segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

O BALÃO QUE ILUMINOU FORTALEZA

Wilson Ibiapina

O Balão Vermelho, um minúsculo bar com mesas e cadeiras na calçada, funcionou durante pouco tempo numa loja do térreo do edifício Jalcy Avenida. Essa curta existência foi suficiente para aglutinar jovens estudantes que mais tarde iriam mudar a mentalidade de Fortaleza. De lá saíram movimentos culturais que marcaram os anos 60.

Para compreender a importância do Balão Vermelho é preciso situá-lo numa época em que os jovens se divertiam indo a praia, ao futebol, cinema ou bebendo nos botecos do bairro. Vivia-se isolado, separado pela distância e a diferença social. Nem mesmo as escolas conseguiam fazer uma integração maior. Depois das aulas, cada um para seu lado. Os ricos da Aldeota, praias de Iracema, Meireles, Benfica ou Jacarecanga voltavam a se encontrar nas festas dos clubes elegantes. Não se misturavam com o resto da cidade.

Foi a Universidade que quebrou esse estilo de vida. O Centro Acadêmico, o Ceu, atividades esportistas e o movimento estudantil furaram o cerco. Os jovens começaram a aparecer não porque ricos, mas por serem inteligentes, criativos, arregimentadores, intelectuais. As faculdades colocaram os alunos num mesmo patamar. Todos se tratavam como colegas universitários e não mais como moradores do Antônio Bezerra, da Aldeota.
Frequentar clubes sociais deixou de ser status. Agora podem abrir o leque de opções.

As reuniões no bar do Rebouças, um dos primeiros da Beira - Mar recém aberta pelo prefeito Vicente Fialho, começaram a ter outro sentido. No começo era só para beber e aguardar a hora de sair para a serenata. As discussões políticas e culturais foram ocupando espaço. O golpe militar vira assunto e todos se posicionam. Os encontros se transferem para o bar do Anísio e tudo gira em torno de música, poesia, teatro e política.

Nesse tempo surgiam os primeiros prédios de apartamentos de Fortaleza. Dois desses edifícios pioneiros estavam na Duque de Caxias, avenida que corta o coração da cidade. O Ceará e o Jalcy Avenida. O Edilmar Norões morou anos no Ceará. Tinha como hóspede uma moça que foi enviada de Barbalha. Um dia, um amigo, oficial da Aeronáutica, pede-lhe que hospede, também, a noiva que chegava do Rio. Na primeira noite, a moça chegou embriagada e com um violão debaixo do braço. Um escândalo para aquela época. Tem também o episódio das duas hóspede de Edilmar indo ao encontro do noivo da carioca no F-80, clube dos oficiais da FAB. As duas novatas pedem a um taxi que as levem ao F-80. O motorista, que também não era muito familiarizado com a cidade, deixa as duas na 80, o famoso cabaré comandado pela Beatriz. Um vexame.
(...)

Toda a movimentação de Cláudio Pereira era fomentada por Antonio Carlos, Ataliba, Rene Barreira, Chico Moura, Francis, Calberto, Augusto Cesar Benevides, Aderbal Freire Filho, Roberto Aurélio Lustosa, Chico Farias, Foi no Balão que surgiu o concurso da Garota Cultural, invenção do Cláudio para agitar o meio universitário. Moema São Thiago, Iracema, Zeneide Maia foram as primeiras a ostentar o título que foi também de Isabel Lustosa. Augusto Pontes, Rodger Rogério, Ednardo, Petrúcio Maia, Belchior, Fagner, Fausto Nilo, Dede Evangelista, Sérgio Costa, Francis, Walder Magalhães,Cesar Rousseau,Brandão, Gustavinho,Teti, Mercia Pinto, Flávio Torres, Wilson Cirino faziam letras e músicas que foram exibidas nos primeiros festivais. O Balão Vermelho fervilhava. Líderes estudantis, como Fausto Nilo, Genoino, João de Paula, Machado, Pedro Albuquerque, Álvaro Augusto, Bené Oliveira e Assis Aderaldo passavam por lá até que descobriu-se que a polícia também estava frequentando o local.

O Balão Vermelho cerrou sua porta já tinha cumprido sua destinação.

Além de ponto aprazível para drinque, papo e paquera, foi um verdadeiro caldeirão cultural em efervescência.
Alí gente de todas as cores, credos e classes foi misturada com música, batida de cachaça com limão e muita conversa para dar origem a uma nova forma de encarar a vida, com menos preconceito e mais solidariedade. O Balão Vermelho apagou-se na Duque de Caxias, mas sua luz continua iluminado os jovens que tiveram o privilegio de frequentá-lo. E o Ceará nunca mais teve uma geração tão criativa, confiante e com tanto sucesso)


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Pádua Lopes, imortal

Wilson Ibiapina
Pádua Lopes e Wilson Ibiapina

A presidente da Academia Cearense de Letras, Angela Maria Mota de Gutiérrez, mandou convite para a posse do jornalista Pádua Lopes na Academia Cearense de Letras. 
Vai ser saudado pelo acadêmico José Augusto Bezerra, que assim como Pádua, é um apaixonado por livros. Pádua Lopes vai ocupar a cadeira 38, que tem como patrono o também jornalista e escritor Tibúrcio Rodrigues, que nasceu em 1869, lá no Ipu, no sopé da Serra da Ibiapaba. Em Fortaleza tem rua com o nome de Tibúrcio e o Geraldo da Silva Nobre já escreveu sobre ele. 
Pádua é meu colega desde o tempo do Telejornal Crasa, na extinta TV Ceará, o canal 2 dos Diários Associados. 
Advogado, Procurador da Fazenda Nacional, passou pelas redações do Correio do Ceará, Unitário, Ceará Rádio Clube, onde foi repórter político. Seu amigo Airton Queiroz o levou para o Sistema Verdes Mares , onde é o superintendente do jornal Diário do Nordeste. 
Já publicou inúmeros trabalhos jurídicos em revistas e livros especializados em direito.Tem muitos trabalhos publicados, 
Seu  romance  "Safira não é flor" surpreende pela trama que ele desenvolve a partir do momento que Safira  conhece, pela Internet, dois cearenses e viajam pelo mundo em busca de novidades e prazer. Pádua carrega os personagens por cidades italianas e gregas, citando ruas e lugares com conhecimento e a intimidade de quem vive naqueles lugares. "Safira não é flor" é de tirar o fôlego. 
Agora, no dia do meu aniversário, dia 26, terça feira de fevereiro às sete da noite, Pádua  vira imortal. Ele merece.

O VALOR DE UMA TRAGÉDIA


Daniela Ramalho

Da terra, da água, do fogo, do ar. Os quatro elementos deram sinal de vida num 2019 surpreendido pela força da natureza. 


Vidas inocentes, vidas jovens, mesquinhas, vidas gananciosas.  Agora viraram mortes que talvez a conta nunca feche. 

As lágrimas de barro ganharam a dor do inconformismo e engoliram a vida que brotava da terra. 

A água no teto afogou quem tentou fugir mas não sabia nadar. 


No salve-se quem puder, o alarme não tocou, a saída de emergência faltou, e eles perderam de goleada. 

Na força da fatalidade, o que é fatalidade, mesmo?


E o ar, hein? O ar tirou o fôlego de quem tentava apenas se comunicar. Todos ficamos sem voz! 

A terra levou sonhos, o ar ganhou palavras, a água castigou o lixo fora do lixo e o fogo ganhou o jogo de 10 a 0.


A conta, por favor! 

E como veio cara! Tão cara que ninguém se atreveu a pagar.

Homenagem 80 anos Wilson Ibiapina