Eduardo Mamcasz
Ceará em Paris. Tem que ler até o final prá entender.
Dimanche, começo pelo Chez Albert, na Boulevard Charrone, perto do Père
Lachaise. Brunch por 23 euros todas que puder comer – baguetes, geléias de amoras,
tortas e direitas.
Depois, primeira caminhada, frio e nublado, até La Nation.
Paradas nas lojinhas e cafés de esquina, até chegar à Bastilha. Boa andada mas
em Paris, tudo é nada. Daí, num barzinho de esquina, de olho no piroquete
(obelisco, que em grego quer dizer oh – ó, be – de que, lisco-tamanho) da
Bastille. Deux alongés, si vous plait. Alongé é café cortado.
Daí... escuta
esta, amigo Wilson Ibiapina. Me aparece uma senhora, na mesinha ao lado, aqui
em Paris é tudo assim, um raladinho no outro, bom para se conhecer. Não deu
dois minutos, Silvana, o nome dela, cigarro acesso, use o nosso cendrier, ó,
merci, de nada, epa, vocês são de onde – Brésil, isto eu sei, com esta fala,
mas dondi? Brasiliá. Fale que nem gente, cabra. Ela, é de Fortaleza, Ceará, há
25 anos em Paris, casou com um cozinheiro francês, da Câmara dos deputês, culpa
de minha mãe, casou com um professor francês, há 42 anos, hoje está com aquela
doença do alemão, tenho um filho, lindo, 19 anos, olha aqui a foto dele, o
peste fala francês, inglês e alemão muito bem mas o porra da peste se recusa a
falar brasileiro, foi duas vezes ao Ceará, detestou o Brasil, só tem esperto,
mãe sofre, vocês tem filho, não, pena, é tão bom sofrer, e ela bebendo uma taça
de vinho e eu, por causa da chuva e da prosa, uma taça de vinho rouge, e lá
pelas tantas conto que meu primeiro casamento foi com uma cearence de
Itapipoca, a próxima taça eu pago, o cabra sabe onde tem mulher boa, então pago
a tua cerveja, mina, ah, fala outra vez, que saudade, tu não é polaco porra
nenhuma, do sul, vixe, tu é do nordeste. E madame só olhando... Até que chegou
a hora que Madame se vira prá mim: Florzinha, não tá na hora de mijar não, e
eu, qué isso, aguento mais um tanto, conversa boa, vinho melhor ainda. O olhar
resposta foi tão duro que no repente senti uma pressão na bexiga, mina,
Silvana, tenho umas amigas no Ceará, quem, a Antonieta Negrona, não é Negrão,
polaquinho, conheço a família, a Cecília Cordeiro, o Ibiapina, conheço a
família, e eu, pô, na Ceará só tem família, e ela, demais, não vá mijar agora
não, conversa tão boa, Madame espera. Espera aí. Estou onde mesmo? Em Paris,
meu. Mas dondi? Praça Bastilha, onde o povo trouxe o rei Luís e a rainha
Antonieta, não foi tua amiga do Ceará não, e ó, cortou a cabeça. Qual delas?
Ih, você é demais, mademoiselle piriquita (a garçonete), outra tasse de vin
rouge aqui pro meu amigo polaco branco. E Madame? Vou falar. Só agora tô
chegando aqui em casa, três portões para abrir com códigos diferentes, a
concierge teve que me ajudar nos quatro, porque tem a porta do apê e.... quédi
Madame? Manhã eu procuro. Hoje, sem condição. E pour quoi, meu? É que nem o
velho Hemingway dizia, no meio dos porres: porra, Paris é uma festa. Festa vai
ser quando Madame me encontrar amanhã. Ih, Silvana, que lugar é este? Não é o
apê onde estou. Cadê minha baguete. E ela: comi. Ih ... fudeu.
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