quinta-feira, 11 de abril de 2013

LEMBRAÇAS DO POETA


Francisco Carvalho


"Se viver e morrer é sempre um dano

Se o acaso nos golpeia antes da aurora

Qualquer esperança é grande engano"


Francisco Carvalho, o poeta maior do Ceará, que nos deixou há um mês.

O POMBAL DE GENTE INACABADA





O jornalista Eduardo Mamcasz, que se define como "polaco-baiano com raízes no município cearense de Itapipoca", já passou pelas redações dos principais jornais do país. Inteligência rara. Faro de repórter, coração de mãe, eterno preocupado com os problemas dos outros. Uma pena a serviço dos desamparados. Um crítico mordaz dos aventureiros que exploram a boa fé dos incautos. É também um tremendo gozador. Como se a vida fosse uma piada. Continua na ativa, mas pelo visto arranjou tempo e cometeu um livro que intitulou de Pombal de Gente Inacabada. Mandou-me bilhete:

"Meu preclaro amigo Ibiapina.

Ficaria muito feliz se vossa mercê me prodigalizasse a
divulgação deste meu anúncio:

"Meu amigo Mamcasz me avisa que ele está à venda".



O introito do livro

Por: Eduardo Mamcasz

Sete meses passados no estrangeiro, From Alaska to Jerusalem, o autor se retira à dita Capital da Esperança, Brasília, na parte sul de sua asa principal, onde deixara seu Alter Ego instalado no observatório das diferenças imensas.

Visão inconstante, provocada por rotineiras mudanças, de um Pombal de Gente Inacabada, habitada por meio concurseiros advindos ao Centro-Oeste brasileiro pelo sonho do achado do ouro, diploma vitalício de funcionário público.

As primeiras cenas mostram a morte do Alter Ego com a sobrevida de rabiscos, aqui transformados em livro, com cenas de solitário sexo, nas formas mais desumanas de vida contida numa masturbação finita ao quadrado do cotidiano.

Obrigado pela companhia

Clique no linque abaixo para ler o livro

https://clubedeautores.com.br/book/142772--Pombal_de_Gente_Inacabada

quarta-feira, 10 de abril de 2013

O MASSAFEIRA ESTÁ VIVO EM LIVRO E CDS





Os 30 anos do Massafeira, uma feira de artes em Fortaleza, não passaram em branco. Essa mobilização de artistas do Ceará, criada pelo Augusto Pontes e o Ednardo, que foi seu coordenador geral, tem sua história imortalizada num livro de 312 páginas e dois Cds, com algumas das canções mostradas no Teatro José de Alencar naquele longínquo 1979. Foram vários dias de atividades envolvendo música, artes plásticas, cinema, poesia, escultura, teatro, costumes. É o próprio Ednardo quem lembra a origem do movimento que ele vinha articulando desde 1978:


Patativa do Assaré

“A nossa leitura de Brasil incorporava intensamente a poesia popular do interior. Os tropicalistas já haviam feito isso de forma pontual, com Gilberto Gil, Torquato Neto. Os artistas do Cariri, região no sul do Ceará que tem uma cultura riquíssima, nunca tinham sido levados a Fortaleza. A Massafeira Livre foi a primeira vez na capital, por exemplo, do poeta Patativa do Assaré, que depois lançou vários discos, e cuja obra virou objeto de estudo em universidades na França”.




Ednardo

Ednardo recorda que, além de servir de palco a artistas cearenses de diferentes áreas e gerações (Fagner, Ednardo e Belchior, Rodger Rogério, Teti, Rosane Limaverde, Nonato Luis, Petrucio Maia, Brandão Rosemberg Cariy, Zé Pinto, Fausto Nilo, Francis Vale, Pedro Rogério, por exemplo, o evento aglutinou vanguardistas de outros estados, como Walter Franco e Zé Ramalho - que fez lá o show de lançamento de seu primeiro disco. Os irmãos piauienses de Brasília, Clodo, Clésio e Climério, Dominguinhos, Robertinho do Recife, Sérgio Boré, entre outros.


Agora, três décadas depois, a reedição em CD (Sony) e o lançamento do livro "Massafeira 30 anos" (Aura), repensam a importância do álbum/movimento . Ednardo chama a atenção para a capa com o desenho do arquiteto, poeta artista gráfico e compositor Antônio José Brandão, que simboliza o Massafeira. Os chifres de um carneiro estilizado fazem o desenho do oito deitado, símbolo do infinito. Para Ednardo, os discos e o livro são um registro físico de um movimento que entre 1978 e 1980 nasceu e amadureceu em Fortaleza e que trouxe um outro olhar sobre o Brasil e sua cultura, vindo de um ponto de vista fora do eixo RJ-SP, incorporando leituras de "primos" como Clube da Esquina e Tropicália". O movimento, segundo ainda Ednardo, trouxe colaborações originais como a do poeta e repentista Patativa do Assaré, que agora pode ser ouvido em CD: "Eu sou filho do Brasil e meu nome é Ceará."

Naquele tempo, as pessoas queriam um lugar na mídia, com suas músicas e versos elaborados. Não existia essa gana pelo dinheiro, pelo sucesso com músicas de versos fáceis, de consumo imediato. Não existia a Internet. O sonho era ir ao Rio, palco nacional de todos os artistas. Augusto Pontes e Ednardo fizeram o Carneiro, cuja letra é uma síntese da ambição dos artistas há 30 anos: “Amanhã se der carneiro, carneiro/ Vou embora daqui pro Rio de Janeiro/ As coisas vêm de lá, eu mesmo vou buscar/ E voltar em video-tape e revistas super coloridas/ Pra menina meio distraída/ Repetir a minha voz/ E Deus salve todos nós? E Deus guarde todos vós.”!


Rogério Soares, Zé Maia, Eugênio Stone, Augusto Pontes, Régis Soares, Silvia Parente, Gerardo Gondim, Rosane Limaverde, Graco, Luis Miguel, Teti, Stélio Valle, Vania Parente, Rodger Rogério

Foto Gentil Barreira - Acervo Aura











NÃO COMPLIQUE A VIDA



O publicitário Charles Marar, jordaniano-paulista que mora em Brasília, costuma repetir: a vida é mais simples do que parece. Pra que complicar? Será que só os profetas enxergam o óbvio? - perguntava o pernambucano Nelson Rodrigues, tio do nosso amigo comum Alex Gonçalves. À proposito, Charles nos manda uma velha história que serve para um momento de reflexão:

"Sherlock Holmes e Dr. Watson vão acampar. Montam a barraca e, depois de uma boa refeição e uma garrafa de vinho, deitam-se para dormir..

Algumas horas depois, Holmes acorda e cutuca seu fiel amigo:

 
- Meu caro Watson, olhe para cima e diga-me o que vê.

Watson responde:

- Vejo milhares e milhares de estrelas...

Holmes então pergunta:

- E o que isso significa?

Watson pondera por um minuto e depois enumera:

1) Astronomicamente, significa que há milhares e milhares de galáxias e, potencialmente, bilhões de planetas.

2) Astrologicamente, observo que Saturno está em Leão e teremos um dia de sorte.

3) Temporalmente, deduzo que são aproximadamente 03h15min pela altura em que se encontra a Estrela Polar.

4) Teologicamente, posso ver que Deus é todo poderoso e somos pequenos e insignificantes.

5) Metereologicamente, suspeito que teremos um lindo dia amanhã. Correto?

Holmes fica um minuto em silêncio, então responde:

- Watson, seu imbecil! Significa APENAS que alguém roubou nossa barraca!

Conclusão:

"A VIDA É SIMPLES... NÓS É QUE TEMOS A MANIA DE COMPLICAR."

terça-feira, 9 de abril de 2013

ZÉ TATÁ, ESSE ERA MACHO



Zé tatá



Wilson Ibiapina

Aquele viaduto que passa ao lado do Forte Nossa Senhora de Assunção, em Fortaleza, foi batizado pelo povo de Tatazão em homenagem ao rei da noite de Fortaleza nos anos 50 e 60. José Vicente de Carvalho era empresário da noite. Possuía várias casas noturnas, como as pensões Ubirajara, Hollywood e Tabariz. Ficaram famosas por causa do dono e entraram na história boemia da cidade. Com quase dois metros de altura e pesando uns 120 quilos, era figura de destaque no carnaval de rua. Desfilava no bloco das baianas, vestido de Carmem Miranda. Ele era de uma época em que ser homossexual era coisa do outro mundo. Pois era assumido. Usava sandálias femininas e andava se requebrando, distribuindo simpatia de leste a oeste, sob o olhar curioso das pessoas. Acredite, nunca um gaiato teve coragem de fazer piada, soltar uma pilhéria.

Foi o baitola mais macho que já apareceu no Ceará. Ninguém era doido pra fazer gracinha com ele. Sua fama de brigão atravessou as divisas do Ceará como você pode comprovar nessa história que o Macário Batista está contando no blog dele:

"Nosso saudoso Zé Tatá, sobralense ilustre, dono de uma pensão alegre que guardava e garantia o trabalho de meninas de vida...vamos dizer...livre pra não falar fácil (fácil?)

Pois bem. Veio do Recife para Fortaleza um time de futebol e no time um carinha metido a besta, desses pernambucanos que no passado achavam que o mundo começava e terminava entre as doenças do Capibaribe e do Beberibe. Depois do jogo procurou um lupanar e foi cair na Pensão do Zé Tatá. Bebeu, dançou, foi pro quarto com uma das meninas, apalpou desagradavelmente outras tantas e no fim botou boneco. Não queria pagar. Era coisa de três horas da manhã e o tal cavalheiro começou a esculhambar com todo mundo, gritando que no Ceará não tinha homem, que macho alí só tinha ele e que não ia pagar coisa nenhuma e essas coisas que todo bonequeiro faz. Uma das meninas foi acordar o Zé Tatá e contou. Tatá subiu nos tamancos e foi ao salão. Quando o valentão viu aquele armário (quase dois metros de altura por dois de largura e pelo menos um de fundos) tentou afinar. Zé Tatá limitou-se a dar-lhe uma patada que jogou o tal pernambucano na metade da escada já gemendo de dor. Zé desceu e foi chutando o besta até a porta. Lá embaixo, com o cara de cara amassada, costela quebrada, coração parando, Zé Tatá pegou o cabra pelas bitacas, e deu-lhe a porrada de misericórdia, não sem antes avisar; Vá seu corno. E diga lá no Recife que no Ceará levou uma surra de um Viado."

OS PARAQUEDISTAS DA POLÍTICA



 
Wilson Ibiapina

Eles descem em todo lugar. São os aventureiros da política em busca do voto do eleitor pobre e ignorante. A necessidade e a falta de educação levam o nosso eleitor a trocar o voto por dentadura, óculos, um par de chinelos. Entra dinheiro também. Não tem como impedí-los.

Compram o mandato e chegam a Brasília sem a menor experiência política, mas dispostos a recuperar o dinheiro gasto. Vendem até a alma. Como pagaram pelo mandato não se sentem na obrigação de trabalhar pelos que votaram nele. Se metem em trambiques, empobrecem a vida política da nação, desmoralizam o Congresso onde se juntam àqueles que fazem qualquer negócio. Hoje temos até partidos paraquedistas, aqueles que abrigam os oportunistas que se engajam aos governos em troca de benesses.

O jornalista J. Ciro Saraiva no seu livro “Antes dos Coronéis”, recém lançado em Fortaleza, revela o nome do cidadão que introduziu o paraquedismo na política cearense:

“Os jornais de 23 de setembro de 1950 – conta ele- registram, com destaque, a chegada a Fortaleza do dr. Antônio Horácio Pereira, diretor de divisão de administração do Sesi, no Rio de Janeiro, que seria candidato (e eleito) a deputado federal pelo PSD. Foi ele depois considerado pela imprensa como o pioneiro dos “paraquedistas” no Ceará. Eram assim chamados os políticos que passaram a ser eleitos comprando votos. Viajando por terra, “para manter contato” e fechar contratos (teve votos no Rio Grande do Norte e na Paraíba), Horácio Pereira seria recepcionado em Messejana, distrito de Fortaleza, por um grupo de motoristas.”

O jornalista Ciro lembra que um dia, ele ainda menino, viu o dr. Horácio visitar o pai dele, Raimundo Cristino, na localidade de Lacerda, Quixeramobim: “os dois lembraram os tempos de telegrafista da Estrada de Ferro e ele deu à minha mãe, para espanto de todos, uma cédula de mil cruzeiros, daquelas vermelhinhas que traziam a efígie de Pedro Álvares Cabral. Ganhou com isso, um almoço de galinha guisada que só dona Amanda sabia preparar. A partir daí, sempre que havia eleição, ela lamentava: - Antônio Horácio não apareceu mais!

Foi eleito uma vez.”

Homenagem 80 anos Wilson Ibiapina