terça-feira, 19 de novembro de 2013

QUANDO A COBRA FUMOU SEM CENSURA NA GUERRA




Nos anos 40 se dizia que era mais fácil uma cobra fumar que o Brasil entrar na guerra. A frase deu origem ao nome do jornal ...E a Cobra Fumou!
Wilson Ibiapina
Quando  a segunda guerra foi deflagrada, o Brasil estava em plena ditadura de Vargas. O país vivia sob censura. Toda informação era controlada pelo Departamento de Imprensa e Propaganda, o famigerado DIP. Quer dizer, quase toda, pois na Itália era criado E a Cobra Fumou! 
Escrito por soldados e distribuído entre as tropas sem censura. O jornal era feito pelo tenente José Alfio Piason, médico paulista de Campinas e pelo soldado Geraldo Vidigal. 
O historiador César Campiani Maximiano conta que ele foi convocado pra guerra como castigo por participar de passeatas contra o Estado Novo. O jornal tinha o apoio do comandante do Primeiro Batalhão do 6º Regimento de Infantaria, major João Carlos Gross. Na época, o jornal oficial das tropas era O Cruzeiro do Sul. E a Cobra Fumou era contra o culto à personalidade de líderes militares e notícias pitorescas publicadas em outros jornais para os soldados da FEB. A Cobra soltava seu veneno em cima do mau funcionamento dos serviços para a tropa, era contra a baixa qualidade do cigarro distribuído e o jabá servido. 
No instante em que o Regimento entrou em combate, a Cobra passou a ostentar abaixo do título: “NÃO REGISTRADO NO DIP. Repercutiu logo no Brasil. O jornal publicava tudo. Na edição de 1º de abril de 1946 a Cobra publicou um artigo do jornal americano Stars and Stripes, apontando contradições e fazendo severas críticas ao regime de Vargas: “O povo brasileiro vivia sob um governo que lhe negava os direitos democráticos. Sob Vargas, a decisão final descansava  na mão de um só homem, a imprensa era rigorosamente controlada e oponentes políticos eram aprisionados sem serem ouvidos.” Outro trecho: “No Exército do Brasil a camaradagem entre oficiais e soldados era virtualmente desconhecida. Só oficiais tinham direito de voto.”
Mais do que seis meses de combate na Itália trouxeram grandes mudanças à FEB. "Se bem que a disciplina se mantenha severa, muitas das formalidades (continência entre praças) não são mais praticadas". "Assim como o combatente transformou a FEB, a FEB provocou grandes mudanças no Brasil. Do outro lado do atlântico, o presidente Vargas aboliu a censura interna, restaurou muitos direitos democráticos e anunciou a primeira eleição presidencial livre desde 1930. Os brasileiros achavam estranho que a FEB lutasse pela democracia lá fora, quando absolutamente não existia uma democracia no país”.
Se as matérias publicadas desagradassem o comando ou alguns membros do governo no Brasil, que “viessem tomar satisfação na redação do jornal, situada no front nas barbas do alemão".
Para quem quer saber mais sobre os soldados brasileiros na segunda guerra mundial  recomendo o livro “Barbudos, sujos e fatigados”, do historiador Cesar Campiani Maximiano. Ele acaba com as visões românticas, ufanistas ou maledicentes que pautam a maioria das interpretações sobre a guerra. No livro que ganhei de presente da jornalista gaúcha Rosa Wasen, Maximiano  mostra quem eram os soldados brasileiros, como foram treinados, como reagiram ao inimigo alemão.




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Homenagem 80 anos Wilson Ibiapina