaiúva do Sul, que fica perto de Curitiba, também teve essa brilhante idéia. Élcio Berti anunciou a criação de um aeroporto para discos voadores, batizado de Ovniporto. Ele disse que “é uma coisa do futuro”


A lista de projetos inusitados não pára de crescer em pleno século XXI. Tramitam no Congresso projeto de lei que proibe a palmada em criança. Outro que proibe o beijo em público de pessoas do mesmo sexo.


E não adianta transparência nas contas públicas governamentais. Os desmandos acontecem desde que o Brasil foi descoberto. Sempre soubemos dos exageros, por exemplo , da família imperial, que gastava uma fábula em dinheiro para manter palácios e residências nos quatro cantos do Rio. E, como hoje, aumentava os impostos, deixando indignados os brasileiros que moravam longe da corte, que já não se conformavam com as notícias de favoritísmo e corrupção.


Para ajudar nos gastos da familia real, Dom João vendia até títulos de nobreza. O historiador Pedro Calmon escreveu que para ser Conde em Portugal eram precisos 500 anos. No Brasil, bastava 500 contos. Dom João VI, segundo o historiador Patrick Wilcken conta no livro “Império à deriva”, criou 28 títulos de marqueses, 8 de condes, 16 viscondes, 21 barões e mais de mil cavaleiros.


A comunidade tem o direito de saber onde o dinheiro dos impostos é empregado e pode até questionar qual a melhor maneira de sua utilização. Só não vamos nos livrar é desses malucos criativos. Eles vão continuar angariando a simpatia dos eleitores e estarão sempre preparando projetos que consideram geniais, sempre “com a melhor das intenções”.


RECEITA CHINESA

MEDICINA ORIENTAL

Um ocidental em visita à China ficou surpreso de ver a quantidade de velhos saudáveis e, curioso sobre os aspectos da milenar medicina chinesa, indagou de um experiente médico qual o segredo para se viver mais e melhor.

Ouviu do mesmo a sábia resposta:

"É muito simples, basta seguir 3 regras:

1-Comer a metade.
2-Andar o dobro.
3-E rir o triplo."

CHICO DIAS E ANTÔNIO ARRAIS


O amigo e jornalista Chico Dias recorda o dia em que recebeu para um almoço a mulher do nosso saudoso Antônio Arrais e o filho mais velho do casal. Era em plena invasão de Israel ao Líbano, com bombas chovendo sobre Beirute.

A TV estava ligada no noticiário. Lá pelas tantas, diante das notícias da destruição de Beirute, o garoto entrou em pânico: "Mãe e o papai? Precisamos ir lá para salvar ele". Foi um custo convencê-lo que o Beirute da notícia não o Beirute do Arrais.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O ADEUS À ANTÔNIO ARRAIS

A imprensa em Brasília ficou mais pobre sem o jornalista cearense Antônio Arrais, um dos editores da Agência Brasil. Ele morreu aos 64 anos, vitimado por um infarto fulminante.


Arrais nasceu no Ceará e se mudou com a família para Pernambuco. Em Recife estudou e se formou jornalista em 1976. Trabalhou em vários jornais de Pernambuco, como Jornal do Comércio, Diário de Pernambuco e nas sucursais do Jornal do Brasil e do jornal O Globo.


Em 78 foi transferido para a sucursal de Brasília e depois trabalhou também na Agência Estado. Ingressou na Radiobrás em 1987 e esteve cedido por 12 anos ao Tribunal Superior Eleitoral, ao Senado Federal e à Procuradoria Geral da República, onde atuou como Coordenador de Comunicação Social. Em 2003 retornou à EBC para trabalhar na Agência Brasil, colaborou com a Comunicação Social no último ano, retornando à Agência Brasil em agosto passado com a função de editor.


Como repórter correu o Brasil e o exterior fazendo coberturas, acompanhando presidentes. No velório, Roberto Stefanelli lembrou a viagem que fizeram a Mato Grosso, acompanhando o presidente Figueiredo. Beto pela Folha e Arrais pelo Globo. Depois de um dia corrido de cobertura chegam exaustos ao hotel, pedem a conta e a nota fiscal, exigida pela tesouraria do jornal na hora de prestar contas dos gastos da viagem. Em nome de quem? Tira em nome de O Globo, diz Arrais. Já estavam voando de volta a Brasília quando Arrais resolve conferir as notas fiscais. Tudo OK, perfeito, só um porém. A nota mais alta, fornecida pelo hotel, estava em nome de Hugo Lobo, no lugar de O Globo. Fazer o que com aquele funcionário do hotel que não compreendeu suas palavras?


Rejane Limaverde, que morou no apartamento dele quando chegou do Ceará, lembra que ele era cheio de mania. Por exemplo: mesmo atacado pela gota não abria mão de um pedaço de carne no almoço. No restaurante Beirute tem um prato batizado de Filé do Arrais. Outra mania: detestava quando alguém pegava no copo em que estava bebendo. Mandava trocar na hora. Um dia, tirou as lentes de contato e colocou num copo com água. Segundo ele, para não ressecar. Era época de baixa umidade do ar, como agora. E cochilou o suficiente para o Emerson de Souza esconder o copo com as lentes e colocar outro no lugar. Ao despertar, flagrou o Emerson simulando que estava bebendo a água. Arrais, já irritado, gritou desesperado “cuidado com as lentes no copo” . Quando descobriu a brincadeira do colega ficou mais zangado.


Apesar de ser metódico e mau humorado era muito querido pelos amigos que se divertiam com o seu jeito de ser. Apaixonado por livros e CDs, era fã da voz de Gal Costa. Dizia que se ela gravasse um “reclame” da Coca-cola, ele comprava. Sua última promessa foi paga na manhã do dia em que morreu. Levou para o colega Mamcasz a garrafa de cachaça velha que havia prometido. Mamcasz ainda brincou: - Está fechada, com selo e tudo? A provocação tinha sentido. Arrais nunca aceitou garrafa de cerveja trazida à mesa aberta pelo garçom sem ser na frente dele .


Na noite daquela mesma terça dia 14, em casa, ao lado da mulher Thelma, foi traído pelo coração, que resolveu parar bem na hora do jantar. Deixou além da viúva, quatro filhos.: Marcelo, Rodrigo, Leonardo e Daniela. O corpo cremado, vira cinza. Suas histórias, como na literatura de cordel vão passar de boca-em- boca. Vão se espalhar mantendo viva a sua memória. Um jornalista “tolerância zero” que gostava de música, da família, de comer carne, dos amigos, de livros, da vida.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A VISTA DO MACÁRIO


No Mucuripe, da janela do tugúrio dele, o jornalista macário batista manda esta foto de presente, feita as 5:10min da manhã.

Macário tem dois objetivos: o primeiro me fazer inveja de não ver o sol nascer no mar...o segundo é por pura frescura de quem não tem o que fazer de madrugada e fica insultando os amigos.



Campanha publicitária do Citibank espalhada pela cidade de São Paulo através de Outdoors



"Crie filhos em vez de herdeiros."

Dinheiro só chama dinheiro, não chama para um cineminha, nem para tomar um sorvete.

Não deixe que o trabalho sobre sua mesa tampe a vista da janela.

Não é justo fazer declarações anuais ao Fisco e nenhuma para quem você ama.

Para cada almoço de negócios, faça um jantar à luz de velas.

Por que as semanas demoram tanto e os anos passam tão rapidinho?

Quantas reuniões foram mesmo esta semana? Reúna os amigos."

Trabalhe, trabalhe, trabalhe. Mas não se esqueça, vírgulas significam pausas...

...e quem sabe assim você seja promovido a melhor (amigo, pai , mãe , filho, filha, namorada, namorado, marido ,esposa ,irmão ,irmã.. etc.) do mundo!

Você pode dar uma festa sem dinheiro. Mas não sem amigos.

E para terminar, mensagem afixada na parede de uma farmácia:

"Não eduque seu filho para ser rico, eduque-o para ser feliz. Assim, ele saberá o valor das coisas e não o seu preço."

domingo, 12 de setembro de 2010

O DIA QUE UBAJARA TREMEU DE MEDO

Marco da Passagem da Coluna Prestes, de Oscar Niemeyer


Wilson Ibiapina

Parecia que ia ser mais uma pacata manhã, ensolarada e fria naquele 13 de janeiro de 1926. Mas a notícia chegou com o dia amanhecendo e se espalhou feito fogo em palha: "os revoltosos estão chegando". Eram os participantes da Coluna Prestes, movimento que surgiu no Rio Grande do Sul para combater as velhas oligarquias e que percorreu 25 mil quilômetros – de sul a nordeste - por mais de dois anos, pregando reformas sociais e econômicas.


Aconteceu que nos lugares por ande passava, a Coluna ia roubando cavalos, alimentos e armas. No lugar de angariar a simpatia das populações do interior, despertava o medo. As classes dominantes, para continuar no poder, espalhavam que os "revoltosos" eram todos ateus que prostituíam as mulheres e deixavam o povo mais miserável ainda.


O 2º Destacamento da Coluna Prestes, comandado pelo coronel pernambucano João Alberto estava entrando no Ceará, pela Serra da Ibiapaba, meio perdido, é verdade. Juarez Távora, o único cearense no comando da coluna acabara de ser preso quando fazia uma precursora. Era ele quem conhecia o Estado. João Alberto não tinha um mapa. Por isso que ao sair de Pedro II, no Piauí, rumo a São Benedito, foi bater na divisa entre os municípios de Guaraciaba do Norte e Ipueiras.


A primeira coisa que os revoltosos faziam era cortar os fios do telegrafo, único meio de comunicação, para não serem denunciados. No Ceará espalharam mensagens de que estavam rumando para ocupar Sobral e Fortaleza. A tática era deslocar as tropas do governo para que Carlos Prestes passasse pelo sul do Estado com os 1º 3º e 4º destacamentos, levando doentes e feridos.O código Morse correu pelos fios ainda ligados espalhando a pavorosa notícia pelas cidades da Serra Grande.


O ubajarense José Cunha Freire, em artigo no Informativo da família Soares & Cunha conta que tinha 11 anos de idade quando despertou naquela manhã de 13 de janeiro de 1926 com aquela movimentação infernal. Você já viu uma pessoa com medo, mas uma cidade em pânico é cena só vista em cinema. José Cunha revela que aquele corre-corre o marcou para o restante da vida: "Só se ouvia nas ruas, em cada esquina, em cada mercearia, o povo dizer: "Os revoltosos vem aí, e eles vem matando e tomando tudo aos seus alcances. Até os lares serão invadidos pela fúria assassina e animalesca dos tarados. Eles entrarão em Ubajara às oito horas da manhã e daqui irão para demais cidades".


Em Juazeiro do Norte, o deputado Floro Bartolomeu e Padre Cícero resolveram recrutar até Lampião e seu bando. Deram dinheiro, munição, mantimento e a patente de capitão a Virgulino Ferreira. O bando ganhou o título de Batalhão Patriótico. Quando descobriu que a patente era falsa, Lampião esqueceu a Coluna e foi cuidar da vida.


No momento em que o 2º Destacamento com seus 132 homens rumavam para o Ipu, Ipueiras, Nova Russas e Crateús, onde foram recebidos à bala, em Ubajara o medo corria frouxo. O município, que há menos de 11 anos se emancipara de Ibiapina, em poucas horas ficou completamente desabitado. A população inteira fugiu da cidade para sítios povoações no pé da serra ou mesmo seguiu a pé para o vizinho Piauí. Homens, mulheres, velhos e crianças corriam, pulando cerca de arame farpado, descendendo ladeira, passando por rios. José Cunha Freire lembra que "o comercio cerrou suas portas e povo só não passou fome porque no dia seguinte o medo acabou e graças a Deus tudo voltou a normalidade".


Dias depois, os momentos em que a cidade tremeu de medo foram relembrados num livro de cordel. Até hoje a literatura de cordel ainda é o fiel repórter dos fatos que atormentam o Nordeste. O repórter-poeta narrou em versos bem rimados todo vexame causado pela falsa notícia. Ele tinha em sua primeira quadra o seguinte: "Foi a treze de janeiro/ as oito horas do dia/Que chegou a noss vez/De demonstrarmos valentia/. Mas o que se viu foi pura covardia". E narrava que assim que a notícia chegou, no lugar de pegar em armas, a cidade disparou pelo mato. Até hoje tem gente chegando ao Piauí. Tinha uma estrofe em que um "cara" enganchou a camisa numa cerca de arame farpado e dizia:"me solta revoltoso ! Eu não sou culpado".


A passagem da Coluna Preste pelo Ceará é lembrada pelo monumento que foi erguido em Crateús, única cidade que enfrentou os revoltosos. Tem mais de 13 metros, foi criado por Oscar Niemeyer, e oferecido a todos os municípios por onde a Coluna passou. Crateús é o quarto município do país a exibir o projeto do famoso arquiteto.

Lago Norte - Brasília

Wilson Ibiapina


Lago Norte - o lugar mais agradável, melhor para se morar em Brasilia. São apenas 16 quadras. A península já quase toda ocupada por profissionais liberais, a maioria vinda do interior, mantem um ar bucólico. As pessoas só faltam pedir uma colher de açucar ou um pouquinho de sal ao vizinho. Um relacionamento de camaradagem, como antigamente nas pequenas cidades.

Um privilégio de poucos. Caso você não se sinta à vontade, não estabeleceu amizade no seu conjunto, na quadra, você deve ter errado de lado, ou melhor, de Lago. Seu lugar pode ser no Lago Sul.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

REPÓRTER DE RÁDIO - Francisco Nogueira Saraiva


Francisco Saraiva ao lado do jornalista Rangel Cavalcante


Wilson Ibiapina


Francisco Nogueira Saraiva trabalhou em Fortaleza na Ceará Rádio Clube. Narcélio Limaverde, que foi contemporâneo dele, lembra perfeitamente do colega: “Francisco Saraiva foi um repórter de rádio furão, perigoso mesmo. Tratava Carlos Jereissati como Kalila, Paulo Sarazate de Paulo, Virgilio de VT”. Narcélio, que tem a história do Ceará na memória, feito o Google, lembra que “aquela célebre fotografia do ex-governador Virgílio Távora com um revólver no cós, foi obra de Chico Saraiva. Os jornais todos publicaram na época. Ele conseguiu ver que VT estava armado e fotografou. Foi um problema”.


O jornalista e radialista vivia se metendo em encrenca. Essa outra Narcélio lembra por que estava com ele: “Quando esteve em Fortaleza o general Craveiro Lopes, presidente de Portugal, fomos todos para o Aeroporto Militar, no Cocorote, antes de existir o atual Aeroporto Internacional. O presidente chegou e ninguém podia chegar perto.. O presidente português chegou e foi dar uma meteórica volta pela cidade e nós atrás, na camioneta equipada com o transmissor móvel de Frequência Modulada. Transmitimos tudo. No retorno fomos obrigados a ficar num círculo riscado no chão. Por sugestão do Saraiva fomos até perto do português e fizemos aquela clássica pergunta: Gostou de Fortaleza? O homem disse qualquer coisa com aquele sotaque de dono da padaria. Mas todo mundo foi preso. Chico conseguiu a liberdade, depois de muita conversa”.


Os mais velhos devem recordar que foi o Nogueira Saraiva quem arrombou o Orós, fazendo com que o ministro Armando Falcão acordasse o presidente JK e comunicasse a "tragédia" não acontecida. Só bem depois o açude arrombou pra valer. Quando JK veio ao Ceará – conta Narcélio - Chico avançou em direção do homem e acabou sendo preso.


Na época em que os pescadores cearenses foram à Buenos Ayres de jangada (depois do Rio de Janeiro), Chico já estava lá ao lado de Leocácio Ferreira, inventor da fotografia panorâmica e do jornalista Rangel Cavalcante. Ainda hoje a foto está no Flórida Bar, em Fortaleza.


Certo dia ele comunicou ao Narcélio que iria aos Estados Unidos e visitaria A Voz da América. E cumpriu. Mandou que sintonizasse a emissora americana. E lá estava o Chico sendo entrevistado. Até hoje Narcélio lamenta: “Infelizmente não deu para entrar em cadeia, nem gravar, pois não tínhamos o aparelho na PRE-9".


Em Brasília, Nogueira Saraiva esteve presente em todos os eventos, tendo acompanhado vários presidentes da República em viagens internacionais. Em 1981, em Paris, ele transmitiu ao vivo, para a rádio Alvorada, a visita do presidente Figueiredo ao túmulo do Soldado Desconhecido, no Arco do Triunfo. Lembra Orlando Brito, que estava ao lado dele naquela manhã, quando ouviu ele falando ao microfone - não se sabe de gozação ou não, que “no momento em que o presidente Figueiredo coloca uma corôa de flores no túmulo do Soldado Desconhecido, uma senhora que está aqui perto chora. Deve ser a mãe ou parente do soldado desconhecido”.


Saraiva morreu num banheiro do aeroporto do Galeão, quando empreendia mais uma de suas viagens de trabalho. Foi traído pelo coração que parou de repente. A sua personalidade era marcada pela solidariedade e o companheirismo. Ele foi um dos fundadores da Casa do Ceará em Brasília. Só bebia uísque com limão. A um amigo que quis saber a razão desse drinque tão estranho, ele respondeu com a simplicidade que lhe caracterizava: "É porque eu gosto”.






quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A HISTÓRIA DE UM JIPE

Wilson Ibiapina

Esse jipe foi um presente do meu tio José Ferreira a meu avô Pedro Ferreira. O vovô nunca trocou o cavalo pelo jipe. A viagem que ele fazia diariamente de sua casa em Ubajara ao sítio Ipiranga servia para meditar, pensar nos livros que escrevia, na vida. No lombo do cavalo podia parar no caminho. Ainda tinha a vantagem de ter no sítio as meninas que ajudavam a alimentar o animal, faziam café e alegravam a conversa durante os dias da semana.

Como meu avô não sabia dirigir, o jipe significava a companhia de um intruso. Um motorista sem maiores intimidades que, feito o repórter Esso, viraria testemunha ocular de tudo que se passasse na estrada e em meio aos pés de café, no pomar, sei lá onde mais. Meu avô tinha a fama de gostar de uma caboclinha. Para que testemunha, meu Deus? E o jipe foi ficando na garagem, feito enfeite.

Um dia, meu tio Durval queria ir a uma festa na cidade vizinha de Ibiapina. Meu avô foi logo se antecipando: ah, você quer ir? então pega o cavalo. Claro que fomos de jipe, depois que ele dormiu. Quando vovô Pedro se mudou para Fortaleza, ainda nos anos 60, deixou o jipe em Ubajara, onde fui encontrá-lo em 2003, completamente destruído pelo tempo.

Somente em 2009 é que consegui trazê-lo para Brasília e agora, 48 anos depois de ficar parado, ressecado e quase devorado pela ferrugem, eis o possante Willys Overland em atividade, com a sua mesma cor azul original e de capota e pneus novos.

Um furor pelas ruas da capital, apenas dois anos mais velha que ele.

A VIAGEM

Wilson Ibiapina

O Galba Aragão, a meu pedido, levou o possante para Ibiapina, onde mandou fazer os primeiros reparos. Meu irmão, Newton, conseguiu emplacar e transferir os documentos para meu nome, com a ajuda do Durval Aires Filho, a chamada interferência divina.

A desembargadora Dulcina providenciou o transporte dele da Serra Grande para Brasília, onde ficou quase um ano em oficinas erradas. O Hermínio Oliveira apresentou-me um angolano que na vida só consertou jipe. O carro velho agora já pode ser chamado de carro antigo.


O JIPE DOS IBIAPINAS

Wilson Ibiapina

O Jipe finalmente está rodando pelas ruas de Brasília. Foram mais de dois anos só para passá-lo para o meu nome e transportá-lo para o planalto central. Ele estava há 41 anos servindo de galinheiro no quintal da casa do meu avô em Ubajara, interior do Ceará.


UMA FRASE COM 2064 ANOS

TIME DO CORAÇÃO

O Presidente provou mais uma vez que entende de futebol.

EXEMPLO A SER SEGUIDO OU CASO ÚNICO?

Henry Allingham nasceu em Londres em 1896, quando ainda reinava a Rainha Vitória. É veterano da 1ª Guerra Mundial, participou das batalhas de Yopres e Jutlândia e fez parte do primeiro esquadrão da RAF, a força aérea britânica, da qual é o único membro ainda vivo.

Henry diz que viveu seus 112 aninhos a base de cigarros, uísque, cerveja e muitas mulheres fogosas (ele garante que o segredo é não repetir mulher durante uma mesma semana).


Homenagem 80 anos Wilson Ibiapina