segunda-feira, 6 de setembro de 2010

REPÓRTER DE RÁDIO - Francisco Nogueira Saraiva


Francisco Saraiva ao lado do jornalista Rangel Cavalcante


Wilson Ibiapina


Francisco Nogueira Saraiva trabalhou em Fortaleza na Ceará Rádio Clube. Narcélio Limaverde, que foi contemporâneo dele, lembra perfeitamente do colega: “Francisco Saraiva foi um repórter de rádio furão, perigoso mesmo. Tratava Carlos Jereissati como Kalila, Paulo Sarazate de Paulo, Virgilio de VT”. Narcélio, que tem a história do Ceará na memória, feito o Google, lembra que “aquela célebre fotografia do ex-governador Virgílio Távora com um revólver no cós, foi obra de Chico Saraiva. Os jornais todos publicaram na época. Ele conseguiu ver que VT estava armado e fotografou. Foi um problema”.


O jornalista e radialista vivia se metendo em encrenca. Essa outra Narcélio lembra por que estava com ele: “Quando esteve em Fortaleza o general Craveiro Lopes, presidente de Portugal, fomos todos para o Aeroporto Militar, no Cocorote, antes de existir o atual Aeroporto Internacional. O presidente chegou e ninguém podia chegar perto.. O presidente português chegou e foi dar uma meteórica volta pela cidade e nós atrás, na camioneta equipada com o transmissor móvel de Frequência Modulada. Transmitimos tudo. No retorno fomos obrigados a ficar num círculo riscado no chão. Por sugestão do Saraiva fomos até perto do português e fizemos aquela clássica pergunta: Gostou de Fortaleza? O homem disse qualquer coisa com aquele sotaque de dono da padaria. Mas todo mundo foi preso. Chico conseguiu a liberdade, depois de muita conversa”.


Os mais velhos devem recordar que foi o Nogueira Saraiva quem arrombou o Orós, fazendo com que o ministro Armando Falcão acordasse o presidente JK e comunicasse a "tragédia" não acontecida. Só bem depois o açude arrombou pra valer. Quando JK veio ao Ceará – conta Narcélio - Chico avançou em direção do homem e acabou sendo preso.


Na época em que os pescadores cearenses foram à Buenos Ayres de jangada (depois do Rio de Janeiro), Chico já estava lá ao lado de Leocácio Ferreira, inventor da fotografia panorâmica e do jornalista Rangel Cavalcante. Ainda hoje a foto está no Flórida Bar, em Fortaleza.


Certo dia ele comunicou ao Narcélio que iria aos Estados Unidos e visitaria A Voz da América. E cumpriu. Mandou que sintonizasse a emissora americana. E lá estava o Chico sendo entrevistado. Até hoje Narcélio lamenta: “Infelizmente não deu para entrar em cadeia, nem gravar, pois não tínhamos o aparelho na PRE-9".


Em Brasília, Nogueira Saraiva esteve presente em todos os eventos, tendo acompanhado vários presidentes da República em viagens internacionais. Em 1981, em Paris, ele transmitiu ao vivo, para a rádio Alvorada, a visita do presidente Figueiredo ao túmulo do Soldado Desconhecido, no Arco do Triunfo. Lembra Orlando Brito, que estava ao lado dele naquela manhã, quando ouviu ele falando ao microfone - não se sabe de gozação ou não, que “no momento em que o presidente Figueiredo coloca uma corôa de flores no túmulo do Soldado Desconhecido, uma senhora que está aqui perto chora. Deve ser a mãe ou parente do soldado desconhecido”.


Saraiva morreu num banheiro do aeroporto do Galeão, quando empreendia mais uma de suas viagens de trabalho. Foi traído pelo coração que parou de repente. A sua personalidade era marcada pela solidariedade e o companheirismo. Ele foi um dos fundadores da Casa do Ceará em Brasília. Só bebia uísque com limão. A um amigo que quis saber a razão desse drinque tão estranho, ele respondeu com a simplicidade que lhe caracterizava: "É porque eu gosto”.






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