sexta-feira, 8 de abril de 2011

A MORTE DA PRINCESA




Flávia Neiva


Era um dia comum – assim ao menos parecia. O sol raiava no céu, as flores exalavam seu perfume, os pássaros planavam na praça fugindo das crianças que corriam atrás deles e achavam graça.

Caminhando apressado, atrasado para o trabalho, Raimundo, esbaforido, viu um corpo caído à beira do Riacho. Sem saber ao certo o quê deveria fazer suspirou por três segundos que pareceram uma eternidade. Com os olhos esbugalhados, estupefato com o que viu, com o coração disparado percebeu que do corpo ali deitado a vida já esvaiu. Ficou plantado no chão, como uma árvore, enraizado, sem conseguir nem piscar ficou totalmente abestado. Finalmente num reflexo segurou no braço de uma moça que passava ao seu lado, a mulher se assustou com a expressão do coitado e um grito soltou ao perceber o que havia passado.

Logo havia uma multidão lá na beira do riacho, o múrmurio que se ouvia de quem era, e se fora um assassinato. Sirenes e confusão para dispersar a multidão – A polícia com seus aparatos chegou pra avaliar a situação. O perito com a sua máquina a fotografar o sucedido se encantou com a beleza daquele lugar escondido. Era tudo muito lindo de uma grande formosura a luz do sol penetrando por entre os galhos das arvores, refletindo no riacho onde os peixes dançavam alheios as dores do mundo, tornavam as flores de uma cor mais colorida, como a dar uma despedida.

Depois de um momento de contemplação da natureza, a lente da máquina observou aquela que um dia foi princesa. Naquele mesmo instante reconheceram a menina, menina alegre e faceira que foi princesa no carnaval da vila. O zoom logo revelou que ainda jorrava ao borbotão o sangue de uma barriga perfurada por um facão. Ao lado do corpo inerte um livro ensanguentado de uma tal Florbela Espanca, e um bilhete dobrado na sua mão enroscado. No seu rosto um estranho sorriso velado, apesar do que ali se via , seu semblante revelava um ar de aliviado...


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